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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 21.01.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 3

O complexo crúzio no contexto citadino

O Decreto redigido por Joaquim António de Aguiar e publicado a 30 de maio de 1834 declarava extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios, e quaisquer outras casas das ordens religiosas regulares, sendo os seus bens secularizados e incorporados na Fazenda Nacional, com exceção dos templos e das alfaias litúrgicas.

Largo da Portagem, monumento a Joaquim António de

Largo da Portagem, monumento a Joaquim António de Aguiar

 Na sequência desta medida, e através de um processo nem sempre muito linear, verificaram-se alterações e modificações vultuosas em torno do património fradesco, agora na posse estatal e que, no futuro, veio a passar pela transferência para as mãos de particulares ou para a pertença de instituições públicas. No que se refere a edifícios, estas últimas utilizaram-nos a seu bel-prazer, quer para alojar os serviços que se encontravam na sua dependência, quer para fins sociais ou utilitários. Acontece ainda que a fisionomia de cercas e de património construído acaba, muitas vezes, por ser alterado através da feitura de transformações e de projetos urbanísticos, por vezes, mais do que duvidosos.

Em Coimbra, no âmbito do presente trabalho e face à desamortização referida, vamos cingir-nos ao mosteiro de Santa Cruz e à quinta anexa.

A autarquia mondeguina, na reunião de 13 de maio de 1835, determinou, em cumprimento de uma ordem emanada pelo Ministério do Reino, que fosse organizada uma listagem com o nome dos conventos desamortizados existentes na cidade, bem como a descrição dos seus bens. O rol teria de especificar quais os imóveis que a edilidade pretendia, a fim de neles acomodar misericórdias, hospitais e outros estabelecimentos de utilidade pública.

Na reunião do dia 16, um dos vereadores recordava o pedido que havia sido anteriormente endereçado pela edilidade à Câmara dos Deputados, solicitando não só a cedência do pátio do Mosteiro de Santa Cruz e das lojas que o rodeavam, para que ali passasse a funcionar o mercado público, como ainda todo o restante edifício, destinado a alojar as repartições judiciais, administrativas, da fazenda, da administração do correio e similares.

Praça 8 de Maio. Antiga fachada de Sta. Cruz.jpg

Praça 8 de Maio. Antiga fachada de Sta. Cruz

 A Câmara viu a sua pretensão satisfeita e, em 15 de dezembro de 1836, tomou posse dos edifícios dos extintos mosteiro de Santa Cruz e colégio da Graça, embora no documento se encontrassem exaradas cláusulas que obrigavam a estabelecer um quartel militar neste último e a instalar as repartições públicas no primeiro.

Entretanto, os serviços já alojados nos agora edifícios camarários começavam a considerar o espaço como seu, obrigando a que fossem clarificadas com rigor “as fronteiras do que fora dado à Câmara”.

A carta de lei de 30 de julho de 1839 esclarecia que lhe tinham sido concedidos os edifícios do extinto mosteiro de Santa Cruz, com exclusão da igreja e suas dependências, o pequeno laranjal, a horta e a encosta que ficam contíguas aos mencionados edifícios e terminavam na estrada pública situada na zona da Fonte Nova.

Fig. 05. Zona do mosteiro de Sta. Cruz. [AHMC. Arm

Fig. 05 – Zona do mosteiro de Sta. Cruz. [AHMC. Armário 3. Gaveta 12. Pormenor da planta da cidade de Coimbra riscada em 1834 por Isidoro Emílio Baptista].

 Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia  Nacional de Belas Artes.

Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf

 

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por Rodrigues Costa às 10:58

Segunda-feira, 04.04.16

Coimbra e as suas personalidades: Joaquim António de Aguiar

Grande estadista nacional, Joaquim António de Aguiar nasceu em Coimbra a 24 de Agosto de 1782, e morreu a 26 de Maio de 1874 … sendo o corpo trasladado para a terra natal.

Aquando da invasão napoleónica seguia, ainda, os estudos preparatórios, que abandonou para se alistar no Batalhão Académico … Acabada a guerra matriculou-se em leis na Universidade, doutorando-se em 1815. Habilitado para lecionar na Faculdade de Direito, viu preterida a sua pretensão por ter abraçado as ideias liberais. Admitido no Colégio de S. Pedro foi mandado sair, em 1823, quando se restabeleceu o regime absolutista. Abandonou o magistério e refugiou-se no Porto

… em 1826, e proclamado o governo de D. Pedro IV, regressou a Coimbra e foi nomeado Regente da Faculdade de Leis. Eleito deputado às Cortes pela província da Beira, ocupou o lugar na Câmara parlamentar em 13 de Março de 1828

… Naquele ano, D. Miguel regressou a Portugal, e dissolveu as Cortes. Aguiar teve de fugir e emigrou para Inglaterra, sendo banido da Universidade para sempre … alistou-se … sendo um dos chamados ‘7.500 bravos do Mindelo’.

Em 1833 foi nomeado Ministro do Reino e depois Ministro da Justiça … elaborou e mandou executar o célebre decreto de 30 de Maio de 1834, que extinguiu as Ordens Religiosas em Portugal, cujos bens foram incorporados na Fazenda Nacional

… Este decreto valeu-lhe a alcunha ‘Mata-Frades’. Reorganizou os Municípios. Foi Par do Reino em 1851 e, diversas vezes, deputado às Cortes pela Estremadura e Coimbra. Desempenhou, também, o cargo de Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, em 1859.

Por deliberação camarária … o monumento em sua honra, na Portagem … terminaram em 21 de Junho de 1913, com o assentamento da estátua. O projeto escultórico pertenceu ao escultor Costa Mota (tio) … A estátua em bronze simboliza o momento em que Joaquim António de Aguiar assina o decreto de extinção das Ordens Religiosas (8 conventos e 22 colégios em Coimbra).

 

Nunes, M. 2005. Estátuas de Coimbra. Coimbra, GAAC – Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Pg. 163 a 165

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por Rodrigues Costa às 12:35

Quarta-feira, 21.10.15

Coimbra e as suas personalidades: António Augusto Gonçalves

… nasceu em Coimbra, a 19 de Dezembro de 1848. Herdou de seu pai, pintor e decorador com alguns merecimentos, uma fina sensibilidade estética e um critério de apreciação que irá aplicar na pedagogia e na vulgarização artísticas. Concluídos os seus estudos secundários, frequentou na Universidade de Coimbra, o curso de Farmácia, que logo abandonou. A partir de então passa a dedicar-se ao ensino livre do Desenho e da Matemática, ao mesmo tempo que irá alargando o campo dos seus conhecimentos artísticos. Belisário Pimenta, que com ele de perto privou, traça-nos … o perfil da sua mentalidade: «tinha contra si a mácula das suas ideias ao tempo muito avançadas em política e a outra mácula não menor da falta de crenças religiosas; de modo que o seu atrevimento em não seguir os cânones pedagógicos oficiais em Arte, o seu tolerante republicanismo apenas de princípios embora firmes e o não menos tolerante livre-pensamento, teriam, na época ressonância verdadeiramente revolucionária». Neste testemunho falta apenas a alusão ao enternecimento que lhe mereciam as camadas populares mais humildes e o operariado carecido de instrução.
… que o vemos desempenhar as funções de vereador da Câmara Municipal de Coimbra, eleito pela minoria republicana, no triénio de 1887 a 1889 … A sua opção de livre-pensador é demonstrada … na organização do cortejo cívico realizado em Coimbra, em 1890, e dedicado à memória de Joaquim António de Aguiar … os dirigentes republicanos manifestaram-lhe a sua confiança … atribuindo-lhe, em 1912, a presidência da Comissão Administrativa do município conimbricense … colocou o melhor da sua vocação pedagógica quer como professor de Desenho na Associação dos Artistas e no Colégio dos Órfãos … Mas a sua principal realização neste domínio foi indubitavelmente a criação da «Escola Livre das Artes do Desenho» … O primeiro problema que se colocava à viabilização da «Escola» era o da obtenção de um espaço físico … Daí que no dia 31 de Julho de 1878, sete operários tenham dirigido ao executivo municipal … ser cedida a antiga casa do Senado, no andar superior da torre do Arco de Almedina … A Câmara anuiu à pretensão e forneceu mesmo alguns materiais para que o prédio fosse ligeiramente restaurado.
… António Augusto Gonçalves não terminaria a sua longa existência sem realizar duas obras que, pela sua importância artística e relevo cultural, bastariam para conferir ao seu autor o direito de passar a ser reverentemente lembrado pelas gerações coimbrãs: referimo-nos ao restauro da Sé Velha e à fundação do Museu Machado de Castro
… É evidente que nesta breve resenha biográfica se acham omitidas muitas particularidades da vida de Mestre Gonçalves … os primores do jornalista e do crítico de arte, as arremetidas do polemista ou os méritos do professor universitário, que também foi. Mas consignam-se aspetos suficientes para qualificar de generosa e útil uma vida que se extinguirá em 4 de Novembro de 1932

Homem, A.J.C. A Exposição Distrital de Coimbra em 1884. In 1.º Centenário da Exposição Distrital de 1884. Coimbra. Simpósio. 30 de Junho e 1 de Julho de 1984. Coimbra, Edição do Secretariado das Comemorações, p. 53 a 57

 

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por Rodrigues Costa às 09:53


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