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... nesta cidade desde o remoto ano de 1526 (data em que Gil Vicente pela primeira vez aportou a esta cidade, para representar uma das suas farsas) até ao meado do século XIX, muitas informações se acumularam ...a Coimbra tocou a honra não só por três vezes haver acolhido dentro das suas muralhas o glorioso fundador do teatro popular português, mas de ter sido o genuíno berço do teatro clássico, personificado nos seus mais altos representantes: Jorge Ferreira de Vasconcelos, nascido nos campos do Mondego (em Montemor-o-Velho), que casou nesta cidade, nela escreveu e provavelmente viu representar a sua comédia «Eufrosina», cuja ação aqui decorre; Francisco de Sá de Miranda, natural desta cidade e nela criado, onde escreveu e possivelmente fez também representar as suas comédias «Estrangeiros» e «Vilhalpandas»: e António Ferreira, lente da faculdade de leis, que ensinou e aqui escreveu e viu representar na Universidade a sua tragédia «Castro», de tema medularmente coimbrão, como é a morte de Inês de Castro.
Focando-se a época do renascimento do teatro, no segundo quartel do século XIX, em que – como seu reformador – coube a Almeida Garrett o papel de maior relevo, pode também entrever-se que fora em Coimbra... como autor e ator curioso, preparara as suas primeiras armas para triunfar na difícil tarefa que mais tarde havia de tomar sobre os seus ombros; e foi de Coimbra que, designadamente a partir da fundação da Nova Academia Dramática (1838), o notável escritor recebera o mais apreciável impulso para com êxito acometer o ingente empreendimento da renovação do teatro português que tão felizmente logrou iniciar.
E mais se apurou que nesta cidade se apresentaram, como dramaturgos ou atores amadores, para fainas que os alçapremaram a beneméritos da arte dramática nacional: António Feliciano de Castilho... famoso autor e tradutor de obras da literatura dramática; João de Lemos... autor de um drama famoso; os jurisconsultos Paulo Midósi e António Joaquim da Silva Abranches, autores de peças que tiveram retumbantes sucessos; Francisco Palha, António da Costa, Francisco Soares Franco e Francisco Soares Franco Júnior, e tantos outros, todos filhos da Universidade de Coimbra e aqui tendo estagiado em teatrinhos particulares de amadores ou no Teatro Académico.
... É certo que já nos reinados de D. Sancho I e D. Afonso II aparecem referências a determinada forma dramática, pois que no ano de 1193 o primeiro desses monarcas fez doação de um casal aos dois bobos «Bonamis» e «Acompaniado»... os quais por sua parte se consideraram na obrigação de dar um «arremedilho» ao doador.
Loureiro, J.P. 1959. O Teatro em Coimbra. Elementos para a sua história. 1526-1910. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 3, 4,14
…Na busca que fizemos, durante bastante tempo, com o fito de encontrarmos a génese do fado-de-Coimbra, chamou-nos a atenção de modo especial um caderno de música escrito à mão e encadernado com sinais evidentes de ter sido muito utilizado, que existe na secção de manuscritos musicais da Biblioteca da Universidade de Coimbra, ainda por catalogar. Eis os primeiros dizeres: «Caderno de Múzica – Piano e Canto – J.D.C.».
Este caderno começou a ser escrito em 1862, segundo parece por um Costa Vasconcelos Delgado (o autor das primeiras músicas ali registadas) e em 1927 pertencia a Tomaz da Costa Paiva, do Zambujal.
O facto de nele estar copiado, com a data de 7-12-62 o conhecido «Hino Académico» que fora composto em 1853, exatamente para a Academia Coimbrã, legitima a nossa suposição de que as obras ali recolhidas eram cantadas e tocadas em ambientes frequentados por estudantes daquela época.
Um dos géneros musicais ali representados é o da «modinha» - «romança ou ária sentimental de fundo amoroso muito vulgarizada em todo o País e no Brasail pelos séculos XVIII e XIX», na definição de Francisco de Freitas.
Sucede que um dos cultores daquele género musical foi o P. José Maurício (1752-1815) que, entre outras coisas, foi professor da Cadeira de Música da Universidade de Coimbra e tinha o bom hábito de reunir em sua casa amadores para executar música, em saraus que tiveram grande fama na cidade.
Sobre a possível ligação entre a modinha e a serenata, já em 1895, se pronunciou César das Neves, no preâmbulo do II Volume do Cancioneiro …Referindo-se expressamente às modinhas, diz que elas «faziam as delícias nos serões das famílias mais ilustres» no fim do século XVIII e princípios do século XIX.
Continuando a historiar a evolução da música nos salões oitocentistas, diz que «vem depois João de Lemos e os Dórias com os seus fados e baladas, e as inúmeras romanzas brasileiras», para destacar, finalmente, o aparecimento de Augusto Hilário «com os seus fados-serenatas de uma contextura nova, cuja nota dominante reside na riqueza de modulações, na emotividade, ora apaixonada e sensual, ora patética e romântica».
Este testemunho de César das Neves afoita-nos a afirmar aquilo que já tínhamos deduzido do estudo comparado dalgumas modinhas com as baladas integradas nas récitas estudantis do fim do século passado (séc. XIX) e com o «fado-serenata» (parece ser esta a mais correta designação para o que se vai chamando fado-de-Coimbra): a modinha deixa o piano para se agarrar à viola; sai dos salões, despojando-se de arrebiques poeirentos; vem para a rua onde se refresca, simplifica e se torna expansiva; é assumida pela virilidade da voz masculina; por fim, chama a guitarra, deixa-se influenciar um pouco pelo fado lisboeta – transforma-se no «fado-de-Coimbra».
Faria, F. 1980. Fado de Coimbra ou Serenata Coimbrã? Coimbra, Comissão Municipal de Turismo, pg. 12 e 13
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