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A' Cerca de Coimbra


Sexta-feira, 22.07.16

Coimbra: O estudante de Coimbra e as suas tradições 3

... narrativa de António Francisco Barata que, escrevendo em 1864, fala acerca do “Rancho da Carqueja” e, portanto, de alguns episódios de exercício da ‘praxe’ no início do século XVIII, até 1720.

“Os costumes académicos têm tido em Coimbra um certo cunho de originalidade.

É imemorial o tempo em que deram princípio em Coimbra as caçoadas, ou ‘troças’ feitas aos novatos, vulgarmente chamados ‘caloiros’.

Sendo nos princípios apenas no tributo da ‘patente’, que o novato pagava para almoços, ou merendas, foi, com o andar dos tempos, crescendo esse tributo. Já não era só o tributo pecuniário; o caloiro tinha de ser apupado, caçoado, graduado.

Se algum havia que se negava ao cumprimento religioso daqueles costumes e praxes académicas, esse lavrava, com a recusa, a sentença condenatória que o obrigava a provações mais sérias e tremendas.

E, assim, o ‘grau’, com a prévia tonsura, a defesa das teses, e, pior que tudo, a prova do ‘esquife’, eram trabalhos a que se não eximia nenhum; era a forca caudina de todo o novato valentão e desobediente.”

... outro testemunho sobre as praxes, o de João Eloy, que frequentou a Universidade na década de 90 do passado século XIX, e a quem se deve a ideia dos festejos do “Centenário da Sebenta”, em 1899.

“Era o ‘Palito Métrico’ ... o Código pelo qual se regia a ‘briosa’, e, nos casos omissos, recorria-se à tradição oral.

... Depois da última badalada da ‘cabra’, nenhum ‘caloiro’, ‘bicho’ ou ‘formigão’ podia andar na rua sem proteção.

Mas só o quintanista, o quartanista e o pastrano – ou seja o repetente do primeiro ano – gozavam de plena liberdade de trânsito, pois o semi... digo o segundanista, não podia passar do Arco de Almedina para baixo depois das nova da noite, e o terceiranista, para além da ponte depois das dez.

... Cada ‘troupe’ tinha, como figuras principais, o ‘chefe’ e os portadores, da tesoura, para os cortes de cabelo, e da colher, para as palmatoadas.

Várias formas havia de cortar o cabelo: umas vezes à escovinha, outras cortado em ‘crista de galo’, deixando-se apenas um traço de cabelo, da testa à nuca, outras ainda à Santo Antoninho ... Normalmente todos os da troupe andavam embuçados, para o que se dava à capa uma disposição especial, que não prendia os movimentos e só deixava à vista os olhos ... Para se escapar à alçada das troupes havia o recurso à ‘proteção’. Considerava-se protegido o caloiro montado por ‘veterano’, e o que fosse acompanhado por senhora, pais, irmãos, parente próximo ou bacharel, formado pela Universidade.

... Apesar da troça aos caloiros, das troupes, das imposições de grau, etc., etc., a Academia de Coimbra era um modelo de boa camaradagem e solidariedade ... Todos nos tratávamos por ‘tu’ sem necessidade de apresentações; uma ofensa a um ‘saca de carvão’ afetava toda a Academia”.

Ribeiro, A. 2004. As Repúblicas de Coimbra. Coimbra, Diário de Coimbra. Pg. 93 a 99

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por Rodrigues Costa às 09:44


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