Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

A' Cerca de Coimbra


Quarta-feira, 25.05.22

Coimbra: Conversas Abertas, quarto debate

Aproxima-se do seu términus, no ano em curso, a iniciativa do blogue “A’Cerca de Coimbra”, que com o apoio do Arquivo da Universidade de Coimbra e do Clube de Comunicação Social, tem vindo a decorrer na Sala D. João III do Arquivo da Universidade de Coimbra. Arquivo que também guarda pinturas de grande qualidade, de que é exemplo esta pintura da escola italiana.

Imagem pintura italiana.png

Ali decorrerá a quarta sessão deste ciclo, já na próxima 6.ª feira,  no dia 27 de maio, às 18h00, com entrada livre, até ao limite da lotação, no formato habitual, ou seja, intervenção inicial do Palestrante convidado, seguida de período aberto à participação dos assistentes

A entrada é livre, até ao limite da lotação, e serão respeitadas todas as diretivas em vigor emanadas pela Direção Geral de Saúde e a sessão decorrerá no formato habitual, ou seja, intervenção inicial da Palestrante, seguida de período aberto à participação dos assistentes.

Marco Daniel.png

Doutor Marco Daniel Duarte

O Palestrante será o Doutor Marco Daniel Duarte diretor Museu do Santuário de Fátima e do Departamento de Estudos do mesmo Santuário, onde dirige o Arquivo e a Biblioteca. É ainda diretor do Departamento do Património Cultural da Diocese de Leiria-Fátima.

Doutorado em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, pertence à Academia Portuguesa da História, como Académico de Número, à Academia Nacional de Belas-Artes, como Académico Correspondente Nacional, é Sócio Efetivo da Associação Portuguesa de Historiadores da Arte, Membro da Sociedade de Geografia de Lisboa, da Sociedade Nacional de Belas Artes e da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa.

Autor de vários estudos publicados em revistas científicas e editados em livro – entre , alguns deles premiados, comissariou diversas exposições científicas subordinadas às temáticas da sua especialidade.

JSC. capa do livro..png

O tema que irá tratar será o Jardim do Mosteiro de Santa Cruz ou Jardim da Sereia: Uma imagem do Paraíso na cidade de Coimbra.

Situado hoje num dos centros cívicos da cidade, o popularmente conhecido por Jardim da Sereia foi um dos recantos mais belos da cerca dos Cónegos Regrantes de Santa Cruz que, sob a ação de Frei Gaspar da Encarnação (1726-1760), ali construíram um lugar de recreio para a comunidade monástica a que não faltou a marca intelectualizada típica daquela ordem religiosa.

Construído entre 1731 e 1736, os diferentes espaços que compõem o Jardim de Santa Cruz revelam-se, ainda hoje, clara imagem do Paraíso, não obstante as alterações a que têm sido sujeitos e os vandalismos por que tem passado.

Solicito e agradeço a todos os leitores do Blogue “A’Cerca de Coimbra”, a ajuda na divulgação desta iniciativa.

Com o obrigado do

Rodrigues Costa

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 09:33

Quinta-feira, 18.11.21

Coimbra: Apropriação e conversão do Mosteiro de Santa Cruz 5

No início do século XX o plano estava quase completo. O Matadouro implantou-se no limite norte da Quinta e foi inaugurado em 1897. O mercado foi ampliado e construído o Pavilhão do Peixe segundo projeto de 1901, do Arquiteto Silva Pinto. A estrada de ligação a Celas foi aberta através da rua Lourenço de Almeida Azevedo. O Jardim Público, aproveitando o antigo Jogo da Bola, foi denominado Parque de Santa Cruz e passou a ser utilizado por toda a população, que elegia aquele espaço para a realização de várias festas populares. O parque infantil foi construído na década de trinta, junto à praça D. Luís e denominado o Ninho dos Pequeninos. As águas da quinta foram canalizadas e conduzidas para o chafariz do largo da cadeia. E o planeado boulevard, ícone do urbanismo do século XIX, foi finalmente construído em 1906.

Para além dos equipamentos projetados, o novo bairro permitiu implantar a Escola Central do Ensino Primário (1905), o Teatro-Circo do Príncipe-Real (1892), a Central de Inspeção de Incêndios (1891), a Manutenção Militar e a Associação Comercial e Industrial (1909).

Concluindo

A extinção das corporações religiosas e a consequente desamortização dos seus bens permitiu ao município de Coimbra delinear uma estratégia concertada de modernização da cidade. Numa primeira fase procedeu à simples ocupação dos edifícios e terrenos desocupados, sem relevantes obras de adaptação às novas funções, mas sem descurar a organização geral da cidade. Num segundo momento, consciente das necessidades de cada função, promoveu obras de adaptação ou em casos mais radicais demoliu o existente, como no caso do edifício dos Paços do Concelho.

A maturação da experiência administrativa e a efetiva transformação da cidade contribuíram para um novo entendimento que esteve na base do primeiro levantamento topográfico da cidade, encomendado aos irmãos Goullard em 1873. Conhecendo a cidade, o município conseguiu avançar para lá dos limites cedidos e empreender a primeira operação de crescimento da cidade desde a abertura da Rua da Sofia no século XVI. Aproveitando os terrenos da antiga Quinta de recreio do Mosteiro de Santa Cruz, empenhou-se numa operação ambiciosa e marcou a entrada de Coimbra na era da modernidade, inaugurando de forma consciente o moderno planeamento urbano na cidade.

Fig. 11. Planta da autora de reconstituição da e

Fig. 11. Planta da autora de reconstituição da execução do Plano de Melhoramentos da Quinta de Santa Cruz a partir do levantamento da cidade de 1934

Fig. 12. Fotografia vertical do Bairro de Santa Cr

Fig. 12. Fotografia vertical do Bairro de Santa Cruz em 1934. Arquivo Histórico das Forças Armadas

Calveiro, M.R. Apropriação e conversão do Mosteiro de Santa Cruz. Ensejo e pragmatismo na construção da cidade de Coimbra. In: Cescontexto, n.º 6, Junho 2014. Coimbra, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Pg. 227-240. Acedido em

https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/80969/1/Apropria%c3%a7%c3%a3o%20e%20convers%c3%a3o%20do%20Mosteiro%20de%20Santa%20Cruz.pdf

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 18:09

Quinta-feira, 15.04.21

Coimbra: Alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. 15

Ao lado do Parque de Regalo dos crúzios rasga-se a Rua Lourenço de Almeida Azevedo

Pouco depois de ser aberta, em 1891, a Rua Lourenço de Almeida Azevedo começa a povoar-se de moradias: logo no início duas casas inserem a sua gramática decorativa num revivalismo medieval que se relaciona com a ideologia romântica e, simultaneamente, evidenciam uma forte ligação com os canteiros da ELAD.

A primeira, patenteia um pseudominarete a apontar para construções mouriscas, quase inexistentes na região de Coimbra, e o seu risco saiu, de acordo com a tradição oral e sem qualquer documento que o outorgue, da mão do arquiteto Silva Pinto. Contudo, devido à mais que dúbia qualidade dos modelos existentes ou, com uma maior margem de probabilidade, pelo gosto se encontrar desenquadrado no contexto citadino, a verdade é que o neomudéjar não teve grande impacto no ambiente artístico local.

A outra, de autor desconhecido, com a fachada decorada dentro do gosto românico (interiormente a forma como a casa se encontra programada nada tem a ver com o período medieval) aponta para o segundo romantismo que busca a “nossa arquitetura” na época da fundação de Portugal e, consequentemente, no estilo românico. Além disso, deve estar intimamente relacionada com a intervenção levada a cabo, mais ou menos por essa altura, na Sé Velha e que não podia deixar de influenciar o mundo artístico mondeguino.

António Augusto Gonçalves bateu-se com firme determinação para que o restauro do templo se transformasse de utopia em realidade e os artistas que frequentavam a Escola Livre, e à sua volta gravitavam, permitiram-lhe concretizar o sonho, obviamente com a aquiescência do bispo da diocese, D. Manuel Correia de Bastos Pina. A influência do templo restaurado é de tal forma notória no edifício que esta moradia passou vulgarmente a ser conhecida pelo nome de “Casa da Sé”. A sua fachada ostenta um corpo central mais avantajado e ameado; o piso superior é rompido por cinco portas, sendo a central mais larga e trabalhada do que as restantes; quatro gárgulas dão vazão às águas que escorrem do telhado.

Fig. 21. Casa da Sé. Pormenor. [Foto Daniel Tiago

Fig. 21 – Casa da Sé. Pormenor. [Foto Daniel Tiago]

Casa da Sé. Pormenor. [Foto RA] 01.jpg

Casa da Sé, pormenor. Foto RA.

Casa da Sé. Pormenor. [Foto RA] 02.jpg

Casa da Sé, pormenor. Foto RA

Face à semelhança verificada entre esta moradia e o velho templo catedralício aeminiense atrevo-me a apontar o nome de António Augusto Gonçalves como sendo o autor do risco, pois não olvido que foi da sua mão que saiu o projeto documentado e datado, do templo do Divino Senhor da Serra, de Semide.

A construção de casas que saíssem da vulgaridade e atestassem o poder económico dos seus donos estava, como já se referiu, dentro dos parâmetros mentais de então.

Um pouco mais acima, com desenho de Raul Lino, ergue-se uma outra moradia que também merece ser referenciada. Infelizmente ignoro o nome do encomendante, desconheço o projeto e a data da sua construção.

 

Casa riscada por Raul Lino [Foto RA].jpg

Casa riscada por Raul Lino. Foto RA

Casa riscada por Raul Lino. Pormenor [Foto RA].jpg

Casa riscada por Raul Lino, pormenor. Foto RA

A Rua Lourenço de Almeida Azevedo desdobra-se à esquerda de quem, a partir da Praça da República, olha para o Jardim da Sereia, local onde os frades crúzios, outrora, viviam momentos de lazer e no lado oposto, isto é, à direita do observador, abre-se a via que permite unir o Largo D. Luís à Rua de Tomar: trata-se da Rua Almeida Garrett. Logo no início desta via existe uma casa que tem a ornamentar os aventais das janelas vistosos frisos cerâmicos da autoria de Miguel Costa.

Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes.

 

Tags: Coimbra séc. XIX, Coimbra séc. XX, Alargamento do espaço urbano, Rua Lourenço de Almeida Azevedo, Silva Pinto arquiteto, Casa da Sé, Raul Lino arquiteto, António Augusto Gonçalves, Jardim da Sereia, Largo D. Luís ver Praça da República, Rua de Tomar, Rua Almeida Garrett,

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 21:33

Quinta-feira, 01.03.18

Coimbra: Alexandre Herculano e a sua visão da cidade 3

Passada a Sofia, a primeira coisa notável que se encontra é o velho mosteiro de Santa Cruz, fundação do nosso D. Afonso Henriques. Da primitiva obra nada ou mui pouco resta. – Consta que o antigo mosteiro era um edifício cercado e torreado, como um castelo: o templo tinha três naves; os claustros eram três, as celas oitenta e quatro. Hoje é mui diverso o estado das cousas. Porventura as celas são mais numerosas, os corredores mais elegantes, as oficinas mais acomodadas, os claustros mais magníficos; mas a igreja pareceu-nos acanhada, mesquinha, mal traçada, e de mau gosto, porque a vimos depois de ter lido pomposas descrições dela. O que ainda se conhece que realmente foi bom, é o portal lavrado de laçarias, e vultos, e mil invenções curiosas. Cremos que infelizmente entalharam esta obra em pedra de Ançã, em lugar de pedra canto; e por isso está tudo estragado e carcomido.

Planta de Magne pormenor.jpg

 Mosteiro de Santa Cruz, pormenor da planta de Magne

 No corpo da igreja há muitas sepulturas de venerável antiguidade, e inscrições mortuárias que falam de nomes gloriosos: mas os mais notáveis sepulcros são os dos dois primeiros reis portugueses, D. Afonso e D. Sancho, colocados aos lados da capela-mor. Estes monumentos preciosos foram mandados fazer por el-rei D. Manuel, e aí se conservaram até o ano de 1832, em que D. Miguel os mandou arrombar, para ver o que continham: ainda no ano seguinte vimos as pedras quebradas, e os mal apagados sinais deste ato de barbárie.

As duas coisas mais importantes que havia no convento eram a livraria e o santuário: as preciosidades de um e de outro foram levadas para a cidade do Porto. Entre os quadros que adornavam o santuário dizem que estava uma «transfiguração» de Rafael, e a «adoração dos reis» de Rubens. Aí se mostrava uma espada, que se dizia ter sido de D. Afonso Henriques, e que se acha reunida á do moderno Afonso, o duque de Bragança, no museu do Porto, para onde também foi levada a escrivaninha e a pena com que assignaram os decretos do concilio tridentino, monumentos curiosos doados a Santa Cruz por D. Fr. Bartolomeu dos Mártires.

A quinta ou cerca de Santa Cruz é uma das mais extensas e maravilhosas de Portugal. Descrevê-la fora impossível na brevidade do nosso quadro. O lago é obra magnifica: mas as árvores que a rodeiam, cortadas em colunas e obeliscos, são apenas um dos mil exemplos de mau gosto dos antigos jardins. 

Sé Velha antes do arranjo.jpg

 Sé Velha, antes do arranjo

 A paroquia de S. Cristóvão, ou Sé Velha, é o monumento de Coimbra mais digno de atenção, porque é porventura o único que resta em Portugal do tempo dos godos. A sua arquitetura não se parece, portanto, com a de outro algum edifício conhecido. As suas paredes, vistas exteriormente, assemelham-se às de um castelo; é talvez o que resta da primitiva, e um escritor moderno se enganou inteiramente, supondo os lavores da porta lateral do templo obra de arquitetos godos, quando basta vê-los para conhecer que foram lavrados no 13.º ou 14.º século. Posterior ainda a esta época é o interior da igreja.

No alto da cidade, onde estão os fundamentos do observatório novo, começado pelo marquês de Pombal, e nunca levado a cabo, jazia o antigo castelo, que foi demolido, e de que restam apenas alguns fragmentos. Este castelo era célebre pela ação heroica do leal Martim de Freitas,

A universidade está onde antigamente eram os paços reais, chamados das alcáçovas; neste edifício ainda existem muitos vestígios da sua origem remota. Nada diremos aqui acerca desse estabelecimento literário, que tantos homens ilustres tem dado a Portugal, porque o guardamos para um artigo especial.

A Sé Nova era a igreja dos jesuítas: ampla, e ao primeiro aspeto majestosa, um exame mais miúdo faz descobrir nela o ferrete de todos os edifícios daquela ordem – mau gosto de arquitetura.

Muitos outros monumentos notáveis se encontram na antiga capital dos portugueses, mas a brevidade necessária nos veda falar deles. Entretanto há aí uma cousa curiosa, de que ninguém tratou ainda, e que vale a pena de se mencionar. É esta a inquisição. Ela ainda está em pé com os seus corredores escuros, os seus carceres medonhos, as suas «espreitadeiras». Ainda aí se vê a casa dos tratos, com as paredes cheias de arranhaduras, e de manchas escuras, que porventura são de sangue!  - E não se deveria conservar este monumento de fanatismo para os vindouros, a quem parecerão impossíveis os horrores que se contam acerca da inquisição!

Nos arredores de Coimbra, pode-se dizer que cada pedra, cada campo, cada bosquezinho é um monumento histórico. – A fonte do Cidral e o Penedo da Saudade, quem os não conhece? – Atravessando a ponte para o lado de Lisboa, encontram-se à esquerda umas ruínas, e atrás delas um campo coberto de arvoredos e de hortas. Aqui houve um mosteiro ilustre: este foi o de Santa Clara, fundado por S. Isabel, e que o rio fez desaparecer. D. João 4.º edificou o novo no monte ao ocidente de onde em perspetiva se descobre a cidade.

Naquela margem do Mondego está também a Quinta das Lágrimas, e a Fonte dos Amores. No palácio pertencente à quinta sucedeu, segundo dizem alguns, o trágico sucesso da morte de D. Inês de Castro. A Fonte dos Amores, rica de recordações e pobre de adornos, lá corre ainda caudal para um tanque meio entulhado. Descrita por poetas, viajantes, e historiadores, calará acerca dela a nossa mal aparada pena, e só faremos um voto para que a mão do homem não derrube os últimos cedros que a assombram, e que são testemunhas das memórias de muitos séculos.

O Panorama. Número 51. 21 de Abril de 1838. Pg. 122-123

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 22:15

Terça-feira, 12.12.17

Coimbra: Jardim da Sereia ou Parque de Santa Cruz

Na parte superior da cerca, para onde o espaço da encosta lhes permite abrir os eixos que formarão um parque traçado e dimensões barrocas. É assim que a quinta do Mosteiro de Santa Cruz se transforma num parque que adota a gramática construtiva de Versailles: um eixo de simetria, que se define ao longo de um imenso jogo da bola, duas vezes a dimensão do que havia sido construído em Mafra, no palácio real, e o eixo na cascata dividem-se em duas escadarias monumentais, com 5 metros de largura e totalmente simétricas, que sobem a encosta, formando o tão famoso «pied-de-poule» copiado por todas as cortes da Europa.

Sereia arco de entrada.jpg

 Jardim da Sereia, arco de entrada

O significado deste empreendimento monumental merece ser abordado: a simbologia é predominantemente religiosa, com o arco triplo da entrada enquadrando a perspetiva profunda do jogo da bola. Duas inscrições em latim revelam-nos a intenção do dono da obra: «Que o bosque de Idálio esconda, agora, os milagres da arte / E que o sagrado Ida não espalhe as suas fontes, / ao mesmo tempo, a arte e o murmúrio das águas honram este bosque / E não existirá outro igual a ele, nem mesmo o paraíso.»

E dão as boas vindas a quem entra: «o zelo dos antepassados preservou este jardim para eles, ó mundo, / para que não voltem às perfídias e às tuas tentações / e não voltarão às tuas volúpias; agora, este jardim enclausurado / é o único que tem as alegrias que eles conhecem verdadeiramente.»

João V pagou ... toda a obra do jardim da quinta de Santa Cruz ... o que é sempre extraordinário ... é a sua consistência em dar expressão às regras europeias do barroco.

... A monumentalidade disciplinada a um eixo, própria do estilo barroco, levaria, sem dúvida, à construção de duas escadarias simétricas em redor das cascata, não fora a habitual tendência para deixar obra incompleta. Uma só escadaria foi levada ao cimo da encosta, trabalhada em patamares de plantas diferentes, ornamentados com fontes ao nível dos pavimentos e azulejos nos assentos que os envolvem.

A última fonte do topo da escadaria termina numa parede revestida de pedra irregular calcária, formando uma gruta com um tritão com barbas quer abre a boca a dois golfinhos. Surpreendentemente é a este másculo tritão que chamaram sereia e, a partir dele, nasceu a designação de Jardim da Sereia.

 

Sereia lago.jpg

  Jardim da Sereia lago

 ... O outro arranque da escada desemboca numa íngreme ladeira que em tempos foi coberta por um túnel de loureiros e leva até ao grande lago circular. Esta peça é o ponto vital do jardim porque todo o sistema de repuxos das escadarias e da grande cascata é por ele alimentado. No centro do lago, numa ilha foi plantada uma laranjeira e, em redor do lago, uma sebe alta de ciprestes com arcos. Toda esta composição vegetal desapareceu e os bancos que encostavam à sebe de ciprestes, que um dia foram cómodas estadias viradas para o lago, flutuam tristes num espaço agora mal resolvido. 

Castel-Branco. C. Os jardins de Coimbra. Um colar verde dentro da cidade. In: Monumentos. Revista Semestral de Edifícios e Monumentos. N.º 25, Setembro de 2006. Lisboa, Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, pg. 173-175

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 09:06

Segunda-feira, 28.12.15

Coimbra, a Sereia e as suas estátuas

O Parque de Santa Cruz, vulgarmente conhecido por Jardim da Sereia, fez parte integrante do antigo Mosteiro de Santa Cruz. No século XVIII, na época do Prior, D. Gaspar da Encarnação, foi aquela vasta área ajardinada e dotada de artísticos tanques, fontes e de um recinto para o jogo da péla. A entrada principal está marcada por um bonito pórtico ladeado de dois torreões, com uma arcada tríplice, ornamentada com concreções calcárias, vindas das grutas da zona de Condeixa … Dominam o pórtico três esculturas barrocas, simbolizando as Três Virtudes Teologais: Fé, Esperança e Caridade … a Fé está ao centro e empunha, elevado na mão direita, um cálice, enquanto a Caridade fica cercada de crianças e situa-se à esquerda, e a Esperança do lado direito, apresenta-se com a corrente de uma âncora (já desaparecida) … Uma lápide com texto em latim e colocada por baixo da figura central, a Fé, alude no seu conteúdo, ao local paradisíaco da Sereia
… A Cascata (vulgar e erroneamente designada por Fonte da Sereia) coroa o espaço cenográfico e paisagístico, intensamente barroco, o Jogo da Péla.
A Cascata ergue-se como grandioso trono de retábulo, em degraus de concreções calcárias semeadas de plantas (avencas), e tem a ornamentá-la e escultura, em pedra de Nossa Senhora da Conceição. Em plano mais recuado dois medalhões de azulejo figurativo do século XVIII com as cenas bíblicas de Sara e Agor no deserto (lado esquerdo) e o profeta Eliseu a lançar sal nas águas de Jericó (lado direito). A ladear os azulejos as estátuas dos quatro evangelistas: São Lucas e São João do lado esquerdo; São Mateus e São Marcos do lado direito.
As esculturas em calcário, degradadas, que remontam ao século XVI … está incompleta, porquanto falta o anjo no São Marcos e o touro alado do São Lucas está amputado das hastes
… no cimo de um cenográfico escadório, entremeado de patamares com repuxos e tanques de água, bancos de pedra armados de azulejo com motivos paisagísticos, de animais e água, nos encostos, encontra-se a Fonte da Nogueira, chamada, também, do Tritão … no alto um nicho com uma imagem da Virgem, e na base um grupo escultórico que simboliza um Tritão a abrir a boca a um golfinho, e donde corre a água para uma concha … Tritão, que na designação popular é a Sereia (daí o nome porque é conhecido o jardim).

… Por iniciativa do Clube da Comunicação Social foi-lhe erigido (a Cabral Antunes) no Parque de Santa Cruz, um busto em bronze, inaugurado em Abril de 1987 … o trabalho artístico foi executado pelo escultor Celestino Alves André.
… A 14 de Dezembro de 1967, no 1.º centenário do nascimento do poeta (Camilo Pessanha), foi inaugurado em Coimbra, sua terra natal, e no Parque de Santa Cruz ... um busto em bronze … da autoria do escultor Cabral Antunes … A iniciativa foi da responsabilidade da Câmara Municipal de Coimbra

Nunes, M. 2005. Estátuas de Coimbra. Coimbra, GAAC – Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Pg. 47 a 63

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:56


Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

calendário

Março 2024

D S T Q Q S S
12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930
31