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… Já fora de portas, encontrava-se um outro núcleo de propriedade régia, onde a concentração era quase compacta: a Judiaria Velha, no local onde existe a Rua Corpo de Deus.
… Em Coimbra, como sucedia em muitas outras cidades e vilas do país, o rei era o grande proprietário das casas habitadas pela minoria judaica …
… Embora correspondendo grosso modo ao espaço que é hoje ocupado pela Rua Corpo de Deus como aliás indicam os limites fixados no título da descrição “que se começa tralla ousia de Santiago e se vai ferir na rua derecta acima da egreja do Corpo de Deus”, a judiaria contava seguramente com outras ruas… provavelmente de menores dimensões, são as ruas da Marçaria, do Pintosinho e da Moreira.
… Na data em que o tombo foi realizado (1395) já a judiaria se encontrava desativada, tendo os judeus aí residentes passado para a judiaria próxima do mosteiro de Santa Cruz, local mais tarde designado por Rua Nova.
É uma imagem de abandono a que perpassa pelo texto onde se descreve a maioria das propriedades como abandonadas, em rossio ou em chão.
… A Judiaria Velha de Coimbra era, pela sua localização, um exemplo paradigmático das judiarias portuguesas: junto a uma via principal, económica e socialmente importante, a Rua da Calçada, encostada à muralha e quase delimitada nos topos por duas portas da cidade, Porta Nova e Porta de Almedina, para além de vizinha de um templo cristão, o de São Tiago, como tentativa de conversão da população judaica.
Embora pouco saibamos das casas que constituíam o bairro, não nos parece que se distinguissem do panorama geral. Oscilando entre o piso único e os dois pisos, por vezes recorrendo ao meio sobrado como forma de ganhar uma câmara extra, algumas contavam com cortinhais, num caso com uma amoreira noutro com quatro pés de oliveira. Um terceiro fora aproveitado para a edificação de uma cozinha. Só duas casas parecem fugir à regra: uma descrita como «paaço grande» a outra, de dois pisos e quatro portais, embora provavelmente dividida em duas moradas já que a traziam aforada Boroeiro Judeu e Samuel peneireiro.
O tombo não deixa perceber até que ponto a Judiaria era um espaço fisicamente delimitado e efetivamente fechado, embora a porta da Judiaria seja referida por duas vezes. Junto a esta, e na zona de maior movimento pela confluência com as Ruas da Calçada e de Coruche, situava-se a albergaria dos judeus. Não muito longe a carniçaria onde, provavelmente a cargo de «Salomon carneçeiro», a carne era tratada segundo os preceitos hebraicos.
… Um instrumento redigido a pedido dos judeus por Vasco Martins tabelião, em 1357, diz que moravam em cerca apartada e “sob chave e guarda de el-rei”.
Trindade, L. 2002. A Casa Corrente em Coimbra. Dos finais da Idade Média aos inícios da Época Moderna. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 122 a 123
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