Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

A' Cerca de Coimbra


Terça-feira, 01.10.24

Coimbra: Igreja de S. José 3

Última de três entradas dedicadas à divulgação do trabalho do Doutor João Alves da Cunha dedicado à história da construção da nova igreja de S. José.

Quanto ao interior da igreja, era composto por uma só nave, precedida de um pequeno átrio interno donde se acedia também quer à escada do coro, que envolvia superiormente a nave, quer ao batistério, que se manteve junto à entrada principal da igreja, mas agora integrado no seu volume principal. Próximo da capelamor situavamse duas capelas laterais que pela sua altura e profundidade formavam um transepto com expressão suficiente para dar um cariz cruciforme à planta da igreja.

A capelamor, de remate semicircular, era envolvida pelo referido deambulatório de acesso às sacristias, cartório e outros serviços, que tinham também acesso pelo exterior.

Este corredor encontravase separado da capelamor por meio de colunas cuja base de apoio é cheia até determinada altura”. Em termos de iluminação, “A nave fica mergulhada em penumbra pelo condicionamento de aberturas laterais. A capelamor, porém, inundase de luz que lhe vem duma série contínua de aberturas que envolvem todo o deambulatório”. Quanto à torre sineira, à semelhança da proposta por Januário Godinho, situouse separada do volume principal. Ficava, no entanto, “ligada à galeria claustral envolvente, tanto para dar isolamento e capacidade à casa mortuária [situada na sua base], como também para se obter independência total de todos os elementos verticais da sua composição”.

…. Os meses passaram depressa, chegando a notícia no começo de outubro de que o projeto de arquitetura se encontrava ainda em execução. 

.... [No] mês de outubro quando Álvaro da Fonseca entregou “à consideração superior” o esperado projeto, baseado “em estudos desenhados e num estudo em vulto que em devido tempo foram apreciados pelas entidades oficiais”. A nota descritiva e justificativa pouco diferiu da apresentada no anteprojeto.

Igreja de S. José, 7.jpgIgreja de S. José, projeto. Plantas, cortes e alçados (Arq. Álvaro da Fonseca, 1953). Fonte: Arquivo da Igreja de S. José de Coimbra. Op. cit., 292

…. Pouco tempo passado, a 7 de novembro, o Diretor de Urbanização do Distrito de Coimbra enviou o seu parecer sobre o projeto ao Diretor Geral dos Serviços de Urbanização.

Igreja de S. José, 8.jpgIgreja de S. José, em construção. Fonte: http://www.diocesedecoimbra.pt/noticias/site/  paroquiadasenova:787. Op. cit., pg. 293

…. A 19 de março de 1954 teve lugar a cerimónia de bênção da primeira pedra… Apesar da receção definitiva da obra ter ocorrido a 11 de abril de 1960 … D. Manuel de Jesus Pereira, Bispo Auxiliar, sagrou a igreja no dia de S. José, a 19 de março de 1962.

Igreja de S. José, 9.jpgIgreja de S. José, após inauguração. Fonte:  https://www.pinterest.pt/pin/448248969156178023/. Op. cit., 294

Ainda despida das intervenções artísticas, a luz interior da igreja e em particular da capelamor foi então largamente elogiada.

…. Monsenhor Nunes Pereira, outra importante figura no campo da arte e da cultura, escreveu que o novo templo, “bem iluminado, é dominado pela capelamor de terminação semicircular tendo ao centro o altar de mármore e o trono sob um baldaquino dourado”.

…. A intervenção de artistas plásticos acabou por realizarse quer no exterior quer no interior da igreja. Na fachada principal colocaramse dois grupos escultóricos de dimensão quase excessiva, ambos concebidos pelo artista açoriano Numídico Bessone Borges de Medeiros Amorim (19131985): S. José com o Menino e Dois anjos com cruz. Para o interior da igreja, a escultora Maria Amélia Carvalheira (19041988) concebeu diversas peças, nomeadamente as esculturas de Nossa Senhora e de S. José com o Menino, colocadas nas capelas laterais, e a Via Sacra, obras serenas e de traço seguro.

…. Ainda no presbitério foram colocados azulejos na parte inferior das paredes, tal como nas paredes laterais da igreja e das capelas laterais, cujo teto foi ainda rebaixado em três metros.

Nesta intervenção, a pia batismal foi deslocada desde o seu local original, no batistério junto à entrada, para o altarmor.

Igreja de S. José, 10.jpg

Igreja de S. José, capelamor (1962, 1983, 2001). Fonte: Castelhano, João, Nunes, Mário, Rebelo, João José – S. José - Coimbra: 75 Anos de uma Paróquia Viva. Coimbra: Diocese de Coimbra – Paróquia de S. José, 2008; Floristán, Casiano – Para compreender a paróquia. Arquivo do autor. Op. cit., pg. 301

No âmbito da Celebração do Jubileu do Ano Santo de 2000, várias obras foram encomendadas a diferentes artistas. Nas galerias exteriores foram inaugurados dois grandes painéis de azulejos da autoria de Vasco Berardo, pintor, escultor e ceramista. Inaugurados a 7 de janeiro de 2001, tiveram como tema “Cristo” (galeria nascente) e “Maria” (galeria poente).

Igreja de S. José, 11.jpgNunes Pereira, Vitral central da Igreja de S. José. Imagem acervo RA

A 16 de junho de 2001 foi colocado no presbitério o Vitral da Ressurreição, da autoria de Monsenhor Nunes Pereira, peça figurativa dividida em três tramos, o central e principal que representa a ressurreição de Cristo, ladeado por panos mais estreitos, à esquerda com cenas da vida de Cristo e à direita com os apóstolos.

Cunha, J. A. 2019. Igreja de São José, Coimbra: história da sua construção. In: Lusitania Sacra. 39 (janeiro-junho 2019), pg. 269-302. Universidade Católica Portuguesa. Texto e imagens acedidas em: https://www.academia.edu/77771199/Igreja_de_S%C3%A3o_Jos%C3%A9_Coimbra_hist%C3%B3ria_da_sua_constru%C3%A7%C3%A3o

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 11:22

Terça-feira, 24.09.24

Coimbra: Igreja de S. José 2

Segunda entrada sobre o trabalho do Doutor João Alves da Cunha dedicado à história da construção da nova igreja de S. José.

Uma vez escolhida a segunda orientação para a futura igreja, Januário Godinho deu início ao anteprojeto, concebendo um edifício basilical de cariz moderno.

…. Em termos formais, refirase ainda que ao alto e longo volume proposto, com fachada tripartida e três portais de arco parabólico voltados a sul, se ligavam outros dois elementos litúrgicos individualizados e desta forma valorizados – a alta e esguia torre sineira, do lado nascente, e o baixo e circular batistério, do lado poente. Formavase deste modo uma composição arquitetónica em equilíbrio assimétrico que era ainda acompanhada por um corpo linear que acomodaria diferentes atividades da paróquia e que não só definiria o adro, como também serviria de barreira entre este e o estádio.

…. Apresentado o anteprojeto durante o ano de 1947, este foi alvo de um parecer muito positivo por parte da Direção Geral dos Serviços de Urbanização.

…. o assunto da construção da igreja conheceu um prolongado silêncio, a que não terá sido alheia a morte de D. António Antunes … D. Ernesto Sena de Oliveira [o bispo de Coimbra que lhe sucedeu] … a 31 de outubro de 1949, … incluiu a construção da igreja de S. José na lista das obras prioritárias a comparticipar na sua diocese.

…. Januário Godinho trabalhou no projeto da igreja de São José até 18 de novembro de 1950. Numa extensa memória descritiva – 14 páginas –, o arquiteto apresentou e justificou as suas decisões.

…. Na sua composição sobressaía a solução simultaneamente decorativa e construtiva das paredes laterais, que a partir da altura de quatro metros seriam formadas por “uma grelhagem enquadrada nos tramos dos pilares, à maneira das construções góticas; esta grelhagem é constituída por uma série de elementos diferentes e prefabricados que, uma vez montados segundo composição cuidada, formam painel único de efeito surpreendente e variado”. De acordo com o arquiteto, pretendiase obter, “salvo as devidas proporções, um ambiente semelhante ao das grandes catedrais, em que o jogo de luz é o principal objetivo; neste caso, a grelhagem constitui uma estilização adequada aos tempos modernos … Quanto aos espaços vazios da grelhagem seriam fechados com vidro colorido, em tons simples e sem figuras.

Igreja de S. José,  4.jpg

Igreja de S. José, projeto. Planta, cortes e alçados (Arq. Januário Godinho, 1950). Fonte: Arquivo da Igreja de S. José de Coimbra. Op. cit., 282

…. Januário Godinho concebeu, deste modo, “uma igreja moderna que, para além da sua elevada função espiritual, possa contar aos vindouros, na medida do possível, um pouco da história da arte e da técnica de construção do nosso século”.

Igreja de S. José, 5.jpg

Igreja de S. José, projeto. Maquete (Arq. Januário Godinho, 1950). Fonte: Arquivo do autor. Op. cit., pg. 283

…. [Depois de diversos pareceres] A 10 de julho, o Diretor Geral dos Serviços de Urbanização tratou então de informar o Bispo de Coimbra da não aprovação do projeto de Januário Godinho, sendo que “Pelo mesmo despacho determinou Sua Exª [o Ministro das Obras Públicas] que se aconselhasse a entidade interessada na realização da obra, a promover a elaboração de outro estudo.

…. 28 de agosto de 1951 a ordem chegou ao Diretor de Urbanização do Distrito de Coimbra para que este diligenciasse “que o estudo do novo projeto (…) seja elaborado pelo Sr. Arquiteto Álvaro da Fonseca.

…. Foi preciso esperar até dezembro de 1952 para a apresentação do projeto por Álvaro da Fonseca. Se este mantinha várias opções da proposta de Januário Godinho – como a orientação ou o desenvolvimento longitudinal –, revelou diversas diferenças que mostravam responder às críticas que levaram à rejeição do antecessor.

Igreja de S. José, 6.jpg

Igreja de S. José, anteprojeto. Plantas e perspetivas (Arq. Álvaro da Fonseca, 1952). Fonte: Arquivo da Igreja de S. José de Coimbra. Op. cit., pg. 289

Segundo a nota descritiva de Álvaro da Fonseca “projetando-se a igreja para uma cidade de valioso passado artístico, procurouse conjugar os elementos tradicionais da nossa arquitetura com as orientações do presente. Assim, para a valorização das fachadas, envolveuse a nave por uma galeria que forma um estilizado claustro aberto e, para evitar que as zonas de serviço desequilibrassem os volumes arquitetónicos, estabeleceramse as mesmas em ligação com a capelamor, dando a sugestão dos deambulatórios tradicionais”.

Cunha, J. A. 2019. Igreja de São José, Coimbra: história da sua construção. In: Lusitania Sacra. 39 (janeiro-junho 2019), pg. 269-302. Universidade Católica Portuguesa. Texto e imagens acedidas em: https://www.academia.edu/77771199/Igreja_de_S%C3%A3o_Jos%C3%A9_Coimbra_hist%C3%B3ria_da_sua_constru%C3%A7%C3%A3o

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 11:04

Quinta-feira, 19.09.24

Coimbra: Igreja de S. José 1

O Doutor, em História da Arquitetura, João Alves da Cunha publicou em 2019, na revista Lusitania Sacra editada pelo Centro de Estudos de História Religiosa, da Universidade Católica Portuguesa, o relato do caminho percorrido até à edificação da atual igreja de S. José, o qual aqui relembramos.

S. José do Calhabé é uma paróquia recente na já milenar Diocese de Coimbra, criada no século VI. Constituída a 16 de julho de 1932 por Decreto do Bispo de Coimbra D. Manuel Luís Coelho da Silva, viu erguerse a sua primeira matriz ainda naquele ano, a igreja de S. José do Calhabé, construída com autorização aquele prelado e por ele benzida no dia 16 de outubro de 1932.

Igreja de S. José 1.jpgIgrejas de S. José, velha e nova em construção (c.1962). Fonte: https://www.pinterest.pt/pin/448248969154149659 . Op. cit., pg. 270

…. Situada onde hoje se encontra a faixa ascendente da Rua dos Combatentes da Grande Guerra, com orientação sulnorte, destacavase na sua arquitetura a fachada com torre sineira central de influência Arte Deco. Edifício estreito e de pequenas dimensões, desde logo se considerou pouco adequado para as exigências de uma paróquia em franco crescimento … apenas sete anos volvidos, a Comissão do Culto Católico da Freguesia de S. José tenha decidido promover a construção de uma nova igreja.

A 14 de dezembro do ano seguinte apresentou o arquiteto Alfredo Duarte Leal Machado um primeiro estudo para a futura igreja de S. José do Calhabé. …No mesmo documento, o autor caracterizou a arquitetura que propunha para a igreja como “sóbria, pois as suas linhas gerais não são pretensiosas, sem, no entanto, deixarem de ser harmoniosas”. No entanto, “como esta freguesia se encontra num vale”, o arquiteto sentiu necessidade de situar à direita da fachada uma torre com 30 metros de altura. De igual modo fez questão de referir que “dentro desta simplicidade [a igreja] terá motivos enriquecidos, como seja o pórtico da entrada, todo em baixo relevos, com motivos alegóricos à vida de S. José; nas janelas e frestas, vitrais; altares e púlpitos com baixos relevos, decorados com motivos à vida do Santo que o mesmo altar representa; tanto na nave, como no transepto, como na capelamor levará paneaux de azulejos decorativos e pinturas alegóricas.”

…  Quanto à planta da igreja, também esta foi descrita como simples, “feita como tantas outras dentro da forma Cruz Latina”. Era composta de uma grande nave central e duas laterais com três capelas cada, a que se juntavam mais dois altares nos topos do transepto.

Igreja de S. José, 2.jpgIgreja de S. José, estudo prévio. Plantas e alçado principal (Arq. Alfredo Leal, 1940). Fonte: Arquivo da Igreja de S. José de Coimbra. Op. cit., pg. 271

….  estudo da nova igreja [foi enviado], para apreciação da Comissão de Revisão da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais que o julgou em condições “de poder servir de base a um projeto da obra que se pretende realizar”.

….  No seguimento desta proposta, Januário [Arquiteto Januário Godinho] remeteu … o estudo da nova implantação da igreja de S. José. O local escolhido situavase entre a Avenida dos Combatentes da Grande Guerra e a Estrada da Beira, em terrenos denominados “Quinta das Alpenduradas”. Teria acesso por aqueles dois arruamentos e ainda por um prolongamento da Rua do Teodoro, sendo que a entrada principal se faria “por ampla escadaria ligada à Estrada da Beira, havendo também acesso direto pela Av. C. Grande Guerra, por rampas que descem pela encosta até à igreja … [estudo que mereceu a] concordância.

…. Fixada a localização da nova igreja de S. José no terreno inicialmente previsto pelo Plano de Urbanização – entre o estádio e a igreja então existente –, Januário Godinho desenvolveu para aquele local um estudo de implantação da igreja, que apresentou a 23 de janeiro de 1947.

…. A segunda possibilidade colocada por Januário Godinho propunha uma rotação de 90º do eixo principal da igreja [em ordem à primeira hipótese], ficando esta orientada no sentido sulnorte. Nesta solução agrupou os vários edifícios do programa “de modo a criar um grande adro, espécie de vestíbulo aberto da Igreja”, em que “o edifício para a «Obra da Igreja» fica[va] como fundo do adro, a tapar do lado nascente as traseiras das casas com fachada para o Stadium.

Igreja de S. José. 3.jpgEstudo para a implantação da igreja de S. José (Arq. Januário Godinho, 1947). Fonte: Arquivo da Igreja de S. José de Coimbra. Op. cit., 279

Cunha, J. A. 2019. Igreja de São José, Coimbra: história da sua construção. In: Lusitania Sacra. 39 (janeiro-junho 2019), pg. 269-302. Universidade Católica Portuguesa. Texto e imagens acedidas em:

https://www.academia.edu/77771199/Igreja_de_S%C3%A3o_Jos%C3%A9....

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 19:50


Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

calendário

Julho 2025

D S T Q Q S S
12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031

Posts mais comentados