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Em relação às políticas públicas de habitação, o Estado promove um Programa das Casas Económicas com vista à construção de habitações para alojamento da população sem capacidade de fazer frente à lógica do mercado imobiliário. A campanha visava atrair e fixar pessoas, oferecendo condições de estabilidade familiar e de emprego, contribuindo para desencorajar os conflitos laborais.
Dentro deste contexto, nasce em Coimbra o bairro de habitação, englobado no projeto de Planeamento geral da cidade, marcando um novo polo de expansão territorial. Atualmente, chamado de Bairro Norton de Matos, assinala uma das centralidades da rede urbana e marca morfologicamente a ação e convicções de desenho do período pelo qual foi construído.
Bairro Norton de Matos e igreja de S. José, anos 50
Nas décadas de 50 a 70, deste mesmo século, é de assinalar o aparecimento de uma nova geração de arquitetos portugueses, nascida pela revolta às convicções urbanísticas impostas pelo regime estadonovista e pela divulgação teórica que saía dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna europeus.
… Em Coimbra, a ânsia de construir a Cidade Moderna está presente nas experiências realizadas na Solum, uma zona multifuncional da cidade com um modelo reconhecível e delimitado.
Bairro da Solum. Na parte superior da imagem à direita, vislumbra-se o início da sua construção
Juntamente com Celas e com o Bairro Norton de Matos, desenha-se uma faixa Nascente de núcleos direcionais do crescimento e consolidação urbana.
Assim, tendo como referência a cidade alta, a expansão de Coimbra foi direcionada em três zonas. A zona Nordeste de Celas
Hospital da Universidade de Coimbra inserido na área do Pólo III. Urbanização dispersa. O somatório de construções de diferentes escalas, cria vazios desconexos para o conjunto urbano. As formas fragmentadas da urbanização foram conduzidas pelo traçado dos eixos viários. Fonte: Filipe Jorge, 2003, in Coimbra Vista do Céu, p.59.
e Sudeste do Bairro Norton de Matos e Solum.
Construção do Pólo II da Universidade de Coimbra. Ocupa a área do antigo Pinhal de Marrocos que circundava o território consolidado. “O campus universitário (…) produz novas polaridades monofuncionais que ainda se articulam mal com a morfologia e o quotidiano da cidade.” (DOMINGUES, 2006: 31) Fonte: Filipe Jorge, 2006, in Cidade e Democracia. 30 Anos de Transformação Urbana em Portugal. Coordenação de Álvaro Domingues. p.31.
Cada núcleo com características bem diferentes, são uma referência importante para o processo de crescimento urbano da cidade. Assinalam uma marca tipológica e ideológica gerando diferentes “modelos de cidade” e por isso, cabendo nos seguintes capítulos como uma mostra de cidade autónoma e singular. Contribuem para a diversificação e polarização do conjunto urbano.
Conceitos como limite, fragmentação, continuidade, dispersão e coesão foram importantes para perceber toda a dinâmica que o desenho urbano gera na realidade, ou na chamada dinâmica urbana – aquela onde contribuem todos os domínios da polis.
Ferreira, C.C. Coimbra aos pedaços. Uma abordagem ao espaço urbano da cidade. Prova Final de Licenciatura em Arquitectura pelo Departamento da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, orientada pelo Professor Arquitecto Adelino Gonçalves. 2007, acedido em https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/13799.
Um leitor deste blogue – que não se identificou – colocou-me a seguinte questão: Um meu tio-avô, enquanto esteve a estudar na UC em 1890-91, viveu na R. da Sofia, n.º 70. Sabe-me dizer se se tratava de algum antigo colégio?
A resposta que lhe posso dar – muito atrasada no tempo, por lapso meu – passa pela afirmativa.
Com efeito, tratava-se do Colégio de S. Miguel que pertencia ao Mosteiro de Santa Cruz e se situava na Rua da Sofia. Ainda sem se encontrar terminado, em 1547, D. João III requisitou o edifício para ali poder instalar o recém-criado Colégio das Artes até que o edifício próprio, em fase de construção na Alta da Cidade, estivesse concluído.
Este imóvel, embora modificado, ainda existe na atualidade e nele, bem como no Colégio de S. Jerónimo que lhe ficava contíguo, funcionou, até 1986, ano em que se transferiu para as novas instalações erguidas lá para as bandas de Celas, o Hospital da Universidade de Coimbra.
O edifício do Colégio de S. Miguel, bem como o vizinho edifício do Colégio de Todos os Santos, no ano de 1566 foram entregues à Inquisição que, para os adaptar aos lamentáveis objetivos da instituição, os transfigurou, levando a cabo obras vultuosas. Mas disso falaremos na próxima entrada.
Para obter mais esclarecimentos sugiro a leitura das entradas aqui publicadas com os títulos:
- Coimbra: A Inquisição e as suas instalações 1 e 2;
- Coimbra: Rua da Sofia e os seus colégios 4
Não posso deixar de se referir um pormenor curioso.
No último andar do edifício número 70 da Rua da Sofia
Edifício da Inquisição frente Sofia
existe esta varanda:
Gradeamento da varanda
No Pátio da Inquisição está o seguinte edifício
Edifício da Inquisição frente pátio
E nele existe esta varanda
Gradeamento da varanda
Como se pode constatar as guardas das varandas são em tudo similares. Pertenciam ao edifício principal da Inquisição que tinha a frente voltada para o chamado Pátio da Inquisição e as traseiras para a Rua da Sofia.
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