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A Escola Superior de Enfermagem de Coimbra organizou recentemente uma exposição subordinada ao tema: 135 anos de ensino da enfermagem em Coimbra.
A exposição apresentava um excelente acervo fotográfico e muito interessantes textos sobre a história do ensino da enfermagem no Mundo, em Portugal e, necessariamente, em Coimbra. Tudo reunido num catálogo que aqui divulgamos.
Resultante da fusão da Escola Superior de enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca (fundada em 1881) e da Escola Superior de Enfermagem de Bissaya-Barreto (fundada em 1971), ocorrida em 2006, a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra é herdeira da mais antiga formação em enfermagem em Portugal.
... E Portugal, a expulsão das ordens religiosas em 1834, entre as quais se encontravam religiosos que se dedicavam ao cuidado dos enfermos nos hospitais, conduziu a uma situação de degradação nos cuidados de enfermagem ... Foi neste enquadramento que aconteceram as primeiras iniciativas de formação de enfermeiros pela mão de médicos e se criou a primeira Escola de Enfermeiros nos Hospitais da Universidade de Coimbra (1881), seguida das Escolas no Hospital Real de São José em Lisboa (1886/1901) e no Hospital Geral de Santo António, no Porto (1897).
... A primeira Escola de Enfermeiros de Coimbra foi criada em 1881, por iniciativa voluntária do Professor Doutor Costa Simões, nos Hospitais da Universidade de Coimbra. Contudo esta iniciativa teve pouca duração.
Daí em diante, e durante várias décadas, não houve em Coimbra, ensino organizado sendo a formação de enfermeiros pontual.
Em 1919 foi criada a Escola de Enfermagem dos Hospitais da Universidade de Coimbra que passou a designar-se Escola de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca, 1931.
Grupo de enfermeiros dos Hospitais da Universidade de Coimbra, década de 1940
Em 1946 surgiu a Escola de Enfermagem Rainha Santa Isabel, uma iniciativa privada pertencente à União Noelista de Coimbra que formou enfermeiras pelo menos até 1973.
Em 1948, no seguimento da reorganização da assistência psiquiátrica, teve início o Curso Geral de Enfermagem Psiquiátrica na Escola de Enfermagem Psiquiátrica entretanto inaugurada no Hospital Sobral Cid.
Aula prática – Escola de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca, década 1950
Em 1955 foi criada a Escola de Enfermeiras Parteiras Puericultoras que formava especialistas para trabalhar nas diversas delegações do instituto Maternal, a qual veio a ser integrada na Escola de Enfermagem de Bissaya Barreto em 1973. Em 1983 esta formação, designada Curso de Especialização em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica passou para a Escola de Enfermagem Pós-Básica Dr. Ângelo da Fonseca de Enfermagem.
Em 1971, junto do Centro Hospital de Coimbra, foi criada a Escola de Enfermagem de Bissaya Barreto.
Inicialmente, as escolas estavam sob administração dos hospitais ou instituições privadas fundadoras. A partir de 1942 as escolas de enfermagem públicas passaram a ter autonomia técnica e administrativa, ficando todavia sob a orientação e fiscalização da Inspeção de Assistência Social ou das Direções Gerais de Saúde
Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Exposição 135 anos de ensino da enfermagem em Coimbra. 2016. Coimbra, 135 anos de ensino da enfermagem em Coimbra. pg. 11, 45, 49-51
Quando em 2005 integrei uma lista concorrente à Câmara Municipal de Coimbra uma das questões abordadas no decurso dessa campanha eleitoral foi a recuperação do que, então, restava no Hospital de S. Lázaro e que se pode observar na seguinte figura:
Hospital dos Lázaros, Fora de Portas
Das grandes promessas eleitorais então feitas nada resultou. O muito que ainda lá restava e que se podia ter recuperado... já foi demolido para alargar o parque de estacionamento de uma repartição pública. Sem comentários!!
No decurso do trabalho de investigação que venho realizando sobre a história da Herdade de Enxofães que foi comprada pelo Hospital de S. Lázaro em Fevereiro de 1212, encontrei no Arquivo da Universidade de Coimbra uma planta – que julgo inédita – das referidas instalações:
Planta do Hospital de S. Lázaro existente no AUC
A planta está datada de 1852.09.11 e foi elaborada quando, após o Hospital de S. Lázaro ter passado a integrar os Hospitais da Universidade de Coimbra, se equacionou levar a cabo uma necessária reforma das referidas instalações.
Reforma que acabou por não se realizar tendo o hospital passado a funcionar, posteriormente, na alta da Cidade, no antigo Colégio dos Militares.
O documento, cujo interesse julgamos evidente, tem a seguinte legenda:
Planta das instalações do hospital de S. Lázaro com os seguintes dizeres:
Mapa do Hospital dos Lazaros em exbosso: per Coito fes
A cor preta he o lucal donde sequer fazer as duas emfermarias pª doenças agudas, o qual necessita de solho escada portas e janelas feitas de novo, e algumas traves.
A cor amarela reprezenta casas q tem o madeiramento cahido
A cor emcarnada são as cazas q servem actualm.te.
À margem está a seguinte nota manuscrita:
Pela medição feita em 11 de Setembro de 1852 contem o Edificio, quintal e insua os palmos designados em cada linha, comprehendendo, feita a medição pela parte onde se acham os numeros, em toda a circunferencia – 1470 palmos – incluindo o angulo de 16 palmos da parte da estrada reconhecendo q o desenho se acha errado.
Coimbra 14 de Setembro de 1852
O Admd.or do Concl.º
Antonio dos Santos Pereira Jardim
Fica para memória do que nunca devia ter sido destruído no século XXI: uma construção que vinha do século XIII, que foi restaurada no século XVI e que podia e devia, hoje, constituir mais um marco visível da história da Cidade.
Rodrigues Costa
Como se não bastassem as más condições interiores para condenação de um hospital tão pequeno para tantos doentes (as primitivas instalações dos Hospitais da Universidade de Coimbra), acrescia ainda a má vizinhança que lhe fazia o cemitério. Davam para ele as janelas das enfermarias do lado norte; e a distância entre esta face do edifício do hospital e o muro do cemitério era apenas de 8 metros. (distância que corresponde, grosso modo, à atual rua Inácio Duarte, uma vez que o cemitério estava instalado entre esta rua e a antiga “estrada dos jesuítas”, hoje rua António Vieira. De notar que este cemitério poderá ter sido o primeiro em Coimbra – e por certo um dos primeiros do País, senão o primeiro –, na época moderna, a existir não ligado a uma igreja, nos adros, no interior ou em terrenos anexos à mesma.
... Achando-me a uma destas janelas em janeiro de 1852 com o facultativo interno ... notou este que se estava a abrir uma sepultura em sítio do cemitério, onde já tinha visto abrir outra ... concluímos que não tinha decorrido o tempo suficiente para a renovação daquela sepultura ... Terminei, ponderando a urgente necessidade de se escolher com prontidão, qualquer terreno que se prestasse a um cemitério suplementar e provisório, enquanto não se construísse o cemitério geral da cidade, de que então se tratava com bastante cuidado.
... Surgiram dúvidas sobre a escolha do terreno; hesitando-se entre o cerco dos jesuítas, contíguo ao laboratório químico, o cerco de S. Jerónimo, ou as igrejas, então fora de culto, de S. Jerónimo, de S. Bento ou do colégio de Tomar.
Concluiu-se por dar preferência ao terreno da Conchada, oferecido pela câmara municipal, por se achar então já demarcado para cemitério público.
Correu tudo com tanta celeridade, que, tendo chegado a minha reclamação ao conselho da faculdade de 28 de Janeiro, passados seis dias já se abria a primeira sepultura no cemitério provisório da Conchada. Teve lugar esse enterramento no 1.º de Fevereiro de 1852.
Aquele pequeno recinto da Conchada, ainda mesmo depois de resguardado com tapume de madeira, ficou pouco decente para os enterramentos do hospital; mas desviou-se do estabelecimento a insalubridade que lhe provinha do antigo cemitério; e preparou-se a opinião para receber depois, com menos repugnância, a mudança dos enterramentos das igrejas para o cemitério municipal.
Simões, A.A.C. 1882. Dos Hospitaes da Universidade de Coimbra. Coimbra. Imprensa da Universidade, pg. 108-112
A denominação atual dos hospitais da Universidade compreende os anteriores hospitais de S. Lázaro, da Conceição e da Convalescença, ficou bem apropriada a este conjunto de hospitais.
...Em ofício de 21 de Outubro de 1772 o Marquês de Pombal participou ao reitor que tinha dado ordem ao corregedor da Cidade para a mudança do hospital ... mas só naquele dia de 19 de Março de 1779 se pode levar a efeito esta mudança ... (para o edifício dos Jesuítas, no angulo N.O., com entrada pela Couraça dos Apóstolos)
Alas do Colégio de Jesus onde inicialmente funcionaram os Hospitais da Universidade
... Naquela parte do edifício dos Jesuítas ficou desde então estabelecido o hospital da Conceição, que compreendia o antigo hospital da Convalescença; continuando a permanecer o hospital de S. Lázaro no seu primitivo edifício de Fora de Portas até 1836.
Aquele hospital da Conceição na Couraça dos Apóstolos, tinha capacidade regular para 68 doentes, com que se contou na sua primitiva construção, e ainda mesmo para 80, quando se improvisaram novas enfermarias
... Dando-se porém posteriormente grande acumulação em todo o hospital, a faculdade de medicina procurou remediar os seus inconvenientes, removendo as enfermarias de homens para o colégio de S. Jerónimo, por deliberação de 24 de Julho de 1838.
Colégio de S. Jerónimo. Portaria
... De 1846 a 1847 a acumulação de tropas na cidade, por efeito da guerra civil daquela época, deu lugar a que neste último ano se convertesse todo o edifício de S. Jerónimo em hospital militar ... a 22 de Outubro de 1847 ... os doentes militares em S. Jerónimo ... já eram em pequeno número ... fossem removidos para o hospital da Conceição, ficando desocupado o edifício de S. Jerónimo ... até 1851.
... 23 de Dezembro de 1852 ... já então se achava em obras a parte do colégio das Artes, que deveria receber alguns doentes do hospital de Conceição ... mudança dos primeiros doentes teve lugar nos dias 5 e 6 do mesmo mês de janeiro de (1853).
Colégio das Artes antes da adaptação a hospital
... Na sessão do conselho da faculdade de 21 de Outubro de 1853, foi presente a portaria do ministério do reino de 22 de Agosto do mesmo ano, que punha o colégio das Artes à disposição da faculdade de medicina, para o estabelecimento definitivo dos seus hospitais; e a portaria de 27 de outubro do dito ano, que ordenava a mudança do hospital de S. Lázaro, do colégio de S. Jerónimo para o colégio dos Militares, agregava ao mesmo tempo aquele edifício de S. Jerónimo ao hospital do colégio das Artes.
... Uma só administração reúne hoje (em 1882, data da publicação da obra aqui citada) aquelas três administrações, que por muitos anos se conservaram independentes; e os três antigos estabelecimentos ocupam agora quatro edifícios, interiormente comunicados, - o colégio das Artes, o colégio de S. Jerónimo, o Castelo, e o colégio dos Militares.
O edifício de S. Jerónimo acomoda os quartos particulares dos doentes que pagam o seu tratamento e dos estudantes subsidiados; uma enfermaria provisória de prisão, as repartições da secretaria e administração, a farmácia, e diferentes habitações de família para empregados.
No Castelo acha-se estabelecida a lavandaria; e há-de estabelecer-se a rouparia, a arrecadação do fato dos doentes, a moagem dos cereais e a padaria.
As moléstias internas, cirúrgicas e sifilíticas são tratadas no edifício do colégio das Artes, onde também se acha a repartição das parturientes; acomodando-se ainda neste mesmo edifício o serviço do banco e da aceitação dos doentes.
Os doentes de moléstias cutâneas e os lázaros asilados têm repartições separadas no colégio dos Militares, onde também se há-de estabelecer a repartição geral dos banhos, com o serviço de hidroterapia, inalações, etc.
Simões, A.A.C. 1882. Dos Hospitaes da Universidade de Coimbra. Coimbra. Imprensa da Universidade, pg. 51-52, 73-81, 3-4
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