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A' Cerca de Coimbra


Terça-feira, 15.03.16

Coimbra: O colóquio sobre Artesanato realizado em 1979

O livro é pequeno e de fraco aspeto. A capa de cartolina, queimada do sol, mostra um verde-claro debotado onde se destaca um título formal e preciso: Actas do Colóquio Sobre Artesanato. Coimbra, 8 a 11 de Novembro de 1979. A mesma capa elucida logo quanto às entidades responsáveis pela organização do Colóquio: os Serviços Municipais de Cultura e Turismo de Coimbra e o Instituto Português do Património Cultural.
... Na sua aparente modéstia, este livro representa um dos grandes marcos da História do Artesanato Português, sólido testemunho de uma realização que congregou um heterogéneo grupo de 90 pessoas, algumas das quais se dedicaram a este sector de atividade, num vínculo que desenvolveram em múltiplas realizações, ao longo de quase trinta anos, e que, para muitas, ainda hoje se mantém.
Se, passado todo este tempo, impressiona a qualidade dos presentes, a lista de participantes evidencia ainda uma realidade que não tem qualquer paralelo com uma situação equivalente que se verificasse na atualidade.
... Num Colóquio que, nas palavras de Henrique Coutinho Gouveia, nasceu “da convicção comum de que qualquer política futura de artesanato terá que se basear num conhecimento mais aprofundado da realidade portuguesa”... para além dos 30 professores, dos 15 funcionários trabalhando em museus, de mais outros 15 funcionários públicos, dos 6 elementos dos serviços de Cultura e Turismo da Câmara Municipal de Coimbra, dos 5 estrangeiros (1 brasileiro, 1 espanhol e 3 cabo-verdianos) restam 9 elementos que se distribuem por categorias muito diversas.

A organização do Colóquio previa dois dias inteiros para apresentação de comunicações, um outro dia para... constituição de cinco mesas redondas para debate e proposição de conclusões ... é no grupo de trabalho moderado por Rodrigues Costa (“Turismo e Artesanato”), que surgem, sem dúvida, as conclusões mais interessantes e visionárias, de que se destacam:
- “O artesanato deve ser rigoroso na sua qualidade, resguardando-se das mistificações e das fraudes. Deverá ser estabelecida uma verificação da sua genuinidade.
- Recomenda-se às Autarquias a realização de feiras periódicas, francas, semanais ou mensais, com a presença exclusiva do artesão, evitando-se os intermediários.
- Recomenda-se igualmente às autoridades ligadas ao sector a criação do Estatuto do artesão e do respetivo cartão de identificação.
- Propõe-se a criação de um Organismo ou Centro dinamizador do artesanato, que trate de todos os problemas a ele respeitantes”.

... No registo escrito que testemunha o Colóquio de 1979 nada ficou sobre as acaloradas discussões que aí tiveram lugar. Viviam-se tempos de grande efervescência e liberdade pessoal... Faziam-se estudos sobre produções artesanais descrevendo pormenorizadamente todos os utensílios e respetivos modos de usar, nomeando todas as suas partes, sem, com o mesmo detalhe, se caracterizarem as produções na especificidade das suas gramáticas decorativas e funcionalidades.
... Embora em pequeno número, os estrangeiros que são convidados e aceitam participar neste Colóquio, acrescentam uma dimensão internacional plena de significado quanto à ambição e abertura que o Colóquio revela, ao pretender-se auscultar outras realidades... o espanhol Manuel Montalvo aparece com um discurso iconoclasta, defendendo a necessidade de se inovar ao nível das tecnologias e do produto final. É assim que, sobre o artesanato, denuncia que “não se trata de fabricar objetos medíocres para que se possa apreciar que são feitos à mão e de forma primitiva” recomendando as vantagens da qualidade de todos os processos ligados ao fabrico e da própria mobilização e envolvimento dos artífices, como condição prévia de sucesso.

Numa época em que a substituição de rodas de oleiro por rodas mecânicas gerava a maior das polémicas, pois o trabalho “deixava de ser artesanal”, poucas pessoas terão percebido (e aceite) o lúcido discurso de Manuel Montalvo:
“Recordo ainda artesãos já idosos, trabalhando em condições muito duras e sacrificadas, com métodos que se pretendia que nunca se deveriam modificar, considerando-se sacrilégio pensar numa evolução e facilitar o trabalho – era mais cómodo sacrificar-se o homem na ara de uma pureza arcaica e fictícia. E o resultado ficou à vista: nenhum dos filhos destes artesãos quis continuar o ofício da família”.
(…) “O artesanato não precisa de dádivas; (…) não acredito nos artesanatos de conserva, nos artesanatos subvencionados para fabricarem aquilo que ninguém lhes pede, (…) gastando o tempo em operações vãs, que uma simples máquina pode realizar”.
Palavras sensatas, realistas, que demoraram tempo a fazer o seu caminho.

Pires, A. (2008). Um colóquio. Um livro. Um ponto de partida. In Mãos – revista semestral de artes e ofícios. N.º32 - Jul/Dez 08

 

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por Rodrigues Costa às 12:16

Quarta-feira, 09.12.15

Coimbra, o edifício Chiado 3

Durante os anos que se seguiram (ao 5 de Junho de 1978, a “Noite de Coimbra”) foi fundamental a ação destes serviços (os Serviços de Turismo da CMC) … Terá sido aqui que surgiram eventos que estiveram na génese de importantes programas culturais da cidade, como por exemplo os Encontros de Fotografia e a Feira do Livro. Foi também aqui que funcionou uma escola de fado e o local onde se instalaram os primeiros serviços de cultura da autarquia, o Departamento de Ação Educativa e Cultural.

Magalhães, R. 2010. Edifício Chiado. Uma das curiosidades de Coimbra. In Caminhos e Identidades da Modernidade. 1910. O Edifício Chiado em Coimbra. Actas. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, pg. 218

 

Tendo tido a honra de liderar a equipa que ergueu os eventos acima referidos importa, para memória futura, enumerar do conjunto de eventos então realizados, os mais relevantes, primeiro no âmbito dos Serviços Municipais de Turismo, depois do Departamento de Cultura, Desporto e Turismo.

- Eventos de temáticas diversas

. Encontros de Música Ibérica
Apoio à organização da II edição em 1978
. Festival Internacional do Filme Amador de Coimbra (FIFAC)
Organização em colaboração com a Secção de Cinema da AAC das edições de 1979, 1980 e 1981.
. Encontros de Fotografia de Coimbra
Organização em colaboração com a Secção de Fotografia da AAC: edição de 1980, comissariada por Zeferino Ferreira; edição de 1981, comissariada por António Miranda.
Apoio às organizações subsequentes
. Curso e Concurso Internacionais de Guitarra de Coimbra
Organização das edições de 1984, 1985, 1986.
. Salão de Pintura Naïve
Organização de quatro edições
. Recuperação e divulgação da Doçaria Tradicional de Coimbra
Exposição no edifício Chiado, Julho de 1982
. Ciclo de palestras sobre História de Coimbra «Descobrir Coimbra»
1º ciclo de Fevereiro a Abril de 1983; 2º ciclo Janeiro a Março de 1984, num total 20 sessões). Programação de Berta Duarte
. Prémio Literário Miguel Torga Cidade de Coimbra
Lançado em 1984 e que continua a ocorrer anualmente
. O Postal Ilustrado. Contributo para a Imagem de Coimbra
Exposição temporária, de 28.06 a 15.07 de 1986. Edifício Chiado.
Recolha e catalogação de Berta Duarte e Carlos Serra.

- Eventos de apoio à Etnografia e Folclore do concelho de Coimbra
. I Seminário sobre a Etnografia e o Folclore de Coimbra e seu termo
Fevereiro de 1978
Na sequência deste evento foram desenvolvidas, nomeadamente, as seguintes ações:
- Esquema de apoio ao Folclore da Região de Coimbra
Assente no funcionamento de uma Comissão de Análise dos Grupos Folclóricos que avaliava o mérito dos grupos e na atribuição de apoios financeiros àqueles que era reconhecido “interesse folclórico”.
- Cursos de Formação de Responsáveis de Grupos Folclóricos
Organização dos cursos realizados
- Recuperação da viola toeira coimbrã
Viabilização da recuperação através da prévia aquisição de exemplares e distribuição destes pelos grupos folclóricos classificados
- II Congresso da Federação do Folclore Português, em 15 e 16 de Setembro de 1979
Organização e publicação das Atas.
. Aspetos do Trajo Popular Feminino em Coimbra
Exposição inicialmente apresentada no Casino Estoril e posteriormente no Edifício Chiado (Outubro de 1984) e no Casino do Funchal (Abril de 1990).
Planificação e textos de Berta Duarte e Nelson Correia Borges.

- Eventos de apoio ao Fado de Coimbra
. Seminário sobre o Fado. Seu passado. Seu futuro
Organização do Seminário que incluiu a realização da primeira serenata na Sé Velha depois de 1969, em Maio de 1978
. II Seminário sobre o Fado de Coimbra
Organização do Seminário, em Maio de 1979
Na sequência destes eventos foram desenvolvidas, nomeadamente, as seguintes ações:
- Edição: do disco “Coimbra tem mais encanto”; do opusculo Fado de Coimbra ou Serenata Coimbrã? da autoria de Francisco Faria; do livro “O Canto e a Guitarra na Década de Ouro da Academia de Coimbra (1920-1930), da autoria de Afonso de Sousa; do disco “Zeca em Coimbra”; viabilização da edição do álbum com seis discos “Tempos de Coimbra. Oito décadas no canto e na guitarra”.
- Escola de Fado de Coimbra
Criação e financiamento da Escola que funcionou no Edifício Chiado de 1979 a 1981, sob a direção de Jorge Gomes e Fernando Monteiro
- Guitarras de Coimbra
Exposição temporária. Edifício Chiado, em 1982, comissariada por Berta Duarte e Carlos Serra (Museu Académico)
- Fado de Coimbra – Memória Fonográfica (1896-1930)
Exposição temporária, em 1986, comissariada por Berta Duarte e Carlos Serra (Museu Académico)

- Eventos de apoio ao Artesanato da Região de Coimbra
. Colóquio sobre o Artesanato
8 a 11 de Novembro de 1979
Organização e publicação das respetivas Atas
. Jornadas sobre a Cerâmica em Coimbra
Janeiro de 1981
Organização e publicação das Atas, editadas pela Comissão de Coordenação da Região do Centro.
. Casa do Artesanato da Região de Coimbra que funcionou no edifício da Torre de Anto de 1979 a 1995
. Exposições sobre as Técnicas Tradicionais da Região de Coimbra, a saber:
-Tecelagem da Região de Almalaguês
Exposição temporária. Edifício Chiado, de 21 de Outubro a 5 de Novembro de 1978. Encenação e catálogo de Henrique Coutinho Gouveia
- Funilaria e Latoaria na Região de Coimbra
Exposição e demonstrações ao vivo realizadas na Casa de Artesanato da Região de Coimbra, a partir de 7 de Setembro de 1979. Organização de Ângela Sobral
- Palitos de Pá e Bico
Exposição itinerante. Casa de Artesanato da Região de Coimbra, Novembro de 1979.
Organização do Museu e Laboratório Antropológico da Universidade de Coimbra
- Estatuária Popular de Gondramaz
Exposição temporária. Casa de Artesanato da Região de Coimbra, 27 de Novembro de 1982.
Planificação e texto de apresentação de Ângela Sobral
- Colheres de Pau
Exposição temporária. Casa do Artesanato da Região de Coimbra, Fevereiro, Abril 1985.
Planificação e texto de apresentação de Ângela Sobral
- O Último Tamanqueiro de Cantanhede
Exposição temporária. Organização em colaboração com o Instituto Português do Património Cultural. Casa do Artesanato da Região de Coimbra. Janeiro de 1986.
Texto de apresentação da Margarida Coutinho Gouveia
- Barros Vermelhos do Carapinhal
Exposição temporária. Casa do Artesanato da Região de Coimbra. 1987
Planificação de duas exposições sobe o tema a primeira com texto de Berta Duarte
- Barros Vidrados de Casal do Redinho
Exposição temporária. Casa de Artesanato de Coimbra, de 16 de Março a 31 de Maio de 1980.
Planificação e texto de apresentação de Ângela Sobral

Deste conjunto de exposições recolhemos a respetiva documentação de apoio. Neste âmbito foram, ainda, organizadas as seguintes exposições em ordem às quais não dispomos de documentação:
- Faiança Esmaltada de Coimbra
Exposição temporária. Casa de Artesanato da Região de Coimbra, 1980
Planificação e texto de apresentação de Ângela Sobral
- Rendas de Semide
Exposição temporária. Casa de Artesanato da Região de Coimbra.
Planificação e texto de apresentação de Ângela Sobral
- Cobres de Oliveira do Hospital
Exposição temporária. Casa de Artesanato da Região de Coimbra.
Planificação e texto de apresentação de Ângela Sobral
- Cestaria em Vime
Exposição temporária. Casa de Artesanato da Região de Coimbra, de Fevereiro a Setembro de 1980.
Planificação e texto de apresentação de Berta Duarte
- Esteiras de Arzila
Exposição temporária. Casa de Artesanato da Região de Coimbra.
Planificação e texto de apresentação de Ângela Sobral
- Serralharia Artística. Homenagem da CMC a José Pompeu Aroso
Exposição temporária. Casa de Artesanato da Região de Coimbra, em Julho 1980. Planificação e texto de apresentação de Berta Duarte
- Barros Pretos de Olho Marinho
Exposição temporária. Casa de Artesanato da Região de Coimbra, de Dezembro de 1980 a Abril de 1981.
Planificação e texto de apresentação de Berta Duarte
Esta exposição foi posteriormente reapresentada com texto e apresentação de Ângela Sobral.
- Antonino de Castro, Peneireiro
Exposição temporária. Casa de Artesanato da Região de Coimbra, em 1989.
Planificação e texto de apresentação de Ângela Sobral
- Bordados da Madeira
Exposição temporária. Casa de Artesanato da Região de Coimbra, de Outubro a Dezembro de 1983.
Planificação e texto de apresentação de Berta Duarte

- Eventos sobre a salvaguarda do património cultural
. I Encontro sobre a Salvaguarda do Património Cultural
Organização, Dezembro de 1980
. Seminário sobre a recuperação do Centro Histórico de Coimbra
Organização. Fevereiro de 1982
. Museu dos Transportes Urbanos
Planificação, montagem e abertura na antiga remise dos carros elétricos.
Organização e textos de Rodrigues Costa.

- Semana de Coimbra no Estoril, 8 a 17 de Junho de 1984
Evento que para além da apresentação diária de grupos de fado de Coimbra e de grupos folclóricos, da gastronomia regional e da realização de uma Serenata de Coimbra junto à Igreja de S. Estêvão, em Lisboa, integrou as exposições a seguir enumeradas.
. Técnicas tradicionais da Região de Coimbra em que foram apresentados as seguintes mostras: Faiança Esmaltada de Coimbra; Rendas de Semide; Artefactos de Madeira; Cobres de Oliveira do Hospital; Funilaria e Latoaria; Tecelagem de Almalaguês; Cestaria em Vime.
. Coimbra antiga
Textos de A. Carneiro da Silva
. 6 Fotógrafos de Coimbra
Textos de Manuel Miranda
. Pintores de Coimbra
Textos de A.F. Rodrigues da Costa
. Medalhística. Homenagem a Cabral Antunes
Textos de A. Carneiro da Silva

Rodrigues Costa, que agradece a colaboração das Dr.ªs Berta Duarte e Ângela Sobral.

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por Rodrigues Costa às 18:35


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