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E a Marrafa, a Maria, essa bela quarentona, bem fornidinha de carnes, que também foi lembrada no aludido Centenário? Isso é que é uma mulher! Servente de estudantes, portadora de sebentas, lá no intimo amiga dos que usam capa e batina, interessa-se por eles todos e já me constou, não sei se com fundamento, que não raras vezes lhes vale com dinheiro nos momentos críticos, nas suas aflições. De grossos cordões de ouro ao pescoço, sempre sorridente, há quem diga que para um estudante se formar é preciso ter algumas relações com ela. Eu é que não sei se isto é verdade, mas, pelo sim pelo não, como sou estudante… não vá o diabo tecê-las!...
O Hermínio
Mas se por acaso alguns académicos se envergonham de ir pedir-lhe qualquer quantia emprestada, pelo que ela nada leva de juros, aparece-lhes logo o Herminio dos óculos, um rapaz franzino, magistral troca-tintas, que passa a vida inteira a transportar para as casas de penhor ou de prego, usando do calão, tudo quanto os estudantes lhe entregam para empenhar,… ou a trazer dessas casas para a rua grandes pechinchas, como ele diz para intrujar os papalvos, e que afinal não passam de fazenda avariada, duns monos sem extração que os penhoristas lá têm para um canto e dos quais se querem ver livres seja por que preço for…
Quer na Baixa quer na Alta, ele dia ou de noite, a cada passo se encontra uma criatura destas.
O Gaspar Engraxador
O agarotado Gaspar, engraxador, hoje em busca de uma casa para servir, falador dos quintos, que se aperaltava ao domingo para embarrilar certa incauta donzela que o foi surpreender um dia, em plena calçada, a engraxar as botas de um freguês...
O Santos Cego
O Santos cego, vendedor de cautelas, enjeitado, que concluiu o curso dos Liceus em 1868, segundo ele diz, à custa de uma família amiga e cegou nesse mesmo ano. Conhece todas as moedas apalpando-as, bem como os caloiros pelo pano da capa e fala de matemática como se estivesse sentado numa cátedra…
Monteiro, M. Typos de Coimbra, In Illustração Portugueza, 40, Série II, Lisboa, 1907.01.28.
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