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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 24.05.18

Coimbra: Tipos de Coimbra 6

 

O Cego da Abrunheira e seu Moço (Des. Eduardo Mac

 O Cego da Abrunheira e seu Moço (Desenho de Eduardo Macedo)

 A galeria popular coimbrã é vasta, e se nela há vultos de somenos originalidade como lembrando, ao acaso, O Cego da Abrunheira, lugar próximo de Coimbra, que vinha, ás vezes, á cidade em companhia de um moço, ganhar a vida tocando e cantando alguns improvisos, verdadeiros disparates, a quem lhe desse alguma coisa, outros há que merecem um pouco de atenção, como, por exemplo, o Francisquinho Tanana, a Feliciana Pereira, a Maria do Gato Negro e tantos outros que passarei a citar. 

O Chiquinho Tanana  (Retrato a óleo Eduardo Maced

 O Chiquinho Tanana  (Retrato a óleo de Eduardo Macedo)

O célebre Francisquinho Tanana, um velhito magro como um junco, de pele encarquilhada, morava junto ao cemitério, lá no alto do Pio, e passava à tarde para o rio a buscar água num pote de barro que, à volta, trazia à cabeça com muito cuidado. A pobreza do seu vestuário era tão grande que chegava a ser imoral, pois tanto importava esse conjunto de andrajos como nada, o corpo andava quase todo à mostra, e uma vez vi-o eu nesse estado, a gritar como um possesso nuns gritos selvagens e a arrepelar-se todo porque os garotos, além de lhe chamarem Tanana, tinham-lhe feito partir o pote que levava à cabeça e que se desequilibrou ao atirar uma pedra, arma com que se defendia da rapaziada brejeira.

Quando se ouvissem uns gritos agudos, por vezes em falsete, acompanhados de um choro ridiculamente convulso, era certo e sabido que andava por perto o Francisquinho Tanana e toda a gente assomava às portas e ás janelas para ver esse espetáculo miserável da vida das ruas.

O José Maria Mudo.jpgO José Maria Mudo

Facto quase idêntico se dava com O Mudo, um calceteiro que a Câmara Municipal tinha admitido ao seu serviço. 

Esse não tinha nada com os garotos, só se importava com o pessoal que dirigia, mas, para lhe transmitir as suas ordens, para se fazer compreender, desfazia-se em gestos desesperados e gritos tão agudos que se ouviam com certeza sete léguas em redor. Olhar a fronte cheia de rugas do Francisquinho é trazer à ideia toda uma série de magníficas cabeças de estudo que se encontram nesses mendigos vadios perdidos pelas ruas de Coimbra.

O Rabino.jpg

 O Rabino

É ver o D. Sebastião, de que já falei, o Rabino, um belo tipo de judeu, de rosto bem vincado, de linhas bem definidas, que vivia de expedientes e tinha o seu dito espirituoso lá de vez em quando.

Monteiro, M. Typos de Coimbra, In Illustração Portugueza, 40, Série II, Lisboa, 1907.01.28.

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por Rodrigues Costa às 11:18


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