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Durante a Idade Média certas espécies, como a baleia, visitavam as costas portuguesas e foram objeto duma pesca ativa; e nalguns rios, como o Minho, o Douro, o Mondego e o Zêzere, muitos documentos dos primeiros séculos da monarquia atestam que os sáveis, pela sua grande abundância, constituíam parte comum na alimentação desse tempo.
... O que pode afirmar-se, quer na base de documentos coevos, quer como consequência lógica desse tráfico marítimo, é que, ao longo das costas ocidentais ... o Mondego até Soure ... termo de rotas marítimas que levavam a Santiago de Compostela, eram, antes da fundação da monarquia, sulcados por baixéis de mercadores árabes e normandos.
... Mas acontece que as referências mais antigas, que logramos encontrar, sobre o comércio marítimo em portos portugueses, no começo da monarquia, dizem respeito ao estuário do Mondego e a relações com os sarracenos ... já antes de 1122 navios de comércio entravam a foz do Mondego e a foz do Mira.
... querela, havida nos últimos anos do reinado de D. Afonso Henriques, entre os oficiais da Infante D. Teresa, filha do monarca e senhora de Montemor-o-Velho e o Mosteiro de Santa Cruz, que entre si disputavam os direitos de entrada dos navios pela foz do Mondego. Desse documento se conclui que os direitos foram cobrados a princípio e desde os tempos da rainha D. Teresa ou quiçá do conde D. Henrique, em Santa Eulália, que ainda no século XVII comunicava com o mar, depois em Montemor e mais tarde em Buarcos.
... A confirmar estes factos, as posturas municipais de Coimbra, de 1145, taxam, entre outros produtos, o preço da pimenta, o que significa relações comerciais bastante continuadas com os sarracenos, pois só estes a esta data estavam em condições de fornecer regularmente esse produto. Do foral da mesma cidade de 1179, se depreende igualmente que a pimenta continuava nesse tempo, a ser produto usual no mercado.
... Outro facto confirma ainda, a nosso ver, a navegabilidade do estuário do Mondego e a sua importância primacial como artéria do comércio árabe ou os portos árabes, durante o século XII: o mapa hispano-árabe (1109) ... insere no ocidente da Península, a seguinte nomenclatura – Lisboa, Galicia e Saurius (Soure); e a carta de Edrisim de c. 1154, menciona somente o cabo de São Vicente, Monte-maior (Montemor-o-Velho) e o rio Minho.
...Portugal nasce como Estado e afiança a sua independência desde que, aproveitando uma cultura herdada e as facilidades que lhe oferecia o mar, criou um novo género de vida: o comércio marítimo á distância com base na agricultura.
... É certo que desde 1139, já existem indícios de povoação na foz do Mondego, e já em 1143 alguns documentos se referem a Buarcos. Além disso, como vimos, os primeiros portos de comércio que desde os alvores da monarquia têm relações continuadas com o estrangeiro, são os do estuário do Mondego. Mas é na segunda metade do século XII, terminadas as incursões dos piratas normandos, e muito reduzidas as dos muçulmanos, que assistimos ao «súbito desenvolvimento do litoral português».
Cortesão, J. 2016. Os Descobrimentos Portugueses. Volume II. Lisboa, Expresso. Pg. 183, 197 a 199, 201 a 202
Nos meados do século XII, segundo Edrisi, a foz do Mondego era ainda defendida pelo «forte» de Montemor-o-Velho. Navios de certo porte chegariam até à cidade de Coimbra ou à área da sua jurisdição. Pelo menos o foral de 1179 privilegia com foro de cavaleiro certos cargos navais … Vestígios dessa atividade passaram ainda para o foral manuelino … O Mondego era navegável até à Senhora da Ribeira. Aqui, por volta de 1732, se celebrava, em dia de Ramos, uma grande feira (e romagem) onde acudiam, em barcas, os mercadores de Coimbra.
… no tempo das cheias ou, em outras épocas, nos lugares onde não havia vaus, a travessia só era possível por meio de embarcações.
Em alguns pontos, os camponeses podiam utilizar pequenos barcos … mas a travessia normal fazia-se através de barcas de passagem pública.
… Em Janeiro de 1600: um barqueiro comprometeu-se a ter uma barca continuamente, desde manhã até às Avé Marias, em frente de Agua de Maias. Iria sair ao Porto de Mós … Uma barca de passagem, defronte da Conraria, encontramo-la documentada em 1624 … na foz do Ceira, existia outra muito mais movimentada … um barqueiro de passagem nas Carvalhosas. E mais acima, a importante barca de Palheiros, «passagem de Coimbra para a Beira Baixa» (sic), como se exprime a referida Descrição do Mondego. Este documento (de 1732?) assinala ainda «barcas de passagem» em Couços, Bogueira e Asna Brava.
A jusante, ao tempo da referida Descrição funcionavam outras travessias por meio de barcas. A partir de Água de Maias … havia barcas de passagem no Amial, Arzila e Pereira … ao longo do campo de S. Martinho de Árvore.
Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume II. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg. 2 a 5, 7 a 6.
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