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Fábrica de Lanifícios de Santa Clara, vista aérea das instalações
A Fábrica de Lanifícios de Santa Clara apresenta-se como referência máxima do sector têxtil num polo citadino [de Coimbra) sem grandes tradições no referido do ramo, cujo período anterior à firma em evidência se pautou sobretudo, pelo amadorismo das confeções caseiras dos teares manuais e por tentativas de organização de módulos de produção de tecidos dos que não vingaram no tempo.
Fábrica de Lanifícios de Santa Clara, publicidade
Neste último aspeto, atenda-se, como exemplo, à fábrica de tecidos da Rua de João Cabreira, fundada nos finais da centúria de Setecentos pelos empresários Manuel Fernandes e Guimarães, Manuel Fernandes da Costa e António Machado Pinto, ficando famosa pelos seus damascos «que se tornaram notáveis pelo gosto dos seus lavores e pelo ouro que entrava em muitos», segundo a apreciação do jornalista conimbricense Joaquim Martins de Carvalho.
Os mesmos negociantes fundaram, na cidade, outra unidade de produção de tecidos de algodão em vistosas instalações, uma vez que os relatos asseveram a existência na loja de materiais nobres como o bronze, o aço e madeiras do Brasil. O fornecimento da matéria-prima (fio de algodão) proveio de uma fábrica Tomar; de onde, igualmente, chegaram, para ocuparem um lugar no corpo de funcionários, Bernardo Ferreira de Brito, Paulo José da Silva Neves e Pedro Espingardeiro, epitetados de “habeis artistas”. Em termos de equipamento para produção, o citado espaço deteve 12 teares, cada um com 100 fusos, resultando num tecido de boa qualidade, «não obstante o motor ser de trabalho manual, e por isso sem a regularidade precisa; mas tudo venceu o machinista com a sua rara habilidade».
As causas subjacentes ao definhamentoe respetivo fecho dos dois espaços remetem-se para o roubo de uma porção significativa de fazenda por parte de um familiar dos sócios, bem como a instabilidade proveniente das invasões francesas e a abertura do mercado português aos produtos provindos da Inglaterra, numa consequência evidente do Tratado de Comércio e Navegação assinado em 1810.
Invoque-se, de igual modo, a importância da tentativa de implantação, já em 1875, da Fábrica de Fiação e Tecidos de Coimbra, uma vez que o objeto do presente estudo irá aproveitar as bases materiais deixadas por uma firma que não conseguiu estabelecer-se de modo definitivo e cujo projeto não deixou de espelhar um ímpeto de grandeza que trouxe em si o gérmen da própria derrocada. Se os primeiros tempos nos parecem auspiciosos, dada a grande procura na subscrição do capital social fixado em 150 000$000 réis – divididos em 1500 ações de 10$000 réis cada uma –, o conhecimento, por parte da opinião pública, dos detalhes da compra do convento de São Francisco da Ponte pela quantia, por muitos considerada exorbitante, de 30 000$000 réis, gerou a fuga do investimento inicial através da desistência de muitos dos subscritores.
«valente canudo que lá se ostenta altivo e que devisamos de diferentes pontos da cidade»
Apesar do citado revés, os membros da direção deram continuidade ao projeto, a partir da transformação do complexo conventual em unidade fabril, acrescentando ao edifício uma chaminé industrial, descrita pelo periódico A Voz do Artista como um «valente canudo que lá se ostenta altivo e que devisamos de diferentes pontos da cidade».
Freitas, D. M., Meunier, P.P. e Mendes, J. A. (Cordenação e Prefácio). 2019. O Fio da Memória. Fábrica de Janfícios de Santa Clara de Coimbra. 1888.1994. S/loc, s/ed.Pg. 27-29
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