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A Escola Industrial Brotero deambula pela cidade (continuação)
Martins de Carvalho, no ano de 1891, em O Conimbricense fazia a apologia do ensino industrial ministrado pela escola, escrevendo que “hoje já se não comprehende um operario sem instrucção artistica. É mister progredir, e não se progride sem estudo. As differentes terras do reino procuram desenvolver e aperfeiçoar as suas industrias; e por isso a cidade de Coimbra não póde nem deve ficar-lhes inferior, quanto o permita a sua esphera de acção. O conhecimento do desenho é absolutamente indispensavel aos operarios; e esse conhecimento podem elles obtel-o na Escóla industrial Brotero. Chamâmos toda a attenção dos operarios, dos paes de familia e dos chefes dos estabelecimentos para este ponderoso assumpto”.
No contexto de modernização escolar delineada pela Coroa, a que já me referi, foi importada “mão-de-obra” específica, destinada a integrar o corpo docente desses estabelecimentos de ensino industriais, então a conhecerem, no país, um considerável impulso. Para Coimbra, de acordo com A Voz do Artista (1889.08.31) e O Conimbricense (1889.08.24), a fim de lecionar na Escola Industrial de Brotero vieram vários professore estrangeiros: Charles Lepierre (francês), contratado em Paris para o ensino da química aplicada à indústria; Leopoldo Battistini (italiano), contratado em Roma, para ensinar desenho decorativo; Hans Dickel (austríaco), contratado em Viena, seria o responsável pelo ensino do desenho de arquitetura; Emile Lock (austríaco), contratado em Viena, regeria o ensino da física mecânica e suas aplicações industriais, devendo também ocupar-se do curso de desenho de máquinas.
Charles Lepierre
Hans Dickel, pouco depois de ter chegado a Coimbra, foi encarregado (1889) de riscar o projeto de um edifício destinado a albergar a Brotero, mas a verdade é que ele jamais saiu do papel, se é que alguma vez lá esteve, embora aparecesse sempre referenciado na imprensa local como sendo “de grandiosas dimensões”.
Mais tarde, em 1910, também sem qualquer resultado visível, o “distinto arq. Adães Bermudes” deslocou-se a Coimbra, a fim de coligir os apontamentos indispensáveis para a elaboração do risco do novo edifício e o dr. Sidónio Pais, no ano seguinte, depois de ter sido nomeado ministro do Fomento, encarrega o arquiteto Silva Pinto de apresentar um outro projeto que “ficará situado entre a Praça da Republica, rua Oliveira Matos e estrada de Entre Muros, com a fachada principal voltada para a Avenida Sá da Bandeira”. A impressa local publicou o alçado que por aí se quedou.
A impressa local publicou o alçado que por aí se quedou.
Em 1917 as chamas consumiram as alas do claustro da Manga que a Brotero ocupava, ocasionando graves prejuízos e deixando a escola sem instalações.
Mas goraram-se as expectativas de que o incêndio tivesse sido ‘providencial’ e obrigasse à construção do novo imóvel, porque a Escola passou a utilizar o edifício onde funcionara a Direção das Obras Públicas, nas proximidades da Praça da República; isto é, na ‘Casa de Férias’ do prior de Santa Cruz.
Em 1921, quando foi criado o Instituto Industrial e Comercial de Coimbra, o Governo determinou que a Brotero deixasse as instalações da Rua Oliveira Matos e passasse a ocupar o edifício fronteiro ao Jardim da Manga.
Fig. 40 – Em 1921 a Escola Brotero instalou-se no edifício crúzio fronteiro ao mercado. [BMC.I, AG_0077].
A estrutura, um “edifício, donairoso e alegre na exposição de mimos que o rodeavam, pois se debruçava por sua longa fila de janelas e serventias sobre a opulenta e viçosa horta e laranjal, que a paciência e laborioso entendimento dos frades, tornavam em aprazível retiro digno de ser visto”, entrara na posse da edilidade, como já se referiu, depois da extinção das ordens religiosas.
Torre de Santa Cruz e edifícios circundantes
Tratava-se, porém, de uma construção muito mais vasta do que a atual, pois a “queda” da torre de Santa Cruz, acontecida em 1935, arrastou consigo uma grande parte do edifício que havia integrado, outrora, o complexo crúzio.
Construído na primeira metade de Seiscentos para servir de enfermaria, acabou por funcionar como residência do prior e como hospedaria, destinada a receber visitantes ilustres; coloca-se mesmo a hipótese de o cartório também ali ter estado instalado. Depois de servir muitos outros fins, acabou em Escola Brotero e, posteriormente, em Escola Jaime Cortesão.
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
A Fonte da Madalena encontra-se na Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, encostada a um muro de suporte a um dos terraços da Escola Jaime Cortesão ... na parte que corresponde a um dos torreões que ficam dentro desses mesmos terraços, já fora do sítio primitivo mas bastante próximo.
Era uma das fontes da quinta, na parte denominada Horta, que se alongava pelo vale do mosteiro de Santa Cruz.
“Faz enquadramento à fonte propriamente dita, um pórtico, simples e desadornado, de pilastras lisas dóricas, do séc. XVII. Assenta a meio do entablamento, o resto duma cruz (só a base inferior) ladeada de dois acrotérios, na perpendicular das pilastras.
A bacia em forma de concha fica já sob o piso do passeio, defendida por um resguardo em ferro forjado. Resta a parte superior, do séc. XVIII, datada de 1729 (ano da construção da fonte), formada por duas aletas, completadas duna pequena cornija, na qual se apoia um rótulo ornado de motivos barrocos em CC e grinaldas pendentes com folhas, flores e frutos. Nesse mesmo rótulo está gravada uma inscrição aludindo às lágrimas com que a padroeira da Fonte regava os pés do Senhor, bem como à corrente que ali brotava ... cuja tradução livre daria:
«Aquela (Magdalena) que de lágrimas
contrita banhou
os pés do Senhor.
rega com um rio de lágrimas
as plantas dos seus servos»
... A água da fonte da Madalena seguia, da nascente na própria cerca, diretamente para a fonte e foi entregue ao consumo público em 1839, quando foram abertas as novas ruas de comunicação para o bairro alto.
Lemos, J.M.O. 2004. Fontes e Chafarizes de Coimbra. Direção de Arte de Fernando Correia e Nuno Farinha. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 31
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