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José Régio
Acedido em: https://www.bing.com/images/search?q=jos%c3%a9+r%c3%a9gio&qpvt=jos%c3%a9+r%c3%a9gio&FORM=IGRE
Ai sombras da Torre de Anto
BALADA DE COIMBRA
- Do Pendo da Saudade;
Lancei os olhos além,
Meu sonho de eternidade
Com saudade rima bem …
Ai sombras da Torre de Anto,
Do Convento de além rio,
Dos muros brancos do Pio
De Santo António a cismar,
Que é de outras sombras que à tarde
Convosco se confundiam,
E ao ar os braços erguiam,
E as mãos abriam no ar …?!
(Sem saber para onde iam,
Aonde iriam parar?)
- Penha da Meditação …
Silêncio que paira em tudo
A terra e o dão a mão
Num longo colóquio mudo…
XXX
Manuel Alegre
Acedido em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Alegre
Todos os dias sob os Arcos do Jardim
ARCOS DO JARDIM
Todos os dias sob os Arcos do Jardim
Todos os dias eu passava e nunca via
senão arcos e arcos entre o não e o sim
senão arcos e ogivas de melancolia.
Eram arcos no ritmo e na palavra
por dentro da sintaxe e em cada imagem.
Todos os dias sob os Arcos eu passava
todos os dias para a outra margem.
Eram arcos na rima e não havia
senão arcos grades e arquitraves.
Mas eu passava sob os Arcos e partia
todos os dias eu partia com as aves.
Encantada Coimbra. Colectânea de Poesia sobre Coimbra. Organização e Nota Prévia de Adosinda Providência Torgal, Madalena Torgal Ferreira. 2003. Lisboa, Publicações Dom Quixote. Pg. 37, 94
Fernando Assis Pacheco
Acedido em: http://www.citador.pt/poemas/a/fernando-assis-pacheco
eu vivia num lento bairro da periferia
onde a chuva apagava os passos
LOUVOR DO BAIRRO DOS OLIVAIS
Não tive nunca nada a ver com as
guitarras estudantes: eu vivia
num lento bairro da periferia
onde a chuva apagava os passos das
pessoas de regresso as suas casas
fazia compras na mercearia
e algum livro mais forte que então lia
já era para mim como um par d’asas
amigos vinham ver-me que eu servia
de ponche ou de Madeira malvasia
para soltar as línguas livremente
um que bramava um outro que dormia
eu abria a janela e só dizia
ao menos estas ruas têm gente
XXX
Alberto de Oliveira
Chama por nós o sino diligente. Foto Maluisbe
O SINO DA UNIVERSIDADE
Chama por nós o sino diligente,
Todos os quartos de hora, com voz clara,
E distribui-nos paulatinamente
A moeda do tempo, antiga e rara.
Da torre de vigia permanentemente
De onde vela por nós e nos ampara,
O sino diz: - Ó perdulária gente,
O tempo voa, voa, voa, mas não para!
Dai mais lento compasso à vossa vida,
Não a desperdiceis nem deiteis fora,
Não se torna a ganhar a hora perdida!
Assim repete, em sua voz sonora,
À nossa mocidade distraída,
O velho sino, cada quarto de hora…
Encantada Coimbra. Colectânea de Poesia sobre Coimbra. Organização e Nota Prévia de Adosinda Providência Torgal, Madalena Torgal Ferreira. 2003. Lisboa, Publicações Dom Quixote. Pg. 111, 182.
José Viale Moutinho
Acedido em: https://www.wook.pt/autor/jose-viale-moutinho/3029
eis o declive do beco da anarda
BECO DA ANARDA
como se tratasse de encontrar
a torre de anto ou o poetísico
na palavra azeda daquele meu
amigo na esplanada do «tropical»
eis o declive do beco da anarda
desde casais novos que o não via
à beira da estrada janela aberta
a tudo quanto quero esquecer
por isso no beco da anarda sou
primeiro a dizer «ai do lusíada»
ó torre de anto ó António nobre
é alberto de oliveira ó beco oh
XXX
Alberto de Oliveira
Acedido em: https://www.infoescola.com/escritores/alberto-de-oliveira/
Na avenida cismática e sozinha.
PELO JARDIM BOTÂNICO
Pelo Jardim Botânico, à tardinha…
É a hora ritual do sol poente,
Quando as tílias rescendem docemente
Na avenida cismática e sozinha.
Quisera ver raiar na minha frente
Alguma namorada «Teresinha»,
Cruzar no dela o meu olhar ardente,
Ter enlaçado a sua mão na minha …
Amam em cada ninho as toutinegras,
Chamejam, ao passar, as capas negras,
Como se a luz do amor as penetrara…
Tange um sino suave no convento…
E o sol exausto, em seu ocaso lento,
Acaba de morrer em Santa Clara.
Encantada Coimbra. Colectânea de Poesia sobre Coimbra. Organização e Nota Prévia de Adosinda Providência Torgal, Madalena Torgal Ferreira. 2003. Lisboa, Publicações Dom Quixote. Pg. 85, 91.
Eugénio de Castro
Acedido em: https://www.ebiografia.com/eugenio_de_castro/
Dominando o Mondego e seus salgueiros
PALÁCIOS CONFUSOS
Na minha doce Coimbra, a sul virado,
Dominando o Mondego e seus salgueiros,
Há um bairro de humildes pardieiros.
Que «Palácios Confusos» é chamado.
Tão belo nome evoca no passado
Rica chusma de paços altaneiros
Com torres, grimpas, varandins ligeiros
E flâmulas a arder no céu lavado.
O tempo voado, que tudo come,
De tais riquezas só poupou o nome;
Tudo ali hoje é pobre, velho e estreito,
Sem um vislumbre do esplendor extinto!
Ó «Palácios Confusos», também sinto
Uns «palácios confusos» no meu peito!
XXX
Luz Videira
(Nota: não foi possível encontrar uma fotografia da poetisa)
As portas e janelas trabalhadas
PALÁCIO DE SUB-RIPAS
Mino-lhe o porte nobre,
As portas e janelas trabalhadas,
Os relevos de fino lavor.
Vejo, porém, sem ver
Oiço um grito de dor
Ecoando no tempo.
Por inveja, ciúme
E sinistros interesses
Maria Teles acaba de morrer.
Encantada Coimbra. Colectânea de Poesia sobre Coimbra. Organização e Nota Prévia de Adosinda Providência Torgal, Madalena Torgal Ferreira. 2003. Lisboa, Publicações Dom Quixote. Pg. 79, 84.
Coimbra é muito bela.
Se fosse preciso comprovar esta afirmação, uma das maneiras possíveis seria a leitura do livro EnCantada Coimbra. Colectânea de Poesia sobre Coimbra, editada em 2003, no âmbito da Coimbra 2003. Capital Nacional da Cultura, numa organização de Adosinda Providência Torgal e Madalena Torgal Ferreira.
Na altura da sua publicação, enredado que andava nas minhas idas e vindas profissionais entre Lisboa e Coimbra, não me apercebi da sua publicação.
Só agora que se aproxima um Natal, triste e necessariamente diferente, aqui fica uma sugestão de prenda natalícia para todos os que amam a nossa Cidade.
Dos textos publicados selecionei alguns que, no meu gosto pessoal, me pareceram mais significativos.
Aqui ficam na esperança que despertem os Conimbricenses para a leitura desta obra.
XXX
Miguel Torga
Acedida em: https://www.bing.com/images/search?q=miguel+torga&qpvt=miguel+torga&FORM=IQFRML
O Mondego secou
ESTIAGEM LÍRICA
O Mondego secou.
Outro Camões agora que viesse,
Tinha apenas areia
Com que apagar a tinta da epopeia
Que escrevesse.
Pobre da linda Inês já sem ervinhas
Onde pastar a lírica saudade!
Tão verdade
É morrer neste mundo a própria morte…
Nem ao menos a água que bebia!
Vejam que negros fados
Da Poesia
E da sorte …
XXX
João José Cochofel
Acedido em: https://www.lusofoniapoetica.com/poetas-de-portugal/joao-jose-cochofel.html
Não me venham dizer que os choupos despidos lembram mágoas
CAMPOS DE COIMBRA
Não me venham dizer
que os choupos despidos lembram mágoas,
se o sol os veste, solitários e altivos,
erguidos sobre ás águas.
Longe vêm vindo os barqueiros,
metidos no rio até às virilhas,
Nas ínsuas correm em liberdade os potros,
embora mais tarde vão pelas estradas,
seus flancos cingidos pelas cilhas.
Encantada Coimbra. Colectânea de Poesia sobre Coimbra. Organização e Nota Prévia de Adosinda Providência Torgal, Madalena Torgal Ferreira. 2003. Lisboa, Publicações Dom Quixote. Pg. 51,52.
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