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Os esparsos registos contabilísticos que chegaram até nós reportam-se, sobretudo, aos anos de 1960 - em particular a 1961 e a 1969 -, permitindo-nos, deste modo, certificar a situação financeira da firma e, ao mesmo tempo, compreender as decisões tomadas no início da década seguinte. O valor total da rubrica Balanço de 1961 - calculado a 31 de dezembro do referido ano - fixou-se em 20.590.641$73, onde se inclui o lucro geral do exercício assente em 26461$46.
Logotipo de Planas & C.ª. 1967. (APPM), pg. 54
… Na comparação possível com os valores registados em 1969, é notória a diminuição significativa do valor da unidade industrial, uma vez que o Balanço se fixou em 1 780 450$98, com a conta Ganhos e Perdas a registar um prejuízo de 55 793$75 … A solvabilidade da Fábrica de Lanifícios de Santa Clara encontrava-se comprometida e urgia uma tomada de posição por parte da gerência.
A crise não se cingiu somente à unidade conimbricense e deverá ser englobada num todo nacional e internacional do referido sector, uma vez que a massificação do pronto-a-vestir e a emergência das fábricas de confeção tornaram, de certo modo, obsoletos os métodos de negócio baseados, sobretudo, na venda de fazendas a grandes armazéns.
A alteração estrutural do mercado dos lanifícios já se notara nos finais dos anos de 1950 e tornou-se irreversivelmente mais forte na década seguinte.
...Tal como os artesãos que ajudara a eliminar, a Fábrica de Lanifícios de Santa Clara ia ser obrigada a reformular a sua forma de trabalho para produzir mais, mais depressa e mais barato, para tentar responder à solicitação de um mercado cada vez mais competitivo e menos sensível às simples gradações de cinzento de uma flanela".
A fundação, oficializada em 30 de Janeiro de 1970, da Dislan, de Lanifícios Santa Clara, Ld.", como unidade integrada na Planas & C.", tornou-se a resposta mais visível e direta, ainda que manifestamente tardia, face às novas exigências do mercado e dos consumidores.
Logotipo de Dislan, 1971, (APPM), pg. 56
O seu tempo de vida foi manifestamente curto, uma vez que os "novos tempos" e as "novas vontades" trouxeram mudanças substâncias na vida política, económica e social do país.
Logotipo da Planas & C.ª, 1974 (APPM), pg. 57
… A "Revolução dos Cravos", iniciada na madrugada de 25 de Abril de 1974, terminou com 41 anos de Estado Novo e lançou as bases para a instituição de um novo contexto político sedimentado numa democracia plural e representativa.
… A instabilidade vivida afetou igualmente as pequenas e médias empresas do foro privado, como foi o caso paradigmático da Planas & C.ª, que não conseguiu colher os frutos da reestruturação efetuada anos antes, sobretudo com a entrada em funcionamento da Dislan, Ld.". Num extenso ofício enviado ao Ministério do Trabalho, de 15 de Junho de 1974, a unidade fabril conimbricense expõe, nos seguintes moldes, as dificuldades de solvabilidade então vividas: «Actualmente, e devido à conjuntura económica nacional, aliado aos grandes investimentos efectuados nas nossas empresas, estamos a viver uma tal dificuldade de sobrevivência, que a nossa situação é muito grave e crítica».
… o processo de recuperação e dinamização da empresa, elaborado por George Meunier e com a anuência dos principais credores … não produziu qualquer efeito capaz de anular as extremas dificuldades financeiras da firma e a sua falência tornou-se um dado certo e irreversível.
Ainda assim, verificou-se, da parte da comissão de trabalhadores, a tentativa de reabilitar a unidade industrial através da criação de uma cooperativa, registada com o nome de Clarcoop - Tecidos e Confeções Santa Clara, SCRL, acordando, em 1978, com o administrador da massa falida da Planas & C.", o aluguer do espaço sito no antigo convento de São Francisco e a utilização das máquinas, utensílios e móveis existentes, de modo a prosseguirem com a atividade de fabrico de lanifícios e de confeção de vestuário masculino!".
Logotipo da Clarcoop. 1979 (APPM), pg. 59
A citada firma trabalhou até finais de 1994 e encontrou-se oficialmente em regime de laboração suspensa já no ano seguinte, terminando, deste modo, a existência de 106 anos da indústria de lanifícios no lugar do antigo Rossio de Santa Clara.
Freitas, D. M., Meunier, P.P. e Mendes, J. A. (Cordenação e Prefácio). 2019. O Fio da Memória. Fábrica de Janfícios de Santa Clara de Coimbra. 1888.1994. S/loc, s/ed.Pg. 64-70
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