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Em 1549, a Ordem de S. Jerónimo adquirira um terreno junto ao castelo de Coimbra e da porta oriental da cidade para aí se construir um colégio universitário. Já desde 1535 que havia a intenção de se construir em Coimbra um colégio daquela ordem.
…. Ergueu-se o colégio sobre as muralhas da cidade, desde a Porta do Castelo, à qual ficou encostada a igreja, e continuou-se o dormitório para norte, em direção ao Colégio das Artes. Ainda hoje se reconhece bem delimitado o edifício com os seus cubelos de reforço da fachada oriental. O claustro é o elemento organizador da planta do colégio, ocupando uma posição central ladeado pela igreja a sul. O desenho deste espaço é certamente da responsabilidade de Diogo de Castilho.
…. O claustro de S. Jerónimo, começado em 1565, foi o último de uma série que Diogo de Castilho desenhou para vários colégios de Coimbra.
Claustro de S. Jerónimo. Diogo de Castilho. 1565. Op. cit., pág.60.
…. O claustro não forma propriamente um quadrado. É de dois pisos e tem cerca de catorze metros no sentido norte-sul e doze no sentido este-oeste.
…. As galerias térreas são cobertas por abóbadas de meio-canhão, apoiadas numa mísula contínua e revestidas de caixotões … O segundo piso separa-se do de baixo por uma cimalha …. Observando o claustro anterior de S. Tomás, que ainda se preserva no interior do Palácio da Justiça, pode-se ter ideia do aspeto original do andar superior do claustro de S. Jerónimo …. preserva um ar de recolhimento conventual.
…. A igreja do Colégio ocupava o imponente volume que se ergue no extremo sul do edifício, profundamente alterado em finais do século passado.
Igreja de S. Jerónimo. Diogo de Castilho. 1565-? Axonometria. Op. cit., pág. 63.
Exteriormente conservam-se da igreja primitiva apenas os quatro cunhais e o cornijamento do alçado sul, alçado lateral da igreja …. À esquerda da antiga fachada resta também o arranque da torre da igreja …. Do espaço interior da igreja sobram apenas duas capelas laterais.
…. Por ocasião das obras de adaptação do Colégio de S. Jerónimo a hospital, o espaço da nave da igreja foi preenchido com dois andares intermédios.
…. A gravura do inglês Vivian, do Séc. XIX, mostra toda a extensão do alçado nascente do Colégio de S. Jerónimo com os cinco cubelos de reforço que ainda se mantêm ….
Estampa … G. Vivian … Da esquerda para a direita, avista-se a Igreja de S. Jerónimo, junto ao Arco do Castelo, a torre que lhe ficava encostada e o grande edifício do Colégio de S. Jerónimo. Op. cit., pág. 64.
No extremo esquerdo da gravura pode-se ver a igreja de S. Jerónimo e a respetiva torre. Pouco acima da parte que resta da torre rasgavam-se as ventanas que deveriam ser uma em cada face.
…. Das estampas referidas pode-se constatar que a planta da igreja de S. Jerónimo é claramente inspirada na anterior igreja da Graça, de Diogo de Castilho, construída entre 1543 e 1555.
…. Sobre a entrada da nave da igreja de S. Jerónimo existia … um coro alto.
…. Do Colégio do Séc. XVI resta ainda praticamente todo o pavimento térreo da ala nascente, sobre a muralha. De sul para norte, a partir da igreja, existe a antiga sacristia ladeada por um pequeno oratório, ambas as salas com ligação ao claustro e com abóbadas revestidas de caixotões, perpendiculares àquele. Segue-se-lhes uma outra divisão, de abóbada longitudinal de sete tramos de quatro caixotões. Terminam esta parte do edifício o antigo refeitório, com teto em estuque pintado, do Séc. XVIII, e a antiga cozinha onde hoje se encontra um pequeno anfiteatro …. Do colégio original é também a sala abobadada … a norte do claustro, no rés-de-chão …. No rés-de-chão ficou um átrio, iluminado do exterior, mantendo-se os quatro grandes arcos e a galeria adjacente coberta por abóbadas de aresta.
…. Atualmente de três andares, a composição setecentista deveria resumir-se aos dois pisos inferiores. A porta de entrada é ladeada por duas colunas-hermes que suportam um frontão ondulado interrompido, em composição própria do reinado de D. João V. Por cima ficam três portas-sacadas, correspondentes ao espaço de receção do primeiro andar, que ligava a escadaria às salas sobre o claustro e ao corredor central das celas, no lanço nascente. Toda esta zona é também, obviamente, obra do Séc. XVIII. O átrio de entrada no rés-de-chão comunica diretamente com a escadaria monumental, à esquerda, e com o claustro, do lado oposto.
Colégio de S. Jerónimo. Escadaria monumental, da primeira metade do século XVIII, e arcaria da mesma época (?). Op. cit. pág., 65
Costa Simões.1890. Projeto completo para os HUC… Op. cit., pág. 134
…. Com a extinção das ordens religiosas, pelo célebre decreto de 1834, ficou o edifício abandonado, tendo sido entregue à Universidade no ano de 1836. Em 1848 foi destinado para hospital e mais serviço da Faculdade de Medicina.
Lobo, R.P.M. Os Colégios de Jesus, das Artes e de S. Jerónimo. Evolução e Transformação no Espaço Urbano. 1999. Coimbra, Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologias.
Com esta entrada iniciamos uma exploração do que nos é revelado no livro O Património Artístico da Universidade de Coimbra.
O Património Artístico da Universidade de Coimbra, capa
A Capela de São Miguel foi uma das extensões manuelinas dos paços antigos. Do oratório dos primeiros tempos existem alvarás de D. Afonso V que se referem a uma capela, capelães e encargos, etc. A obra atual é inteiramente manuelina, segundo o traçado de Marcos Pires, que faleceu no fim de 1521. Ficou incompleta, faltando o lajeamento, caiações, etc., e os tetos que, sendo de madeira, não eram da sua empreitada, mas pertenciam à de Pêro Anes.
Vista da fachada da Capela de São Miguel. Op.cit., pg. 53
Interior da Capela de São Miguel. Op. cit., pg. 54
As cornijas no transepto e capela-mor que são já renascença e devem-se a Diogo de Castilho. Talvez tenha sido projetada uma abóbada para a capela-mor que, por morte do mestre, abortaria, tanto mais que se deu acabamento sumário aos Paços. Em 1544, estavam ainda tantos entulhos na capela que subiram a 200 carradas. João de Ruão trabalhou também nestas obras de acabamento.
No tempo intermédio continuaram os atos religiosos das obrigações da capeia, mas não se sabe onde se realizavam. Em datas sucessivas, fizeram-se obras secundárias. De 1695 a 1697, foi renovado o teto bem como os telhados. A pintura do estuque é da autoria do pintor lisbonense Francisco Ferreira de Araújo (fal. 1701), e foi renovada, em 1859, por António José Gonçalves das Neves.
O plano é o costumado, dois retângulos, para a nave e capela-mor, tendo aquela duas leves saliências a servir de transepto que, em alçado, terminam abaixo do nível da linha das paredes, da nave, cobertas de pequenas abóbadas nervadas. Os ângulos externos da capela-mor são robustecidos de contrafortes cilíndricos terminados por torreões renascentistas de sabor serliano.
A porta de entrada é lateral, a meio da parede esquerda da nave, acompanhada de duas altas janelas, que se repetem ao lado fronteiro, rasgando-se outras, uma a cada banda, no transepto e na capela-mor, de traçado maís simples.
A porta é uma composição típica de Marcos Pires, num manuelino naturalista. Entre dois contrafortes, em forma de pilar torcido, recorta-se o arco decorativo, tricêntrico, cujos aros se entrelaçam e rematam em desenvolvida cruz. Ficam-lhe inferiores os dois vãos, de verga policêntrica e abatida que um pilar médio separa, pilar fruto duma restauração de 1895, em substituição duma coluna clássica. Fica sobre este o Escudo Real, acompanhado, nos extremos do espaço, da Cruz de Cristo e da Esfera Armilar. Três escudetes suplementares mostram símbolos da Paixão.
Escultura barroca de São Miguel da Capela de São Miguel. Op. cit., pg. 62
No vértice da empena do topo da nave, ergue-se a cópia de uma escultura de pedra, manuelina evocativa de São Miguel, da autoria de Diogo Pires-o-Moço. O original está guardado.
Dias, P. e Gonçalves, A.N. O Património Artístico da Universidade de Coimbra. 2.ª edição revista e aumentada. 2004. Coimbra, Gráfica de Coimbra, Ld.ª
No ângulo resultante da junção do Largo de Sanção com a rua das Figueirinhas, paralelamente à fachada da igreja do complexo monástico de Santa Cruz, foi erguida, por volta de 1530 a igreja de S. João de Santa Cruz.
Os monges agostinhos mandaram construir este templo, porque a capela do já não ativo Convento das Donas, situado no lado esquerdo da igreja de Santa Cruz, ou seja, dentro do perímetro espacial atualmente ocupado pelo edifício da Câmara Municipal de Coimbra, além de ser demasiado pequena para servir a paróquia do isento, encontrava-se mal-enquadrada, pois erguia-se entre dois edifícios de maiores dimensões.
Igreja de S. João de Santa Cruz a ser utilizada para fins comerciais
Os frades encarregaram a sua feitura, como o estilo indica, a mestre Diogo de Castilho, bem seu conhecido por ter sido um dos responsáveis pela maior parte das alterações arquitetónicas do conjunto monástico levadas a cabo na época de D. João III.
Depois da publicação do decreto que suprimia as ordens religiosas, as conhecidas Leis da Desamortização, a paróquia passou a ocupar a igreja monacal, isto é, a igreja de Santa Cruz, e o templo onde se encontrava sediada a paróquia de São Joanina deixou de servir o fim para que fora construído.
A partir desse momento e até ter sido adaptado a café o espaço foi utilizado para várias finalidades e passou por esquadra de polícia, por estação de bombeiros, por estabelecimento de canalizações, por agência funerária, por casa de mobílias, por tasca e, até, por casa de habitação.
Reconvertido em Café-Restaurante entre os anos de 1921 e de 1923, o lugar manteve as suas principais características estruturais, nomeadamente a configuração da planta.
Planta da Igreja de S. João de Santa Cruz
O plano apresenta a forma longitudinal, com nave retangular e capela-mor quadrangular. A primeira área mostra, a cobri-la, uma abóbada repartida por dois tramos com arcos cruzados e terceletes curvos, desenhando um quadrifólio.
Nave do edifício e abóbada da cobertura
Remata a capela-mor uma abóbada estrelada, com nervura anelar que une os rosetões de ligação dos terceletes com as cadenas.
Abóbada da capela-mor
Nota – Nas três entradas que iremos publicar sobe este tema seguiu-se, em parte, o texto abaixo referido. No entanto, é de sublinhar que o mesmo foi enriquecido por outras fontes e diversas sugestões que nos foram feitas.
Alemão, G.C. 2004. Uma polémica acesa – o nascimento do Café de Santa Cruz. Trabalho apresentado no Seminário da Licenciatura em História da Arte, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (policopiado)
Academia (A), 12, Coimbra, 1923.05.20.
Despertar (O), 460; 469; 631 e 743, Coimbra, 1921.09.03; 1921.10.05; 1923.05.16 e 1924.06.21.
Gazeta de Coimbra, 1204; 1235; 1384; 1390 e 1445, Coimbra, 1921.09.13; 1921.11.26; 1922.11.30; 1922.12.14 e 1923.05.08.
Noticia (A), 79; 97; 98; 101 e 168, Coimbra, 1921.10.05; 1921.12.10; 1921.12.14; 1921.12.24 e 1923.05.24.
Restauração, 4; 23; 27; 30 e 34, Coimbra, 1921.07.07; 1921.11.22; 1921.12.24; 1922.01.19 e 1922.02.18.
1131, 28 de Junho – Colocação da primeira pedra do Mosteiro de Santa Cruz “o nascimento visível da comunidade sediada na zona dos Banhos Régios, a pouca distância da muralha norte de Coimbra”.
1150 (cerca de) – Ano provável da conclusão do templo, bem como da parte conventual
... subsistem alguns vestígios arquitetónicos da notável igreja românica, que se pode conhecer e reconstruir através de restos construtivos e decorativos de valor excecional, porque realçam um saber qualificado, verdadeiramente responsável pela solidez das estruturas ainda visíveis, levantadas sob orientação técnica do mestre Roberto, coadjuvado de canteiros peninsulares ... a nave, de grandes proporções e com abóbada de berço, seguia da capela-mor até próximo do coro superior, a que correspondem os dois tramos dos atuais abobadamentos. Nos flancos, possuía três capelas laterias, em pleno coincidentes com as presentes e que mutuamente se ligavam por grandes arcos, perspetivando naves colaterais, cujos eixos eram perpendiculares ao da principal. Um átrio, repartido de três estreitas naves perpendiculares e cortadas de três outras transversais, abria na direção da nave central.
1500 (ao longo do século) - ... nos inícios de Quinhentos, começaram as obras do conjunto monumental, repartidas em três fases: a de dom Pedro Gavião que, sob a direção de Boytac, mandou desmanchar o nártex, as abóbadas, fez os atuais abobadamentos e janelas elevadas, a casa capitular, a capela das Donas, a sacristia manuelina; a do Venturoso (D. Manuel I) que, na supervisão de Marcos Pires, estabeleceu terminar os coroamentos da memorável igreja, bem como reconstruir o claustro do silêncio; por fim a de Dom João III, na qual Diogo de Castilho, com Nicolau Chanterene, levantaram o novo portal de pedra branca, na fachada românica
... Repentinamente, tudo desaparecia das interessantes estruturas medievais. Em presença daquelas intensas devastações, o pequeno mosteiro das Donas extinguia-se, ficando livres esses espaços, antes ocupados; o prolongamento das novas alas possibilitaram o claustro da Manga; também um grande refeitório, com anexos e cozinha, ficava circundado dos imprescindíveis apoios e serviços; enfermaria, dormitórios dos cónegos, dos noviços, repartições civis e portaria – com um outro claustro restrito.
Dias, P. e Coutinho, J.E.R. 2003. Memórias de Santa Cruz. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 22, 54, 59 e 61 a 62
Tipo Renascença Coimbrã
O tipo de claustro adotado para os colégios de Coimbra é o que mais se liga à tradição anterior do gótico final e manuelino. … Seria … Diogo de Castilho quem viria a dar o maior contributo para a definição desta tipologia de claustros, através da introdução de abóbadas de berço e de uma mais correta utilização das ordens clássicas. Em 1543 projeta em Coimbra o claustro do colégio de Nossa Senhora da Graça, com três tramos de arcada geminada em cada ala, separados por contrafortes. Este esquema viria a ser repetido e melhorado até ao final da sua vida em 1574, nos colégios de S. Tomás, em 1547, das Artes em 1548 e de S. Jerónimo, em 1565.
… só no final do século se viria a firmar definitivamente a modernidade … onde as arcadas comungam já deste espirito inovador do Renascimento … com o do colégio do Carmo de Coimbra, construído em 1600.
Borges, N.C., 1998. Arquitetura Monástica Portuguesa na Época Moderna. (Notas de uma Investigação). Separata da Revista Museu, IV Série, n.º 7, pg. 31 a 59, pg. 37
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