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Só muito recentemente tive conhecimento de um livro editado pelo Município em 2009, intitulado Inventário da Documentação de Turismo no AHMC, da autoria de Sandra Correia, com prefácio e coordenação de Mário Nunes.
Obra citada, capa
O objetivo pretendido com esta obra foi o da organização técnico-arquivista de um conjunto documental acumulado, pertencente ao Departamento de Cultura.
No prefácio da obra é afirmado que Os anos de 1923-1936 e 1937-1983 foram períodos importantes para a afirmação de Coimbra na área turística, para adiante acrescentar que A partir da década de oitenta, os Serviços de Turismo foram reestruturados e criou-se o Departamento de Cultura, Turismo e Espaços Verdes, que em 2002 passou, unicamente, a Departamento de Cultura, com o Turismo e os Espaços Verdes a autonomizarem-se em relação à Cultura.
Afirmações que apresentam erros de informação que, ainda que só agora, importa corrigir para memória futura.
Tendo sido o responsável por aqueles serviços no período de 1977 a 1988, relembro os seguintes factos.
Largo da Portagem, à direita, edifício onde funcionavam os Serviços Municipais de Turismo
- Em 1977, após concurso publico, fui nomeado Chefe dos Serviços Municipais de Turismo, num tempo em que ainda subsistia a Comissão Municipal de Turismo que, com orçamento dotado pelo Imposto de Turismo, apresentava anualmente à Câmara Municipal para competente aprovação quer o Orçamento e Plano de Atividades, quer o Relatório e Contas.
Edifício Chiado, onde funcionaram os Serviços Municipais de Cultura e Turismo. Foto Maria Helena Matos
- Em 1980, com a extinção das Comissões Municiais de Turismo e a assunção pelo Professor Doutor Jorge Nogueira Lobo de Alarcão e Silva das funções de Vereador do Pelouro da Cultura este veio a apresentar uma proposta de estruturação dos serviços, posteriormente revista e impressa, com o título Reformulação das Bases do Programa Cultural, pela qual foram criados os Serviços Municipais de Cultura e Turismo.
Reformulação das Bases do Programa Cultural, capa
- Em 1982, por força dessa alteração, após concurso para integrar a carreira de técnico superior, continuei a assegurar a direção dos mesmos, primeiro como Técnico Superior de 1.ª e, depois, por deliberação do Executivo Municipal, como Diretor dos Serviços Municipais de Cultura e Turismo.
- Em 1987, após nova reestruturação dos serviços que criou o Departamento de Cultura, Desporto e Turismo, passei a assegurar, em comissão de serviço, as funções de Diretor de Departamento, cargo que viria a suspender, a meu pedido, em 2 de janeiro de 1989.
Cerca de S. Bernardo, edifício onde funcionaram os serviços centrais do Departamento de Cultura, Desporto e Turismo. Imagem acedida em https://bussola-pt.com/123004/a-escola-da-noite-grupo-de-teatro-de-coimbra
Assim, sem esquecer o papel que na área dos espaços verdes tiveram as Comissões de Iniciativa e Turismo, a evolução foi: Serviços de Turismo, Serviços Municipais de Turismo, Serviços Municipais de Cultura e Turismo e Departamento de Cultura, Desporto e Turismo, nos quais nunca estiveram integrados os Espaços Verdes.
Correia, S. Inventário da Documentação do Turismo do Arquivo Histórico Municipal de Coimbra AHMC. Prefácio e coordenação de Mário Nunes. Apresentação e orientação de Paula França. 2009. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra.
Em Março de 1978, um grupo de cidadãos, encabeçado pelo Delegado da Direção-Geral dos Desportos, Fernando Mendes Silva, iniciou um movimento cívico, a “Operação Chiado” com o intuito de salvar o edifício: “Dêem-nos 4 meses e mostraremos o que se pode fazer disto”, terá pedido Mendes Silva. Em colaboração com várias entidades foi elaborado um programa de animação com atividades variadas. Para além dos Serviços de Turismo da Câmara Municipal de Coimbra foram envolvidos na definição do programa: a Fundação Calouste Gulbenkian, a Secretaria de Estado da Cultura, a Universidade, o Museu Nacional de Machado de Castro, entre outras … Assim se realizaram, finais de xadrez, exposições … ciclos de cinema e até concursos de doçaria regional.
Enquadrado neste clima de mobilização cívica … a 5 de Junho de 1978, a “Noite de Coimbra” evento realizado na Praça do Comércio e em defesa da renovação urbanística e remoção do estacionamento, com o objetivo de lhe devolver a função de centro cívico e de convívio. Neste evento o banco “entregou” simbolicamente a chave ao impulsionador deste movimento, Fernando Mendes Silva, ficando os Serviços de Turismo da CMC encarregados da sua dinamização.
Na sequência da “Operação Chiado” e da consequente ocupação do edifício, com atividades culturais, a Câmara Municipal comprometeu-se com o Banco Pinto & Sotto Mayor em adquirir o edifício o que só aconteceu em 1984, já no mandato do próprio Mendes Silva como presidente da autarquia … Entretanto a Câmara Municipal solicitara no dia 11 de maio de 1978 a classificação do edifício como de “interesse público” … O Instituto de Salvaguarda do Património Cultural e Natural deu um parecer positivo a este pedido no dia 14 de Junho de 1978 … a sua classificação só se concretiza em 1997, sendo publicado o decreto de classificação como imóvel de interesse público em 2002 … a sua aquisição ao Banco fez-se através da permuta de um terreno na Avenida Fernão de Magalhães … Depois da sua aquisição pela CMC passou a ser um espaço expositivo de temas e obras diversificadas até que, em 2001, inaugurou como Museu Municipal.
Sendo à data o responsável pelos Serviços Municipais de Turismo, seja-me permitido um testemunho.
No final da “Noite de Coimbra” o Dr. Mendes Silva depois de entregar as chaves procurou-me e disse-me: “A minha tarefa está terminada. Agora é com a Câmara”. E, acrescentou, com aquele seu inconfundível linguarejar coimbrão: “Aguente-se à bronca”.
Rodrigues Costa
Magalhães, R. 2010. Edifício Chiado. Uma das curiosidades de Coimbra. In Caminhos e Identidades da Modernidade. 1910. O Edifício Chiado em Coimbra. Actas. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, pg. 217 a 220
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