Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O arco de honra, igualmente conhecido por Arco de São Sebastião, está disposto obliquamente devido à posição da artéria pública sobre a qual passa, diferenciando-se dos restantes pelo tratamento material e composição artística. Dispõe, pois, na verdade, de um conjunto de inscrições e esculturas, de cariz religioso, que em muito o enobrecem.
Aqueduto. Arco de S. Sebastião
Assim, em cada uma das faces da cornija superior, logo acima do fecho do último arco do extremo sul, foram aplicados, em posição central, o escudo com armas reais portuguesas, ladeadas em posição inferior com as lápides referentes à construção do aqueduto com os textos encomiásticos divididos em duas tábuas, datados de 1570. Na face sul, orientada para a Alameda Doutor Júlio Henriques, a inscrição surge em latim, e na face norte, virada para a Praça Papa João Paulo II, a respetiva tradução em português.
NO . ANNO . DO SOR
DE . I . 5. 7. 0. O INVICT
IISSIMO REI . DOM
SEBASTIAÕ . O . I .
NO . 3 . ANNO DE SEV
GOVERNO . MÃDOV
REEDIFICAR DE NO
VO TODO . ESTE . AQ
VEDVCTO . MAIS . N
RA . FEITO . AVIA MTOS .
ANNOS . COMO CÕ
STA . PELO RASTO Q
LE . SE AC
HOV CVBERTO DE
Resumindo o conteúdo dos testemunhos epigráficos, podemos salientar o cuidado do monarca em dotar de água potável a principal zona urbana frequentada pela comunidade escolar, que fora responsável pelo crescimento imediato do núcleo urbano conimbricense.
Aqueduto. Arco de S. Sebastião, templete
A coroar o respetivo arco principal, sobre o canal adutor, ergue-se um pequeno templete, de planta trapezoidal, composto por colunas dóricas que suportam uma cúpula e lanternim superior. Em cada um dos flancos, cada um dotado com o respetivo nicho, encontra-se as esculturas dos oragos do aqueduto: a de São Sebastião disposta na face sul, e a de São Roque, na face norte.
Aqueduto. Arco de S. Sebastião, imagem de S. Roque
Aqueduto. Arco de S. Sebastião, imagem de S. Sebastião
Desconhecemos, no entanto, o nome do arquiteto responsável pelo projeto, assim como o dos mestres-de-obras que conduziram os diversos trabalhos construtivos.
Pacheco, M.P.D. Do aqueduto, das fontes e das pontes: a arquitetura da água em Coimbra de Quinhentos. Acedido em https://www.academia.edu/37539380/DO_AQUEDUTO_DAS_FONTES_E_DAS_PONTES_A_ARQUITETURA_DA_ÁGUA_NA_COIMBRA_DE_QUINHENTOS
Se o leitor bem reparar, na imagem de S. Sebastião vêm-se dois orifícios no tronco, onde estavam inseridas duas setas que, quanto se dizia, eram de prata.
Um dia um estudante, disseram logo as más línguas de Coimbra, condoído com o “sofrimento” secular da imagem, arranjou maneira de subir até lá e “retirou” as setas, deixando um letreiro: Basta de tanto sofrer!
Plagiando os italianos esta história se é verdadeira, tem graça. Para além de reveladora de um certo espirito académico que, com os anos, tem vindo a desaparecer.
Assumindo-se hoje como um dos marcos históricos mais emblemáticos da cidade, o mais antigo aqueduto de Coimbra, de duplo orago sebástico – pois foi reconstruído por ordem régia do monarca D. Sebastião e dedicado ao mártir romano São Sebastião –, tem as suas origens numa construção que remonta ao período da romanização do território que é hoje Portugal.
Arcos do Jardim. 1920 c. Coleção Regina Anacleto
Esta estrutura de abastecimento de água potável à cidade, localizada entre a colina onde se erguia o desaparecido Colégio de Nossa Senhora da Conceição e o atual Convento de Santa Teresa e o Fontanário dos Bicos, no Largo da Feira dos Estudantes, em plena Alta Universitária, possui ainda um segundo orago, São Roque, santo que, com São Sebastião, assume o papel de especial protetor contra o flagelo da peste. A escolha destes dois santos patronos está intimamente ligada ao surto pestífero que grassou em Coimbra nos finais da década de 1560, período da construção do aqueduto. Contudo, vingou na história da cidade o patrono onomástico do monarca.
No decorrer da obra, D. Sebastião enviara, em 1568, o desembargador Heitor Borges com ordens diretas para proceder ao aprovisionamento da água necessária a distribuir à cidade e à comunidade monástica de Santa Cruz, detentora de grande parte das nascentes urbanas.
Contudo, os Cónegos Regrantes, reagindo ferozmente contra as decisões régias, acabaram mesmo por excomungar os oficiais envolvidos e entrar em esgotantes demandas judiciais com a Coroa, levando a sucessivos atrasos nas obras de construção, que, mais tarde, seriam assumidas por um outro desembargador mais enérgico, Martim Gonçalves da Câmara.
Igualmente excomungado, este oficial não só iria continuar a obra com a celeridade necessária, como iria enfrentar o potentado crúzio, aplicando-lhe pesadas multas pelos entraves causados à obra real, e, sobretudo, pela água usurpada ilegalmente ao município. No seguimento dos trabalhos construtivos, foram demolidos alguns setores do muro da cerca monástica e cortado o arvoredo envolvente junto dos pontos de captação de água para proceder à edificação de pequenas torres, em alvenaria, onde ficariam instaladas as arcas de armazenamento do precioso líquido. Além das expropriações e demolições efetuadas, o oficial régio mandara ainda arrasar o chafariz de São João do Largo de Sansão, que fora erguido em frente à igreja de Santa Cruz durante o priorado de D. Afonso Martim de 1392 a 1414.
AHNC. Livro II da Correa, Mapa. Com indicação das fontes que abasteciam o aqueduto
Rua Pedro Monteiro, claraboia onde se juntava a água que ia o aqueduto
Denominadas de fontes de el-Rei e da Rainha, as nascentes que iriam abastecer o centro da cidade com água potável estavam localizadas junto do quinhentista Colégio de Tomar, sobre o qual foi levantado o edifício da Penitenciária de Coimbra nos finais do século XIX, e, nas proximidades da estrada para Celas. Em local próximo encontrava-se ainda a denominada Fonte da Nogueira, atualmente no Jardim da Sereia que, por alvará régio lavrado em 4 de Abril de 1588 e mais tarde reconfirmado em 20 de Abril de 1736, deveria ser vistoriada anualmente pelos oficiais camarários.
Inicialmente com uma extensão de aproximadamente de um quilómetro, o aqueduto de São Sebastião, popularmente conhecido como Arcos do Jardim, é hoje constituído por apenas vinte e um arcos dispostos ao longo da Calçada Martim de Freitas e da Praça João Paulo II. Superando uma relativa depressão territorial, os arcos, uns semicirculares e outros abatidos, estão assentes em robustos pilares de faces externas dispostas em degrau que, por sua vez, suportam no topo o canal adutor. Este, coberto por abóbada de berço, só seria desativado no século XX, por volta do ano de 1942. Quanto ao aparelho construtivo podemos indicar a presença de alvenaria de pedra calcária, fixada com argamassa e reboco, recentemente beneficiado.
A partir do setor nascente do atual edifício do Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra, a estrutura aquífera continuaria o seu percurso subterraneamente até alcançar o Largo da Feira dos Estudantes, junto da concatedral.
Largo da Feira dos Estudantes, Fontanário dos Bicos
Entretanto, nos finais da década de 1940, no seguimento da reorganização urbanística da Alta para a construção da Cidade Universitária de Coimbra, alguns dos arcos seriam destruídos para a abertura da atual rua do Arco da Traição, enquanto outros, junto ao Jardim Botânico, acabariam por ser desobstruídos do casario habitacional que havia sido edificado ao longo dos tempos. Quando a Academia Nacional de Belas Artes lançou, em 1947, o Inventário Artístico de Portugal, dedicado à cidade de Coimbra, denunciava-se que “o estado do aqueduto é de meio abandono; encontrando-se bastante prejudicado pelas infiltrações da água do cano”, ou seja, ainda se encontrava em funcionamento.
Pacheco, M.P.D. Do aqueduto, das fontes e das pontes: a arquitetura da água em Coimbra de Quinhentos. Acedido em https://www.academia.edu/37539380/DO_AQUEDUTO_DAS_FONTES_E_DAS_PONTES_A_ARQUITETURA_DA_ÁGUA_NA_COIMBRA_DE_QUINHENTO
Foi fundado em 1545 pelo canonista Dr. Rui Lopes de Carvalho... Era destinado pelo fundador a 12 clérigos pobres, que viessem estudar teologia ou cânones à Universidade.Principiou a construção do edifício em 1543 ao cabo da Rua da Sofia, entrando os primeiros estudantes em 1545, depois de confirmada a instituição por breve apostólico de 1 de Agosto deste ano. Fez-se a 29 de Junho de 1548 a sua inauguração solene, que ficou comemorada numa inscrição, aberta na base de um belo busto do patrono S. Pedro, que é guardado pela Faculdade de Letras.
Em 1572 sofreu o Colégio profunda remodelação, sendo então transferido para o novo edifício, que D. Sebastião lhe doara junto do paço real, onde se havia instalado a Universidade, passando a ser fundamentalmente um Colégio para doutores ou licenciados, que ali estagiavam a preparar-se para o professorado, etc.
Colégio Pontifício e Real de S. Pedro
Construiu-se-lhe um edifício próprio, que limita por Leste o pátio universitário, desde a porta principal de ingresso, atualmente chamada «porta-férrea», até topar na Rua da Trindade. Ficou a entrada para o Colégio ao lado da «porta-férrea», adicionando-se-lhe depois ali o majestoso portal das cariátides, que, há menos de setenta anos, foi mudado para a fachada ocidental do edifício; mas o sítio, onde primitivamente estivera este ostentoso portal, uma simples porta de serviço. O edifício abandonado pelo Colégio na Rua da Sofia foi aproveitado para a instalação do... Colégio de S. Pedro dos Franciscanos Calçados.
... A biblioteca do Colégio de S. Pedro era importante. Tinha abundância de livros clássicos; nela se encontravam não só bons livros de cada uma das ciências professadas nas Faculdades universitárias, mas também de cultura geral, de história, de literatura, de humanidades – cerca de 8.000 volumes, entre os quais espécies bibliográficas preciosas e alguns manuscritos.
... Extinto o Colégio de S. Pedro por decreto de 16 de Julho de 1834, foi o seu edifício entregue à Universidade... o decreto de 10 de Maio de 1855 ordena ... O edifício do extinto Colégio de S. Pedro... fica ... para a acomodação da Comitiva das Pessoas Reais, quando ali forem pousar ou residir.
... Criada de novo na Universidade de Coimbra uma Faculdade de Letras, na reforma universitária de 1911... foi-lhe para este efeito designado o andar nobre.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg.198-206, do Vol. I
Chafariz da Feira
Estava situado na praça de S. Bartolomeu, conforme se pode ver ... na vista panorâmica da cidade de Coimbra, de Jorge Braunio ... onde aparece com a designação de “fons fori” ... Foi mandado construir ... em 1573, por carta régia de el-rei D. Sebastião ... No ano de 1747, este Chafariz beneficiou da limpeza e desobstrução dos canos ... No ano de 1864 ... voltou a ser reformado, tendo sido adicionadas na frontaria as armas da cidade e a data de 1864. Manteve o número de três bicas e o depósito de água suficiente para acudir aos incêndios.
Chafariz da Sé Velha
Terá sido construído no adro da igreja ... junto ao ângulo noroeste, onde existia um deposito provisório de águas. A transformação efetuada nesse depósito, no ano de 1573 ou 1574, teria dado lugar ao chafariz de uma só bica, em cumprimento da ordenação na carta régia ... de el-rei D. Sebastião ... Cerca de sete anos depois da sua edificação ... foi beneficiado passando a dispor de duas bicas, tendo a ladeá-lo dois brasões ... foi modificado, para ampliação do depósito e retirada de uma bica e, em 1898 foi recuado
Fonte dos Bicos
O nome estava relacionado com a arquitetura singular das suas pedras quadrangulares cortadas em pirâmide formando um bico ... terá sido mandada construir ... quando o rei D. João III fixou definitivamente a Universidade em Coimbra, no ano de 1537. O Marco da Feira, na zona norte da Alta, servia de terraço à Fonte dos Bicos, que ligava o lado nascente do Largo da Feira à Ladeira do Marco da Feira, depois Rua dos Estudos ... O Marco da Feira nasceu da cobertura da cisterna que alimentava a Fonte da Feira.
Lemos, J.M.O. 2004. Fontes e Chafarizes de Coimbra. Direção de Arte de Fernando Correia e Nuno Farinha. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 163, 166 e 167, 182
No terreiro ou largo de Sansão teriam existido três chafarizes. Os dois primeiros estavam colocados nos extremos norte e sul, “como mostra a vista panorâmica da cidade de Coimbra, de Jorge Braunio, impressa em 1572”.
... Estes chafarizes chamados de Sansão e de S. João foram mandados construir no ano de 1400, por D. Afonso Martim, 19.º prior mor do mosteiro de Santa Cruz ... mandou alargar o terreiro de Sansão, para se realizarem as festas a cavalo, aproveitando a colocação dos chafarizes, como balizas, para se jogarem “canas” e “alcanzias”, antigos jogos portugueses.
O jogo das canas consistia em os cavaleiros se acometerem com canas, espécie de torneio brincalhão. E as alcanzias eram bolas de barro cheias de cinza, pó, flores, etc. que os cavaleiros lançavam. Esta brincadeira simulava as granadas ou panelas cheias de matérias acesas ou inflamáveis, com que na guerra arremessavam ao inimigo.
O chafariz de S. João era de água doce e “maravilha de se contemplar o engenho enganoso com que lançava nove tornos de água, não sendo os tornos verdadeiros mais de três”.
Apesar desta maravilha, o chafariz de S. João foi demolido quando el-rei D. Sebastião, ao mandar construir o aqueduto de S. Sebastião, precisou desta e doutras águas que estavam na posse do mosteiro de Santa Cruz, mandando-as retirar, para as encaminhar para o referido aqueduto ...
No centro do chafariz de Sansão foi colocada, em 1592, num pedestal quadrangular, a estátua de Sansão imaginada pelo mestre Manuel Fernandes. As mulheres cobiçavam muito a água que, “por ser um bocado salôbra”, era muito aproveitada para amassar o pão e para lavar o rosto, dizendo-se que o tornava mais alvo.
A estátua de Sansão, hercúleo juiz dos hebreus, foi derrubada e feita em pedaços, pelo embate de umas traves transportadas por um carro, no mês de Setembro ou Outubro de 1819. Parece que o destino desse chafariz estava marcado, porque o deixaram deteriorar e, como tal, a Câmara mandou-o demolir em 1838.
Dessa demolição beneficiou o terceiro chafariz, na medida em que a água do demolido mais a água do Claustro do Silêncio deram para as duas bicas desse novo chafariz sem nome, construído em 1839, na frontaria do antigo mosteiro de Santa Cruz.
... Em 1870, quando foram construídos os novos paços municipais, o chafariz acabou por ser demolido.
Lemos, J.M.O. 2004. Fontes e Chafarizes de Coimbra. Direção de Arte de Fernando Correia e Nuno Farinha. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 159 a 161
O Mondego era na Antiguidade navegável até Coimbra, e mesmo até à foz do Dão; constituía uma importante via fluvial, de oeste a leste, largamente praticada ainda na Idade Média; no sentido norte-sul, a via, agora terrestre, não podia encontrar melhor cruzamento do rio que em Coimbra: para poente, os terrenos eram alagadiços, o rio muito caudaloso e largo; para o interior, as vias tornavam-se ásperos caminhos de montanha. Coimbra era, pois, ponto de passagem obrigatório entre o norte e o sul, centro onde naturalmente se podiam trocar os produtos da serra pelos da planície e do mar.
A existência de uma ponte de pedra romana em Coimbra é mais do que provável. Ficaria sensivelmente no sítio da atual, sítio que corresponde, com ligeira diferença, ao das pontes de D. Afonso Henriques e D. Manuel. Aliás, terão sido estas fábricas novas ou simples restauros da ponte romana?
Atravessado o rio, a estrada romana seguiria a linha das atuais rua de Ferreira Borges (antigamente chamada de Calçada), Visconde da Luz e Direita. Esta última, chamada na Idade Média rua da Figueira Velha, constituiu a saída da cidade até à abertura, no século XVI, da Rua da Sofia.
Na atual Praça 8 de Maio, a via cruzava a torrente, já referida, de ‘balneis Regis’. Foi Vergílio Correia quem sugeriu a existência de umas termas romanas no local onde, em 1131, se deu início à construção do mosteiro de Santa Cruz. E Nogueira Gonçalves … admitiu que a porta mourisca mencionada em documento de 1137 fosse último resto desta construção. De tais termas, porém, nada ficou.
... De outros monumentos romanos de Coimbra, infelizmente desaparecidos, conserva-se mais segura memória. São eles o arco da Estrela e o aqueduto.
… Hefnagel, na gravura de Coimbra, incluída na obra ‘Civitates orbis terrarum’, atribuída tradicionalmente a Braunio, desenhou, no ângulo entre a Couraça de Lisboa e a Couraça da Estrela, três colunas que na legenda aparecem designadas: ‘colunnae antiquae Romanorum’. As colunas assentam sobre um estilóbato baixo e são coroadas por arcos.
Que as colunas romanas não podiam estar situadas exatamente no local onde Braunio as representou, é indiscutível. Daí até negar a existência do monumento é passo grande … não nos deixam dúvidas sobre a existência do monumento, que a Câmara da cidade deixou demolir em 1778 … Era um monumento tão notável, que deu nome à porta da muralha situada ao fundo da Couraça de Lisboa. Com efeito, o nome que esta teve – de Belcouce – significa «no arco» ou «junto ao arco»
… O aqueduto de S. Sebastião foi construído sobre as ruínas de um idêntico cano, muito mais antigo e provavelmente romano …Provam-no as lápides que, em 1570, se colocaram no aqueduto restaurado por D. Sebastião … «… mandou reedificar de novo todo este aqueduto, mais nobremente do que fora feito havia muitos anos…»
Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 28 a 34
… o Rei (D. João III), concedera aos Crúzios pelo alvará de 16.XI.1547, que conhecido pelo ‘Estudo Geral’, lhes concedia o ensino do latim, do grego, do hebraico, da matemática, da lógica e da filosofia … Em 1555, o Rei, já muito doente, escrevia ao Prior-mor de Santa Cruz, então Dom Francisco de Mendanha, dando-lhe a inesperada ordem:
“mando que entregais esse Colégio das Artes (assim passaram a ser designados São Miguel e Todos os Santos) e o governo dele mui inteiramente ao Padre Diogo Mirão provincial da Companhia de Jesus, o qual assim lho entregareis no primeiro do mez de Outubro …”
… Contra a espoliação os Crúzios reagiam como podiam à autoridade régia, que se entende seria muito pouco.
Mas conhece-se um acontecimento que é paradigmático, e que muito polidamente mostravam ao Rei a sua contrariedade.
Muitos anos antes de ser erigida a Torre sineira de Santa Cruz (que os mais velhos conheceram, a nascer de dentro da torre maior da defesa do Mosteiro, e que se dizia fora a primeira obra levantada quando da fundação do Mosteiro), o conjunto de sinos estava montado na denominada Torre velha dos sinos, na muralha sobranceira ao Mosteiro, e que as obras do Colégio Novo iriam obrigar a demolir.
Entre os seus sinos, um existia denominado ‘sino real’ que somente era tangido quando o Rei estava em Coimbra. Anunciava-se a vinda do Rei à cidade, antes da doença que o vitimou, e os sentidos frades logo resolveram calar aquele sino, retirando-lhe o badalo. Não mais replicou alegremente, até mesmo quando da visita do Dom Sebastião, e passou a ser conhecido pelo ‘sino mouco’.
Quatro séculos após a graça irá repetir-se com a ‘cabra’ da Torre da Universidade, da iniciativa de estudantes de outra era, mas na mesma insubmissos.
Silva, A.C. 1992. A Criação e Levantamento do Colégio da Sapiência (vulgo Colégio Novo). Coimbra, Santa Casa da Misericórdia de Coimbra. Pg. 9 a 11
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.