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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 12.01.23

Coimbra: Do Cadeiral de Santa Cruz 2

Na parte final do seu texto o Doutor Marco Daniel Duarte, aborda o tema O que contém e o que falta ao cadeiral de Nunes Pereira. Um Génesis sem Apocalipse, salientando este conceituado investigador que Augusto Nunes Pereira não quis traçar com exaustividade todas as análises que a historiografia permite a propósito do cadeiral de Santa Cruz. Isto mesmo se depreende das suas próprias palavras que com este sentido semeia ao longo das entradas.

A honestidade do autor não deixa que queiramos ver no seu livro mais do que uma reunião de textos redigidos para um fim específico e por isso denunciadores dessa primeira finalidade.

Publicados em forma de colunas no periódico diocesano, os textos têm obrigatoriamente de ser curtos, porque submetidos às regras que o público jornalístico exige, mas que também hoje serão, no entanto, um valor maior no que concerne à divulgação dos méritos da arte de eras passadas, pelo que o leitor pode aceder, sem desânimo, as breves descrições dos pormenores de uma obra de arte muito complexa.

Mais adiante acrescenta que Ninguém como Augusto Nunes Pereira terá olhado de tão perto para o cadeiral de Santa Cruz, pelo menos com o intuito de registar esse olharNão afirmamos pelo facto de qualquer observador ter, obviamente, uma visão diferente da obra que observa, mas porque efetivamente o cadeiral crúzio foi exarado por Nunes Pereira como quem revela uma fotografia, com arguta minudência de cristalizar os sentidos que parte da artística paisagem encerra.

NP, o Artista incansável.jpgNunes Pereira, o Artista incansável

Importa recordar que Marco Daniel refere, na página 23, a existência de um terceiro escultor do cadeiral, João Alemão, ao afirmar que é De lamentar é o facto de Augusto Nunes Pereira não ter desenhado, com o risco e com as palavras, tantas outras figurações, nomeadamente as do coroamento e assim analisar as representações contidas na totalidade do lenho de carvalho artisticamente trabalhado por Machim, João Alemão e Francisco Lorete.

Já perto do final do seu texto arco Daniel sublinha que o cadeiral de Santa Cruz não é apenas uma das mais importantes obras de arte de um país. Ele foi palco de uma história cultural, institucional, política, religiosa e, antes destas, litúrgico-musical. Nunes Pereira olhou-a, viu-a, interpretou-a e, não raras vezes, reinterpretou-a.

Do Cadeiral SC, pg. 189.jpg

Op. cit., pg. 189

 Estamos convencidos de que, depois dos seus artistas e artificies, ninguém como Nunes Pereira – também ele um artífice e também ele artista – dedicou tantas horas ao cadeiral de Santa Cruz:  horas de minuciosa observação para lhe desvendar os traços; horas de pensamento para lhe desvendar os entranhados sentidos que as formas encerram.

Acrescenta ainda o investigador. Embora não se tenha dedicado em exclusivo, ao estudo histórico de obras de arte, Augusto Nunes Pereira ficou associado a descobertas historiográficas muito importantes e, diríamos mesmo, emblemáticas … merece sempre registo o facto de que data do celebrado púlpito da igreja de Santa Cruz

1521, data descoberta pelo Pe. Nunes Pereira.jpg

Datação do púlpito da igreja de Santa Cruz, Desenho de Nunes Pereira

 … importantes passos na inventariação dos bens artísticos da Diocese de Coimbra para acrescentar que se dedicava … a desenhar, de forma quase compulsiva, numa espécie de ‘viciosa virtude’, tudo o que povoava o seu viver.

 Por último, importa ainda recordar que a localização primitiva do cadeiral foi a capela-mor, na parte reservadas aos cónegos, separada por um gradeamento da parte aberta aos fiéis. A sua forma era em U, aberto para o altar.

Igreja de Santa Cruz, ainda com o gradeamento..jpg

Igreja de Santa Cruz, capela-mor ainda com o gradeamento.

Quando o rei D. Manuel I determinou a demolição da igreja românica e a construção da igreja manuelina, bem como dos túmulos dos primeiros reis, o cadeiral foi mudado, em 1531, para o coro alto da igreja, onde hoje o podemos admirar.

 Pereira, A. N. Do Cadeiral de Santa Cruz. 2.ª edição. Introdução de Nunes Pereira, Abertura de Anselmo Ramos Dias Gaspar e Prefácio à segunda edição de Marco Daniel Duarte. 2007. Coimbra, Câmara Municipal.

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por Rodrigues Costa às 09:52

Terça-feira, 10.08.21

Coimbra: Caminho para a canonização da Rainha Santa 2

Com o mesmo objetivo, alguém que com ela convivia de perto redigiu também uma biografia, que viria a servir de fonte e inspiração para a maior parte dos textos que se compuseram ao longo dos séculos sobre D. Isabel; no final desta estão antologiados todos os milagres que, nessa altura, tinham sido objeto de juramentos solenes ou de certificação notarial, com a menção dos respetivos tabeliães e testemunhas. nomeadamente aquele ato notarial (instrumentum) de 27 de Julho de 1336, acima referido, o que revela que o seu autor recorreu a fontes escritas anteriores para se fundamentar. Este relato, consultado em cópia manuscrita existente na biblioteca do mosteiro de Santa Clara, foi editado pela primeira vez por Fr. Francisco Brandão, na Sexta Parte da «Monarquia Lusitana», com o título «Relaçam da vida da gloriosa Santa Isabel Rainha de Portugal», em 1672.

São Bernardo, no frontispício da Primeira Parte

São Bernardo, no frontispício da Primeira Parte da Monarchia Lusytana. Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Monarchia_Lusytana

Estes primeiros relatos estão na génese do muito que se escreveu sobre Santa Isabel, ao longo dos séculos, quer em prosa, quer em poesia, quer em relatos hagiográficos ou biográficos, quer em ofícios divinos, quer em discursos comemorativos, panegíricos e sermões.

A chegada da Rainha Santa Isabel à Catedral de Sa

A chegada da Rainha Santa Isabel à Catedral de Santiago de Compostela. Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Isabel_de_Arag%C3%A3o,_Rainha_de_Portugal

A rainha deposita a sua coroa.pngA rainha deposita a sua coroa aos pés do Arcebispo de Santiago de Compostela. Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Isabel_de_Arag%C3%A3o,_Rainha_de_Portugal

… Apesar do registo destes acontecimentos, em escrituras públicas, e da redação da biografia muito pouco tempo depois da sua morte, vivendo ainda alguns dos intervenientes mencionados, o culto da Rainha permaneceu circunscrito, muito limitado à cidade de Coimbra e aos seus descendentes. D. Manuel, D. João III conseguem o alargamento do culto a todo o reino e D. Sebastião continua a envidar esforços no sentido de alcançar a santificação de D. Isabel; esta, no entanto, só seria canonizada pelo Papa Urbano VIII em 1625, em pleno domínio filipino, no reinado de Filipe III, na sequência da insistência de Filipe II, que dera uma nova força ao processo em 1611.

Este culto privado, com algumas manifestações públicas, prolongou-se, pois, por aproximadamente dois séculos, até ao reinado de D. Manuel, durante o qual se estabeleceram contactos com as hierarquias superiores da Igreja, para se conseguir o seu reconhecimento oficial e solene.

Santa Isabel de Portugal.jpg

Santa Isabel de Portugal, Retrato idealizado criado por Francisco de Zurbarán. 1635 (Museu do Prado). Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Isabel_de_Arag%C3%A3o,_Rainha_de_Portugal

É graças à intervenção de D. Manuel que o culto da rainha toma cunho solene (isto é, passa a ser realizado em nome da Igreja, com intervenção dos seus ministros, através de ritos e cerimónias reconhecidas e aprovadas pela autoridade competente), mas apenas na diocese de Coimbra. Simultaneamente, o papa Leão X, em 1516, ao autorizar o culto solene, alcandorou a Rainha a bem-aventurada, isto é, beatificou-a.

… Quando, em 1556, D. João III obteve do Papa a extensão do culto da Rainha a todo o reino, determinou a realização de um conjunto de iniciativas nas dioceses do país, nos mosteiros, na Universidade e no Colégio das Artes; encomendou a elaboração de uma biografia de D. Isabel, que narrasse a sua vida, obras e milagres; solicitou cópias de documentos antigos relacionados com esta sua antepassada, conservados no cartório do mosteiro de Santa Clara; mandou fazer estátuas da Rainha e averiguar da veracidade dos milagres.

Toipa. H.C.  Rainha Santa Isabel: fontes para o seu estudo – (Documentos). 2020. Coimbra, Imprensa da Universidade. Pg. 1 a 20

 

 

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por Rodrigues Costa às 16:13

Terça-feira, 14.05.19

Coimbra: Hospital Real 1

«… E vendo quão necessária coisa era, em a dita cidade, haver um bom hospital, segundo o requer a nobreza dela e a grande passagem que por ela fazem as gentes de todas as partes e, muito principalmente, nos tempos do Jubileu de Santiago e como os pobres e miseráveis não acham na dita cidade, nos hospitais que nela havia tal recolhimento…».
Através destas palavras, ficamos a conhecer a origem do Hospital Real de Coimbra, instituição assistencial hoje quase ignorada na cidade, mas que foi o porto de abrigo de tantos peregrinos, pobres e doentes. A sua fundação surge integrada num processo de revitalização da assistência médica, levada a cabo por D. Manuel.

Manuel_I1.jpg

D. Manuel I

Atendendo à dispersão de pequenas unidades hospitalares que funcionavam, mais como asilos para pobres, do que para assistência aos doentes, o rei entendeu por bem fazer a sua reunião e anexação em um só hospital.
Foi, isso mesmo, que se passou também em Lisboa, com a extinção de dezenas de albergarias e a sua anexação ao Hospital de Todos os Santos que recebeu Regimento em 1504, apesar de as medidas de unificação já terem sido encetadas por D. João II. Em Coimbra, foi também em 1504 que se iniciou a construção do novo Hospital, tendo-lhe sido anexados, em 1508, os antigos hospitais e albergarias da cidade. Por sua vez, em Évora, a reunificação de doze pequenos hospitais ocorreu em 1515.

Hospital Real de Coimbra. Foto mais antiga.JPG

Hospital Real de Coimbra

O ritmo de vida da instituição era marcado pelo som da sua campa, que era tangida para dar início à visitação dos professores da Faculdade de Medicina (das cadeiras de Prima, Tertia e Avicena) e seus alunos, logo pelas seis horas e meia da manhã (no verão) e pelas sete horas e meia (no inverno).
Enquanto a Universidade não teve o seu próprio hospital, o que só viria a acontecer depois da Reforma Pombalina, em 1772, a prática médica era exercida no hospital da cidade.
A visita diária aos doentes, nas enfermarias, demorava três quartos de hora, sendo obrigatória para todos os alunos da Faculdade de Medicina. Tinha lugar na presença do administrador do hospital e de seus enfermeiros, decorrendo desta visita a observação dos doentes, aos quais os médicos prescreviam as receitas necessárias, que eram escritas pelos enfermeiros, em tábuas engessadas de branco.
Depois desta primeira visita, seguia-se uma outra, numa sala à parte das enfermarias, para receber todos os enfermos da cidade que ali acudissem, em busca de lenitivo para os seus males. Se se verificasse que havia necessidade de internamento de algum destes doentes pobres, o professor determinaria esse internamento, mas se houvesse oposição do médico da instituição “o lente se conformará sempre com o regimento do próprio hospital”.

Desenho inserido no Regimento manuelino.JPG

Desenho inserido no Regimento manuelino do Hospital Real de Coimbra (1508),
apresentando as armas reais, testemunhando a fundação régia da instituição. (PT/AUC/HOSP/HRC/02/001).

Data de 1704, o livro mais antigo de registo de entrada de doentes que hoje existe. Estes livros são testemunhos da maior relevância para o conhecimento de quem eram estes doentes e de onde vinham. Seguramente, terão existido para datas muito anteriores, sendo de lamentar que não tenham sobrevivido.
Os professores visitavam ainda, diariamente, os designados doentes de cirurgia, observando todos “os feridos e chagados” e dependia também da opinião dos professores a manutenção do boticário e do sangrador do Hospital, se estes não cumprissem as suas obrigações. O mesmo se diga quanto aos boticários da cidade que forneciam “as mezinhas” necessárias ao curativo dos doentes.
Assim se revela a estreita relação entre o Hospital Real de Coimbra e a Universidade, unindo-se na assistência e na boa formação dos futuros médicos.

Livro de receituário médico.jpg

Folha de rosto do Livro de receituário médico (cirurgia) de 1622 (PT/AUC/HOSP/HRC/13/133)

… Foi neste hospital que se iniciou, em Coimbra, a prática da anatomia, em casa apropriada para esse fim, assistindo os alunos da Faculdade de Medicina a duas “anatomias universais”, anualmente, de acordo com o que ficou estabelecido em Estatutos da Universidade, de 1559. Alonso Rodrigues de Guevara foi o primeiro professor de Anatomia, na Universidade de Coimbra, a partir de 1556, tendo sido convidado por D. João III. Pouco tempo residiu em Coimbra, tendo-se ausentando, por descontentamento, segundo se tem afirmado, por ainda não serem permitidas as anatomias em corpos humanos, o que de facto só mais tarde veio a acontecer.

Bandeira, A.M.L. O Hospital Real de Coimbra: acervo documental de uma instituição assistencial (1504-1772). In: Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra. Volume XXVIII. 2015. Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra. Acedido em 2019.01.29 em
https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/37775/1/O%20Hospital%20Real%20de%20Coimbra.pdf 

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por Rodrigues Costa às 10:55

Quinta-feira, 11.10.18

Coimbra: Da ponte manuelina à ponte de ferro


Jose de Matos Sobral Cid.jpg

 José de Matos Sobral Cid (1877-1941)

In: http://memoria.ul.pt/index.php/Ficheiro:Cid-Jose_Matos_Sobral.jpg

 «O primeiro problema higiénico fundamental, que se levanta em Coimbra, é o que deriva da implantação geográfica da cidade na margem direita do Mondego, no ponto preciso em que à bacia alta torrencial do rio se sucede o cone de dejeção sedimentar do estuário inferior.  Traduzse na vida histórica da Coimbra ribeirinha por um esforço constante de adaptação mecânica da população a um solo acessível ás inundações do rio, ameaçado de ser subvertido pela elevação progressiva do álveo e dos campos marginais. Exprime-se nas condições atuais da cidade baixa, na sua configuração topográfica em goteira de fundo inferior ao nível das aguas do Mondego, na natureza do seu solo artificial formado de entulhos e terras removidas e na humectação constante do seu substrato telúrico. Refletese na patologia da cidade pelo paludismo, que durante muito tempo foi uma característica da nosografia coimbrã e que ainda hoje o é na nosografia dos campos de Coimbra». (José Sobral Cid, Coimbra. Demografia e Higiene. 2º volume Coimbra: Imprensa da Universidade, 1902).

 

No início do século XIX, Coimbra implantada na margem do rio Mondego era uma cidade de reduzida dimensão, dividia entre a colina da Alta onde se localizavam a Universidade e os Colégios, e a Baixa implantada no vale do rio, concentrando as atividades comerciais e manufatureiras.  Na margem esquerda do Mondego em torno do Mosteiro de Santa Clara a Velha e do Convento de S. Francisco e na encosta junto ao novo Mosteiro de Santa Clara implantavamse alguns edifícios, mas sem grande expressão no conjunto da cidade. 

A implantação estratégica na colina de transição entre o Alto e o Baixo Mondego favoreceu o desenvolvimento da cidade como entreposto mercantil, no ponto de intersecção dos percursos entre a serra e o mar e entre o norte e o sul do país, a cidade floresceu no ponto de intersecção da antiga estrada romana OlisipoBracara Augusta com o rio. 

Planta de Coimbra e seus contornos sobre o Rio Mon

Planta de Coimbra e seus Contornos sobre o Rio Mondego, final do século XVIII

Se por um lado o rio era, com as suas barcas serranas, a principal via de circulação e transporte dos produtos hortícolas e das manufaturas vindos da Beira, por outro, obrigava a um esforço constante das populações da Baixa para evitar as inundações frequentes e a elevação progressiva do álveo. [nota de rodapé: Segundo Adolpho Loureiro em 600 anos teria sido de 4,96m, ou seja, cerca de 8mm por ano]. Com efeito, desde o século XVI que se procurava regularizar as margens do Mondego e elevar as mesmas, mas todas as intervenções se revelavam ineficazes. 

A antiga Ponte de Pedra, profundamente remodelada por D. Manuel I em 1513, foi sendo paulatinamente assoreada e no início do século XIX era recorrentemente galgada pela subida da cota das águas. O seu tabuleiro, construído a cerca de 21,46 metros acima do zero hidrográfico da Figueira da Foz, estaria em 1872 apenas a cerca de 4,41 metros acima do nível da cota de estiagem, o que deixaria apenas cerca de 2,65 metros de passagem entre o arco mais alto e o nível médio das águas, tornandose um óbvio obstáculo à passagem das águas. Acresce que na estação invernosa para cheias normais o nível das águas subiria entre dois a três metros, podendo atingir, em cheias excecionais, seis metros como sucedeu em 1872.  

Ponte em toda a sua extensão e altura, com as son

Ponte em toda a sua extensão e altura, com as sondas de água que levava o Rio em o Mez de Dezembro de mil sete centos e oitenta e hum

Para além dos inconvenientes para a cidade, esta situação afetava a circulação da principal estrada nacional, a estrada Lisboa-Porto, tornando urgente a construção de uma nova ponte. Efetivamente, já em 1871, enquanto se estudava o melhoramento desta estrada e o encanamento do rio Mondego, Manuel Caetano de Sousa tinha efetuado o levantamento da ponte, o que nos leva a crer que na altura se planeasse a sua reforma ou mesmo substituição. Anos mais tarde em 1848 por ocasião de uma grande cheia foi feito um segundo levantamento, mas a ponte só foi substituída em 1875.

Ponte de Coimbra levantada a 3 de Septembro.......

Ponte de Coimbra levantada a 3 de Septembro de 1848 na occazião do maior abatimento das Agôas

 Para além dos inconvenientes da falta de atravessamento, as cheias que recorrentemente invadiam a zona ribeirinha criavam péssimas condições sanitárias, conduzindo frequentemente a epidemias de cólera, febre tifoide e malária. Esta situação precária era agravada pela elevada concentração de população atraída à zona baixa pela facilidade de acesso e circulação. Efetivamente, apesar de sujeita à fúria das aguas e de estar implantada sobre camadas sucessivas de entulhos arrastados pelo rio, era na Baixa que se localizavam as principais atividades comerciais e artesanais da cidade.

 Calmeiro, M.I.B.R. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1924. Vol. I. Tese de doutoramento em Arquitetura, apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, pg. 160-164.

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por Rodrigues Costa às 09:32

Quinta-feira, 07.12.17

Coimbra; Mosteiro de Santa Cruz, os claustros que haviam

D. Manuel I mandou reconstruir o Claustro do Silêncio, já na altura com quatrocentos anos. Durante cinco anos (de 1517 a 1522) o arquiteto Marcos Pires refez os arcos e o deambulatório, reservando para um canto uma fonte triangular, cuja taça mais parece medieval por tão simples e sólida.

Santa Cruz claustro.jpgClaustro do silêncio

Todo o espaço do claustro se submete a uma geometria simples de cinco arcos em cada lado, mas os motivos vegetais e as cordas estilizadas, que na Idade Média se concentravam nos capitéis, revestem agora por completo as três colunas de cada arco, sobem ao fecho das abóbadas do deambulatório e desdobravam-se em frisos à volta da fonte triangular que ocupa o canto sudoeste.

Não admira que ao entrar no Claustro do Silêncio se reconheçam, em espaço menor, as mesmas formas, penumbras e ambiente do claustro dos Jerónimos; as plantas, frutas, cordas e ramos talhados em pedra vieram trazer o manuelino ao mais antigo monumento de Coimbra... A fonte central ... pertence já a um período distante do manuelino: foi encomendada ... ainda durante o domínio espanhol, sendo, no entanto, encimada por uma estátua que segura o escudo nacional.

 

Claustro da Manga.jpg

 Claustro da Enfermaria ou da Manga

 A D. Manuel I se deve, também, a decisão do aumento do convento em redor de um novo claustro: o claustro da Enfermaria, ou da Manga, que hoje não conhecemos como claustro, mas onde uma fonte de traça tão arriscada quanto bela marcou – esse sim – o seu centro; peça inigualável da nossa arte paisagística do Renascimento, nela convergem a inovadora pureza de traços e o uso da água em grande espelho, sobre o qual se eleva um pavilhão abobadado. Um repuxo ao nível do chão marca o centro geométrico de toda a construção, e cai sobre uma taça circular encastrada no pavimento. Para chegar a este pavilhão-ilha, quatro pontes nos eixos do claustro conduzem a quatro degraus que elevam a construção central e reforçam a terceira dimensão do claustro.

A data da feitura desta obra é conhecida: entre 1553 e 1534 foram feitos pagamentos a Jerónimo Afonso, o empreiteiro, e a João de Ruão, o “imaginário”. Em 1589,o castelhano Frei Jerónimo Logroño, percorreu o país, fazendo-lhe referência: (...) o pátio deste claustro não é de lajes ou jardim, mas sim de água, embora não faltem pedra e verdura para a perfeição da obra / O centro está ocupado por uma fonte, de tão raro gosto que quase nem sei descrevê-la, isolada entre quatro pomares, separados por canais que enchem tudo de frescura / Quatro escadas de pedra, ricamente lavrada, cada qual de sete degraus, acompanhada de bestiães esculpidos. Conduzem a um soco oitavado muito perfeito e galante, sobre o qual se levanta uma fonte de grande artifício, porque a água que cai dela sobre os tanques, recolhe-se por canos secretos e assim corre a água continuadamente, sem que se saiba de onde vem, nem para onde vai / Em volta, sobre a água, erguem-se quatro capelas redondas, abobadadas, lavradas primorosamente, de mui formosa pedra, a que chamam as Ermidas, aonde os religiosos vão orar quando querem; e para a sua tranquilidade, o que se recolhe levanta uma ponte levadça que há para entrar, a qual serve ao mesmo tempo de porta, e ali se conserva o tempo quen lhe parece.

Claustro da Manga (2).jpg

 Claustro da Enfermaria ou da Manga na atualidade

... Por altura do restauro efetuado em 1957 ... quando se abriu a rua a norte, reduziram-lhe a dimensão total e a dos lagos, ficando só a notável escultura de João de Ruão, apertada entre os edifícios e amputada do seu espelho de água.

 Castel-Branco. C. Os jardins de Coimbra. Um colar verde dentro da cidade. In: Monumentos. Revista Semestral de Edifícios e Monumentos. N.º 25, Setembro de 2006. Lisboa, Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, pg. 171-173

 

O terceiro claustro – o Claustro das Limeiras – estava localizado junto à portaria do convento e foi destruído aquando da construção dos Paços do Concelho, na área hoje ocupada, grosso modo, pelo átrio de entrada.

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:30

Quinta-feira, 02.03.17

Coimbra: Hospital da Convalescença

... é certo que, antes de 1774, essa entidade (o Hospital da Convalescença) figurava em separado, com uma dotação própria e sua escrituração à parte, ainda que estabelecida no mesmo edifício do hospital Real ou da Conceição.

...por provisão de D. João V, de 16 de Novembro de 1743 ... vê-se ... doou, o Dr. Sebastião Antunes ... para os convalescentes desse hospital, de que a dita Misericórdia fizera aceitação, a qual desejava conservar os convalescentes nas mesmas casas da convalescença do hospital, que para esse efeito foram compostas e reparadas à custa da herança.

Antigo Hospital Real.jpgHospital Real

... Esta particularidade, de se achar o estabelecimento da convalescença no mesmo edifício dos hospital propriamente dito, dá a conhecer, que seria destinado a receber os doentes deste, quando entrassem no período de convalescença; semelhantemente ao que se praticava nos muitos hospitais estrangeiros.

... O  nosso antigo hospital da Convalescença teria talvez uma organização mista, para receber os convalescentes de moléstias crónicas, quase nas condições de doentes incuráveis, os entrevados, os inválidos por velhice, e geralmente os «incuráveis», que não eram admitidos nas enfermarias do hospital propriamente dito. Sendo assim, aquele hospital da Convalescença também teria desempenhado a moderna missão dos asilos de mendicidade.

... Os primeiros vestígios duma instituição desta ordem ... encontram-se no 2.º regimento d’el-rei D. Manuel, de 16 de Junho de 1510, determinando que no seu hospital real não fossem admitidos os doentes de moléstias incuráveis ... Depois daquela determinação de D. Manuel, continua dizendo o mesmo regimento que ficam os incuráveis nestes dois hospitais a cargo dos seus administradores, sendo suprido pelos «oficiais da Misericórdia o mais provimento d’esmola e cura». Termina aquela disposição com as seguintes palavras, que deixam muito obscuras as relações da Misericórdia com estes hospitais «e quanto hao que toca a estes dous espritaes, nõ fareis nada ne se cumprirá este cap. p.s nós mãdamos dar a mjã o de Sã J.º»

Simões, A.A.C. 1882. Dos Hospitaes da Universidade de Coimbra. Coimbra. Imprensa da Universidade, pg. 39-43.

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por Rodrigues Costa às 09:56

Terça-feira, 28.02.17

Coimbra: Hospital real

O hospital de Coimbra, hospital de D. Manuel, hospital real, hospital novo, hospital d’el-rei, hospital geral, hospital público, hospital da Praça, hospital de Nossa Senhora da Conceição ou hospital da Conceição, aparece fundado, ou pelo menos profundamente reformado, por el-rei D. Manuel, em 1508 ou poucos anos antes, na praça de S. Bartolomeu, hoje Praça do Comércio, num edifício que este monarca mandou construir à sua custa ... Faz esquina com a rua das Azeiteiras, e compreende aquele grupo de casas até ao largo do Romal.

Antigo Hospital Real 02.jpgHospital Real

... o primeiro «regimento» deste hospital, de 22 de Outubro de 1508, onde se vê a expressa declaração de D. Manuel, de que tinha mandado construir o edifício à sua custa; e que o havia dotado com as rendas de pequenos hospitais existentes na cidade, e com cem mil réis da sua fazenda.

... o primeiro hospital da cidade ou primeiro do estado em Coimbra (excluindo as gafarias) teria sido a pequena albergaria dos «Miléos», que já existia muito antes de 1468.(1)

... o «Conimbricense» ... tinha publicado uma relação dos hospitais e albergarias incorporados no hospital real ... em 26 de Dezembro de 1866 e 2 de Janeiro de 1867. É a seguinte: «Hospital de Santa isabel da Hungria (paços de Santa Clara); de Nossa Senhora da Vitória (rua do Corpo de Deus); dos Mirléos (defronte da porta principal da igreja de S. Pedro, junto ao paço das Alcáçovas); de S. Lourenço (próximo da capela do Senhor do Arnado); de S. Marcos (ao cimo do beco de S. Marcos); de Santa Maria de S. Bartolomeu (na freguesia de S. bartolomeu); de Montarroio (em Montarroio); albergarias e hospitais de S. Gião (rua das Azeiteiras); de Santa Maria da Vera Cruz (proximo da igreja de S. João); de S. Cristóvaão (perrto da igreja de S. Cristovaão=; de S.Nicolau; de Santa Maria da Graça; da Mercê; e de Santa Luzia.»

... apesar do seu carater de obra real, nem por isso tomou grande vulto, porque foi aberto e conservou-se por muitos anos com 17 camas somente, 12 para homens e 5 para mulheres; não entrando nesse número de camas para alojamento dos transeuntes ou da albergaria propriamente dita.

... Supondo que o hospital da Conceição ou primitivo hospital de D. Manuel fora fundado na praça de S. Bartolomeu em 1508, tudo leva a crer que, sem interrupção, ali se conservasse até à sua mudança em 19 de Março de 1779, para o edifício dos Jesuítas, no angulo N.O., com entrada pela Couraça dos Apóstolos.

Simões, A.A.C. 1882. Dos Hospitaes da Universidade de Coimbra. Coimbra. Imprensa da Universidade, pg. 16-20, 73-74

 

 

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por Rodrigues Costa às 21:05

Quinta-feira, 23.02.17

Coimbra: Hospital de S. Lázaro

Atribui-se a criação do hospital de S. Lázaro, ou «gafaria de Coimbra», à munificência de D. Sancho I, que o dotou convenientemente em seu testamento do mês de Outubro de 1209. Parece ter sido esta herança o fundo primitivo, com que se abriu a primeira gafaria em Coimbra, de que o hospital de s. Lázaro representa hoje a continuação, depois de ter passado por muitas fases administrativas e por diferentes mudanças de local. Se antes da instituição de D. Sancho I já existia na cidade algum pequeno estabelecimento desta ordem, que aquele testamento viesse aumentar em rendas, não o pode afirmar.

... Nos arquivos do hospital ... alguns documentos originais de graças e mercês, concedidas a esta instituição por diferentes monarcas, citando com especialidade o «regimento do hospital dos lázaros» de 1329 por D. Afonso IV; outro regimento, sem data, por D. Afonso V; e ambos adicionados em Coimbra por D. Manuel em 1502, constituindo um novo regulamento com esta ultima data.

Hospital dos Lázaros Fora de Portas.TIFRuinas do Hospital dos Lázaros, hoje demolidas

Hospital dos Lázaros portal.TIF

... Em 1774 foi incorporado na fazenda da universidade a administração do hospital de S. Lázaro, «em cumprimento do decreto d’el-rei D. José de 15 de Abril de 1774 e da provisão do marquez de Pombal de 19 do mesmo mez e anno, como consequencia da reforma da universidade de 1772; ficando sujeita aos mesmos regulamentos da administração do hospital Geral, ou hospital de Conceição.

Mais tarde seguiu a sorte d’este ultimo hospital, na mudança da administração dos seus bens para o governo civil, em repartição especial por effeito da portaria do ministério do reino de 22 de setembro de 1851; e ultimamente, na constituição d’uma administração immediatamente subordinada ao referido ministério, por decreto de 22 de junho de 1870.

Consistiam os rendimentos d’este hospital em rendas e fóros de propriedades rusticas e urbanas, rações e laudémios de prasos e casaes, nos logares de Condeixa, Falla, Trouxemil, Zouparria, Enxofães, Alfóra, etc. D’esses direitos foram abolidos os provenientes de doações regias, por decreto de 13 de agosto de 1832; de que resultou grande cerceamento nos recursos d’este hospital».

... De Fora de Portas foi transferido o estabelecimento para o colégio de S. José dos Marianos, em 5 de Dezembro de 1836 ... Deste último edifício foram mudados os lázaros para o colégio de S. Jerónimo, por decreto de 21 de Junho de 1851 ...

Hospital dos Lázaros antigo.TIF

De S. Jerónimo foram transferidos os lázaros para o colégio dos Militares ... em 10 de Novembro de 1853.

Simões, A.A.C. 1882. Dos Hospitaes da Universidade de Coimbra. Coimbra. Imprensa da Universidade, pg. 7, 10-11, 56.

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por Rodrigues Costa às 09:50

Quinta-feira, 01.12.16

Coimbra: a Baixinha 2

No final do século XVI, o arrabalde apresentava uma estrutura bastante consolidada e o seu poder económico superava já o da Alta, tornando-se num centro vital para a sobrevivência da cidade. Em relação à morfologia, foi a altura em que se finalizou a ligação entre os adros de Santa Justa, o largo de Sansão e a Praça do Comércio, formando-se um aglomerado contínuo. “A cidade afirmou urbanisticamente a sua determinação em se instalar na zona mais baixa e plana.” O território distinguia dois conjuntos urbanos que vieram evidenciar a polaridade entre a Alta e a Baixa. Os dois polos tinham funções diferentes no panorama citadino e não entraram por isso em colapso, uma vez que se completavam nas necessidades funcionais da urbe. Na cidade Alta, intramuros, vivia o clero, os cónegos da Sé e outros beneficiários eclesiásticos, a nobreza local, os seus servidores e algum povo. Na cidade Baixa, habitavam o povo miúdo, os comerciantes, os artesãos e alguns mesteres. Já no século XV, a praça do arrabalde tinha sido denominada pelo infante D. Pedro como a P r a ç a d a C id a d e, expressão que denota claramente a importância crescente da cidade Baixa no contexto urbano. O sistema já consolidado do arrabalde é composto sequencialmente pelo Largo da Portagem, Rua dos Francos, a Praça do Comércio e a Praça 8 de Maio. Todos estes elementos formalizam a estrutura principal da Baixinha e referenciam-na como espaço singular da urbe. O modelo de rua e praça, de cheios e vazios representa, assim a imagem da cidade medieval com estruturas agregadoras de lugar da vida comum e das atividades relacionais da sociedade. A condição central da praça funciona como “sala de estar” urbana de encontro e troca, pois faz confluir todos os percursos estreitos para um lugar amplo e espaçoso de desdensificação da malha construída e concentra programaticamente funções importantes no contexto urbano

 ... Era à volta da praça principal do arrabalde que se concentravam os principais serviços comerciais. Atualmente, com uma forma alongada, esta praça resultou da união das igrejas de S. Bartolomeu (o adro de trás) e de S. Tiago (o adro cemiterial fronteiro), da consolidação, em contínuo dos respetivos núcleos e da reconformação da estrutura viária Norte/Sul. Localizada próximo da porta principal da cidade e em zona ribeirinha, a praça serviu as necessidades mercantis e agregadoras da dinâmica urbana da cidade medieval. Por ser uma área plana de fácil acesso e ponto de transição do rio para a cidade intramuros, rapidamente ganhou um estatuto central e identificador para a comunidade urbana. Logo se tornou a Praça da cidade e o valor da sua propriedade superava o das restantes zonas. São características evidenciadas pela altura dos edifícios que, era térrea na cidade em geral e atingia os três pisos neste local. Inicialmente foi intitulada Praça de S. Bartolomeu como referência à igreja que a conformava. Mais tarde, passou a ser referido o seu papel de Praça do Comércio.  A transferência de poder e de funções da cidade Alta para a Baixa, mais especificamente para a Praça do Comércio, veio acentuar e potenciar a sua condição central no seio do restante tecido. O reconhecimento deste espaço como praça surgiu no século XV, quando foi transferido para o local o mercado que inicialmente se realizava na parte alta. Com melhores características espaciais e de acessibilidade para o efeito, a praça foi progressivamente palco de feiras, mercados e açougues da cidade. A ação de D. Manuel, no século XVI, instaurou um processo de reestruturação e consolidação na cidade de Coimbra. Os empreendimentos de renovação e requalificação urbana levaram a cabo o melhoramento dos pavimentos das ruas e a redefinição programática da praça, com a localização do pelourinho, da Casa da Câmara, do Hospital Real e da Misericórdia, na primeira ação global de modernização. Neste mesmo século, o Mosteiro de Santa Cruz promoveu uma intervenção urbanística de grande importância, pela reconformação do seu espaço fronteiro, potenciando o desenvolvimento da interação social de mais um espaço urbano. Foram instaladas fontes de abastecimento público de água e era o espaço preferencial para as atividades lúdicas. A denominação de Largo de Sansão viria a mudar no século XIX, adaptando-se a designação de Praça 8 de Maio. A Rua Visconde da Luz, que estabelecia a sua ligação com os restantes espaços do sistema, ganhou gradual importância na vida urbana, instalando-se aí ourives e latoeiros. O sistema de largos, ruas e praças estava assim conformado e interligado no novo zoneamento urbano. 

Ferreira, C. 2007. Coimbra aos Pedaços. Uma abordagem ao espaço urbano da cidade. Prova Final de Licenciatura em Arquitectura pelo Departamento da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, orientada pelo Professor Arquitecto Adelino Gonçalves, p. 32-34

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por Rodrigues Costa às 16:58

Terça-feira, 01.11.16

Coimbra: O Foral Manuelino ou uma exposição a visitar

O foral manuelino veio confirmar alguns dos direitos e deveres consignados nos anteriores documentos reguladores do concelho de Coimbra (1085, 1111 e 1179), atualizando regras e tributos. A reforma manuelina dos forais, os designados «forais novos», visava articular a Lei geral do reino com a Lei local e proceder à atualização dos pesos e das medidas para que os direitos régios fossem cobrados devidamente. D. Manuel I, rei descobridor e venturoso, ciente dos seus deveres políticos e sociais e preocupado com o bem das comunidades, regulamentava e, simultaneamente fortalecia o seu poder.

O foral, atribuído a Coimbra em 1516, testemunha a dinâmica económica e social do concelho, mostrando uma cidade onde decorreram vários melhoramentos, como a reforma da igreja e mosteiro de Santa Cruz, o projeto de engrandecimento da alcáçova (mais tarde o edifício da Universidade), a construção da ponte e arranjo da couraça, entre outros. Apresenta, igualmente, uma urbe com um intenso comércio que provia as necessidades vitais dos seus moradores (alimentos, vestuário, objetos domésticos e utensílios de trabalho), constituindo um entreposto abastecedor da região.

Esta exposição encontra-se dividida em dois núcleos, um interpretativo e outro documental:

1 - No primeiro, na antiga sala da vereação (Torre de Almedina), contextualizam-se os antecedentes do documento regulador emitido por D. Manuel I, assim como o seu enquadramento na realidade nacional, particularizando os melhoramentos de Coimbra durante o reinado deste monarca e a estrutura e funcionamento do poder local no século XVI.

2 – No segundo, no Arquivo Histórico Municipal (Casa Municipal da Cultura), onde se encontram atualmente guardados os documentos originais do concelho para consulta pública, exibem-se os seguintes exemplares: «Privilégios dos Cidadãos de Coimbra» que compunham as vereações, os livros de «Actas das Vereações» do período manuelino, o «Foral da cidade de Coimbra de 1516», o «Foral de Cernache de 1514», o «Foral do Botão de 1514», o Foral de Anobra de 1514» e o «Foral do Reguengo de Bolão de 1558», terras pertencentes ao termo da cidade de Coimbra, no reinado de D. Manuel I

Câmara Municipal de Coimbra. Coimbra, 1516: o foral manuelino. Folheto de apresentação da exposição 20 Outubro / 2016 – 28 Outubro / 2017.

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por Rodrigues Costa às 09:40


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