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Nesta entrada do blogue “A’Cerca de Coimbra” vamos relembrar um texto escrito por Sousa Viterbo em finais do século XIX, na Revista Archeologica onde se refere à história das grades que, no passado, separavam, na igreja de Santa Cruz, a zona do falso transepto [cruzeiro] ocupada pelos Cónegos Regrantes, do espaço destinado aos fiéis.
Imagem onde se podem ainda vislumbrar as grades. Acervo RA
Revista Archeologica. Imagem acedida em: https://archive.org/details/revistaarchaeolo03lisb/page/n5/mode/2up
Sousa Viterbo. Imagem acedida em: https://www.bing.com/images/search?view=Francisco-Marques-de-Sousa-Viterbo.png&cdnurl …
Deste interessante texto, respigamos o que segue.
Dignas de rivalizar com alguns destes trabalhos artísticos, de que se ufanam as catedrais espanholas,
Baeza. Reja del presbitério. In: Navascués Palacio, Pedro, Sarthou Carreres, Carlos.Catedrales de España, Madrid. Espasa-Calpe, 51984, pg. 43.
seriam porventura as grades monumentais, que, no venerando templo de Santa Cruz, separavam o cruzeiro do restante da igreja e as que vedavam os túmulos dos reis. Hoje já não as podemos contemplar, mas sabemos da sua existência por alguns documentos e referencias históricas, que mais ou menos diretamente lhes dizem respeito.
Citaremos em primeiro lugar o trecho de uma carta de 19 de março de 1522, em que Gregório Lourenço dá conta a D. João III do estado em que se achavam as obras que o seu antecessor, D. Manuel, mandara fazer no templo de Santa Cruz. Um dos itens da carta é do teor seguinte: «Item Senhor, mandou que fezessem huua grade de ferro grande que atravessa o corpo da egreja de xxv palmos d'alto com seu coroamento, e ao rredor das sepulturas dos rreix a cada hua sua grade de ferro, segundo forma dhum contrato e mostra que pera ysso se fez. Estam estas grades feitas e asentadas, e pago tudo o que montou na obra dos pillares e barras das ditas grades porque disto avia daver pagamento a rrazom de dous mill reis por quintal asy como fosse entregando ha obra. E do coroamento das ditas grades que lhe ade ser pago per avalliaçam nom tem rrecebidos mais de cinquoenta mill reis, que ouve dante mão quando começou a obra, que lhe am de ser descontados no fim de toda hobra segundo mais compridamenle vay em huua certidam que antonio fernandes mestre da dita obra diso levou pera amostrar a V. A. E nom se pode saber o que desta obra he devido atee o dito coroamento destas grades ser avalliado».
O trecho da carta de Gregório Lourenço é parcamente descritivo, mas, apesar disso, muito agradecido lhe devemos ficar por ter salvado, ainda que involuntariamente, o nome do artista que fabricou a obra, António Fernandes.
Como se sabe, D. Francisco de Mendanha, prior do mosteiro de S. Vicente de Lisboa (1540), escreveu uma descrição em italiano do templo de Santa Cruz, a qual D. João III ordenou se traduzisse em português, sendo impressa nos prelos deste último convento. De tão curioso opusculo cremos que não se conhece hoje nenhum exemplar, mas D. Nicolau de Santa Maria perpetuou-o, incluindo-o na sua «Chronica», prestando assim um serviço, literário e artístico, bastante apreciável. Mendanha não se esquece de falar das grades e dedica-lhe as seguintes linhas:
«Além d'este pulpito espaço de 20 palmos contra a Capella mór está a grande e vetusta grade de ferro, que atravessa toda a Egreja, ficando dentro o Cruzeiro, e tem de alto trinta palmos».
O epiteto vetusta sintetiza, para assim dizer, em toda a sua singeleza, a formosura da grade. Entre Mendanha e Gregorio Lourenço há, todavia, uma discrepância no que respeita às dimensões; Mendanha dá a grade 5 palmos mais alta. Outra diferença notamos ainda. O prior de S. Vicente diz que as grades dos túmulos eram de cinco palmos de alto, todas de pau preto e bronzeadas com ouro: Gregório Lourenço claramente especifica que eram de ferro. Coelho Gasco { classifica de sumptuosas as grades do cruzeiro e accrescenta que n'ellas havia um epitáfio, ou antes letreiro, latino, em letras de ouro, que rezava da seguinte forma: Hoc templum ab Alphonso Portuqaliae primo rege instructum ac tempore pene collapsum, Regno succesore &: actore Emmanuele restauraoerit. Anno Natalis Domini MDXX.»
Esta data 1520 refere-se por certo á época em que foi assentada a grade e colocado o seu despectivo letreiro. A igreja já estava reconstruída, como, além de outros documentos, o demonstra o epitáfio do bispo D. Pedro. falecido a 13 d'agosto de 1516.
No priorado de D. Acúrcio de Santo Agostinho (eleito em princípios de maio de 1590) as grades foram pintadas e douradas de novo. Diz o cronista «… e porque as grades de ferro do cruzeiro e capellas da mesma igreja estavão pouco lustrosas, as mandou alimpar, pintar e dourar em partes e particularmente mandou dourar as armas reaes e folhagens, em que as ditas grades se rematão e tem as do Cruzeiro trinta palmos de alto e as das capellas quinze tambem de alto, e ficarão depois de pintadas e douradas muy aprazíveis á vista».
Não sabemos até que época durassem as grades de Santa Cruz.
Das que circundavam os sepulcros temos informação de 1620. Ou haviam chegado a extrema ruína ou foram substituídas ineptamente por outras. Referindo-se ao governo de D. Miguel de Santo Agostinho, que foi eleito pela segunda vez em 30 de abril de 1618, escreve o cronista da ordem: «Nos ultimos mezes do seu triennio ornou o P. Prior geral as sepulturas dos primeiros Reys deste Reyno, que estão na capella mór de S. Cruz com grandes grades de pao santo, marchetadas de bronze dourado.»
Ao que ficou descrito acrescento que, tanto quanto julgo lembrar-me, ainda vi junto dos túmulos reias umas grades destinadas a impedir os visitantes de se acercarem. Contudo, já não me recordo das suas caraterísticas. Se algum leitor estiver na posse de qualquer informação sobre este assunto seria interessante que a transmitisse.
Viterbo, F.M.S. V. As grades de S. Cruz-Cruz de Coimbra. In: Revista Archeologica, II, n.º 4. Abril 1888. Texto acedido em:
Divulgamos um trabalho de investigação realizado por três doutorandos, abaixo referenciados, realizado no âmbito do Programa Doutoral Heritas, o qual teve como objetivo o estudo da fundação do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova.
O Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, embora sendo uma obra de vulto da Restauração, encontra-se parcamente estudado.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, fachada principal. Acervo RA
Esta obra promove a propagandística político-religiosa do Culto da Rainha Santa Isabel de Portugal, que a Casa de Bragança perpétua após os Habsburgo.
…. Na documentação relativa à construção do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova verifica-se que plantas originais e infraestruturas, são da autoria de Frei João Turriano.
…. O Mosteiro de Santa Clara-a-Nova é a última obra de vulto de arquitetura de Frei Turriano, “Esta imponente massa arquitetónica, que segue o modelo profano dos palácio-bloco do final da centúria antecedente, é obra importante de síntese entre o modelo «chão» da arquitetura religiosa e certos pressupostos eruditos da arquitetura aristocrática de sinal Herreriano, que pela sua expressiva ambiguidade de novo nos recorda o peso da engenharia militar em tais empresas.”
Claustro do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. Acervo RA
…. Nos séculos XIII e XIV, promoviam-se na cristandade as relações entre nobreza, santidade e caridade, especialmente relacionadas com as Ordens Franciscanas … O culto da Rainha Santa Isabel nasce por vox populi, foi posteriormente cultivado pelos seus descendentes dinásticos.
Túmulo primitivo da Rainha Santa Isabel de Portugal. Acervo RA
Os fundadores da Dinastia de Avis tinham presente a sua importância, sobretudo em alturas de maior instabilidade política. A propaganda é de facto intensa no propósito de se legitimarem, como foi o caso da escolha do Convento de Santa Clara de Coimbra para as núpcias de D. Duarte I e Leonor de Aragão …. Também o Rei D. Manuel I irá utilizar a sua antepassada para reforçar a sua legitimidade, obtendo do Papa Leão X a beatificação a 15 de Abril de 1516, sendo o culto autorizado localmente.
A devoção da Casa de Avis à Rainha Santa Isabel é evidente na procissão solene que D. João III e Catarina de Áustria organizam ao túmulo a 20 de Janeiro 1554, coincidindo com o nascimento de D. Sebastião. Este augúrio impulsiona a propagação do culto por todo o reino, sendo este anuído pelo Papa Paulo IV em 1556, a pedido de D. João III … D. Catarina de Áustria durante a regência irá continuar a promover e divulgá-lo. Será sobre a sua influência que se funda a Confraria da Rainha Santa Isabel de Portugal.
…. Em 1640, na sequência de conflitos internos entre a coroa, nobreza, aristocracia e a burguesia cristã-nova, inicia-se a Restauração surgindo a necessidade de legitimação tanto ao nível interno como externo da Dinastia de Bragança … O Culto da Rainha Santa Isabel, cuja disseminação extra-peninsular já era evidente, passou também a integrar o programa político-religioso dos Bragança.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, entrada. Imagem acedida em: https://visitregiaodecoimbra.pt/wp-content/uploads/2022/12/mosteiro-sta-clara-a-nova.jpeg
Em 1649, D. João IV ordena que se lance e inscreva na primeira pedra da construção do novo Mosteiro de Santa Clara, na qual determina que se refira à Rainha Santa Isabel como “sua Avó e Senhora”.
João IV por Peter Paul Rubens (c. 1628) Imagem acedida em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_IV_de_Portugal
Numa altura em que as obras nacionais eram condicionadas pelas despesas da Guerra da Restauração, a construção deste imponente cenóbio, estende-se durante os reinados dos próximos cinco monarcas, reflete o programa político-religioso deste culto.
Tavares, P., Salema, S. e Pereira, F. B. 2013. A Fundação do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova de Coimbra. Propagandística política, tratadística arquitectónica e engenharia militar entre a Dinastia Filipina e a Dinastia de Bragança. Estudo realizado no âmbito do Programa Doutoral Heritas – Estudos de Património, acedido em:file:///C:/Users/Administrador/Downloads/A_Fundacao_do_Mosteiro_de_Santa_Clara_a.pdf
Conclusão do texto assinado pelo Professor Doutor Pedro Dias, publicado na revista Munda em novembro de 1981.
Até 1537, o aglomerado urbano de Coimbra manteve-se sem grandes alterações: pequenas e acanhadas ruelas que serpenteavam nas encostas, adaptando-se às construções que sempre, precediam e definiam os traçados das vias. Nunca a almedina esteve superlotada. Continuando a existir, intramuros hortas e quintais, onde se praticou a horticultura, até à atualidade. O crescimento era moderado e fez-se sem sobressaltos. Mas nesse ano, D. João III reinstalou os Estudos Gerais, na cidade e a sua fácies começou a mudar. Frei Brás de Braga, reformador do mosteiro crúzio, com o beneplácito do monarca, abriu a Rua da Sofia que viria a ser o orgulho dos conimbricenses quinhentistas, cantada mesmo. em versos latinos, por Inácio de Morais. Aí se edificaram os Colégios de S. Miguel e de Todos os Santos, de S. Bernardo, do Carmo, da Graça, de S. Pedro, de S. Boaventura e de S. Tomás, além do Convento Novo de S. Domingos e a nova igreja de Santa Justa. O frade reformador urbanizou outras áreas, como a de Montarroio. incluindo o largo que se viria a chamar Pátio da Inquisição, as ribas de Corpus Christi e das Figueirinhas, o Largo de Sansão, etc. Já antes, o Bispo D. Jorge de Almeida dera maior dignidade ao adro da Catedral, e a Camara arranjara de novo a ponte, os cais do Mondego e algumas ruelas que calcetou.
Mas foi a partir de 1537 que se operou a grande mudança. com a instalação de inúmeros colégios universitários, que todas as ordens religiosas quiseram fundar na cidade, para alojarem os seus religiosos que, em Coimbra, buscavam o Saber e os graus académicos.
Grandes edifícios, planeados por arquitetos de mérito e construídos com apreciáveis meios económicos por construtores hábeis, surgiram, em poucas décadas. em zonas desabitadas do arrabalde ou mesmo na almedina, cabendo salientar os grandes complexos da Companhia de Jesus, e de Santa Cruz.
Os próprios burgos vizinhos de Celas e Santa Clara, que tinham nascido à sombra de mosteiros, desenvolveram-se fornecendo mão de obra para os trabalhos de construção.
Em poucos anos, o número de habitantes de Coimbra duplicou, e aos 5.200 de 1527 opunham-se os 10.000 de 1570. Não eram só estudantes, mas também todo um grupo social que nascera, para garantir a alunos e mestres os serviços necessários para a sua permanência na cidade. No fim do séc. XVI a zona urbana crescera e redefinira-se, para não mais se alterar até ao final do séc. XIX. As zonas agora ocupadas, além das que já o eram em 1537, situavam-se entre o Mondego o a parte final da Rua da Sofia, nos arnados, que foram sendo conquistados para a construção e para pequenas hortas, e na encosta de Montarroio.
Terminou-se a ligação entre os adros de Santa Justa, o largo de Sansão e a Praça Velha, formando-se um aglomerado contínuo.
Largo de Sansão no final do séc. XVIII. Op. cit., pg. 6
No séc. XVII a evolução é lenta e a população aumenta gradual e sistematicamente, mas, para além de construções pontuais, algumas de grande volume, viário ou os limites da urbe não sofrem alterações, o mesmo se passando ao longo de toda a primeira metade do séc. XVIII. Em 1765 os alunos matriculados na Universidade eram já 4.629 que, juntos com os dos colégios, perfaziam o elevado número de cerca de 8.000, ou seja, metade de toda a população de Coimbra. A vocação académica da cidade mantinha-se.
Foi nesta época que o Marquês de Pombal, desejou mudar o aspeto e a estrutura da sua cidade universitária, mas dos seus planos mais não resultou que a criação da praça que hoje tem o seu nome, em terrenos e edifícios da Companhia de Jesus, onde fez levantar dois institutos universitários ao gosto da moderna Europa de além-Pirenéus. Na Quinta dos Bentos levantou também o Jardim Botânico que seria um novo polo de atração e iria fazer a ligação com novos bairros da cidade contemporânea, mas antes, ainda, no séc. XVIII, com o Seminário e o Colégio de S. José dos Marianos.
Durante o séc. XIX a cidade só aumentou o seu número de habitantes em 6.000 e ao ser implantada a República viviam aqui 29.115 almas. Foi a partir de 1880 que a fácies de Coimbra mudou e acompanhou a modernização que também Lisboa conheceu, quem sabe se não influenciada pelas obras que corriam na capital. É o momento em que a malha quinhentista rompe os seus tradicionais limites e se espalha por zonas antes desabitadas ou, quando muito, onde se implantavam algumas moradias rodeadas de quintas de pleno carácter rural.
Junto ao rio, arranjam-se as margens, sobretudo a do lado Norte, alarga-se a Portagem e a avenida e parque juntos, cujas obras se prolongam durante váriasdécadas, a partir de 1888. Aí nasce a estação de caminho de ferro e se instalam as unidades hoteleiras mais importantes da cidade novecentista. Em 1882. na Quinta de Santa Cruz, começa a abrir-se a que haveria de ser a mais larga e bela das novas artérias citadinas, hoje a Avenida Sá da Bandeira. que termina na Praça da República, local onde, já em 1901 os académicos disputavam as suas partidas de um novo desporto importado das Ilhas Britânicas: o futebol. As vias adjacentes, de traçado regular e com largura invulgar para a época. em breve servidas por transportes públicos, são projetadas e começam a ser abertas, a partir de 1889: Rua Castro Matoso, Rua Alexandre Herculano Rua Garret, etc. A ligação da Praça da República com Celas – a rua Lourenço Almeida Azevedo – inicia-se em 1893, e a vizinha Rua Tenente Valadim é traçada entre 1894 e 1903. É toda uma nova zona onde se vão levantar prédios elegantes, uma escola, na esquina da Rua da Manutenção Militar que, em 1901 vai estabelecer a ligação com Montarroio e com a Conchada, e um teatro circo, já inaugurado em 1892.
Em 1918 a zona residencial estende-se a outras áreas, sendo nesse ano regularizada a Alameda do Jardim Botânico. e dois anos depois, a região da Cumeada, com a definição da sua espinha dorsal, a Avenida Dias da Silva.
Só em meados do século. Coimbra conheceria novas alterações em alguns dos seus pontos mais centrais, multo especialmente na Alta, onde. para se construíram novos edifícios universitários, se destruíram grandes áreas de antiga ocupação. incluindo muitos edifícios notáveis, como as igrejas de S. Bento e de S. Pedro, e os Colégios dos Militares e dos Loios.
Planta da Alta com indicação das áreas destruídas, para a construção dos novos edifícios universitários. Op. cit., pg. 10
É também, por outro lado. o momento em que se constrói o primeiro bairro periférico dentro de um plano ordenado e com finalidade de alojar condignamente, em moradias. famílias de recursos médios;
Urbanização inicial do Bairro Marechal Carmona. Op cit., pg. 9
nascia assim o Bairro Marechal Carmona, ao dobrar-se o meado do século.
Dias, P. Evolução do Espaço Urbano em Coimbra. In: Munda, Revista do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, n.º 2, pg. 5-11.
O Arquivo da Universidade continua a divulgar quer o extensíssimo espólio documental ali existente guardado em cerca de 10 quilómetros de estantes, quer outras peças do património universitário que ali foram guardadas.
Assim, no passado dia 27 de outubro de 2022, foi dada a conhecer a arca-cartório da Universidade, num texto bem ilustrado e que conta a origem e a forma de utilização desta belíssima peça.
Arca-Cartório da Universidade de Coimbra
Este primitivo Cartório da Universidade de Coimbra, que se encontra no AUC, é uma arca ou burra (designação antiga atribuída a estas arcas) feita em ferro, com acabamento de pintura, com motivos florais, nas cores rosa, verde e azul, denotando esmaecimento da tinta, no plano superior.
Arca-Cartório da Universidade de Coimbra, pormenor das pinturas da parte superior
Apresenta uma decoração quadriculada, formada por chaparia recortada, com grandes pregos, distribuídos uniformemente, possuindo uma fechadura, cujo mecanismo de abertura é visível no interior, encontrando-se dissimulada a abertura superior.
Arca-Cartório da Universidade de Coimbra, pormenor da chaparia
Tem ainda duas argolas, para fechadura com aloquetes, que já não existem. A sua deslocação era feita por suporte, através de duas grandes pegas, suspensas lateralmente!
No seu interior, encontra-se um pequeno cofre, adossado lateralmente, também ele com fechadura, utilizado, provavelmente, para guardar dinheiro ou peças valiosas.
Arca-Cartório da Universidade de Coimbra, pormenor da cofre
Sendo Reitor da Universidade de Coimbra D. Agostinho Ribeiro, recebeu este uma Carta Régia de D. João III, datada de 27 de dezembro de 1540, pela qual lhe enviava, entre outros documentos, uma Bula de anexação de seis igrejas do Padroado Real ao Padroado da Universidade, ordenando que se fizesse uma arca, para guardar esses documentos, assim como todos os documentos régios enviados à Universidade, garantia de seus privilégios.
Essa arca, com três fechaduras, só seria aberta com três chaves, estando uma chave na posse do Reitor, outra na posse do lente de Prima de Cânones e outra na posse do bedel e escrivão do Conselho da Universidade.
Muito provavelmente, a presente arca-cartório foi executada na sequência desta ordem régia. (V. Registo das Provisões, antes da Nova Fundação da Universidade, vol. 1, fl. 87v-88 – cota AUC-IV-1.ªD-3-2-17)
Arquivo da Universidade de Coimbra. Arca-Cartório da Universidade. Acedido em https://www.facebook.com/search/top?q=arquivo%20da%20universidade%20de%20coimbra.
Prosseguindo na divulgação do livro Coimbra de capa e batina, volume II, salienta-se que nas páginas 174 a 191 é apresentada a história do nascimento do Teatro Académico da Universidade de Coimbra. Desse texto selecionamos o que se segue.
O Teatro Académico, chegou a ser um sistema pedagógico, não só na Universidade de Coimbra como em outras da Europa. Mestres e alunos tomavam parte em representações e elas, por vezes, constituíam até uma parte do ensino que então se ministrava.
… Uma provisão de El-Rei D. João III, no ano de 1546, ordenou o seguinte, quanto ao Teatro Académico. «O lente de Gramática, da mais alta Regra, que lê no Colégio de São Gerónimo seja obrigado a fazer e a representar, em cada ano, uma comédia nas escolas, no tempo e nos lugares que pelo Reitor lhe for ordenado…»
E foi com muita graça e propriedade, que António José Soares – autor dos vários cenários dos autos de Gil Vicente e artista de rico temperamento – foi desenterrar a referida provisão aos Arquivos da Universidade, para a apresentar como sendo a «certidão de nascimento» do Teatro dos Estudantes de Coimbra que o Professor Doutor Paulo Quintela, com tanto brilho, vem dirigindo.
Talvez pareça estranho, mas é verdade: o Teatro dos Estudantes nasceu do Fado. Esta fatalidade nacional e coimbrã, foi sem dúvida, a origem do renascimento teatral na academia de Coimbra.
A sua história é esta: Em 1937 existia em Coimbra o «Fado Académico». foi seu fundador e dirigente Jorge de Morais (Xabregas) que à sua volta reuniu todos os guitarristas e cantores que então havia na Academia. O grupo tinha um interesse profundamente romântico. Xabregas, com a sua eterna fé por esta terra ribeirinha, pretendia criar uma escola de cantores e guitarristas ao jeito coimbrão. Profetizava que um dia, deixaria de haver rouxinóis a cantar baladas de amor e de saudade.
Apesar dos seus esforços, o «Fado» morria de dia para dia … Jorge de Morais pensou então em remodelar o seu grupo e surgiu-lhe a ideia dum conjunto dramático.
E assim, em Novembro de 1937, foi eleita uma direção [segue-se uma relação de 12 estudantes]. A ideia da criação dum grupo cénico tomou então, vulto e para ela, foi solicitada a colaboração do Professor Doutor Paulo Quintela.
Professor Doutor Paulo Quintela. Imagem acedida em: http://www.cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/paulo-quintela.html#.Y0RA61LMJPY
Havia, porém, um grande problema a resolver: a inclusão, no grupo, de raparigas universitárias, sem as quais não seria possível realizar obra de vulto.
Mas esta Coimbra, mexeriqueira e maldosa criava sérias dificuldades, pois as raparigas num temor compreensível, negavam a sua colaboração. Até que surgiu a estudante Madalena Coelho de Almeida que de alma erguida se entregou devotadamente à realização de tão simpática iniciativa. Depois de vencer algumas resistências, apresentou uma lista de raparigas que se propunham colaborar no Teatro Académico. Vencido este obstáculo foi constituído o «Grupo Cénico» - designação inicial. [Segue-se uma relação de 9 alunas da Faculdade de Letras e de 10 alunos de diversas faculdades].
Numa sala do Museu Zoológico, iniciaram-se em seguida, os ensaios da peça «Braz Cadunha» do escritor Samuel Maia.
O Prof. Doutor Paulo Quintela, porém, tinha um Plano cultural mais vasto e o teatro clássico português desde o início que lhe merecia uma atenção especial. E assim, simultaneamente com o «Braz Cadunha» começaram os ensaios da «Farsa de Inês Pereira» de Gil Vicente. Estava dado o primeiro passo, para o que mais tarde viria a ser a coroa de glória do Teatro dos Estudantes. Três meses depois, o Grupo Cénico do «Fado Académico» apresentou-se no Teatro Avenida, em récita de gala, com a designação de «Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra». O «Fado Académico» morrera nessa noite.
Logotipo. Imagem acedida em https://www.facebook.com/photo?fbid=1007766936661205&set=pb.100022837253956.-2207520000..
Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra. Op. cit. Pg. 177
O TEUC em 2022. Imagem acedida em: https://www.facebook.com/photo/?fbid=7811227052228113&set=pb.100022837253956.-2207520000
… O Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra venceu. A sua fama espalhou-se por Portugal inteiro e em Coimbra.
Nobre, C. Coimbra de capa e batina. Volume II. 1945. Coimbra, Atlântida – Livraria Editora, Ld.ª.
Com o mesmo objetivo, alguém que com ela convivia de perto redigiu também uma biografia, que viria a servir de fonte e inspiração para a maior parte dos textos que se compuseram ao longo dos séculos sobre D. Isabel; no final desta estão antologiados todos os milagres que, nessa altura, tinham sido objeto de juramentos solenes ou de certificação notarial, com a menção dos respetivos tabeliães e testemunhas. nomeadamente aquele ato notarial (instrumentum) de 27 de Julho de 1336, acima referido, o que revela que o seu autor recorreu a fontes escritas anteriores para se fundamentar. Este relato, consultado em cópia manuscrita existente na biblioteca do mosteiro de Santa Clara, foi editado pela primeira vez por Fr. Francisco Brandão, na Sexta Parte da «Monarquia Lusitana», com o título «Relaçam da vida da gloriosa Santa Isabel Rainha de Portugal», em 1672.
São Bernardo, no frontispício da Primeira Parte da Monarchia Lusytana. Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Monarchia_Lusytana
Estes primeiros relatos estão na génese do muito que se escreveu sobre Santa Isabel, ao longo dos séculos, quer em prosa, quer em poesia, quer em relatos hagiográficos ou biográficos, quer em ofícios divinos, quer em discursos comemorativos, panegíricos e sermões.
A chegada da Rainha Santa Isabel à Catedral de Santiago de Compostela. Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Isabel_de_Arag%C3%A3o,_Rainha_de_Portugal
A rainha deposita a sua coroa aos pés do Arcebispo de Santiago de Compostela. Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Isabel_de_Arag%C3%A3o,_Rainha_de_Portugal
… Apesar do registo destes acontecimentos, em escrituras públicas, e da redação da biografia muito pouco tempo depois da sua morte, vivendo ainda alguns dos intervenientes mencionados, o culto da Rainha permaneceu circunscrito, muito limitado à cidade de Coimbra e aos seus descendentes. D. Manuel, D. João III conseguem o alargamento do culto a todo o reino e D. Sebastião continua a envidar esforços no sentido de alcançar a santificação de D. Isabel; esta, no entanto, só seria canonizada pelo Papa Urbano VIII em 1625, em pleno domínio filipino, no reinado de Filipe III, na sequência da insistência de Filipe II, que dera uma nova força ao processo em 1611.
Este culto privado, com algumas manifestações públicas, prolongou-se, pois, por aproximadamente dois séculos, até ao reinado de D. Manuel, durante o qual se estabeleceram contactos com as hierarquias superiores da Igreja, para se conseguir o seu reconhecimento oficial e solene.
Santa Isabel de Portugal, Retrato idealizado criado por Francisco de Zurbarán. 1635 (Museu do Prado). Acedido em https://pt.wikipedia.org/wiki/Isabel_de_Arag%C3%A3o,_Rainha_de_Portugal
É graças à intervenção de D. Manuel que o culto da rainha toma cunho solene (isto é, passa a ser realizado em nome da Igreja, com intervenção dos seus ministros, através de ritos e cerimónias reconhecidas e aprovadas pela autoridade competente), mas apenas na diocese de Coimbra. Simultaneamente, o papa Leão X, em 1516, ao autorizar o culto solene, alcandorou a Rainha a bem-aventurada, isto é, beatificou-a.
… Quando, em 1556, D. João III obteve do Papa a extensão do culto da Rainha a todo o reino, determinou a realização de um conjunto de iniciativas nas dioceses do país, nos mosteiros, na Universidade e no Colégio das Artes; encomendou a elaboração de uma biografia de D. Isabel, que narrasse a sua vida, obras e milagres; solicitou cópias de documentos antigos relacionados com esta sua antepassada, conservados no cartório do mosteiro de Santa Clara; mandou fazer estátuas da Rainha e averiguar da veracidade dos milagres.
Toipa. H.C. Rainha Santa Isabel: fontes para o seu estudo – (Documentos). 2020. Coimbra, Imprensa da Universidade. Pg. 1 a 20
Um leitor deste blogue – que não se identificou – colocou-me a seguinte questão: Um meu tio-avô, enquanto esteve a estudar na UC em 1890-91, viveu na R. da Sofia, n.º 70. Sabe-me dizer se se tratava de algum antigo colégio?
A resposta que lhe posso dar – muito atrasada no tempo, por lapso meu – passa pela afirmativa.
Com efeito, tratava-se do Colégio de S. Miguel que pertencia ao Mosteiro de Santa Cruz e se situava na Rua da Sofia. Ainda sem se encontrar terminado, em 1547, D. João III requisitou o edifício para ali poder instalar o recém-criado Colégio das Artes até que o edifício próprio, em fase de construção na Alta da Cidade, estivesse concluído.
Este imóvel, embora modificado, ainda existe na atualidade e nele, bem como no Colégio de S. Jerónimo que lhe ficava contíguo, funcionou, até 1986, ano em que se transferiu para as novas instalações erguidas lá para as bandas de Celas, o Hospital da Universidade de Coimbra.
O edifício do Colégio de S. Miguel, bem como o vizinho edifício do Colégio de Todos os Santos, no ano de 1566 foram entregues à Inquisição que, para os adaptar aos lamentáveis objetivos da instituição, os transfigurou, levando a cabo obras vultuosas. Mas disso falaremos na próxima entrada.
Para obter mais esclarecimentos sugiro a leitura das entradas aqui publicadas com os títulos:
- Coimbra: A Inquisição e as suas instalações 1 e 2;
- Coimbra: Rua da Sofia e os seus colégios 4
Não posso deixar de se referir um pormenor curioso.
No último andar do edifício número 70 da Rua da Sofia
Edifício da Inquisição frente Sofia
existe esta varanda:
Gradeamento da varanda
No Pátio da Inquisição está o seguinte edifício
Edifício da Inquisição frente pátio
E nele existe esta varanda
Gradeamento da varanda
Como se pode constatar as guardas das varandas são em tudo similares. Pertenciam ao edifício principal da Inquisição que tinha a frente voltada para o chamado Pátio da Inquisição e as traseiras para a Rua da Sofia.
“É um hábito comprido de panno preto, sem mangas, atado atraz com cordões e guarnecido na frente com duas ordens de pequenos botões bem juntos, que começam no pescoço e descem até aos pés; eis a primeira parte do vestido.
Estudante da Universidade de Coimbra, séc. XVIII
Por cima d’este se usa um outro preto e comprido, com mangas largas, precisamente como o dos pastores protestantes. Cada um traz na mão um pequeno saco de panno preto, onde, à falta de algibeiras, se acham o lenço, a caixa de rapé e outros objectos semelhantes. Os estudantes vão sempre com a cabeça descoberta, mesmo durante os maiores calores de verão:- Eis porque as ruas estão sempre cheias de homens que oferecem um aspecto triste e monacal”.
Desta forma descrevia Link o estudante universitário de Coimbra, retratando-o pelas impressões que lhe deixou a estada na cidade de Coimbra, e que relata na obra «Voyage en Portugal depuis 1797 jusqu’en 1799».
Era este o trajo académico do séc. XVIII, bem diferente do modelo utilizado no século anterior.
Trajo académico, painéis de João Abel Manta, 1958
A disciplina académica impunha ao estudante regras de comportamento e decoro no trajar, vedando-lhe o uso de certos adereços e cores, procurando uma uniformidade do vestuário usado que evitasse revelar as distinções classistas e um dispêndio desnecessário.
... As referências à indumentária são mais pormenorizadas nos Estatutos manuelinos (ca. 1503) onde, no parágrafo ”Da honestidade dos vestidos” se proíbem os pelotes, capuzes, barretes, gibões de cor vermelha ou “verdegaio” e os cintos lavrados a ouro.
Provavelmente estas diretrizes eram por vezes infringidas e daí a emissão de certos diplomas régios, repondo ou especificando melhor as recomendações sobre o trajo académico, de que é exemplo a Carta de 14 de janeiro de 1539 de D. João III. Nela se enumeram os adereços proibidos: barras e debruns, pano frisado, golpes e entretalhos nas calças, lavor branco ou de cores diversas em camisas, lenços, etc. O comprimento de pelotes e aljubetas seria abaixo do joelho e sobre todo o vestuário apenas se podiam usar lobas ou mantéus sem capelo.
... Em 1863 pensava-se já na alteração deste vestuário... “Acerca de acabar-se com as batinas, fácil seria fazelo, se fora substituil-as. Ja se lhes fez uã modificação, e há tempo p.ª meditar até ao fim do anno lectivo”.
...em Edital de 21 de Setembro de 1907, em que apenas se consente o uso de gravata preta “não podendo ostentar coletes d’outra côr nem barrete algum além do gorro”.
Em Março desse ano era proposta... em Conselho de Decanos, a sua completa abolição pois o mesmo não era sequer usado a rigor.
... Só em 1910 o seu uso se tornará facultativo, por Decreto de 24 de Outubro.
Arquivo da Universidade de Coimbra. Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra. Vol XI e XII.1989/1992. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 147-149
Os caloiros que iniciaram a licenciatura em Ciências Físico-Químicas em 1963, reuniram-se ontem e mais uma vez, desta feita em Coimbra. Do programa constou missa e a recordação da bênção das pastas e ainda uma visita ao Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, num retorno aos locais onde tiveram das suas primeiras aulas.
Para esta visita – que se recomenda a quem ainda a não fez – foi elaborado o pequeno guião que aqui se divulga.
Breve síntese histórica
O Museu da Ciência da Universidade de Coimbra ocupa atualmente dois edifícios: o Laboratorio Chimico e o Colégio de Jesus. Ambos pertenceram ao Colégio dos Padres Jesuítas, também denominados Apóstolos (o nome perpetua-se na Couraça) e ao Colégio das Artes. A primeira pedra do Colégio dos Jesuítas foi lançada no dia 14 de abril de 1547 e a igreja, riscada pelo arquiteto Baltazar Álvares, membro da Companhia; a sua construção iniciou-se em 1598 e prolongou-se durante um século.
Colégio de Jesus e Colégio das Artes em 1732 (gravura de Carlo Grandi)
O Colégio das Artes, entretanto criado por D. João III, ocupou, num primeiro momento, espaços pertencentes a Santa Cruz e foi entregue aos Jesuítas no ano de 1555, ainda antes do edifício (que se ergue quase paredes-meias com o dos Apóstolos e fora iniciado em 1568) estar concluído.
Os imóveis encontravam-se ligados por dois pequenos corpos de passadiço, perpendiculares à fachada oriental. Um fazia comunicar o Colégio de Jesus com o Colégio das Artes e o outro ligava o complexo colegial ao edifício onde, graças aos trabalhos arqueológicos recentemente efetuados, se ficou a saber que estava instalada a sala do refeitório bem como, provavelmente, as cozinhas e a ucharia, ou seja, estamos a referir-nos ao atual Laboratório Chimico.
Os Jesuítas de Coimbra gozaram por pouco tempo da sua igreja e das restantes estruturas, porque, em 1759, foram expulsos do país, o colégio extinto e os bens sequestrados. Os edifícios ficaram abandonados durante treze anos.
Aquando da Reforma Pombalina da Universidade, iniciada em 1772, parte do complexo passou para a posse da Universidade e a igreja, com mais alguns anexos, foram entregues ao Cabido diocesano.
O marquês de Pombal, ao implementar a reforma universitária que, obviamente, necessitava de espaços adequados, apoderou-se de uma parte considerável do Colégio de Jesus. Contudo, ciente da importância do ensino experimental, estava já na posse de planos trazidos de Viena de Áustria por Joseph Francisco Leal destinados à construção do Laboratorio Chimico; no entanto, este projeto não saiu do papel, tendo-o substituído um outro desenhado na Casa do Risco, sob orientação do engenheiro militar tenente-coronel Guilherme Elsden, que se salientou como diretor das Obras da Universidade de Coimbra.
Fachada do Laboratorio Chimico, desenho de G. Elsden e R. F. de Almeida, 1777 in Franco, M.S. “Riscos das Obras da Universidade de Coimbra”, Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra, 1983.
Trata-se de um edifício de grande qualidade, muito elegante e onde se destaca o frontão central, em corpo avançado sobre colunas. No entanto, o projeto original do coroamento do edifício foi alterado e só lhe foi aposto no século XIX.
Guilherme Elsden foi também o responsável pela adaptação dos edifícios preexistentes destinados a acolherem os Gabinetes de História Natural e de Física Experimental.
A estrutura vira para o Largo do Marquês de Pombal e mostra uma longa fachada de 110 metros de comprimento, de nobres linhas protoneoclássicas, onde se salienta o corpo central, coroado por frontão triangular preenchido por um belo relevo da autoria de Joaquim Machado de Castro, representando a Natureza e cinzelado pelo escultor António Machado. Nos gradeamentos das ventanas pode observar-se um pequeno medalhão com o busto do marquês de Pombal.
Frontão alegórico
No interior destaca-se a escadaria de aparato e os alizares de azulejo.
Refira-se ainda que nas alas norte e poente do Colégio funcionaram, inicialmente, os Hospitais da Universidade de Coimbra.
Os objetivos pedagógicos que então se pretendiam atingir encontram-se bem expressos nos Estatutos Pombalinos, datados de 1772, onde se lê que “os estudantes não somente devem ver executar as experiências, com que se demonstram as verdades até ao presente, conhecidas … mas também adquirir o hábito de as fazer com sagacidade e destreza, que se requer nos Exploradores da Natureza”.
A adaptação dos dois imóveis a Museu da Ciência ocorreu nos primeiros anos do presente século, tendo a primeira fase sido inaugurada em 2006 sob projeto de João Mendes Ribeiro, Carlos Antunes e Desirée Pedro. Trabalhos que visaram, essencialmente, reconduzir os espaços ao seu aspeto inicial.
Está classificado, desde 2016, como Sítio Histórico pela Sociedade Europeia de Física.
Recordamos que foi nestes espaços, nos idos dos anos 60, que os caloiros que então eramos, tiveram as primeiras aulas da licenciatura em Ciências Físico-química.
A nossa visita
A duração prevista é de cerca de uma hora segundo o seguinte percurso:
- Gabinete de Física
Foi equipado com seis centenas de máquinas que representavam o que de melhor e mais moderno então existia no campo da investigação científica. Cada uma delas tinha uma conceção que a tornava adequada a um dos capítulos do programa descrito no curso redigido por Dalla Bella.
O Gabinete de Física de Coimbra, mostra bem a profunda influência que as ideias e os instrumentos provenientes das mais diversas zonas da Europa tiveram em Portugal no século das luzes. O que resta dos instrumentos pertencentes ao Gabinete do século XVIII considera-se, atualmente, verdadeiras obras de arte, valorizadas pela riqueza dos materiais e pela perfeição da execução. Ocupam ainda as salas e o mobiliário primitivo, permanecendo no seu espaço de origem e mantendo as suas características específicas desde o tempo da fundação; constituem uma coleção de instrumentos científicos e uma representação notável da evolução da Física nos Séculos XVIII e XIX.
Visitamos o anfiteatro e as salas Figueiredo Freire (séc. XIX) e Dalla Bella (séc. XVIII).
- Gabinete de História Natural
Por força dos Estatutos Pombalinos da Universidade, datados de 1772, os professores da Faculdade de Filosofia deviam coordenar a recolha das espécies. O espólio assim obtido incorporou inicialmente a coleção privada de Vandelli e foi muito enriquecido com a Viagem Philosofica à Amazónia realizada por Alexandre Rodrigues Ferreira.
Os espécimes encontram-se organizados por regiões com recurso às técnicas de conservação e exposição então em uso.
Visitamos as salas das viagens, do mar, de África, das avestruzes e de Portugal.
- Laboratório Chimico
Encontra patente neste edifício a exposição Segredos da luz e da matéria que trata este tema a partir dos objetos e instrumentos científicos das coleções da Universidade de Coimbra, uma das mais notáveis e raras da Europa. Um conjunto de experiências e módulos interativos possibilitam a observação de fenómenos, desde a experiência de decomposição da luz, de Newton, até à neurobiologia da visão.
BORGES. Nelson Correia, Coimbra e região, Lisboa, Presença, 1987.
CORREIA, Vergílio; GONÇALVES, António Nogueira, Inventário artístico de Portugal. Cidade de Coimbra, Lisboa, Academia Nacional de Belas Artes, 1947.
DIAS, Pedro; GONÇALVES, António Nogueira, O património artístico da Universidade de Coimbra, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1991.
VASCONCELOS, António de, Escritos vários, vol. I, Coimbra, AUC, 1987 [Reedição].
http://www.museudaciencia.org/index.php?module=content&option=museum&action=project&mid=5
http://www.museudaciencia.org/index.php?module=content&option=museum
Em 1542, João da Barreira e João Álvares instalaram em Coimbra a sua imprensa, saindo logo nesse ano dos seus prelos a obra jurídica de Martín de Azpilcueta. O Reitor da Universidade... estabelece com eles contrato para serem impressores da Universidade... recebendo os ditos impressores doze mil reis anuais. Os mesmos impressores são comissionados para ir a Lisboa em 1546 recolher todo o material da Imprensa com que D. João III dotara a Universidade.
Estatutos da Universidade publicados em 1593
Na oficina da Universidade continuou António da Barreira a atividade de seu pai João da Barreira, após o falecimento deste em 1590. Da sua mão saíram os Estatutos da Universidade publicados em 1593, cuja aprovação se dera já em 1591.
Nos Estatutos de 1559 surgem já referências a impressões da Universidade, ficando os assuntos com ela relacionados a cargo do guarda do cartório.
Inicialmente a Universidade não possuía oficina própria; tinha por isso necessidade de recorrer ao serviço de impressores com casa montada que se tornavam, deste modo, oficiais privilegiados da Universidade.
Estatutos da Universidade publicados em 1653
Os estatutos de 1653, ao referirem estes privilegiados registam a existência de “duas Impressões” privilegiadas, a par da existência de “quatro tendes de Livreiros”. O cuidado na impressão ficava confiado do “corretor da impressão”.
... A Imprensa do Colégio das Artes, de que é feito sequestro em 1759, será integrada na Universidade, entrando esta, assim, na posse de oficina própria. O mesmo acontecera com o material tipográfico da Academia Liturgica de Coimbra, incorporado na Oficina Tipográfica da Universidade quando, em 1767, a Academia é extinta. Devido às reduzidas dimensões para o que se desejava fosse uma tipografia à altura da Universidade reformada em 1772, é a oficina trasladada para o devoluto Claustro da Sé Velha de Coimbra... As instalações da Imprensa e seu edifício estão concluídas em finais de Junho de 1773. A oficina é depois apetrechada com prelos e outro material tipográfico.
O Decreto-Lei... de 30 de Junho de 1934 extingue a Imprensa da Universidade... Todo o seu material foi incorporado na Imprensa Nacional de Lisboa. Para aí se transferiram os antigos e valiosos prelos – já então peças históricas – e ainda tipos, vinhetas, gravuras e demais material tipográfico que era propriedade da Imprensa da Universidade.
Arquivo da Universidade de Coimbra. Boletim do Arquivo da Universidade de Coimbra. Vol XI e XII.1989/1992. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 147-149
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