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Em Telo, nesta importante fase «pré-nacional», vê Afonso Henriques o potencial e carismático chefe religioso capaz de conseguir a adesão e o controlo de consideráveis energias, isto é, de uma grande parte da população e consequentemente de recursos e espaços. Com ele e à sua volta, poderia Afonso Henriques constituir uma cerrada rede de resistências, ao mesmo tempo que reforça o seu próprio poder.
... Por isso, nele se apoiará Afonso Henriques na luta contra a igreja institucionalizada – hierarquizada e temporal -, assim limitando mais facilmente o poder desta. Através dele, na base da confiança entre iguais, à sombra dos desejos da Igreja e mediante a infusão do amor divino, pretenderia o príncipe unir os cavaleiros e associá-los ao seu poder. Deste modo, alargando o grupo dos seus vassalos contrabalançaria, consequentemente, o poderio dos magnates nortenhos e reforçaria o seu próprio.
O projeto de uma nova sociedade laica e o de uma nova sociedade eclesiástica, entrecruzavam-se e interpenetravam-se, já pela influência das estruturas sociais globais sobre a instituição monástica, já pela intervenção e controlo do rei.
... A consciência da pertença a uma mesma unidade territorial, a uma mesma unidade política (sobretudo desde que D. Fernando Magno deu a D. Sesnando todo o território do Mondego ao Douro e do litoral até Lamego), a consciência da mesma identidade cultural (que é também moral e ideológica) ou a ânsia de aproximação (ou reaproximação) dos centros do poder sagrado e profano (ou da conexão entre estes) fazem associar os cavaleiros de Coimbra ao movimento eclesiástico em criação.
... Criar uma subsociedade, uma subcultura dentro dos limites da Sé, seria difícil senão impossível. E a renovação exigia um sítio novo, se possível não muito longe do palácio real (lugar de apoio)... Como doador destes banhos (os banhos régios), D. Afonso Henriques liga-se assim cultural e materialmente à fundação do Mosteiro de Santa Cruz.
... Adentro do projeto expansionista de Afonso Henriques, programar a e realizar a colonização de toda a margem (a retaguarda da fronteira) era primordial. O repovoamento da mesma fronteira, no interior, impunha-se-lhe do mesmo modo. Tinha então que, direta ou indiretamente, prolongar e culminar a ação já iniciada por
D. Sesnando e prosseguida, em parte, por D. Henrique e D. Teresa. Ação cujo elemento fundamental de orientação era o mesmo: o Rio Mondego nas suas duas direções, para montante e para jusante de Coimbra.
Ventura, L. e Faria A.S. 1990. Livro Santo de Santa Cruz. Cartulário do Séc. XII. Edição de Leontina Ventura. Transcrições de Leontina Ventura e Ana Santiago Faria. 1990. Coimbra, Instituto Nacional de Investigação Científica, pg. 19-22, 26-27
… aos Crúzios iria acontecer mais uma surpresa. Morto D. João III, o Cardeal D. Henrique institui em Coimbra o Tribunal do Santo Ofício, ordenando que os seus primeiros inquiridores se alojassem no Mosteiro de Santa Cruz.
… Após a morte do Rei, os Crúzios fizeram chegar à corte reivindicações pedindo a restituição dos Colégios usurpados
… A reivindicação dos Crúzios não teve eco na Corte … É o Cardeal D. Henrique … que em carta de 6 de Outubro de 1565 dá ordem à Companhia de Jesus para largarem os Colégios da Sofia e se mudarem para as novas instalações, na vizinhança da Universidade.
… Para cúmulo de opróbrio os Crúzios, como Ordem rica que era, foram convidados a contribuir com quinhentos cruzados para as despesas com a mudança dos Jesuítas … Naquele convite … dizia … “por no Colégio das escolas velhas com a sua serventia e mais aposentos e casas que cercavam o dito pátio (Pátio de São Miguel, ou da Bica, dada a fonte que ali existia) assim da parte do Mosteiro de Santa Cruz como da Rua de Santa Sofia para cárcere dos penitenciados (pela Inquisição) e outros usos que não podiam escusar e assim todo o mais chão que nestes aposentos havia …”
… estavam incluídos os novos edifícios que entretanto haviam sido construídos para aquele Tribunal, como as celas e salas de tormentos, prisões, e outras semelhantes. Com frente para a Rua da Sofia ainda existe, transformado, um bom edifício com colunatas e gárgulas, onde estiveram os serviços administrativos daquela instituição.
Silva, A.C. 1992. A Criação e Levantamento do Colégio da Sapiência (vulgo Colégio Novo). Coimbra, Santa Casa da Misericórdia de Coimbra. Pg. 13 a 15
Os forais primitivos
Anteriormente conhecera Coimbra vários documentos de carater foraleiro. O primeiro com essas características, embora não se possa considerar verdadeiramente um foral, data do ano de 1085, anterior, portanto, à fundação da nacionalidade, e foi concedido por Afonso VI de Leão, do qual dependia então o território do termo de Coimbra. Em 1111, novo foral foi outorgado à cidade, dado pelo conde D. Henrique e sua mulher D. Teresa, pais de D. Afonso Henriques. E foi este, o rei fundador, que em 1179 deu a Coimbra uma nova carta de foral, que viria a ser confirmado em 1217 por D. Afonso II. Finalmente em, em 1516, um foral novo é concedido à cidade, agora pelo rei D. Manuel.
Andrade, C.S. Nota Introdutória, In Foral de Coimbra de 1516. Edição fac-similada. Coimbra, 1998, pg. 88
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