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Precedida de uma ofensiva estratégica contra a taifa de Sevilha, dinamizada a partir de Mérida, em 1063, destinada a isolar o Reino de Badajoz, a tomada de Coimbra por Fernando I, no ano seguinte, não constituiria um mero episódio na lógica da «Reconquista». Era antes, em certo sentido, o seu próprio e simbólico ponto de partida … A submissão da fortíssima praça - «illarium partium maxima civitas», como refere a documentação medieval – avultava, assim, como prova de fogo da estratégia imperial formulada pelo monarca leonês. Donde a peregrinação a Santiago, de que seria precedida, destinada a impetrar a proteção do santo; donde o conjunto de lendas que se iriam tecer em seu redor, como os «sete anos» de cerco, a ativa intervenção do próprio apóstolo (em tal transe assumindo perfil de «mata-mouros»), a participação de Rui (ou Rodrigo) Dias, o romanesco Cid, armado cavaleiro, após o triunfo, na mesquita. Donde, enfim, nova romagem régia a Compostela, na sequência da conquista, a render graças pelo bom sucesso da empresa.
A fazer fé nos relatos cristãos, os sitiantes haviam combatido “muy fortemente com os engenhos, em tanto que britarom o muro da villa. E os mouros, maao seu grado, veheron a el rei e deitaronsse a seus pees e pedironlhe por mercee que os leixasse hyr cõ seus corpos, e que lhe leixaria a villa e a alcaçova, com quanto aver em ella avya. E el rey com grande piedade outorgoullo. E entregaronlhe a vylla a huum domingo, ora de terça.
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Coimbra renderia, de facto, um opulento saque em cativos e bens, mesmo que os 5.000 prisioneiros transmitidos pelas fontes pertençam também, provavelmente, aos domínios da lenda. Integrada pelo Imperador no Reino da Galiza, atribuído a seu filho Garcia … seria confiada (bem como todo o território a sul do Douro, reconstituindo, de um modo geral, o velho «condado de Coimbra»), a Sesnando Davides.
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A nomeação do famoso «alvazir» como governador da cidade e seu território no novo contexto da conquista cristã … representava a possibilidade de utilização, ao serviço da «reconstrução» e em pleno «Andalus», da sua própria origem moçárabe … no âmbito de uma estratégia de aglutinação do tecido social e de atração de novos «povoadores».
Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg. 218 a 220.
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