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Divulgamos um trabalho de investigação realizado por três doutorandos, abaixo referenciados, realizado no âmbito do Programa Doutoral Heritas, o qual teve como objetivo o estudo da fundação do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova.
O Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, embora sendo uma obra de vulto da Restauração, encontra-se parcamente estudado.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, fachada principal. Acervo RA
Esta obra promove a propagandística político-religiosa do Culto da Rainha Santa Isabel de Portugal, que a Casa de Bragança perpétua após os Habsburgo.
…. Na documentação relativa à construção do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova verifica-se que plantas originais e infraestruturas, são da autoria de Frei João Turriano.
…. O Mosteiro de Santa Clara-a-Nova é a última obra de vulto de arquitetura de Frei Turriano, “Esta imponente massa arquitetónica, que segue o modelo profano dos palácio-bloco do final da centúria antecedente, é obra importante de síntese entre o modelo «chão» da arquitetura religiosa e certos pressupostos eruditos da arquitetura aristocrática de sinal Herreriano, que pela sua expressiva ambiguidade de novo nos recorda o peso da engenharia militar em tais empresas.”
Claustro do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. Acervo RA
…. Nos séculos XIII e XIV, promoviam-se na cristandade as relações entre nobreza, santidade e caridade, especialmente relacionadas com as Ordens Franciscanas … O culto da Rainha Santa Isabel nasce por vox populi, foi posteriormente cultivado pelos seus descendentes dinásticos.
Túmulo primitivo da Rainha Santa Isabel de Portugal. Acervo RA
Os fundadores da Dinastia de Avis tinham presente a sua importância, sobretudo em alturas de maior instabilidade política. A propaganda é de facto intensa no propósito de se legitimarem, como foi o caso da escolha do Convento de Santa Clara de Coimbra para as núpcias de D. Duarte I e Leonor de Aragão …. Também o Rei D. Manuel I irá utilizar a sua antepassada para reforçar a sua legitimidade, obtendo do Papa Leão X a beatificação a 15 de Abril de 1516, sendo o culto autorizado localmente.
A devoção da Casa de Avis à Rainha Santa Isabel é evidente na procissão solene que D. João III e Catarina de Áustria organizam ao túmulo a 20 de Janeiro 1554, coincidindo com o nascimento de D. Sebastião. Este augúrio impulsiona a propagação do culto por todo o reino, sendo este anuído pelo Papa Paulo IV em 1556, a pedido de D. João III … D. Catarina de Áustria durante a regência irá continuar a promover e divulgá-lo. Será sobre a sua influência que se funda a Confraria da Rainha Santa Isabel de Portugal.
…. Em 1640, na sequência de conflitos internos entre a coroa, nobreza, aristocracia e a burguesia cristã-nova, inicia-se a Restauração surgindo a necessidade de legitimação tanto ao nível interno como externo da Dinastia de Bragança … O Culto da Rainha Santa Isabel, cuja disseminação extra-peninsular já era evidente, passou também a integrar o programa político-religioso dos Bragança.
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, entrada. Imagem acedida em: https://visitregiaodecoimbra.pt/wp-content/uploads/2022/12/mosteiro-sta-clara-a-nova.jpeg
Em 1649, D. João IV ordena que se lance e inscreva na primeira pedra da construção do novo Mosteiro de Santa Clara, na qual determina que se refira à Rainha Santa Isabel como “sua Avó e Senhora”.
João IV por Peter Paul Rubens (c. 1628) Imagem acedida em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_IV_de_Portugal
Numa altura em que as obras nacionais eram condicionadas pelas despesas da Guerra da Restauração, a construção deste imponente cenóbio, estende-se durante os reinados dos próximos cinco monarcas, reflete o programa político-religioso deste culto.
Tavares, P., Salema, S. e Pereira, F. B. 2013. A Fundação do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova de Coimbra. Propagandística política, tratadística arquitectónica e engenharia militar entre a Dinastia Filipina e a Dinastia de Bragança. Estudo realizado no âmbito do Programa Doutoral Heritas – Estudos de Património, acedido em:file:///C:/Users/Administrador/Downloads/A_Fundacao_do_Mosteiro_de_Santa_Clara_a.pdf
1430, Abril, 11, Camarate.
PT/AHMC/COI/ nº 15
Cartas Originais dos Infantes. 34/44
Carta do Infante D. Duarte, ao concelho e homens bons da cidade de Coimbra, pedindo que escusassem dos encargos do concelho, Gil Gonçalves, morador em Coimbra, criado do Bispo de Maiorca, durante a ausência do Bispo, em Roma, em serviço do Rei.
escrivão: Garcia Rodrigues
assinatura autógrafa: Infante [D. Duarte]
remetente: por o infante [D. Duarte]
destinatário: Ao concelho e homens bons cidade de Coimbra.
1437, Fevereiro, 18, Paços de Tentúgal.
PT/AHMC/COI/ nº 38
Cartas Originais dos Infantes. 24/428
Carta do infante D. Pedro, aos homens bons da cidade de Coimbra, recomendando aos vereadores que acordassem onde melhor poderia ficar o caneiro real, e também que cumprissem a ordenação, quanto à eleição de Luís Geraldes, para o cargo de juiz, pois fora vereador no ano anterior, devendo por isso ser escusado de servir novamente.
selo: vestígio
escrivão: Bento Anes
assinatura autógrafa: Infante Dom Pero
1440, Dezembro, 1, Almeirim.
PT/AHMC/COI/ nº 53
Cartas Originais dos Infantes. 2/24
Carta da rainha D. Leonor, aos fidalgos e cavaleiros, juízes, vereadores, procurador e homens bons da cidade de Coimbra comunicando a todos os lugares o seu bom entendimento com o infante D. Pedro, duque de Coimbra e que com ele faria a regência do reino, na menoridade de D Afonso V.
selo: selo de chapa bem conservado com as armas da rainha
escrivão: Luís Eanes
assinatura autógrafa: a treste reynha
remetente: [por a reynha]
Arquivo Histórico Municipal de Coimbra. Catálogo da Colecção. Cartas Originais dos Infantes. [1418]-1485. 2009. Coimbra AHMC
… D. Pedro e D. Inês viveram em vários locais do Reino e permaneceram algum tempo no Paço da Rainha junto ao Mosteiro de Santa Clara de Coimbra. Inês veio a ser executada no Paço, por ordem do rei, a 7 de Janeiro de 1355, sendo sepultada na igreja das Clarissas. Já depois de assumir a coroa portuguesa, D. Pedro afirmou que se tinha casado em segredo com D. Inês e determinou que o seu corpo fosse tresladado para o Mosteiro de Alcobaça.
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O casamento do príncipe real D. Duarte veio a ser celebrado na igreja de Santa Clara de Coimbra, em 22 de Setembro de 1428 tendo o templo sido decorado com ricos tapetes e panos. Após os esponsais, o casal pernoitou no Paço da Rainha.
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Foi em Santa Clara que professou D. Joana de Castela, a Excelente Senhora, ou Beltraneja, sua segunda mulher (de D. Afonso V que foi obrigado pelo Papa a repudiá-la).
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D. Pedro, duque de Coimbra, escolheu a igreja de Santa Clara para fazer as suas preces antes do confronto fatal de Alfarrobeira (1449) e aqui foi sepultada sua filha D. Catarina, em arca tumular colocada na sala do Capítulo.
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D. Manuel demonstrou igualmente interesse por Santa Clara de Coimbra, tendo sido o motor do processo da beatificação de D. Isabel (15 de Abril de 1516) e tendo dado obras de arte para adornar o mosteiro, designadamente o «Tríptico da Paixão de Cristo», obra flamenga de Quentim Metsys.
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Em 1669, Cosme de Médicis, grão-duque da Toscana, deslocou-se a Portugal e, na sua passagem por Coimbra, visitou as “Freiras de S., Francisco, onde está o corpo de S. Isabel, Rainha de Portugal. Ali permaneceu junto às grades e ouviu cantar pelas Monjas alguns motetes”
Trindade, S. D. e Gambini, L. I., Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. Coimbra, Direção Regional de Cultura do Centro, pg. 27 e 28
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