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A' Cerca de Coimbra


Sexta-feira, 07.07.17

Coimbra: a Família dos Rabaldes

Iniciado o seu percurso e afirmação com o conde D. Henrique, a família dos Rabaldes apaga-se um pouco durante o governo de D. Teresa e de Fernão Peres de Trava (1121-1128).

O apoio a Afonso Henriques na luta contra sua mãe e o subsequente protagonismo de Coimbra, refletido no papel diretivo que a cidade desempenha na Reconquista desde a década de 1130, faz a família recuperar poder e prestígio. Filhos e netos de Rabaldo frequentam a alcáçova régia e acompanham Afonso Henriques nas guerras ofensiva e defensiva, de Santarém e Lisboa ao Alentejo. Alguns perdem aí a vida. E com a perda da varonia rapidamente a linhagem desaparece.

A guerra, as funções militares na fronteira e a colaboração no repovoamento propiciam-lhes riqueza e a constituição de um pujante património.

Outros almejam e logram mobilidade social e poder na carreira eclesiástica, no bispado do Porto, sob a sombra protetora do arcebispo de Braga, D. João Peculiar, seu parente.

As filhas de Rabaldo fazem bons casamentos, com cavaleiros do mesmo nível ou de superior posição social, proporcionando, assim, uma maior segurança à família. As boas posições desses esposos no xadrez político-militar ocasionam substanciais doações por parte do rei ....

E muitas são as compras e escambos que ... fazem, com seus maridos.

Por presúria, compras e doações se constrói o património da linhagem; por múltiplas partilhas sucessórias, o mesmo se desagrega; enfim, por doações e vendas, no mosteiro de Santa Cruz de novo se reunifica.

Rabaldo vende terras de Enxofães.jpg

Rabaldes, filho de Rabaldo vende uma propriedade a Santa Cruz de Coimbra

A guerra de fronteira que o ajudara a construir obriga, por vezes, à sua alienação.

A mesma guerra, matando também os genros de Rabaldo, propicia os recasamentos das suas filhas, cujo elevado grau de fertilidade gera uma fortíssima subdivisão do património e a sua progressiva desvalorização.

À semelhança de outras famílias de Coimbra, da mesma posição na mesma época, assinala-se a presença, nas várias gerações da linhagem, de importantes cavaleiros do exército régio, com funções militares ou administrativas (vigários, mordomos, juizes), e, simultaneamente, de outros com cargos eclesiásticos, nomeadamente bispos...

Na Corte e na Igreja se construíram, pois, alguns percursos familiares que a documentação régia ou a eclesiástica nos foi revelando e permitiu reconstituir. Porque na Corte ou na Igreja exerceram cargos. Porque na Corte receberam bens e mercês, e na Corte combinaram casamentos. Porque à Igreja doaram ou venderam bens, e pela Igreja foram rememorados.

Ventura, L. 2003. O Elemento Franco na Coimbra do Século XII: a Familia dos Rabaldes. In Revista Portuguesa de História t. XXXVI (2002-2003), pp. 89-114 (vol. 1), pg. 108-109

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por Rodrigues Costa às 09:58

Terça-feira, 13.09.16

Coimbra: o tempo de gestação de Portugal 3

O facto de Afonso Henriques em 1128 ter derrotado a mãe em São Mamede pode não ter acontecido apenas com o assentimento dos magnates portucalenses que o promoviam, nos quais o arcebispo de Braga se incluía, mas ainda com o apoio tácito ou talvez mesmo formal do próprio rei de Leão, Afonso VII, com quem ... numa primeira fase do seu domínio, parece ter mantido excelentes relações ...pelo menos antes da mudança do infante para Coimbra, em 1130, não se detetaram hostilidades ou problemas.

... durante o reinado de Afonso Henriques, parece-me inegável a influência determinante que os arcebispos e o seu cabido tiveram na nomeação e no tipo de chanceleres do rei. Talvez não seja uma coincidência que a maioria destes homens provenha do cabido da sé de Braga, e que possam ser relacionados de uma forma ou de outra com os meios crúzios de Coimbra, o mosteiro em cuja fundação e vida o arcebispo João Peculiar teve papel tão destacado ... pelo menos cinco dos chanceleres de Afonso Henriques saíram do cabido de Braga, e muitos dos seus notários e escribas tinham sido recrutados nos meios conimbricenses, na sé de Coimbra e no Mosteiro de Santa Cruz.

... parece provado, que os documentos da chancelaria eram guardados em Santa Cruz de Coimbra nesta primeira fase, a hipótese de que, embora os arcebispos de Braga não exercessem a chancelaria régia diretamente, deveriam ter em Santa Cruz de Coimbra um reduto de influência considerável.

Coimbra é sem dúvida o ponto focal do reinado de Afonso Henriques, quer por ser o núcleo urbano para onde o jovem infante vai transferir o centro de ações quer pelo que representa culturalmente e intelectualmente, na confluência de uma fortíssima tradição moçárabe com os representantes das novas correntes filosóficas e religiosas, encarnados nos cónegos da sé, nos crúzios de Santa Cruz de Coimbra e na influência crescente dos cistercienses de Alcobaça.

Branco, M.J. Antes da independência de Portugal. In Portugal e Espanha. Amores e desamores. Volume I. Coordenação de Matos, A.T., Costa, J.P.O. e Carneiro, R. 2015. Lisboa. Círculo de Leitores. Pg. 84, 80, 90 e 91, 93

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por Rodrigues Costa às 13:33

Sexta-feira, 11.03.16

Coimbra. D. Afonso I, morte e cerimónias fúnebres

Depois de tantas correrias para Sul do Mondego … aconteceu que, naquele 6 de Dezembro de 1185, «da larga e muita idade foi vencido» o primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques … O corpo … foi vestido, ainda nos seus aposentos da alcáçova, de «Cónego Terceiro de Santa Cruz», que o era desde há meio século. E metido numa urna de «madeira de cedro» … Em procissão, na manhã do dia 7 de Dezembro, o caixão com o corpo do rei defunto foi levado aos ombros até à Sé Catedral, por entre cruzes de todos os mosteiros e igrejas paroquiais e os cânticos e as orações da multidão … com a particularidade de todos os acompanhantes, desde o Infante D. Sancho ao mais humilde dos servidores, se apresentarem de pés descalços.
… Durante todo aquele dia e boa parte do seguinte … houve velada contínua do corpo do Primeiro Rei na Sé Catedral … Já no dia 8, organizou-se nova procissão para a igreja do Mosteiro de Santa Cruz … o futuro rei, D. Sancho, transportando o histórico escudo das cinco quinas … e que ficaria pendurado junto ao túmulo em Santa Cruz … o alferes-mor Fernando Afonso … com a espada usada pelo Primeiro Rei em tantas batalhas e que também no seu túmulo seria colocada (permaneceria quase ininterruptamente, ao longo de quase sete séculos.

…. A primeira arca tumular … não teve qualquer ornamentação … foi, no entanto, um trabalho ‘provisório’ … sabe-se por documentos entretanto encontrados que, nas semanas seguintes ao falecimento, bons artistas conimbricenses … exercitaram toda a sua mestria num outro sarcófago real.
Este segundo sepulcro … também não chegou até nós, mas é de admitir que se tratasse de um mausoléu de tampa abaulada e ornamentação ao gosto românico … elogio fúnebre que neste sepulcro … se esculpiu:
… «Aqui jaz enterrado um outro Alexandre, um outro Júlio, guerreiro invencível, ilustre, honra do mundo. Os tempos do seu reinado foram-se alternando entre a guerra e a paz. Os reinos que reduziu ao poder da Igreja estão mostrando o muito que lhe mereceu a religião cristã e a fé no nosso Salvador. Para além dos gastos que fez e que convinham à majestade do seu Estado, daquilo que entesourou também muito distribuiu pelos mais pobres e miseráveis, levado a isso pela suavidade da Lei Evangélica. Foi um grande defensor da Cruz de Cristo, que usou como proteção no escudo real que adotou, em o qual se vê a mesma Cruz repartida em escudos menores. Ainda que a Fama Costumada de outros se ocupe por tempos dilatados, ninguém haverá que mereça mais louvores».
Quando a urna de madeira foi colocada dentro do segundo sepulcro no século XII – que ficou à entrada da igreja românica, encostado à parede e levantado do chão sobre duas pedras cuidadosamente aparelhadas – houve de novo cerimónia religiosa em Santa Cruz de Coimbra.

… Não muitos anos depois do falecimento de D. Afonso Henriques, porque os mouros continuassem a fazer incursões na linha do Mondego e o Mosteiro de Santa Cruz se situasse no ‘arrabalde’, D. Sancho I “ordenou e recomendou oralmente (‘mandauit et próprio ore commendauit’) aos frades crúzios que comprassem casas junto à torre dos sinos e aí construíssem igreja e casas para conservação dos restos mortais de seu pai e mãe, o que efetivamente se realizou…”
Lembra ainda o historiador José Pinto Loureiro … que «ao tempo, a torre sineira de Santa Cruz estava dentro da muralha, junto da Porta Nova, no local mais tarde ocupado pelo Colégio da Sapiência ou Colégio Novo».

Martins, A.S. 2006. Coimbra. “Cidade rica do Santo Corpo do seu Rei primeiro”. Coimbra. Edição do Autor. Pg. 19, 21 a 24, 27 a 29, 83 a 85

 

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por Rodrigues Costa às 09:41

Sexta-feira, 04.09.15

Coimbra, D. Afonso Henriques rei de Portugal

… os primeiros cuidados de Afonso Henriques foram o fortificar as fronteiras meridionais dos seus estados. O castelo de Leiria, que ficara destruído na passada algara dos sarracenos, considerava-se como a chave do país por este lado … A sua importância era tal que num documento pouco posterior os alvazis e demais membros do conselho municipal de Coimbra declaravam que os homens de armas do concelho que tentassem ir combater pela fé na Palestina fossem defender a Estremadura e em especial Leiria, onde, se morressem, obteriam a remissão dos seus pecados do mesmo modo que em Jerusalém.

O cardeal Guido de Vico viera por aquele tempo a Espanha como legado de Inocêncio II … O imperador (Afonso VII, de Leão) e o rei de Portugal dirigiram-se nessa conjuntura a Zamora para numa conferência assentarem as condições de duradoura concórdia. Guido, provavelmente como representante do pontífice, foi chamado a assistir à conferência dos dois príncipes que, segundo parece, resolveram amigavelmente as controvérsias… o imperador reconheceu o título de rei que seu primo tomara, e que este recebeu dele o senhorio de Astorga, considerando-se por essa tenência seu vassalo.

Herculano, A.1987. História de Portugal. Vol. II. Lisboa, Circulo de Leitores, pg. 114, 115

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por Rodrigues Costa às 22:12

Terça-feira, 25.08.15

Coimbra no caminho que levou à independência de Portugal 2

O estabelecimento da Corte na cidade do Mondego, por 1130, coincidiria aliás com outro facto da maior transcendência: a fundação do Mosteiro de Santa Cruz, de cónegos regrantes de Santo Agostinho … – primeiro ato de política coimbrã de D. Afonso, após a batalha de S. Mamede –, representa este facto (tal como a medida anterior, de que não pode desenquadrar-se), expoente desse novo sentido que iria revestir a intervenção do «Conquistador» e em cujo âmbito a deslocação do centro do poder para a antiga «Emínio» revestiria uma importância determinante; e que passava pela formação, como base de apoio da ambicionada Monarquia, de uma «sociedade nova», tanto no plano laico como no eclesiástico, estruturada no apoio dos cavaleiros de Entre Douro e Minho, mas também nas elites vilãs, de que Coimbra representava o principal alfobre e na constituição de um clero “religiosa e espiritualmente superior ao monge beneditino e ao clero secular”, onde se harmonizasse, enfim, a velha querela que opunha moçárabes a «gregorianos». Com efeito, se a presença de D. Bernardo à frente dos destinos da mitra garantia a necessária «romanidade» da Igreja «portucalense», indispensável no domínio das relações com a Santa Sé (ao mesmo tempo que o seu «lusitanismo» favorecia os projetos de autonomização da Igreja «nacional» em relação às metrópoles toletana e compostelana acalentados pelo Infante), a profunda integração do Mosteiro na vida da comunidade … fariam dele, no quadro, de resto, de uma prática litúrgica também romanista, o instrumento indispensável à política «régia» de construção de um tecido social coeso, homogéneo e dotado de uma identidade própria em relação ao(s) Reino(s) vizinho(s) de Castela e Leão.

Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg. 265.

 

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por Rodrigues Costa às 23:29

Sábado, 22.08.15

Coimbra no caminho que levou à independência de Portugal 1

Efetivamente, à sua morte (de Sesnando, alvazil de Coimbra), ocorrida em 25 de Agosto de 1091, suceder-lhe-ia seu genro, Martim Moniz, casado com sua filha Elvira, o que parece ilustrar uma apetência pela hereditarização dos seus domínios. No seio de uma nova linhagem, encabeçada pelo carismático «alvazil»; e talvez que o prestígio da sua personalidade tivesse contribuído para retardar a integração de Coimbra na lógica comum da «Reconquista». Mas o monarca não tardaria atalhar caminho a essa «singularidade» e os factos parecem atestar que, desde cedo, o poder de Martim Moniz se terá visto minado por um conjunto de circunstâncias que deverão ser responsáveis, a um tempo, pela súbita aceitação de D. Crescónio, sagrado bispo … em 1092 … e pela deslocação em pessoa do Imperador (D. Afonso VI, de Leão), acompanhado de D. Raimundo, em 1093, estada durante a qual, com evidente sentido político, confirma as regalias outorgadas em Toledo, por influência de Sesnando, em 1085, aos moradores da cidade. E em 1094 já esta e todo o seu território surgiriam integradas no condado da Galiza … atestando-se nesse ano a residência de Raimundo em Coimbra, em companhia de sua mulher, a «Rainha» D. Urraca. Pelos finais de 1095, contudo, ou já em 96 e face ao recrudescimento da ameaça almorávida, ver-se-iam estes, por seu turno, despojados da região de Entre Minho e Tejo, em benefício de seu primo Henrique, conde de «Portucale» e de Coimbra. E é este e D. Teresa (ou apenas esta) que agora se surpreendem habitando a Alcáçova onde, em 1109, nasceria talvez o Infante Afonso Henriques.

De facto, como notaria Pradalié, a formação de Portugal passava indeclinavelmente pela eliminação daquilo que fazia de Coimbra um mundo à parte e pela sua assimilação ao processo ideológico da «Reconquista cultural»: “le prince Alphonse n’aurait jamais eu l’appui de l’Eglise – on sait quel rôle joua Rome dans la création d’un royaume portugais – si Coimbre avait été encore, vers 1130-1140, un foyer mozarabe. L’intégration forcée de l’église de Coimbre dans l’église romaine apparaît donc comme un étape préliminaire dans la formation de Portugal, et l’action de l’évêque Gonçalo annonce et prépare celle de la papauté“.
Coimbra convertera-se, aliás – ou estaria ponto de converter-se (e em boa parte por ação de Sesnando) -, na maior cidade de então no território «português», ao mesmo tempo que o repovoamento firmara as bases de uma firme tradição cultural (de sentido moçárabe, evidentemente), como centro pedagógico e de atração e irradiação de códices e documentos, tanto da Península cristã como da muçulmana, circunstâncias que, aliadas à sua nova centralidade, no quadro da «Reconquista», como no da política secessionista dinamizada pelo Conde D. Henrique e prosseguida pelo Infante Afonso Henriques, justificariam a sua eleição como «capital», por parte deste e o facto de, nas crónicas muçulmanas, «Ibn ar-Rink» ser designado por «senhor de Coimbra».

Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg. 263 a 265.

 

 

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por Rodrigues Costa às 19:59

Sábado, 01.08.15

Coimbra, factos relevantes ocorridos no Paço Real

… são abundantes as fontes que permitem detetar a ocupação do Paço Real coimbrão por parte dos primeiros monarcas: as crónicas referem a contínua presença em Coimbra de D. Afonso Henriques … Aqui casou, de facto, em 1146 com D. Mafalda; aqui lhe nasceram todos os seus filhos … entre os quais, em 1154, o futuro D. Sancho I; aqui morreu a Rainha em 1157; nasceu D. Afonso II, em 1185 …; recebeu D. Sancho I, em 1196, a visita de seu cunhado, Afonso II de Leão; morreu, em 1198, a Rainha D. Dulce; nasceu, em 1202, D. Sancho II e, em 1210, D. Afonso III; morreu, em 1211, D. Sancho I e, em 1229, D. Urraca de Castela, esposa de Afonso II, que a seguiria, em Coimbra, ainda, três anos mais tarde; aqui se deu, em 1246, o ignominioso rapto da Rainha D. Mécia, esposa de Sancho II; nasceu, em 1261, o Rei D. Dinis; D. Afonso IV, em 1291; D. Pedro I em 1320 e D. Fernando em 1345. Além de inúmeros Infantes e Infantas, incluindo, a crer na tradição, o próprio Afonso Henriques

No Paço, igualmente, teriam lugar, em 1211, as primeiras Cortes de que existe documentação e, na cidade, as de 1261, 1283, 1355, 1367 (ou 69) e 1370, aqui as reunindo seis vezes D. João I (1385, 1387, 1390, 1394/95, 1397 e 1400) e ainda D. Afonso V em 1472.

Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg. 266.

 

 

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por Rodrigues Costa às 16:50


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