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A' Cerca de Coimbra


Sábado, 22.08.15

Coimbra no caminho que levou à independência de Portugal 1

Efetivamente, à sua morte (de Sesnando, alvazil de Coimbra), ocorrida em 25 de Agosto de 1091, suceder-lhe-ia seu genro, Martim Moniz, casado com sua filha Elvira, o que parece ilustrar uma apetência pela hereditarização dos seus domínios. No seio de uma nova linhagem, encabeçada pelo carismático «alvazil»; e talvez que o prestígio da sua personalidade tivesse contribuído para retardar a integração de Coimbra na lógica comum da «Reconquista». Mas o monarca não tardaria atalhar caminho a essa «singularidade» e os factos parecem atestar que, desde cedo, o poder de Martim Moniz se terá visto minado por um conjunto de circunstâncias que deverão ser responsáveis, a um tempo, pela súbita aceitação de D. Crescónio, sagrado bispo … em 1092 … e pela deslocação em pessoa do Imperador (D. Afonso VI, de Leão), acompanhado de D. Raimundo, em 1093, estada durante a qual, com evidente sentido político, confirma as regalias outorgadas em Toledo, por influência de Sesnando, em 1085, aos moradores da cidade. E em 1094 já esta e todo o seu território surgiriam integradas no condado da Galiza … atestando-se nesse ano a residência de Raimundo em Coimbra, em companhia de sua mulher, a «Rainha» D. Urraca. Pelos finais de 1095, contudo, ou já em 96 e face ao recrudescimento da ameaça almorávida, ver-se-iam estes, por seu turno, despojados da região de Entre Minho e Tejo, em benefício de seu primo Henrique, conde de «Portucale» e de Coimbra. E é este e D. Teresa (ou apenas esta) que agora se surpreendem habitando a Alcáçova onde, em 1109, nasceria talvez o Infante Afonso Henriques.

De facto, como notaria Pradalié, a formação de Portugal passava indeclinavelmente pela eliminação daquilo que fazia de Coimbra um mundo à parte e pela sua assimilação ao processo ideológico da «Reconquista cultural»: “le prince Alphonse n’aurait jamais eu l’appui de l’Eglise – on sait quel rôle joua Rome dans la création d’un royaume portugais – si Coimbre avait été encore, vers 1130-1140, un foyer mozarabe. L’intégration forcée de l’église de Coimbre dans l’église romaine apparaît donc comme un étape préliminaire dans la formation de Portugal, et l’action de l’évêque Gonçalo annonce et prépare celle de la papauté“.
Coimbra convertera-se, aliás – ou estaria ponto de converter-se (e em boa parte por ação de Sesnando) -, na maior cidade de então no território «português», ao mesmo tempo que o repovoamento firmara as bases de uma firme tradição cultural (de sentido moçárabe, evidentemente), como centro pedagógico e de atração e irradiação de códices e documentos, tanto da Península cristã como da muçulmana, circunstâncias que, aliadas à sua nova centralidade, no quadro da «Reconquista», como no da política secessionista dinamizada pelo Conde D. Henrique e prosseguida pelo Infante Afonso Henriques, justificariam a sua eleição como «capital», por parte deste e o facto de, nas crónicas muçulmanas, «Ibn ar-Rink» ser designado por «senhor de Coimbra».

Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg. 263 a 265.

 

 

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por Rodrigues Costa às 19:59


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