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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 13.01.22

Coimbra: Camilo e a cidade do Mondego 1

Nesta série de cinco entradas quero prestar uma singela homenagem ao meu Amigo de longa data Carlos Santarém Andrade, autor da obra de onde as mesmas foram extraídas.

Camilo capa.jpg

Capa da obra

Para além das várias vezes que se deslocou a Coimbra ou por ela passou, ao longo da sua vida, Camilo Castelo Branco viveu nesta cidade em duas épocas distintas, por diferentes motivos: em 1845-1846, como estudante candidato à Universidade, e em1875-1876, para acompanhar os estudos dos filhos.

ESTUDANTE EM COIMBRA

À primeira destas estadas se refere o escritor em abundantes passos da sua obra, por vezes com discrepâncias cronológicas, motivadas porventura pela distância temporal em que descreve os factos ou ainda pela diferença que medeia entre o momento da escrita e o da publicação das obras em que os acontecimentos se inserem.

Comecemos pelo artigo «Que segredos são estes», incluído nas «Noites de Insónia», em que recorda as suas ligações com Duarte Valdês: «Primeira, a da nossa jovial convivência em um casebre da Couraça dos Apóstolos, no ano 1845».

Camilo pg. 11.jpg

«… a da nossa jovial convivência em um casebre da Couraça dos Apóstolos, no ano 1845». Camilo Castelo Branco, in «Que segredos são estes». Pg. 11

E mais adiante, aludindo à sua condição de estudante: «Antes de mencionar a terceira época, urge saber-se que nenhum de nós se formou. Ele contentava-se com um diploma de insuficiência em retórica, e eu com a prenda não comum de harpejar três vários fados na viola. Formávamos na nossa recíproca ignorância um conceito honesto. Não queríamos implicar com sábios, nem para os invejar nem para os distrair».

Também em «No Bom Jesus do Monte», historiando o infeliz casamento de José Augusto Pinto de Magalhães com Fanny Owen, afirma de passagem, referindo-se àquela época: «Conheci-o em Coimbra, estudando preparatórios».

Muitos anos depois, em carta dirigida a Cândido de Figueiredo, datada de 1882, agradecendo a oferta do livro «Homens e Letras», recorda Camilo esses anos:

«Fez-se grandes saudades da Coimbra de 45 e 46 em que eu por aí estraguei duas batinas. A Maria Camela, que V. Ex.ª conheceu velhinha, era então uma gentil rapariga, a quem eu desfechava frases sentimentais, mas, sobre a matéria, incombustível. Ela foi a salamandra dos vulcões líricos que então flamejavam em Coimbra. Ouvia-me com um sorriso afetuoso enquanto eu me saturava do fósforo dos seus linguados e das suas tainhas.»

Também recorda a Tia Camela daqueles tempos em «Narcóticos», mais precisamente em «O Sr. Ministro». Misturando ficção com realidade, descreve as oito filhas do bedel Rosendo, que «eram umas ninfas do Mondego», e acrescenta:

«Entre 1840 e 46 não foi a Coimbra Lamartine subalterno que as não cantasse no estilo doentio de então. Solaus e madrigais. Um ideal de castelãs medievas, com umas rimas tão perfumadas de petrarquismo que nem elas tinham olfato capaz de sentir o insidioso azote filtrado nos bagos de mirra. Aqueles amores que viram penujar o buço do sr. dr. Pedro Penedo e o meu, se andassem cantados trinta anos depois fariam zangaraviar guitarras em fadinhos de uma melancolia sem gramática sobre os bancos gordurosos da tia Maria Camela – Deus lhe fale na alma!»

 As referências não param. Em «O General Carlos Ribeiro», depois de historiar a sua passagem como estudante de Química no Porto, escreve Camilo: «Em 1845 ao deixar o Porto e a Química para ir jurar bandeiras na boémia de Coimbra, despedi-me de Carlos Ribeiro».

E em «Cousas Leves e Pesadas», no capítulo «Dezassete anos depois», ao falar de «A Lira da Mocidade», jornal de poesias portuense. Aí recorda Jorge Artur de Oliveira Pimentel: «Conheci-o em Coimbra concluindo formatura em direito em 1846. Fez ato do 5.° ano vestido com a farda do batalhão académico».

Andrade, C.S. 1990. Coimbra na vida e na obra de Camilo. Coimbra, Coimbra Editora.

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por Rodrigues Costa às 10:11

Terça-feira, 17.10.17

Coimbra: Colégio de S. Agostinho 1

Colégio de Santo Agostinho ou da Sapiência, vulgarmente conhecido pela denominação de Colégio Novo. (Hoje Faculdade de Psicologia).

Referem os cronistas do mosteiro crúzio, que lá dentro do mosteiro, houve, desde a reforma joanina das escolas gerais fixadas em Coimbra, um Colégio universitário propriamente dito ... Decorridos porém alguns anos, vieram os cónegos regrantes a reconhecer as grandes vantagens que lhes resultariam de constituírem um Colégio distinto e separado do seu mosteiro.

... Adquirira o mosteiro em 1552, por escambo feito com a Câmara Municipal, um pedaço de chão à «porta Nova» (que mais tarde se denominou «porta de Santo Agostinho») com seu muro e barbacã. Ficava ao fundo da Couraça dos Apóstolos, encostado à muralha, no ângulo N-O de «almedina», em sítio de soberbas vistas sobre o arrabalde e os campos do Mondego. Foi este o local destinado ao «Colégio-Novo».

Mas a área desse terreno era bastante irregular, terminando a N-E num ângulo muito agudo. Escolheu-se para elaborar o projeto do edifício o célebre arquiteto italiano Filippo Terzi.

... Correu célere a construção. Decorridos escassos onze anos, a 25 de março de 1604, já ali se instalaram os cónegos regrantes, mestres e alunos universitários.

Colégio de S. Agostinho fachadas.jpgColégio de S.to Agostinho, fachadas ocidental e setentrional

 Eis um dos mais interessantes e grandiosos edifícios colegiais de Coimbra.

Colégio de S. Agostinho igreja.jpgColégio de S.to Agostinho, igreja

 Construção no estilo da renascença, é bem uma obra de arte italiana; especialmente o claustro e a igreja chamam e prendem as atenções – aquele pela euritmia e nobreza das linhas, esta por isso também e pela bela ornamentação das abóbadas.

Colégio de S. Agostinho claustro.jpgColégio de S.to Agostinho claustro

 Este Colégio tinha uma boa cerca, hoje bastante reduzida, que se estendia pela riba N da cidade, entre a muralha que a coroava, e a rua pública que acompanhava a quinta de Santa Cruz, a qual em baixo, no vale, se dilatava a N-E; confinava a E a cerca do Colégio da Sapiência com a cerca dos jesuítas.

... O Colégio da Sapiência comunicava com a respetiva cerca por um passadiço sobre o arco de Santo Agostinho ou porta Nova, e perfurava a parte inferior da contígua torre de defesa, ultimamente transformada em casa de habitação; e tinha também comunicação direta com o mosteiro de Santa Cruz, por um corredor subterrâneo abobadado e com escadas.

... em 1834... sucedeu a este edifício o mesmo que aos restantes: ficou abandonado, e exposto à voracidade da escória social.

... 15 de setembro de 1841 ... ordenou que fossem entregues à Santa Casa da Misericórdia, tanto o edifício deste Colégio, como a cerca anexa.

Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 257-261, do Vol. I

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por Rodrigues Costa às 12:02

Terça-feira, 08.08.17

Coimbra: Colégio de Jesus 2

Pertenceu aos «Padres da Companhia de Jesus» ou «jesuítas».

Fundado em 1542, este Colégio foi o primeiro que a Companhia teve em todo o mundo... Funcionou a princípio provisoriamente numa casa na... Couraça dos Apóstolos.

Por carta régia de D. João III, datada de 16 de Agosto de 1544 foi concedida aos colegiais deste instituto ... «todos os privilégios, liberdades, graças e franquezas ... de que usam ... os lentes e deputados e conselheiros da Universidade»

... A 14 de Abril de 1547 ... lançamento da primeira pedra, a obra do edifício definitivo, o maior e mais grandioso que jamais se ergueu em Coimbra.

...A planta destas construções tem a forma de um retângulo, medindo tanto o lado oriental como o ocidental 108 metros de extensão, e os lados meridional e setentrional 94 metros cada um.

Colégio de Jesus desenho.TIFColégio de Jesus

 ... Mais tarde construíram-se dois pequenos corpos de passadiços ou corredores, perpendiculares à fachada oriental, projetando-se para leste: um dava comunicação do Colégio de Jesus para o Real Colégio das Artes; o outro comunicava com um outro edifício fronteiro, onde estavam a cozinha, a dispensa e outras oficinas, sito aproximadamente onde hoje é o Laboratório Químico.

... A obra ia prosseguindo, embora um pouco lentamente... É preciso que se saiba que do antigo edifício pouco resta além do templo e de parte das paredes, ainda assim profundamente modificadas e enobrecidas.

... Foi este (o templo) a última parte do edifício a construir-se, pois corria já o ano de 1598 quando... colocou «ritu pontificali» a primeira pedra. Decorreram quarenta e um anos enquanto se foi construindo a grande nave com as suas capelas; ... logo este corpo se isolou, por um taipal ... levantou-se um altar provisório ... benzido na tarde de 31 de Dezembro de 1639.

... Continuaram a decorrer as obras durante mais de meio século, até se achar completo o transepto e capela-mor. Foi em 1698, a 31 de Julho, que se fez a inauguração do templo... havia passado um século desde a bênção e colocação da primeira pedra.

Mas estava então ainda longe o complemento das obras, que foram continuando, tanto no exterior como no interior, durante o 1.º quartel do século XVIII. A parte superior da fachada deve ter sido executada no princípio deste século; o douramento do retábulo do altar-mor concluiu-se em 1712, e os retábulos colaterais do transepto foram dourados em 1724.

... Pouco tempo gozaram os jesuítas de Coimbra a sua magnificentíssima igreja colegial, depois de concluída e perfeita.

Presos a 15 de Fevereiro de 1759... foi extinto o Colégio, e os respetivos edifícios ficaram abandonados durante treze anos.

... foi cedido ao Bispo e ao Cabido de Coimbra o templo ... para servir de catedral, com o seu claustro e com o corpo meridional do Colégio que lhe era contiguo, assim como grande parte do edifício que se estendia a ocidente da igreja; à Universidade, para instalação dos museus e mais estabelecimentos das Faculdades de Medicina e de Filosofia, foi concedido todo o resto do edifício.

O Hospital Real de Coimbra... Ficou instalado no ângulo NO do edifício.

Após a proclamação da Republica os serviços universitários ocuparam as partes do edifício que estavam em poder dos cónegos, com exclusão da igreja, torres dos sinos, claustro, sacristia e algumas dependências desta.

Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 190-196, do Vol. I

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por Rodrigues Costa às 10:10

Terça-feira, 28.02.17

Coimbra: Hospital real

O hospital de Coimbra, hospital de D. Manuel, hospital real, hospital novo, hospital d’el-rei, hospital geral, hospital público, hospital da Praça, hospital de Nossa Senhora da Conceição ou hospital da Conceição, aparece fundado, ou pelo menos profundamente reformado, por el-rei D. Manuel, em 1508 ou poucos anos antes, na praça de S. Bartolomeu, hoje Praça do Comércio, num edifício que este monarca mandou construir à sua custa ... Faz esquina com a rua das Azeiteiras, e compreende aquele grupo de casas até ao largo do Romal.

Antigo Hospital Real 02.jpgHospital Real

... o primeiro «regimento» deste hospital, de 22 de Outubro de 1508, onde se vê a expressa declaração de D. Manuel, de que tinha mandado construir o edifício à sua custa; e que o havia dotado com as rendas de pequenos hospitais existentes na cidade, e com cem mil réis da sua fazenda.

... o primeiro hospital da cidade ou primeiro do estado em Coimbra (excluindo as gafarias) teria sido a pequena albergaria dos «Miléos», que já existia muito antes de 1468.(1)

... o «Conimbricense» ... tinha publicado uma relação dos hospitais e albergarias incorporados no hospital real ... em 26 de Dezembro de 1866 e 2 de Janeiro de 1867. É a seguinte: «Hospital de Santa isabel da Hungria (paços de Santa Clara); de Nossa Senhora da Vitória (rua do Corpo de Deus); dos Mirléos (defronte da porta principal da igreja de S. Pedro, junto ao paço das Alcáçovas); de S. Lourenço (próximo da capela do Senhor do Arnado); de S. Marcos (ao cimo do beco de S. Marcos); de Santa Maria de S. Bartolomeu (na freguesia de S. bartolomeu); de Montarroio (em Montarroio); albergarias e hospitais de S. Gião (rua das Azeiteiras); de Santa Maria da Vera Cruz (proximo da igreja de S. João); de S. Cristóvaão (perrto da igreja de S. Cristovaão=; de S.Nicolau; de Santa Maria da Graça; da Mercê; e de Santa Luzia.»

... apesar do seu carater de obra real, nem por isso tomou grande vulto, porque foi aberto e conservou-se por muitos anos com 17 camas somente, 12 para homens e 5 para mulheres; não entrando nesse número de camas para alojamento dos transeuntes ou da albergaria propriamente dita.

... Supondo que o hospital da Conceição ou primitivo hospital de D. Manuel fora fundado na praça de S. Bartolomeu em 1508, tudo leva a crer que, sem interrupção, ali se conservasse até à sua mudança em 19 de Março de 1779, para o edifício dos Jesuítas, no angulo N.O., com entrada pela Couraça dos Apóstolos.

Simões, A.A.C. 1882. Dos Hospitaes da Universidade de Coimbra. Coimbra. Imprensa da Universidade, pg. 16-20, 73-74

 

 

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por Rodrigues Costa às 21:05

Quarta-feira, 09.03.16

Coimbra: Leopoldo Battistini um pintor italiano que aqui ensinou

A insuficiência de quadros qualificados no país, que respondessem às solicitações, face ao alargamento inusitado de escolas de desenho industrial … a partir de 1888 … está na origem de contratação de professores estrangeiros para lecionar naquelas escolas.
… A Legação Portuguesa em Roma fez publicar o anúncio … Pelo relatório final apresentado pelo júri romano pode concluir-se que as respostas foram imediatas … Cerca de um ano depois, procedia o governo português à contratação de … Leopoldo Battistini … celebração do contrato por cinco anos com o governo português, em 1 de Julho de 1889, para lecionar na Escola Industrial Brotero … À data da vinda para o nosso país, Leopoldo Battistini contava vinte e quatro anos ... Encontra-se em Coimbra na primeira reunião do conselho escolar que teve lugar na Escola Industrial Brotero no dia 22 de Novembro de 1889. Participaram na mesma reunião outros estrangeiros, oriundos da Áustria (Emil Jock e Hans Dickel professores das cadeiras de desenho de máquinas e física e mecânica, o primeiro e de desenho arquitetónico, o segundo) e França (Charles Lepierre … química industrial) … Permaneceriam na Escola de Coimbra … Battistini até Setembro de 1903 … e Lepierre até ao ano de 1911.

… Maria de Portugal … quando pretende encontrar uma justificação … decisão do jovem professor em prolongar a sua estadia, contra todas as previsões, em Portugal – em Coimbra, mais corretamente – introduz um indicador de ordem subjetiva … o artista não contou com o “sortilégio que a terra portuguesa exerce em todos” … Consta apenas que … foi vítima pactuante do sortílego efeito a que não conseguiu ou não quis oferecer resistência e que se deixou embalar pelas saudosas cores da terra e do céu coimbrão.

… Joaquim Leitão quando fala do encontro de Leopoldo Battistini com a cidade mondeguina … fornece duas pistas significativas. A primeira quando relata que … aceitara ir ensinar ali porque lhe tinham dito que a cidade universitária era a Florença portuguesa e a segunda, ao dizer que Quim Martins e Augusto Gonçalves tinham ido mostrar ao pintor a cidade do Mondego, noite fechada.
… O golpe desferido sobre as suas ilusões, que Battistini alimentara … foi tão cruel quanto eficaz porque “nunca até à morte, se varreu do espirito do ilustre italiano” … o choque … derivara do “atraso material da cidade” que nesse tempo “não tinha sequer iluminação que merecesse tal nome” … a memória que o italiano reteve de Coimbra associava-se às imagens da escuridão, de falta de higiene e de rusticidade – denunciadas pelos gatos vadios – e à bizarria dos intelectuais, enfiados em antros em que ele não descortinava qualquer conforto ou sentido estético, a discutir assuntos que lhe escapavam.
… Caracterizadas pela irreverência sempre, as festas estudantis “além de interferirem em linhas e setores de sociabilidade geral, geravam formas peculiares e relativamente autónomas de sociabilidade a vários níveis”: os bailes, as récitas, as baladas, as serenatas e os passeios fluviais, além da festa exclusiva dos quintanistas de Medicina e as intervenções da Academia nos centenários de inspiração cívica e patriótica, que ficaram memoráveis … A sensibilidade de Leopoldo Battistini não lhe conseguiu ficar indiferente à magia telúrica das manifestações públicas aqui sumariadas plenas de força anímica, de pujança e de rusticidade de um povo que ritma o pulsar da vida pelos ciclos da natureza … A vida privada de Battistini pautar-se-á, em breve, pela dos citadinos de Coimbra … Sabe-se que habitou uma casa na Couraça dos Apóstolos … Posteriormente deslocou-se para a rua da Alegria.

Lázaro, A. 2002. Leopoldo Battistini: Realidade e Utopia. Influência de Coimbra no percurso estético e artístico do pintor italiano em Portugal (1889-1936). Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 71 a 75, 91 a 101

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por Rodrigues Costa às 09:12

Quinta-feira, 26.11.15

Coimbra, Mosteiro de Santa Cruz e a demolição das suas dependências 2

Algum tempo depois da extinção do mosteiro, ocorrida em 1834, resolveu a Câmara, em 13 de Junho de 1840, que as vendedeiras de cereais de Sansão passassem para o então denominado Pátio de Santa Cruz, situado no local que é hoje o início da Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, entre a atual fachada lateral dos Paços do Concelho e o edifício fronteiro, onde se encontra instalada a P.S.P. Este último estava ligado à esquina do mosteiro, que a sede da edilidade veio substituir, por um edifício que mais tarde foi demolido, sendo a entrada para o pátio feita através de um arco nele existente … Não tardaria muito que o edifício de ligação fosse demolido, facto ocorrido em 1856 … nova alteração surgiu, com a mudança do mercado dos cereais para a antiga horta do mosteiro, pertença da Câmara.
… A horta de Santa Cruz estava longe de tudo (não nos esqueçamos que na época não existiam a atual Avenida Sá da Bandeira, a Praça da República e todas as ruas que nela convergem, constituindo todas essas artérias a antiga Quinta de Santa Cruz, então propriedade particular); o Bairro de Montarroio era então um pequeno aglomerado; o acesso à Alta era feito por um apertado caminho que ia dar à Rua do Colégio Novo. E a própria comunicação com a Baixa fazia-se por uma estreita ligação, que só mais tarde viria a ser alargada com a demolição do lanço norte do Claustro da Manga e do arco que o ligava ao edifício que é hoje a Escola Jaime Cortesão.
… No ano de 1882, é apresentada na sessão de 23 de Agosto uma proposta do Barão de Matosinhos, em que este solicita a concessão de um ascensor para acesso à Alta, construído a expensas suas. O referido ascensor, que facilitaria o acesso do público, ligaria o local junto à Fonte Nova até a Couraça dos Apóstolos. A ideia de então não iria avante, mas veio a ser concretizada nos nossos dias, quase 120 anos depois, com a construção do atual elevador.
… Os acessos da Baixa são em 1888 facilitados com o alargamento, já atrás referido, da então denominada Rua do Mercado, com a demolição das construções que fechavam pelo lado norte o Claustro da Manga, e do chamado Arco do Correio, que lhe ficava adossado, e que permitiria mostrar o Jardim, tal como hoje acontece.
…Procedera-se, entretanto, no ano de 1924, à mudança da Fonte Nova para junto do mercado, encostada ao muro da rua que tem o seu nome. Até então, encontrava-se no início da Avenida Sá da Bandeira, no local onde seria construído o prédio em que viria a funcionar o posto das Caixas de Previdência.
… Era então presidente da Câmara o Dr. Mendes Silva, que entre 1984 e 1986 viria a proceder a significativas alterações na zona envolvente do mercado. Foi o caso da colocação de painéis de azulejo, com reproduções de monumentos da cidade, da autoria de Amílcar Martins, no muro da cerca da Escola Jaime Cortesão, da construção duma escadaria no local em que se erguera a Torre de Santa Cruz, para onde foi transferida a Fonte Nova, o ajardinamento do espaço em frente do pavilhão do peixe.

Andrade, C.S. 2001. Mercado D. Pedro V. Uma História com História Texto publicado em suplemento especial no Jornal de Coimbra de 14 de Novembro de 2001

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por Rodrigues Costa às 10:09


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