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A' Cerca de Coimbra


Quarta-feira, 17.05.17

Coimbra: a Ermida do Espirito Santo que já não há

A norte da igreja de Santo António dos Olivais, cerca dum quilómetro de distância, por caminho íngreme e malandamoso, deparava-se-nos na depressão dum ameno vale, meio escondida por árvores frondosas e arbustos copados, entre prados verdejantes e matizados de flores na primavera, em situação calma, silenciosa, inundada de paz e de poesia, uma ermida simples e pobre, mas de portal brasonado, onde se viam, a par, o escudo das quinas e castelos dos Reis de Portugal e do Algarve, e o de ouro dos Meneses, indicando que interviera na construção ou na reparação desta capela el-Rei D. Fernando e sua mulher a Rainha D. Leonor Teles de Meneses.

O interior não desdizia do exterior: a mesma simplicidade, a mesma atmosfera de paz e sossego, o mesmo ambiente de poesia. Tinha a capela por Titular a terceira Pessoa da Trindade Santíssima, o divino Espírito Paracleto.

... Perdiam-se da memória dos homens as origens deste santuário. Sabia-se apenas, por tradição, que fora muito protegido e amparado pela piedade dos nossos primeiros monarcas; e o brasão de armas do último Rei da primeira dinastia sela e autentica essa tradição oral, pela primeira vez registada por Coelho Gasco na “Conquista e Antiguidade de Coimbra”.

... O Cabido da Catedral também vinha anualmente a esta capelinha fazer a sua romaria... Na segunda-feira do Pentecostes, depois de cantar na Sé a Hora de Prima, saía incorporado processionalmente todo o pessoal - Dignidades, Cónegos, Beneficiados, Capelães-cantores, meninos do coro, etc., e, com a cruz alçada à frente, cantando a Ladainha de Todos-os-Santos, alguns anos acompanhado do próprio Bispo-Conde, seguido da turbamulta de fiéis de todas as categorias sociais, lá ia em direção ao castelo, saindo da cidade por essa porta... Ao avistarem, finalmente, a capelinha do Espírito Santo, suspendiam o canto, e recitado em silêncio o Pater noster e a Ave-maria

... Deixou o Cabido de cumprir esta obrigação aí por volta de 1834; mas depois, quando era Prelado de Coimbra o Arcebispo Bispo-Conde Dom Manuel Bento Rodrigues (1851-1858)... fez ele ressuscitar também a procissão antiga e devotíssima da sua Sé à capela do Espírito Santo, que daí em diante voltou a realizar-se, embora com o prístino brilho e entusiasmo bastante apagados. Entretanto ainda se fez a procissão, ininterruptamente, através de toda a década de 60, vindo a extinguir-se de inanição, nesta apagada e vil tristeza, ao principiar a de 70; ignoro o ano preciso.

Há poucos anos foi a ermida com o seu quintal vendida, e suponho que demolida.

O que se lucrou com isto? Alguns míseros escudos, que entraram nos cofres do Estado, e não conseguiram diminuir o deficit, em troca dum vandalismo a mais, bem escusado, na já longa história das devastações que têm assolado o país!

Os brasões reais, que encimavam a porta da ermida, esses foram caritativamente recolhidos no Museu de Machado de Castro.

Vasconcelos, A. Ermida do Espirito Santo. In: Correio de Coimbra, n.º 510, Coimbra, 1932.03.19.

 

Nota: Percorri a Calçada do Espirito Santo, procurando o que eventualmente restaria da Ermida do Espirito Santo. Ao fundo vislumbrei um pequeno mas belo e frondoso bosque e o que me pareceu uma antiga casa agrícola. Falei com as poucas Pessoas que encontrei e bati a duas portas ... nem a memória da capela já resta!!

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por Rodrigues Costa às 23:13

Quarta-feira, 03.06.15

Coimbra árabe, quando Emínio virou Colimbria

Por esse tempo passou a cidade a denominar-se Conímbriga e Colímbria, em vez de Emínio, nome este que pela última vez figura num documento de 883. No cronicão conhecido por «Albeldense» lê-se que Afonso III, cujo reinado parece ter começado no ano de 866, tomou Conímbriga aos inimigos, armou-a e povoou-a posteriormente com galegos (cristãos de entre Douro e Mondego) como povoou outras cidades e entre elas a de Emínio.
O reinado de Afonso III (866-910) (das Astúrias e posteriormente de Leão) foi mais notável do que quantos o tinham precedido na monarquia fundada por Pelágio. Em guerra durante muitos anos, com os infiéis, chegou a conquistar-lhes Lamego, Viseu, Coimbra e outras terras, cuja posse não pôde sustentar.

«Da população cristã de Coimbra e seu distrito na época que vai da conquista de Muça (714-716) à reconquista da cidade por Afonso III das Astúrias, em 878, pouco se sabe ou nada. A paz de Muça foi, como em Santarém, generosa. Os cristãos, apesar de submetidos pela força das armas, continuaram na posse dos seus bens, e até, mais do que isso, foram dispensados do pagamento de contribuição predial, comum a mouros e nazarenos. Em face de tais privilégios, é de aceitar que tenha ficado na região grande número deles» Vasconcelos, J.L. 1958. Etnografia Portuguesa. Apud Loureiro, J.P. Coimbra no Passado.

Loureiro, J.P. 1964. Coimbra no Passado, Volume I. Coimbra, Edição da Câmara Municipal, pg. 26 e 27

 

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por Rodrigues Costa às 11:06

Terça-feira, 02.06.15

Coimbra árabe, conquistas e reconquistas

… Abd al-Aziz empreendeu novas campanhas de ocupação de território da Lusitânia. Nomeadamente em Évora, Santarém e Coimbra, no ano de 714.

Mattoso, J. A época sueva e visigótica. In Mattoso, J. (Coordenador) 1997. História de Portugal. 1 Antes de Portugal, pg. 293

 

No ano de 716 já o domínio muçulmano, iniciado ao sul da península em 711, se estendera a Lisboa, Emínio, Viseu e outras terras, domínio que na região compreendida entre o Douro e o Mondego havia de prolongar-se até depois do meado do século XI. Daquela data em diante, Emínio ficou ininterruptamente sob o domínio agareno até à primeira reconquista cristã, ocorrida nos anos de 866 ou 878.
Em documentos que vêm desde o ano de 850, encontram-se referências a vilas e lugares do território de Coimbra, no período que precedeu a sua definitiva reconquista cristã, no ano de 1064.
No ano de 866, segundo alguns historiadores ou no de 878, segundo outros, Afonso III das Astúrias reconquistou a cidade de Emínio aos muçulmanos, a qual ficou em poder dos cristãos até que, em 981 ou 987, a região de que era cabeça regressou ao poder ismaelita.

Loureiro, J.P. 1964. Coimbra no Passado, Volume I. Coimbra, Edição da Câmara Municipal, pg. 26

 

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por Rodrigues Costa às 11:44


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