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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 08.09.16

Coimbra: o tempo de gestação de Portugal 2

Na verdade, algo já deveria estar mal entre o rei (D. Afonso VI de Leão) e o genro Raimundo, pelo menos em 1095, pois nesse ano o rei desloca-se em pessoa aos confins meridionais do condado, onde, quer em Lisboa e Santarém, quer em Coimbra, o encontramos a gerir o território de forma direta, ultrapassando a autoridade e a jurisdição que ele mesmo concedera a Raimundo para esse efeito. Pouco depois, o rei desmembrava a parte meridional do condado que dera a Raimundo em 1090 e depois em 1094, retirando-lhe a parte que ficava entre o Minho e o Tejo e recriando desse modo as fronteiras dos anteriores condados portucalense e conimbricense dos séculos IX e X, que agora entregava a Henrique, com a cedência hereditária do domínio sobre as regiões dos antigos condados portucalense e conimbricense, o que lhe deve ter dado largos poderes senhoriais que geriu ao modo de qualquer senhor «feudal»

... À distância a que estamos, é possível entender que Teresa não soube jogar as suas redes de aliança com a mesma habilidade do marido, e acabou por fazer perigar uma considerável parte do que Henrique conseguira assegurar para o Condado Portucalense como a posse de Coimbra e Porto a Braga, a independência perante a Galiza, a guerra de fronteira com os muçulmanos e, sobretudo, o apoio dos nobres portucalenses ... Ausente do condado na maioria do tempo que decorreu entre 1112 e 1116, encontramo-la envolvida nas questões sucessórias travadas na Galiza ... sofrendo duas investidas da irmã na fronteira galega, aliando-se com Pedro Froilaz no cerco a Urraca em Sabroso em 1116 ... Estas tréguas, que durariam três anos, obrigaram Teresa a suspender as suas ambições e a regressar ao condado ... a debilidade de que padeciam as forças militares portugueses numa altura em que os almorávidas redobravam em agressividade e força e em que Coimbra sofreria um dos mais perigosos cercos desde a conquista de D. Fernando I.

... Desde 1117, Teresa começou a usar o título de rainha e continuaria a sua política pró-galega ... nomeação de Fernão Peres de Trava como governador de Coimbra e Porto e da inoportunidade da maioria das ocasiões em que decidiu hostilizar a irmã Urraca ... resultando a maioria das suas investidas em perdas de território.

... A necessidade de afastar Teresa do Condado Portucalense para garantir a estabilidade do mesmo e até a pacificação na Galiza e em Leão deveria parecer cada vez mais evidente ... Teresa governou como senhora do Condado Portucalense desde o ano da morte de Henrique até ao seu afastamento forçado, em 1128, quando uma aliança entre os nobres destacados do seu condado, os eclesiásticos mais relevantes, o seu único filho de Henrique, Afonso Henriques e, muito provavelmente, o então já rei de Leão, Afonso VII, apoiaram uma ação militar que derrotaria a condessa-rainha e a afastaria do poder.

Branco, M.J. Antes da independência de Portugal. In Portugal e Espanha. Amores e desamores. Volume I. Coordenação de Matos, A.T., Costa, J.P.O. e Carneiro, R. 2015. Lisboa. Círculo de Leitores. Pg. 43 e 44, 54 a 56, 61 e 62

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por Rodrigues Costa às 09:09

Sábado, 22.08.15

Coimbra no caminho que levou à independência de Portugal 1

Efetivamente, à sua morte (de Sesnando, alvazil de Coimbra), ocorrida em 25 de Agosto de 1091, suceder-lhe-ia seu genro, Martim Moniz, casado com sua filha Elvira, o que parece ilustrar uma apetência pela hereditarização dos seus domínios. No seio de uma nova linhagem, encabeçada pelo carismático «alvazil»; e talvez que o prestígio da sua personalidade tivesse contribuído para retardar a integração de Coimbra na lógica comum da «Reconquista». Mas o monarca não tardaria atalhar caminho a essa «singularidade» e os factos parecem atestar que, desde cedo, o poder de Martim Moniz se terá visto minado por um conjunto de circunstâncias que deverão ser responsáveis, a um tempo, pela súbita aceitação de D. Crescónio, sagrado bispo … em 1092 … e pela deslocação em pessoa do Imperador (D. Afonso VI, de Leão), acompanhado de D. Raimundo, em 1093, estada durante a qual, com evidente sentido político, confirma as regalias outorgadas em Toledo, por influência de Sesnando, em 1085, aos moradores da cidade. E em 1094 já esta e todo o seu território surgiriam integradas no condado da Galiza … atestando-se nesse ano a residência de Raimundo em Coimbra, em companhia de sua mulher, a «Rainha» D. Urraca. Pelos finais de 1095, contudo, ou já em 96 e face ao recrudescimento da ameaça almorávida, ver-se-iam estes, por seu turno, despojados da região de Entre Minho e Tejo, em benefício de seu primo Henrique, conde de «Portucale» e de Coimbra. E é este e D. Teresa (ou apenas esta) que agora se surpreendem habitando a Alcáçova onde, em 1109, nasceria talvez o Infante Afonso Henriques.

De facto, como notaria Pradalié, a formação de Portugal passava indeclinavelmente pela eliminação daquilo que fazia de Coimbra um mundo à parte e pela sua assimilação ao processo ideológico da «Reconquista cultural»: “le prince Alphonse n’aurait jamais eu l’appui de l’Eglise – on sait quel rôle joua Rome dans la création d’un royaume portugais – si Coimbre avait été encore, vers 1130-1140, un foyer mozarabe. L’intégration forcée de l’église de Coimbre dans l’église romaine apparaît donc comme un étape préliminaire dans la formation de Portugal, et l’action de l’évêque Gonçalo annonce et prépare celle de la papauté“.
Coimbra convertera-se, aliás – ou estaria ponto de converter-se (e em boa parte por ação de Sesnando) -, na maior cidade de então no território «português», ao mesmo tempo que o repovoamento firmara as bases de uma firme tradição cultural (de sentido moçárabe, evidentemente), como centro pedagógico e de atração e irradiação de códices e documentos, tanto da Península cristã como da muçulmana, circunstâncias que, aliadas à sua nova centralidade, no quadro da «Reconquista», como no da política secessionista dinamizada pelo Conde D. Henrique e prosseguida pelo Infante Afonso Henriques, justificariam a sua eleição como «capital», por parte deste e o facto de, nas crónicas muçulmanas, «Ibn ar-Rink» ser designado por «senhor de Coimbra».

Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg. 263 a 265.

 

 

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por Rodrigues Costa às 19:59


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