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Como já temos referido, o Arquivo da Universidade de Coimbra integra exemplares que são verdadeiras preciosidades, as quais vai revelando, periodicamente, no seu site.
Hoje recuperamos esta magnifica encadernação mudéjar cuja história é a que se segue.
AUC-IV-1.ªE-7-5-13 [Séc. XVI?]
AUC-IV-1.ªE-7-5-13 [Séc. XVI?]. Pormenor 1
AUC-IV-1.ªE-7-5-13 [Séc. XVI?]. Pormenor 2
Esta encadernação mudéjar, em pergaminho, foi adaptada ao Livro de Apresentação de Colegiaturas e familiaturas do Pontifício e Real Colégio de São Pedro (1623-1790).
Exemplar único no AUC é, certamente, uma tipologia de encadernação rara em outros arquivos do país. Terá sido adquirida, pelo referido Colégio, a comerciantes livreiros de Coimbra que a trouxeram, decerto, de Espanha, onde existem inúmeros exemplares destas encadernações.
Anteriormente, pertenceu a uma obra que tinha por título, que ainda pode ser lido, no interior da badana, Manual 1591. Também a dimensão do miolo do volume atual, ligeiramente superior à da encadernação, confirma que foi feito esse reaproveitamento.
As presilhas de fecho desta encadernação em envelope, com badana, estão completas, mas já são omissos os botões de fecho, geralmente feitos com uma tira de pergaminho enrolada, restando apenas o vestígio dos mesmos.
AUC. O documento do mês. Acedido em https://www.uc.pt/anossauc/centrodoconhecimento/encadernacao/
Foi fundado em 1545 pelo canonista Dr. Rui Lopes de Carvalho... Era destinado pelo fundador a 12 clérigos pobres, que viessem estudar teologia ou cânones à Universidade.Principiou a construção do edifício em 1543 ao cabo da Rua da Sofia, entrando os primeiros estudantes em 1545, depois de confirmada a instituição por breve apostólico de 1 de Agosto deste ano. Fez-se a 29 de Junho de 1548 a sua inauguração solene, que ficou comemorada numa inscrição, aberta na base de um belo busto do patrono S. Pedro, que é guardado pela Faculdade de Letras.
Em 1572 sofreu o Colégio profunda remodelação, sendo então transferido para o novo edifício, que D. Sebastião lhe doara junto do paço real, onde se havia instalado a Universidade, passando a ser fundamentalmente um Colégio para doutores ou licenciados, que ali estagiavam a preparar-se para o professorado, etc.
Colégio Pontifício e Real de S. Pedro
Construiu-se-lhe um edifício próprio, que limita por Leste o pátio universitário, desde a porta principal de ingresso, atualmente chamada «porta-férrea», até topar na Rua da Trindade. Ficou a entrada para o Colégio ao lado da «porta-férrea», adicionando-se-lhe depois ali o majestoso portal das cariátides, que, há menos de setenta anos, foi mudado para a fachada ocidental do edifício; mas o sítio, onde primitivamente estivera este ostentoso portal, uma simples porta de serviço. O edifício abandonado pelo Colégio na Rua da Sofia foi aproveitado para a instalação do... Colégio de S. Pedro dos Franciscanos Calçados.
... A biblioteca do Colégio de S. Pedro era importante. Tinha abundância de livros clássicos; nela se encontravam não só bons livros de cada uma das ciências professadas nas Faculdades universitárias, mas também de cultura geral, de história, de literatura, de humanidades – cerca de 8.000 volumes, entre os quais espécies bibliográficas preciosas e alguns manuscritos.
... Extinto o Colégio de S. Pedro por decreto de 16 de Julho de 1834, foi o seu edifício entregue à Universidade... o decreto de 10 de Maio de 1855 ordena ... O edifício do extinto Colégio de S. Pedro... fica ... para a acomodação da Comitiva das Pessoas Reais, quando ali forem pousar ou residir.
... Criada de novo na Universidade de Coimbra uma Faculdade de Letras, na reforma universitária de 1911... foi-lhe para este efeito designado o andar nobre.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg.198-206, do Vol. I
Breve explicação
Com a presente é iniciada uma sequência de 28 entradas dedicadas aos Colégios Universitários de Coimbra.
Este conjunto de entradas têm como principal fonte um muito interessante texto sobre o tema do Doutor António de Vasconcelos, o qual é parte do seu livro Escritos Vários.
Os Colégios são apresentados na ordem definida por aquele Professor, a qual respeita a sequência cronológica do ato fundador de cada colégio.
Transferida para Coimbra a Universidade portuguesa em 1537, logo em 1539 vem o primeiro Colégio colocar-se à sua sombra, seguido doutros, que sucessivamente se vão fundando e anexando, construindo-se edifícios próprios, sempre sob a proteção e, geralmente com subsídios e amparo do grande Rei-mecenas D. João III
... em 1557, já em volta do gigantesco tronco da florentíssima e frutífera Universidade de Coimbra, vegetavam, exuberantes de vida, como vigorosas vergônteas, à roda de feracíssima oliveira, nada menos de 14 colégios universitários!
O número foi depois crescendo sucessivamente, de forma que, ao findar o século XVI já eram 16, quando terminou o século XVII contavam-se 20, e no século XVIII atingiu o número de 23; aqui parou.
Planta com a localização dos Colégios Universitários de Coimbra e respetiva legenda
Não eram todos os Colégios do mesmo tipo; se bem os considerarmos, temos de os agrupar em três classes ou tipos distintos. Vejamos:
Entre eles havia 1 Colégio inconfundível, que era o principal, e parecia dever estar solidamente unido à Universidade, como parte essencial e indispensável. Era o Real Colégio das Artes ... onde se ministrava o ensino das línguas e literaturas, da filosofia e humanidades, o que constituía a 5.ª das Faculdades académicas, a Faculdade das Artes. Por isso se dava a este Colégio a denominação de «Escolas menores», em contraposição às «Escolas maiores», onde residiam as 4 faculdades principais.
... Era pois singular este tipo de Colégio universitário.
... Ao segundo tipo pertenciam 2 colégios – o de S. Pedro e o de S. Paulo ... Ali faziam os colegiais a sua preparação e tirocínio para o professorado universitário.
Trajos dos colegiais dos dois Colégios Reais, de S. Pedro, e de S. Paulo
... Havia um terceiro tipo colegial, que era o mais numeroso. Colégios de alunos ou leigos, que neles viviam agremiados, para seguirem os estudos universitários, sustentados pelas rendas das respetivas instituições, rendas estas devidas quer à munificência régia, quer à caridade doutros benfeitores, quer a consignações feitas por entidades religiosas interessadas.
Alguns deste Colégios se fundaram primitivamente para abrigar e sustentar rapazes seculares pobres, geralmente clérigos.
... Outros foram desde o princípio fundados pelas Ordens monásticas, para ilustração e ensino daqueles de seus frades, para isso escolhidos.
... Também as Ordens militares tiveram Colégios universitários para os seus freires estudantes.
... Os edifícios dos Colégios das Ordens religiosas e militares não eram habitados exclusivamente pelos frades e pelos freires alunos; ali residiam também, com os estudantes, os lentes das Ordens respetivas. Lá viviam ainda os frades leigos e serviçais necessários, constituindo cada Colégio uma família numerosa.
... À frente de cada um destes Colégios estava um prelado, que em geral se apelidava Reitor, em linguagem académica; excetuava-se o do Colégio das Artes, que era tratado por Principal.
Todo o seu pessoal: prelado, lentes, estudantes, familiares e serviçais, eram considerados pessoas da Universidade, para o efeito de gozarem os respetivos privilégios, foro e isenções.
Cada Colégio tinha os seus estatutos ou regulamentos privativos ou especiais, mas estavam sujeitos às numerosas prescrições dos «Estatutos da Universidade».
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 161-165, do Vol. I
Colégio de S. Pedro
Em frente (ao Colégio de S. Tomás, hoje Palácio da Justiça) situava-se o antigo «Colégio de S. Pedro», fundado por D. Frei Rodrigo de Carvalho em 1540, para 12 clérigos pobres da diocese de Miranda do Douro que estudassem. O templo foi sagrado em 1548, mas os edifícios que se conservam já não são esses … o edifício foi entregue em 1584 aos frades calçados da Terceira Ordem Regular de S. Francisco, vulgarmente conhecidos por «Borras», devido à cor do hábito. A igreja atual foi começada pouco depois de 1621 e a zona residencial profundamente remodelada … Encontra-se hoje restaurada, mas nada mantém do antigo recheio, contendo alguns retábulos de talha de diversas épocas.
Colégio da Graça
… O Colégio de Nossa Senhora da Graça, fundado e dotado por D. João III em 1543. Pertencia à ordem dos Ermitas Calçados de Santo Agostinho, mais conhecidos por «gracianos». Após a extinção das ordens religiosas foi a igreja entregue à Irmandade do Senhor do Passos e a parte colegial ao Exército. A frontaria da zona habitacional do colégio é muito interessante, por manter ainda o conjunto alternado de janelas grandes e pequenas. A grande correspondia à sala de estudo e a pequena à alcova … Interessante é também o átrio da portaria de dois arcos e vão retangular intermédio, com alizar de azulejos do tipo «camélia». O claustro, da época da fundação, é exemplar curioso, por ter sido um dos primeiros ensaios das formas clássicas da Renascença.
A igreja ficou pronta em 1555. Tem uma sóbria fachada onde sobressai o portal de linhas clássicas … uma única nave abobadada e capelas nos flancos, que comunicam entre si. Nestas se encontram retábulos da época rococó, cobertos por dosséis a imitar tecidos. O retábulo-mor é um excelente exemplar maneirista, com armação arquitetónica de talha dourada a enquadrar seis painéis, alusivos à Vida da Virgem datados de 1644 e de autoria de Baltazar Gomes Figueira …
Um das principais curiosidades desta igreja é o conjunto de pedras tumulares e brasonadas que se encontram nas capelas laterais … A sacristia data do final do século XVII e contém um interessante retábulo de pedra.
Borges, N. C., 1987. Coimbra e Região. Lisboa, Editorial Presença. Pg. 80 e 81
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