Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Primeira de duas entradas, sobre um texto subscrito por um dos Professores que marcaram a da minha vida e de quem me orgulho de ter sido aluno: Jorge Paiva.
Existentes desde a antiguidade, só nos tempos modernos os Jardins Botânicos adquirem real interesse e inegável importância em vários domínios.
… Lugar edénico e pulmão da cidade, o Jardim Botânico de Coimbra é mais solicitado, mais apreciado e mais conhecido no estrangeiro do que no nosso país e até na própria cidade do Mondego.
… O primeiro Jardim Botânico parece ter sido o de M. Sylvaticus em Salerno, no século XIV, tendo-lhe seguido o Jardim Botânico e Médico de Veneza (1333). Os Jardins Botânicos modernos originaram-se dos jardins particulares dos «herbalistas».
…. Inicialmente os Jardins Botânicos foram criados com o intuito de apoiar a Medicina.
…. O Instituto Botânico da Universidade de Coimbra tem a sua origem em 1772 no gabinete de História Natural, criado pelos Estatutos Pombalinos da Universidade de Coimbra, os quais estabeleceram também um Jardim Botânico, anexo à Universidade.
O primeiro plano para o Jardim Botânico de Coimbra que se conhece data de 1731, foi traçado por Jacob de Castro Sarmento, baseado no Chelsea Physic Garden de Londres e por ele oferecido ao então reitor reformador da Universidade de Coimbra.
Depois do Reitor (Francisco de Lemos) ter escolhido o local para o Jardim (parte da Quinta do Colégio de S. Bento), em 1772, o Marquês de Pombal enviou a Coimbra, em 1773 o engenheiro e tenente-coronel William Elsden, para que, conjuntamente com os Professores de História Natural Domingos Vandelli e Dalla-Bella e o Reitor, traçarem o plano do Jardim.
Aqueles Professores italianos e William Elsden não seguiram o projeto do Dr. Jacob Sarmento por o considerarem muito modesto. O plano que delinearam era de tal modo grandioso e dispendioso que foi completamente rejeitado pelo Marquês (5 de outubro de 1773).
… Os trabalhos começaram então segundo planos mais modestos, tendo o Marquês enviado a Coimbra (1774) o jardineiro Julio Mattiazi, do Real Jardim da Ajuda, responsável pela cultura das plantas enviadas. por via marítima, da Ajuda para Coimbra. acompanhadas pelo que seria o primeiro jardineiro do Jardim Botânico do Coimbra, João Rodrigues Vilar.
A parte botânica do Jardim foi primeiramente orientada por Domingos Vandelli, a que se seguiu, a partir de 1791, Félix de Avelar Brotero, o qual passou a lecionar a cadeira de Botânica e Agricultura, que, nessa data, foi separada da restante História Natural (Mineralogia e Zoologia).
Domingos Vandelli. magem acedida em: https://www.bing.com/images/search?form=IARRTH&q=domenico+vandelli&first=1
Felix de Avelar Brotero Imagem acedida em: https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A9lix_de_Avelar_Brotero#/media/Ficheiro:F%C3%A9lix_de_Avelar_Brotero01.jpg
A primeira parte do Jardim que se constituiu é a que ainda hoje é conhecida por «Quadrado Grande».
Quadrado Grande do Jardim com fontenário ao centro. Op. cit., pg. 38
Os trabalhos do Jardim prosseguiram através dos séculos XIX e XX.
Jardim Botânico, em 1877. Col. RA
Apresentando o traçado atual apenas muito recentemente, com as remodelações efetuadas pela Comissão Administrativa do Plano de Obras da Cidade Universitária de Coimbra, sob a orientação do então Diretor do Jardim Prof. Dr. Abílio Fernandes.
Paiva, J.A.R. Jardins Botânicos. Sua origem e importância. In: Munda, Revista do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, n.º 2 novembro de 1981, pg.35 a 43.
Terramoto de 1755 em Coimbra
Informações dos párocos das diversas regiões do país relativas às consequências do terramoto de 1755 [guardados em PT/Torre do Tombo/Ministério do Reino /Negócios Eclesiásticos).
As respostas apresentam informações relativas a localidades e freguesias das regiões de Aveiro, Bragança, Coimbra, Évora, Guarda, Leiria, Portalegre, Santarém, Vila Real e Viseu, em resposta a interrogatórios ordenados pelo rei, solicitados aos bispos que por sua vez os solicitam aos párocos.
Dão conta do que foi sentido antes, durante e após o terramoto, a duração do mesmo, as consequências nas pessoas, e em todo o tipo de construções.
No relato de Coimbra referem-se os danos ocorridos na cidade, nomeadamente
no Mosteiro de Santa Cruz, na Torre dos Sinos.
Sinal utilizado para referir o Mosteiro de Santa Cruz em textos escritos do século XVI
Transcrição paleográfica (parcial)
PT-TT-MR-NE-02-638 imag 0167
Ex mo. Reverendissimo Senhor,
Vossa Excelencia, me manda responder a huns interrogatorios sobre os terremotos que tem tam fortemente opprimido a nossa cidade […]
Em muitas casas Collegios e conventos se vem varios speques, porem não deixa tambem de conhecer se que se em alguas os fez por o perigo, em outras tam somente a cautella. Abriram bastantes paredes, e nem por isso fizeram retirar os moradores ainda antes de specadas, donde julgo que mais e mayores que os effeitos são os signaes das ruinas.
As mais notaveis forão no Mosteiro de Santa Cruz, em cuja torre senão dobram sinos e se fas hua obra de grande despeza, pera evitar o perigo que ameaça, e de cujo frontizpicio cahio hua das grandes estatuas que a ornam, e ficou tam perigoza outra, de S. Agostinho, que estava no alto deste, em hum nicho tambem de pedra, que logo no seguinte dia se fez apiar.
No Collegio da Sapiencia dos mesmos Conegos Regullares, aonde cahio hua bola das duas piramides que guarnecião as suas frontarias e se fes nos tectos e pavimentos de alguas cellas bastante estrago, ficando tam abaladas as ditas piramides que tambem se apiaram. No mesmo Collegio deram algua couza de si as paredes, que pera mayor segurança se tem travado com linhas de ferro.
O Collegio dos Carmelitas Calçados teve bastante perda na Livraria, e Refeitorio que esta por baixo della, acham se por ora apontadas e pera o Verão mandam os Architectos fazer de novo estas duas grandes cazas. Na Igreja quiz o demarcado temor descobrir tambem perigo em alguas pequenas rachas que abrio a abobeda athe que os mesmos architectos desvanecerão - [?]oeis fundamentos deste nimio susto.
PT-TT-MR-NE-02-638 imag 0171
Ainda que ao principio se reputou por bem livrado o Collegio de S. Thomas, ao depois se advertio, na parte superior da Igreja, o perigo que bastou pera remover o Corpo da Universidade de entrar nella com o seo costumado prestito. Inclinarão para fora as paredes, principalmente de huua parte e foi necezario prevenir, com pontaletes, a sua mayor inclinação, pera evitar o ultimo estrago do tecto e abobeda.
No Convento dos Dominicos passou este a mais; porque chegou a cahir por terra parte da abobeda e do Arco da Igreja, fazendo se no restante deste edificio mayores aberturas; porem ha muito tempo que em todo elle, e principalmente na Igreja, se receava muito mayor perigo pelo mizeravel estado a que esta reduzida. Fez o terremoto o que sem admiração podera fazer qualquer vento e sempre o damno que agora experimentou foi menos que a destruição que ha muito ameaçava.
Nos dous collegios de S. Jeronimo, e S. Bento tiveram as igrejas seu prejuizo: naquella cahio o fecho da abobeda e neste se separou muito das outras hua parede da Cappela mor; porem como ficaram firmes as dos lados em que o tecto se sustenta, não he de concideração a ruina: mayor e muito mayor aperssuadem nos dormitorios destes 2 Collegios os muitos speques com que estão apontados, e com tudo no de S. Jeronimo foi demaziado o receio que reprezentou tam grande aquella necessidade, e no de S. Bento ficou esta, se mais acautellada e conhecida, pouco mayor do que antes era […].
AHMC. Catálogo da Exposição. Documentos sobre o Mosteiro Santa Cruz de Coimbra no AHMC. 2019. Coimbra, Município de Coimbra
Edifício magnífico, a principal obra dos arquitetos irmãos Álvares, que Haupt supõe dever em especial atribuir-se a Baltasar Álvares, construtor do mosteiro de S. Bento em Lisboa.
Planta e alçado de mais de metade da fachada principal, voltada a N. Desenhos de A. Haupt.
A fachada era simples, mas elegante. Estava já incompleta, quando eu a via pela primeira vez, em 1869, tal como se manteve até ser demolida, faltava-lhe o remate do tímpano, e os corpos superiores das torres que a ladeavam, assim como as imagens, que devem ter ocupado os três nichos do corpo central. Ao pórtico davam ingresso três belas portas de ferro forjado.
Face da nave do lado do Evangelho. Desenhada também por Haupt.
Era magnífico, belo, sumptuoso e grave o interior da igreja de S. Bento, que ainda conheci completo, tal como se manteve enquanto ali se exerceu o culto. Tinha uma única nave, e 3 capelas de cada lado; além disso nave transeptal, e grandiosa capela-mor; sobre o transepto erguia-se majestoso zimbório.
Colégio de S. Bento reconstituição
Toda abobadada em caixotões, sendo ornamentadas as abóbadas das capelas laterais, muito mais profusamente as do transepto, e com superabundância e da capela-mor, na qual, entre complicadas esculturas, havia imagens de Anjos e de Santos. Nas paredes, onde abundavam as cantarias, toda a superfície da alvenaria era revestida de azulejos, sendo policrómicos os da capela-mor. Todas as capelas tinham o seu fundo coberto pelo retábulo do altar, obras de talha sumptuosas, ricamente douradas. Era admiravelmente grandioso o altar-mor, com o seu trono para as exposições. A capela do Santíssimo, que era a segunda do lado da Epístola, foi reconstruída e ampliada no século XVIII, com o teto em cúpula, profusamente ornamentado com estuque, e pintura a fresco.
... Deveria, sem dúvida, conservar-se como Monumento Nacional este belo templo; mas, quando expirava o século passado e ao principiar o presente (séc. XX) fizeram-se grandes obras no edifício de S. Bento, aplicado a Liceu.
... Depois de muito ponderado o assunto, foi resolvido, pelas autoridades competentes, que se demolisse a igreja, profanada há mais de 30 anos, e já sem altares nem retábulos, sem as balaustradas de pau-preto e bronze, sem azulejos, sem mobiliário, reduzidas às paredes e abóbadas; mas a obra de demolição realizar-se-ia com todos os cuidados. Escolher-se-ia previamente um local apropriado, onde se reerguesse logo o edifício com o mesmo material, para instalação dum museu de reproduções em gesso, cuja falta se fazia sentir nesta cidade. Aperar-se-iam as pedras. E erguer-se-iam no local novo, com as devidas cautelas, e sem deterioração.
Igreja de S. Bento em demolição
Houve protestos, e foi-se protelando o início da obra, a qual veio a realizar-se noutras condições em 1932. Demoliu-se então a igreja, e completou-se o edifício do Liceu; mas a isto se limitou a ação do pessoal dos Edifícios Públicos e dos Monumentos Nacionais.
Há o direito a perguntar: - como se aproveitaram as magnificas cantarias aparelhadas e profusamente ornamentadas, que constituíam os arcos e a abóbadas? E, quanto ao resto: Que registo gráfico, ao menos, se fez do grandioso edifício, de formas tão nobres e tão belas, que representava uma época?
Em resposta aponto apenas este facto: - Para eu poder agora dar alguma ilustração gráfica, relativamente a este documento, tive de recorrer aos desenhos que, passando por Coimbra em outubro de 1888, o alemão Albrecht Haupt traçou, e depois publicou na cidade de Francforte sobre o Meno, em 1890.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 400-401, do Vol. I
Fr. Diogo de Murça, monge de S. Jerónimo, fundou em 1555 um Colégio universitário para os «Monges-estudantes de S. Bento», dando-lhes pousada provisória no próprio edifício dos paços reais.
... Não se descuidaram porém os beneditinos de irem tratando de arranjar instalação propriamente sua.
Adquiriram fora da Almedina, no lugar chamado «Genicoca», a Este e Sul da muralha da cidade, umas propriedades, que com o decorrer do tempo foram ampliando, até atingirem a margem do rio. Terreno fertilíssimo, admiravelmente exposto, e que se prestava a grande variedade de culturas, e a plantações florestais. Na parte mais alta, de vistas largas e maravilhosamente belas, projetaram a construção dum grande edifício para o seu Colégio.
De 1568 a 1570 construiu-se o aqueduto de S. Sebastião, para abastecimento de água da cidade, e os arcos daquele aqueduto ficaram em parte situados dentro da propriedade dos colegiais beneditinos.
Colégio de S. Bento, na primeira metade do séc. XIX
... Em 1576 haviam começado as obras do edifício...
Colégio de S. Bento, ala poente
A última das projetadas obras a realizar-se foi a construção da igreja. Quando esta se deu por pronta, já havia muito que o Colégio era habitado definitivamente pelos colegiais, que no interior dele tinham uma capela provisória... Realizou-se com grande solenidade a sagração do magnífico templo... 19 de Março de 1634.
Colégio de S. Bento igreja
... O Colégio beneditino era o maior e mais importante dos edifícios colegiais universitários, exceto o de Jesus, da fábrica maior; mas numa coisa se lhe avantajava o de S. Bento, na situação privilegiada em que se achava, com a esplendida cerca contígua, e o panorama formosíssimo que dele se gozava.
Foi demolido há pouco anos o templo de S. Bento. Era muito vasto e de grande valor arquitetónico, de traça bastante parecida com o templo da Sé Nova, mas tendo a abóbada da capela-mor ricamente ornamentada com decoração escultural admirável.
... Quando se realizou a reforma da Universidade em 1772, os beneditinos do Colégio de Coimbra ofereceram espontânea e generosamente ao Marquês de Pombal a parte da sua cerca, que fosse preferida, para nela se constituir o Jardim Botânico da Universidade.
... Pela extinção das Ordens religiosas; em 1834, ficou abandonado o edifício de S. Bento... 21 de Novembro de 1848 ... ordenou que fossem entregues à Universidade ... para colocação dos estabelecimentos filosóficos, gabinete de agricultura ... com a respetiva cerca, destinada para ampliação do Jardim Botânico.
... Em 1849 foi destinada uma parte do edifício a quartel militar. As barbaridades, vandalismos selvagens e atos de rapinagem, que a soldadesca lá praticou, constituem uma das páginas vergonhosas da história daquele tempo.
... No fim do ano letivo de 1869-1870, realizou-se a transferência do Liceu de Coimbra, que até este ano inclusive funcionara no edifício do Colégio das Artes, para o Colégio de S. Bento.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 243, do Vol. I
Em Coimbra, o Jardim Botânico era local aprazível. No Colégio das Ursulinas que lhe ficava contíguo, principalmente em Maio, à tarde, praticava-se a devoção do mês de Maria, o que, o tornava de passagem obrigatória. As damas, envergando os seus melhores trajos, piedosamente, dirigiam-se à igreja, a fim de tomar parte naquela devoção mariana e os cavalheiros, molemente encostados às grades, viam-nas passar, outorgando com a sua presença a organização de tômbolas e festejos. Além dos agradáveis momentos de ócio que estes proporcionavam, permitiam ainda auxiliar qualquer obra de caridade. Em 1899, o Dr. Júlio Henriques, ilustre director daquele Jardim, mandou vir bambus das nossas colónias, afim de construir, na alameda principal, mesmo em frente ao edifício de S. Bento, um coreto onde a música pudesse executar algumas peças do seu repertório. Colmatava desta forma a lacuna que em Coimbra existia, porque tanto o do Cais como o da Quinta de Santa Cruz se encontravam degradados. Esperava-se, contudo, que brevemente fossem reformulados, até porque as filarmónicas da cidade já haviam solicitado à câmara autorização para tocar aos domingos nos referidos coretos. A construção do Botânico alegrou os janotas do tempo e, segundo constava, iria ficar «muito elegante e de excelente gosto» .
Cá em baixo, mesmo junto ao rio, desde 1887 que se transformava lentamente o largo espaço do Cais das Ameias num belo Passeio Público, com canteiros ajardinados e maciços de verdura. Colocava-se o gradeamento do lado do rio e empedravam-se os passeios. Coimbra, no dealbar do século XX, totalmente desfasada até já da capital, aspirava ver concluídas estas obras que lhe permitiriam usufruir, pela disposição, aproveitamento, frescas sombras e formoso panorama, de um dos melhores Passeios Públicos da província . Dirigia os trabalhos o Eng. Jorge de Lucena .
Fazer construir um coreto decente era tarefa que urgia, até porque, realmente, aos domingos a banda exibia-se e, para tal, utilizava aquela ruína a que impropriamente se atribuía tal denominação .
Mas as obras do Cais prosseguiam lentamente, não só porque as dotações camarárias e estatais eram mínimas, como também porque por vezes as desviavam e, em 1902, aquando da efectivarão das festas da Rainha Santa, trabalhava-se ainda febrilmente a fim de as conclui , o que não se verificou .
E toda a imprensa citadina continuava a insistir na necessidade de erguer no novo Passeio Público um coreto que estivesse à altura dos pergaminhos do burgo. Não como aqueles que normalmente se levantavam por ocasião da romaria do Espírito Santo ou da passagem por Coimbra de qualquer personalidade ilustre , arquitectura efémera, logo desmontada e eventualmente destruída após ter servido o fim a que se destinava, mas algo de sólido, duradouro e artístico, procurando honrar o autor e prestigiar a edilidade promotora da construção.
A fim de satisfazer o povo de Coimbra e lhe proporcionar uma distracção de que já desfrutavam outras terras portuguesas com muito menos habitantes, a câmara presidida pelo Dr. Dias da Silva deliberou na sessão de 25 de Junho de 1903 aprovar o orçamento para a construção do envasamento do «encantado» coreto afim de, posteriormente, lhe ajustar um pavilhão de ferro que não podia ultrapassar os 358$563 réis
Anacleto, R. 1983. O coreto do parque Dr. Manuel Braga em Coimbra, In Mundo da Arte, 14, Coimbra, 1983, p. 17-30, il., sep. Pg. 5 a 7
A emancipação do ensino público da sua influência pedagógica (dos jesuítas), um dos objetivos principais visados pela reforma do Marquês de Pombal. A este propósito, retomaremos as palavras do Doutor Lopes d’Almeida.
“Suprimida a Companhia (Companhia de Jesus, vulgo Jesuítas) e arredada do ensino, impunha-se a criação urgente, por uma série de medidas, dos órgãos necessários a assegurar a continuidade da ação docente e dos modelos novos da evolução pedagógica.
O Marquês de Pombal... pelo alvará de 28 de Junho de 1759 reorganiza o estudo das humanidades – a retórica, as línguas latina, grega e hebraica.
... Em 6 de Julho do mesmo ano é entregue a diretoria geral dos estudos ao principal da igreja de Lisboa, D. Tomás de Almeida. Ainda em 1758, a 1 de Outubro, foi comunicado ao reitor da Universidade... a reforma dos estudos menores.
... A criação do Colégio Real dos Nobres em 7 de Março de 1761 obedece ao mesmo intento renovador.
... A carta régia de 23 de Dezembro de 1770 que criava a Junta de Providência Literária foi o primeiro passo de tal caminho (o da reforma da Universidade).”
“Se é certo que em Coimbra já se suspeitava alguma coisa da preparação e dos objetivos da nova reforma, a Universidade só pela ordem de suspensão dos estudos, assinada em 25 de Setembro de 1771, foi oficialmente notificada...’no Ano que se acha próximo a principiar pelos Novos Estatutos, e Cursos Científicos, que tem estabelecido’ ... Mandava suspender a antiga legislação e que se não procedesse ‘a abertura, Juramentos, e Matrículas... até nova ordem de Sua Majestade’.
... por carta de roboração de 28 de Agosto de 1772 foram mandados executar (os novos Estatutos). Nesta mesma data uma carta régia nomeava Visitador o Marquês de Pombal, com plenos poderes para a nova fundação da Universidade.
Veio o Marquês de Pombal ... para Coimbra, onde chega a 22 de Setembro de 1772, aqui permanecendo durante um mês.
... faz entrega dos “Novos Estatutos” em 29 de Setembro.
... pelos seus despachos de 27 do mesmo mês ... nomeados para as Faculdades de Teologia, Leis, Cânones, Matemática e Filosofia os professores delas, que haviam de tomar posse no dia 3.º.
Em 28 de Setembro publicara a portaria para a jubilação dos Lentes de Medicina e em 3 de Outubro uma disposição semelhante mandava prover nas cadeiras desta última faculdade alguns novos professores, à qual foram agregados depois os italianos Franzini e Vandelli.
... De todas as Faculdades... eram as primeiras (Teologia Cânones e Leis) as que possuíam, à data maior número de professores; por isso se determinou que em 5 de Outubro se procedesse à abertura das suas aulas.
... Por carta régia de 11 de Outubro de 1772, era dada autorização ao Marquês de Pombal para usar o Colégio dos Jesuítas... por outro lado o Colégio de S. Bento cedeu parte da sua cerca para instalação de um “Horto” ... Houve assim oportunidade de estabelecer os Gabinetes de História Natural e de Física e criar um Jardim Botânico.
...”Entre as providências de maior vulto que o Marquês de Pombal promulgou durante a sua estadia em Coimbra, foi a da incorporação do Colégio das Artes na Universidade. A provisão de 16 de Outubro de 1772 que autorizava essa medida correspondia ao voto formulado numa das sessões da Junta de Providência Literária.
Ribeiro, A. 2004. As Repúblicas de Coimbra. Coimbra, Diário de Coimbra. Pg. 43 a 47
O traçado das ruas da cidade romana é indeterminável, pois os únicos edifícios romanos descobertos – o criptopórtico e a cave em frente da Sé Velha – são insuficientes para nos determinarem orientações.
A mediévica Porta do Sol era provavelmente, já no período romano, umas das entradas da cidade; ficava situada ao cimo da rampa natural que o aqueduto romano acompanhava. Do facto de quase todas as inscrições funerárias romanas de Coimbra terem sido achadas metidas nos muros do Castelo, ou nos panos da muralha entre este e a Couraça de Lisboa, V. Correia concluiu que o cemitério romano deveria ficar situado na encosta de S. Bento e do Jardim Botânico, isto é a poente da ladeira que subia até à Porta do Sol.
Desta entrada da cidade, divergiam muito possivelmente duas vias: uma delas, que na Coimbra moderna (mas anterior à demolição da Alta da cidade) era chamada Rua Larga, conduzia ao sítio que o edifício antigo da Universidade presentemente ocupa. Aqui, não pode deixar de ter existido um edifício romano importante, provavelmente publico … Outra via descia do sítio da Porta do Sol ao antigo Largo da Feira e daqui, pelo Rego de Água e Rua das Covas ou de Borges Carneiro, ao largo da Sé Velha. Se este era o principal arruamento da cidade romana no sentido leste-oeste, é tentador ver, na Rua de S. João ou de Sá de Miranda e na de S. Pedro, o eixo principal norte-sul. Nogueira Gonçalves, porém, considera esta última um corte artificial, talvez operado no século XVI.
Se o monumento romano à Estrela era um arco honorífico, devia marcar o início de uma rua da cidade. Esta seria a do Correio ou de Joaquim António de Aguiar, que António de Vasconcelos representa na sua planta de Coimbra no século XII. Na mesma planta, um outro arruamento, de antiguidade bem provável, é definido pelas ruas da Trindade, dos Grilos ou de Guilherme Moreira e da Ilha. Da antiguidade da Rua do Cabido, representada ainda na mesma planta, duvidamos algum tanto; inclinamo-nos mais a ver na Rua do Loureiro outra das principais vias antigas.
Tudo isto, porém, é conjetural.
Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 39 a 40
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.