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Um alerta às Autoridades de Coimbra e não só!
Construído em 1600, o claustro da Igreja do Carmo recebeu, na segunda metade do século XVIII, como decoração da galeria inferior, um revestimento de azulejos de composição figurativa, constituído, atualmente por vinte painéis recortados na parte superior, ilustrando vários episódios da vida do profeta Elias.
Elias fala à multidão
Ligados uns aos outros por pilastras imitando cantaria, coroadas por vasos floridos, os painéis tem vinte e quatro azulejos de altura (na parte mais alta). A parte inferior é constituída por fiadas de azulejos de pintura esponjada, em tons de manganês, azul e amarelo, simulando um silhar de pedra marmoreada.
As cenas da vida de Elias, seguem-se cronologicamente, como uma banda desenhada, sendo a leitura feito no sentido oposto ao dos ponteiros do relógio. As composições são todas em monocromia, azul em fundo branco, delimitadas por possantes enquadramentos de linguagem rococó, de inspiração vegetalista, em tons de manganés, cujas formas onduladas, associadas ao jogo de pinceladas em tonalidades mais escuras ou mais claras, formam um conjunto vigoroso, como se um sopro de vento dinamizasse todos os ornatos, constituindo um revestimento azulejar de forte impacto visual.
Na parte superior de cada um dos painéis, ao centro, uma legenda em latim identifica a cena representada.
São azulejos de fabrico coimbrão, bem distintos dos azulejos produzidos em Lisboa, pelo tratamento «expressionista», não só das figuras, mas também dos motivos ornamentais que constituem osa seus enquadramentos, robustamente desenhados.
Elias e o rei Acab na vinha de Nabot
Considerado o fundador da Ordem do Carmo, não é surpreendente que o profeta Elias tenha sido escolhido como tema para decorar as paredes da galeria inferior do claustro. É, no entanto, de sublinhar que a riqueza do programa iconográfico torna este conjunto um dos mais interessantes e completos ciclos de vida de Elias aplicado como revestimento mural em Portugal.
Para a sua realização, o pintor, certamente respondendo às instruções do encomendador, baseou-se num dos livros mais relevantes da literatura carmelita: o «Speculum Carmelitanum Sive Historiae Eliani Ordinis».
... O esquecimento em que caiu o conjunto azulejar do claustro revela quanto o passar do tempo, a mudança de mentalidades, de ideais, de contextos políticos, religiosos ou sociais, têm consequências para a «sobrevivência» de um património. É urgente uma intervenção de fundo neste claustro, no intuito de preservar o revestimento de azulejos (de produção coimbrã sobre a qual ainda se sabe muito pouco) que, apesar das vicissitudes sofridas, permanece no local de origem, ilustrando uma história cujo significado tem particular expressão como programa decorativo de um espaço carmelita.
Correia, A.P.R. Um ciclo do profeta Elias no claustro do Colégio de Nossa Senhora do Carmo. Contributo para o estudo iconográfico. In: Monumentos. Revista Semestral de Edifícios e Monumentos. N.º 25, Setembro de 2006. Lisboa, Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, pg. 108-121
Teve o seu início em 1540, sendo fundado pelo Bispo do Porto... que a princípio o destinou a clérigos da sua diocese que viessem estudar na Universidade. Foi depois destinado aos religiosos «Carmelitas calçados».
Dotado por D. João III, não veio entretanto o edifício a ser concluído, senão em 1597.
Colégio de N. Senhora do Carmo
... Está o edifício situado na Rua da Sofia, acha-se muito modificado, e externamente só dele se vê a fachada da igreja. Internamente porém conserva-se o belo claustro e a magnifica igreja, na qual se mantem o culto.
Claustro do Colégio de N. Senhora do Carmo
Abandonados o edifício colegial e a respetiva igreja em 1834, logo os vizinhos, que eram paroquianos da freguesia de Santa Justa, fizeram uma representação ao Governo a pedir a igreja colegial do Carmo, para nela se exercer o culto... Não chegou a efetivar-se este projeto de devoção particular.
... O Definitório da Venerável Ordem Terceira Franciscana da Penitência, e a Assembleia geral da mesma, pediram em 1837 a referida igreja para sua sede. Obtiveram permissão para desde logo nela se instalar a Ordem, e já em Junho desse ano ali se reunia o Definitório. Mas a concessão foi legalizada somente pela carta de lei de 15 de Setembro de 1841, sendo cedida à Ordem a igreja e suas pertenças... Por carta de lei de 23 de Abril de 1845, obteve a mesma Ordem Terceira o edifício do extinto Colégio do Carmo, contíguo à igreja, a fim de nele estabelecer um hospital para os seus irmãos pobres... Meteu logo mãos à obra para a rápida adaptação provisória do edifício a hospital. Estava já capaz de receber alguns doentes, quando rebentou a revolução popular anti-cabralista de 1846... No mesmo dia 17 de Maio, a Junta provisória requisitou o edifício do Carmo, a fim de servir de quartel às forças populares arregimentadas, que se instalaram logo ali, e estregaram tudo, deixando depois a casa arruinada, quando retiraram.
Foi reparado, e em grande parte reconstruído o edifício a gosto moderno, bem pouco feliz, sendo finalmente aberto o hospital... 15 de Junho de 1851.
... Fundou-se em 1855 o... Asilo da Mendicidade... obteve-se da Ordem Terceira licença para ficar provisoriamente ... Ali se conservou até... 15 de Novembro de 1860.
... Finalmente, pela carta de lei de 11 de Agosto de 1860, obteve a Ordem Terceira a cerca que fora do Colégio, excetuada apenas a parte que viesse a tornar-se indispensável à estrada, que se projetava fazer, da azinhaga do Carmo ao cemitério da Conchada.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 187-189, do Vol. I
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