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A' Cerca de Coimbra


Terça-feira, 21.01.25

Coimbra: Colégio dos Jerónimos, construção e transformações

Em 1549, a Ordem de S. Jerónimo adquirira um terreno junto ao castelo de Coimbra e da porta oriental da cidade para aí se construir um colégio universitário. Já desde 1535 que havia a intenção de se construir em Coimbra um colégio daquela ordem.

…. Ergueu-se o colégio sobre as muralhas da cidade, desde a Porta do Castelo, à qual ficou encostada a igreja, e continuou-se o dormitório para norte, em direção ao Colégio das Artes. Ainda hoje se reconhece bem delimitado o edifício com os seus cubelos de reforço da fachada oriental. O claustro é o elemento organizador da planta do colégio, ocupando uma posição central ladeado pela igreja a sul.  O desenho deste espaço é certamente da responsabilidade de Diogo de Castilho.

…. O claustro de S. Jerónimo, começado em 1565, foi o último de uma série que Diogo de Castilho desenhou para vários colégios de Coimbra.

 Col.10.jpg

Claustro de S. Jerónimo. Diogo de Castilho. 1565. Op. cit., pág.60.

…. O claustro não forma propriamente um quadrado. É de dois pisos e tem cerca de catorze metros no sentido norte-sul e doze no sentido este-oeste.

…. As galerias térreas são cobertas por abóbadas de meio-canhão, apoiadas numa mísula contínua e revestidas de caixotões … O segundo piso separa-se do de baixo por uma cimalha …. Observando o claustro anterior de S. Tomás, que ainda se preserva no interior do Palácio da Justiça, pode-se ter ideia do aspeto original do andar superior do claustro de S. Jerónimo …. preserva um ar de recolhimento conventual.

…. A igreja do Colégio ocupava o imponente volume que se ergue no extremo sul do edifício, profundamente alterado em finais do século passado.

Col. 11.jpg

Igreja de S. Jerónimo. Diogo de Castilho. 1565-? Axonometria. Op. cit., pág. 63.

Exteriormente conservam-se da igreja primitiva apenas os quatro cunhais e o cornijamento do alçado sul, alçado lateral da igreja …. À esquerda da antiga fachada resta também o arranque da torre da igreja …. Do espaço interior da igreja sobram apenas duas capelas laterais.

…. Por ocasião das obras de adaptação do Colégio de S. Jerónimo a hospital, o espaço da nave da igreja foi preenchido com dois andares intermédios.

…. A gravura do inglês Vivian, do Séc. XIX, mostra toda a extensão do alçado nascente do Colégio de S. Jerónimo com os cinco cubelos de reforço que ainda se mantêm ….

Col. 12.jpgEstampa … G. Vivian … Da esquerda para a direita, avista-se a Igreja de S. Jerónimo, junto ao Arco do Castelo, a torre que lhe ficava encostada e o grande edifício do Colégio de S. Jerónimo. Op. cit., pág. 64.

No extremo esquerdo da gravura pode-se ver a igreja de S. Jerónimo e a respetiva torre. Pouco acima da parte que resta da torre rasgavam-se as ventanas que deveriam ser uma em cada face.

…. Das estampas referidas pode-se constatar que a planta da igreja de S. Jerónimo é claramente inspirada na anterior igreja da Graça, de Diogo de Castilho, construída entre 1543 e 1555.

…. Sobre a entrada da nave da igreja de S. Jerónimo existia … um coro alto.

…. Do Colégio do Séc. XVI resta ainda praticamente todo o pavimento térreo da ala nascente, sobre a muralha. De sul para norte, a partir da igreja, existe a antiga sacristia ladeada por um pequeno oratório, ambas as salas com ligação ao claustro e com abóbadas revestidas de caixotões, perpendiculares àquele. Segue-se-lhes uma outra divisão, de abóbada longitudinal de sete tramos de quatro caixotões. Terminam esta parte do edifício o antigo refeitório, com teto em estuque pintado, do Séc. XVIII, e a antiga cozinha onde hoje se encontra um pequeno anfiteatro …. Do colégio original é também a sala abobadada … a norte do claustro, no rés-de-chão …. No rés-de-chão ficou um átrio, iluminado do exterior, mantendo-se os quatro grandes arcos e a galeria adjacente coberta por abóbadas de aresta.

…. Atualmente de três andares, a composição setecentista deveria resumir-se aos dois pisos inferiores. A porta de entrada é ladeada por duas colunas-hermes que suportam um frontão ondulado interrompido, em composição própria do reinado de D. João V.  Por cima ficam três portas-sacadas, correspondentes ao espaço de receção do primeiro andar, que ligava a escadaria às salas sobre o claustro e ao corredor central das celas, no lanço nascente. Toda esta zona é também, obviamente, obra do Séc. XVIII.  O átrio de entrada no rés-de-chão comunica diretamente com a escadaria monumental, à esquerda, e com o claustro, do lado oposto.

Col. 13.jpg

Colégio de S. Jerónimo. Escadaria monumental, da primeira metade do século XVIII, e arcaria da mesma época (?). Op. cit. pág., 65

Col. 16.jpg

Costa Simões.1890. Projeto completo para os HUC… Op. cit., pág. 134

…. Com a extinção das ordens religiosas, pelo célebre decreto de 1834, ficou o edifício abandonado, tendo sido entregue à Universidade no ano de 1836. Em 1848 foi destinado para hospital e mais serviço da Faculdade de Medicina.

 Lobo, R.P.M. Os Colégios de Jesus, das Artes e de S. Jerónimo. Evolução e Transformação no Espaço Urbano. 1999. Coimbra, Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologias.

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por Rodrigues Costa às 19:54

Quinta-feira, 16.01.25

Coimbra: Colégio das Artes, construção e transformações

O Colégio das Artes … fora criado em 1547 com o objetivo de garantir a preparação para as disciplinas maiores que se lecionavam na Universidade.

…. As aulas começaram em 1548, provisoriamente instaladas nos Colégios de S. Miguel e de Todos-os-Santos, na Rua da Sofia.

…. Entregue à Companhia de Jesus em 1555 foi transferido para a Alta em 1565 de modo a integrar o complexo colegial jesuíta a erguer naquela parte da cidade.

… Menos de dois meses depois de ter sido instalado na Alta, já se lidava em preparativos remotos para a edificação do novo Colégio das Artes, que havia de erguer-se junto ao Colégio de Jesus.

A primeira pedra foi lançada em 1568 … A reconstituição de Francisco Rodrigues é bastante esclarecedora: "A traça do colégio tinha sido anteriormente delineada. Havia de erguer-se perto do Colégio de Jesus naquela mesma elevação. Mas … quando já tinham começado as obras (1569), ainda se lhe introduziram outras alterações”. Dispôs-se de modo que a porta principal abrisse para um terreiro de 302 palmos

…. A construção do Colégio das Artes processava-se de modo efetivo já no ano de 1569 e em 1572 já se ensinava na vasta sala de atos e noutra mais pequena que se acabara. Em 1573, no entanto, cessava a obra do colégio por falta de dinheiro.

…. Só em 1611 se retomaram as obras, com dinheiro do orçamento da Universidade … Em 1616, apesar de ainda não estar completa a obra, foram iniciadas as aulas do novo edifício… O vão media na direção de norte a sul, cerca de quarenta metros, e de leste a oeste quarenta e quatro. Rodeavam-no interiormente nos quatro lados, varandas ou pórticos de colunas de pedra inteiriças, para os quais se iam abrindo por toda volta as aulas … Excediam às demais na vastidão a nobre aula de Teologia, capaz de receber muitos teólogos e doutores para as disputas, e a sala dos atos.

O conjunto de levantamentos efetuados por Elsden em 1772 inclui também uma planta do piso de entrada do Colégio das Artes.

Col. 8.jpgPlanta do piso superior do Colégio das Artes. Reconstituição correspondente à situação da gravura de 1732. Op. cit., pág. 49

Guilherme Elsden, 1772. Planta do piso térreo do Colégio das Artes. Op. cit., pág. 49

Nessa planta podem-se identificar claramente as duas grandes salas às quais se faz referência na descrição anterior, ambas no lanço norte do edifício. Do lado nascente tem-se a grande sala dos atos, com uma tribuna destinada aos lentes encostada à parede lateral. No lado poente existe uma sala identificada. Como capela, que serviria certamente como a aula de Teologia mencionada.

…. Em redor de uma quadra monumental – sem o carater claustral de um mosteiro – dispõem-se quatro lanços com salas de aulas racionalmente concebidas quanto à área, alçados, iluminação e higiene … O primeiro andar era ocupado pelas celas dos noviços.

…. as colunas toscanas que circundavam o pátio do Colégio das Artes suportavam um entablamento reto e não uma arcaria.

Inferiormente, as colunas assentavam em pedestais de cerca de um metro de altura, composição que hoje se mantém. Paradoxalmente, a situação atual apresenta uma arcaria em redor do claustro. Trata-se, contudo, de uma intervenção do início deste século derivada da adaptação do edifício ao Hospital da Universidade.

…. As intervenções apontadas são, no entanto, pouco profundas, reduzindo-se praticamente a dois lanços de escadas novos.

…. Exteriormente …. sobressaíam apenas no tratamento dos alçados, para além das aberturas factuais, os frontões rematados por pináculos que assinalavam os corredores das alas e a entrada principal do colégio no lanço sul. O lanço norte não era coroado por estes frontões dada a sua particularidade na estrutura formal do conjunto. Albergava as duas grandes salas do colégio e o sistema de acessos verticais que interligava os vários pisos: o andar superior das celas, o pavimento do claustro e das aulas e ainda os pisos subterrâneos que ligavam ao colégio de Jesus e às cozinhas e ao refeitório que serviam o complexo edificado da Companhia. No lanço nascente sobressaía na leitura exterior do edifício o corpo de uma capela que existia no piso superior, assente sobre a plataforma que cobria a cisterna do rés-de-chão. Atualmente não é percetível a existência da capela do exterior, uma vez que ficou completamente afogada pela massa edificada resultante das intervenções do princípio deste século. Ficou por isso sem iluminação direta. A sua cobertura erguia-se acima do telhado que corria sobre o lanço nascente, facto que salientava a sua presença na perceção geral do edifício. O plano da capela é retangular, abrindo-se nas paredes quatro janelas, agora sem luz direta. A capela-mor está demarcada por um arco de alvenaria sendo o teto formado por uma abóbada semicircular. Anteriormente à capela, conserva-se o pequeno átrio quadrado, com abóbada de aresta, à direita do qual se encontra a sacristia, situação que não corresponde à original, já que esta inicialmente ocupava o compartimento à esquerda. A porta da capela está datada de 1720.

Col. 9.jpg

Gravura de 1732. Pormenor com o Colégio das Artes, cuja construção foi iniciada em 1568. Op. cit., pág. 51

 

Na gravura de 1732, no entanto, a capela ainda não aparece representada, sendo possível identificar apenas a plataforma que cobre a cisterna. Provavelmente estaria ainda em construção na altura. Tendo em conta a decoração interior com azulejos e talha dourada, trata-se certamente de uma intervenção ainda da primeira metade do Séc. XVIII. O portal da face sul do colégio é também deste século, mais propriamente de 1715. Falta-lhe o remate superior que deveria ter contido o escudo nacional.

…. Em 1759, no reinado de D. José, foi proscrita a Companhia de Jesus e os jesuítas foram expulsos do país…  Em carta régia de 1760, mandava-se separar este edifício do que fora o Colégio da Companhia, o Colégio de Jesus. Ordenava-se obviamente a destruição do passadiço de ligação entre os dois colégios.

Lobo, R.P.M. Os Colégios de Jesus, das Artes e de S. Jerónimo. Evolução e Transformação no Espaço Urbano. 1999. Coimbra, Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tenologias.

 

Tags: Coimbra sec. XVI, Coimbra séc. XVII, Coimbra séc. XVIII, Colégio das Artes, Colégio de S. Miguel, Colégio de Todos-os-Santos, Companhia de Jesus, Rua da Sofia, Francisco Rodrigues, Guilherme Elsden, D. José,

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:59

Terça-feira, 13.11.18

Coimbra: O edifício número 70 da Rua da Sofia

Um leitor deste blogue – que não se identificou – colocou-me a seguinte questão: Um meu tio-avô, enquanto esteve a estudar na UC em 1890-91, viveu na R. da Sofia, n.º 70. Sabe-me dizer se se tratava de algum antigo colégio?
A resposta que lhe posso dar – muito atrasada no tempo, por lapso meu – passa pela afirmativa.

Com efeito, tratava-se do Colégio de S. Miguel que pertencia ao Mosteiro de Santa Cruz e se situava na Rua da Sofia. Ainda sem se encontrar terminado, em 1547, D. João III requisitou o edifício para ali poder instalar o recém-criado Colégio das Artes até que o edifício próprio, em fase de construção na Alta da Cidade, estivesse concluído.
Este imóvel, embora modificado, ainda existe na atualidade e nele, bem como no Colégio de S. Jerónimo que lhe ficava contíguo, funcionou, até 1986, ano em que se transferiu para as novas instalações erguidas lá para as bandas de Celas, o Hospital da Universidade de Coimbra.

O edifício do Colégio de S. Miguel, bem como o vizinho edifício do Colégio de Todos os Santos, no ano de 1566 foram entregues à Inquisição que, para os adaptar aos lamentáveis objetivos da instituição, os transfigurou, levando a cabo obras vultuosas. Mas disso falaremos na próxima entrada.
Para obter mais esclarecimentos sugiro a leitura das entradas aqui publicadas com os títulos:
- Coimbra: A Inquisição e as suas instalações 1 e 2;
- Coimbra: Rua da Sofia e os seus colégios 4

Não posso deixar de se referir um pormenor curioso.
No último andar do edifício número 70 da Rua da Sofia

Anexo sem nome 00037.jpg

Edifício da Inquisição frente Sofia

existe esta varanda:

Anexo sem nome 00040.jpg

Gradeamento da varanda

No Pátio da Inquisição está o seguinte edifício

Anexo sem nome 00031.jpg

Edifício da Inquisição frente pátio

E nele existe esta varanda

Anexo sem nome 00034 a.jpg

Gradeamento da varanda

Como se pode constatar as guardas das varandas são em tudo similares. Pertenciam ao edifício principal da Inquisição que tinha a frente voltada para o chamado Pátio da Inquisição e as traseiras para a Rua da Sofia.

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por Rodrigues Costa às 18:37

Segunda-feira, 28.05.18

Coimbra: Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

Os caloiros que iniciaram a licenciatura em Ciências Físico-Químicas em 1963, reuniram-se ontem e mais uma vez, desta feita em Coimbra. Do programa constou missa e a recordação da bênção das pastas e ainda uma visita ao Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, num retorno aos locais onde tiveram das suas primeiras aulas.

Para esta visita – que se recomenda a quem ainda a não fez – foi elaborado o pequeno guião que aqui se divulga.

 Breve síntese histórica

O Museu da Ciência da Universidade de Coimbra ocupa atualmente dois edifícios: o Laboratorio Chimico e o Colégio de Jesus. Ambos pertenceram ao Colégio dos Padres Jesuítas, também denominados Apóstolos (o nome perpetua-se na Couraça) e ao Colégio das Artes. A primeira pedra do Colégio dos Jesuítas foi lançada no dia 14 de abril de 1547 e a igreja, riscada pelo arquiteto Baltazar Álvares, membro da Companhia; a sua construção iniciou-se em 1598 e prolongou-se durante um século. 

Colégio de Jesus desenho.TIFColégio de Jesus e Colégio das Artes em 1732 (gravura de Carlo Grandi)

 O Colégio das Artes, entretanto criado por D. João III, ocupou, num primeiro momento, espaços pertencentes a Santa Cruz e foi entregue aos Jesuítas no ano de 1555, ainda antes do edifício (que se ergue quase paredes-meias com o dos Apóstolos e fora iniciado em 1568) estar concluído.

Os imóveis encontravam-se ligados por dois pequenos corpos de passadiço, perpendiculares à fachada oriental. Um fazia comunicar o Colégio de Jesus com o Colégio das Artes e o outro ligava o complexo colegial ao edifício onde, graças aos trabalhos arqueológicos recentemente efetuados, se ficou a saber que estava instalada a sala do refeitório bem como, provavelmente, as cozinhas e a ucharia, ou seja, estamos a referir-nos ao atual Laboratório Chimico.

Os Jesuítas de Coimbra gozaram por pouco tempo da sua igreja e das restantes estruturas, porque, em 1759, foram expulsos do país, o colégio extinto e os bens sequestrados. Os edifícios ficaram abandonados durante treze anos.

Aquando da Reforma Pombalina da Universidade, iniciada em 1772, parte do complexo passou para a posse da Universidade e a igreja, com mais alguns anexos, foram entregues ao Cabido diocesano.

O marquês de Pombal, ao implementar a reforma universitária que, obviamente, necessitava de espaços adequados, apoderou-se de uma parte considerável do Colégio de Jesus. Contudo, ciente da importância do ensino experimental, estava já na posse de planos trazidos de Viena de Áustria por Joseph Francisco Leal destinados à construção do Laboratorio Chimico; no entanto, este projeto não saiu do papel, tendo-o substituído um outro desenhado na Casa do Risco, sob orientação do engenheiro militar tenente-coronel Guilherme Elsden, que se salientou como diretor das Obras da Universidade de Coimbra. 


Laboratório Chimico.jpgFachada do Laboratorio Chimico, desenho de G. Elsden e R. F. de Almeida, 1777 in Franco, M.S. “Riscos das Obras da Universidade de Coimbra”, Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra, 1983.

Trata-se de um edifício de grande qualidade, muito elegante e onde se destaca o frontão central, em corpo avançado sobre colunas. No entanto, o projeto original do coroamento do edifício foi alterado e só lhe foi aposto no século XIX.

Guilherme Elsden foi também o responsável pela adaptação dos edifícios preexistentes destinados a acolherem os Gabinetes de História Natural e de Física Experimental.

A estrutura vira para o Largo do Marquês de Pombal e mostra uma longa fachada de 110 metros de comprimento, de nobres linhas protoneoclássicas, onde se salienta o corpo central, coroado por frontão triangular preenchido por um belo relevo da autoria de Joaquim Machado de Castro, representando a Natureza e cinzelado pelo escultor António Machado. Nos gradeamentos das ventanas pode observar-se um pequeno medalhão com o busto do marquês de Pombal. 

Laboratório de Fisica.jpg

 Frontão alegórico

No interior destaca-se a escadaria de aparato e os alizares de azulejo.

Refira-se ainda que nas alas norte e poente do Colégio funcionaram, inicialmente, os Hospitais da Universidade de Coimbra.

Os objetivos pedagógicos que então se pretendiam atingir encontram-se bem expressos nos Estatutos Pombalinos, datados de 1772, onde se lê que “os estudantes não somente devem ver executar as experiências, com que se demonstram as verdades até ao presente, conhecidas … mas também adquirir o hábito de as fazer com sagacidade e destreza, que se requer nos Exploradores da Natureza”.

A adaptação dos dois imóveis a Museu da Ciência ocorreu nos primeiros anos do presente século, tendo a primeira fase sido inaugurada em 2006 sob projeto de João Mendes Ribeiro, Carlos Antunes e Desirée Pedro. Trabalhos que visaram, essencialmente, reconduzir os espaços ao seu aspeto inicial.

Está classificado, desde 2016, como Sítio Histórico pela Sociedade Europeia de Física.

Recordamos que foi nestes espaços, nos idos dos anos 60, que os caloiros que então eramos, tiveram as primeiras aulas da licenciatura em Ciências Físico-química.

 

A nossa visita

A duração prevista é de cerca de uma hora segundo o seguinte percurso:  

- Gabinete de Física

Foi equipado com seis centenas de máquinas que representavam o que de melhor e mais moderno então existia no campo da investigação científica. Cada uma delas tinha uma conceção que a tornava adequada a um dos capítulos do programa descrito no curso redigido por Dalla Bella.

O Gabinete de Física de Coimbra, mostra bem a profunda influência que as ideias e os instrumentos provenientes das mais diversas zonas da Europa tiveram em Portugal no século das luzes. O que resta dos instrumentos pertencentes ao Gabinete do século XVIII considera-se, atualmente, verdadeiras obras de arte, valorizadas pela riqueza dos materiais e pela perfeição da execução. Ocupam ainda as salas e o mobiliário primitivo, permanecendo no seu espaço de origem e mantendo as suas características específicas desde o tempo da fundação; constituem uma coleção de instrumentos científicos e uma representação notável da evolução da Física nos Séculos XVIII e XIX.

Visitamos o anfiteatro e as salas Figueiredo Freire (séc. XIX) e Dalla Bella (séc. XVIII).

- Gabinete de História Natural

Por força dos Estatutos Pombalinos da Universidade, datados de 1772, os professores da Faculdade de Filosofia deviam coordenar a recolha das espécies. O espólio assim obtido incorporou inicialmente a coleção privada de Vandelli e foi muito enriquecido com a Viagem Philosofica à Amazónia realizada por Alexandre Rodrigues Ferreira.

Os espécimes encontram-se organizados por regiões com recurso às técnicas de conservação e exposição então em uso. 

Visitamos as salas das viagens, do mar, de África, das avestruzes e de Portugal.

- Laboratório Chimico

Encontra patente neste edifício a exposição Segredos da luz e da matéria que trata este tema a partir dos objetos e instrumentos científicos das coleções da Universidade de Coimbra, uma das mais notáveis e raras da Europa. Um conjunto de experiências e módulos interativos possibilitam a observação de fenómenos, desde a experiência de decomposição da luz, de Newton, até à neurobiologia da visão.

 BORGES. Nelson Correia, Coimbra e região, Lisboa, Presença, 1987.

CORREIA, Vergílio; GONÇALVES, António Nogueira, Inventário artístico de Portugal. Cidade de Coimbra, Lisboa, Academia Nacional de Belas Artes, 1947.

DIAS, Pedro; GONÇALVES, António Nogueira, O património artístico da Universidade de Coimbra, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1991.

VASCONCELOS, António de, Escritos vários, vol. I, Coimbra, AUC, 1987 [Reedição].

http://www.museudaciencia.org/index.php?module=content&option=museum&action=project&mid=5

http://www.museudaciencia.org/index.php?module=content&option=museum

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por Rodrigues Costa às 11:19

Terça-feira, 05.09.17

Coimbra: Real Colégio das Artes ou Escolas Menores

Principiou a funcionar em 1548, e por alvará de 16 de Fevereiro de 1553, foram-lhe concedidos os privilégios da Universidade.

Não havendo edifício próprio para a instalação definitiva do Colégio das Artes, foram os cónegos regrantes que para a sua acomodação emprestaram os Colégios de S. Miguel e de Todos os Santos, que ficavam na vizinhança do seu mosteiro, no princípio da rua da Sofia.

... Em1566 transferiram os jesuítas o Colégio das Artes para a cidade alta, instalando-o provisoriamente na vizinhança do seu Colégio de Jesus, nas casas onde haviam estado os freires de Cristo, e noutras próximas.

Mas não passava de instalação insuficiente e inadequada. Projetaram logo a construção dum novo edifício para o Colégio Real, cuja primeira pedra foi assente em 1568.

Colégio das Artes fachada norte.jpg

Colégio das Artes, fachada norte

Bom edifício, muito bem estudado pensado, como em parte pode ainda hoje observar-se...

Colégio das Artes portal.jpg

 Colégio das Artes portal

Ainda é o mesmo o portal que dá ingresso ao edifício: acha-se porém mutilado pela supressão do grande escudo real, que o rematava.

Colégio das Artes pátio.jpg

 Colégio das Artes pátio

Também ainda se conserva o pátio ou claustro, de planta quase quadrada (51,50 m x 45,70m), que se nos depara além da portaria, o qual é limitado por todos os lados por um formoso quadripórtico; para este abrem as portas... as salas das aulas dos «gerais». Nos curtos intervalos entre umas e outras lições sucessivas, bem podiam nesse largo pátio espairecer ao ar-livre e distrair-se os alunos de todos os cursos, embora numerosos, bastando um pequeníssimo número de pessoas para os vigiar.

Tudo isto ficava no rés-do-chão: no andar superior, eram as habitações.

 Gastaram-se muitos decénios antes de se conseguir o acabamento das obras, que se prolongaram pelo século XVII adiante.

... a carta-régia de 15 de março de 1760 mandou separar este colégio do que fora o Colégio da Companhia (o Colégio de Jesus)... assim reaberto o Real Colégio das Artes com professorado novo.

... Em tempo do reinado de D. Miguel foram os jesuítas estrangeiros vivamente solicitados pelo Governo português... tomarem novamente conta do Real Colégio das Artes, em Coimbra... chegaram enfim a Coimbra, a 18 de Fevereiro de 1832... Após a vitória do constitucionalismo, foram logo expulsos, como era de prever.

... O decreto de 17 de novembro de 1836 remodelou o ensino secundário... determinou: «O Liceu de Coimbra substituirá o Colégio das Artes, e formará uma secção da Universidade»... Foi o Liceu mandado colocar no mesmo edifício que ocupara o Colégio das Artes... mas, como o Liceu não tinha internato, e as aulas se encontravam muito bem instaladas no rés-do-chão, nos antigos «gerais» do referido Colégio, aproveitou-se o 1.º andar para depositar ali grande quantidades de livros, que vieram dos Colégios e conventos extintos.

Apareceram então pretensões da Faculdade de Medicina, que... por insuficiência de espaço. Considerava as imensas vantagens que haveria, se os instalasse no edifício do Colégio das Artes... portaria de 22 de agosto de 1853, autorizando a transferência ou mudança dos doentes dos hospitais da Universidade para o Colégio das Artes.

... A função docente, para que fora construído o edifício do Colégio das Artes, cessava pois ali no meado de junho de 1870.

Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 207-220, do Vol. I

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por Rodrigues Costa às 20:18

Quinta-feira, 03.08.17

Coimbra: Colégio de Jesus 1

Desde os primeiros tempos em Portugal, ainda com Xavier (S. Francisco Xavier), que a ideia de fundar um colégio junto da Universidade de Coimbra parecia ... de capital importância.

... Finalmente, a 9 de Junho de 1542, Simão Rodrigues (português que foi o provincial da primeira província da Companhia de Jesus no mundo, a Província Lusitana) e doze companheiros, em expressiva atitude simbólica, partem de Lisboa a caminho de Coimbra, entrando na cidade universitária no dia de S. António desse mesmo ano ... Hospedaram-se no Mosteiro de Santa Cruz, para o que levaram carta de recomendação de D. João III ... o soberano recomendava que os mandasse agasalhar na hospedaria do mosteiro ... Aí estarão três semanas.

... Simão Rodrigues rapidamente procurou, na parte alta da cidade, casas apropriadas para se instalarem ... alugam-se e depois compram-se duas casas ... na denominada Rua Nova d’El Rei, a qual viria mais tarde, a desaparecer  com a construção  do grande edifício do Colégio de Jesus. As casas para onde se mudaram ... a 2 de Julho de 1542, eram novas, mas pouco espaçosas.

... A 11 de Março de 1543 dará entrada no noviciado o primeiro aluno da Universidade.

... Por fim, a 14 de Abril de 1547, quinta-feira depois da Páscoa, procedeu-se ao lançamento da primeira pedra do novo colégio ... a primeira foi lançada à honra do nome santíssimo de Jesus ... Estava assim fundado o Colégio de Jesus, o primeiro que os Jesuítas tiveram em Portugal.

Colégio de Jesus primeira pedra.jpgColégio de Jesus, primeira pedra

 In: Coutinho, J.E.R. 2003. Sé Nova de Coimbra. Colégio das Onze Mil Virgens.Igreja de Jesuítas. Coimbra, Paróquia da Sé Nova, pg. 34

 

Perderam-se os primeiros planos, elaborados pelo arquiteto régio ao serviço da Universidade, Diogo de Castilho, como se perdeu também uma visão concreta da estratégia inicial para a estrutura colegial ... Muito rapidamente, a 17 de Junho do mesmo ano, estabeleceram-se os limites da cerca que “começará detrás do muro, que vem da Porta Nova, onde ha um cunhal do dicto collegio, abaixo das casas de João de Sá, conego, e irá até o caminho que vem do Corpo de Deus e vae para a egreja de S. Martinho, que está fora do muro, e seguirá o caminho até que defronte da outra cerca, que o dicto collegio tem sobre o muro, a qual vai entestar com a ermida de S. Sebastião.

... Quando, finalmente, todo o espaço (colégio das Artes, colégio de S. Miguel e colégio de Todos-os-Santos junto ao Mosteiro de Santa Cruz)  é entregue à Inquisição, a Companhia de Jesus transporta consigo o colégio das Artes para a parte alta da cidade ... A partir daqui, numa ação conjunta e articulada, os dois colégios, das Artes e de Jesus, crescerão separados fisicamente mas unidos pela mesma fonte de proteção e de autoridade

... A defesa da união dos colégios .. obrigará ... à reformulação dos projetos ... A primeira pedra (do novo colégio das Artes), lançada em 1568, significará também o começo de um percurso construtivo longo e pautado por reconversões de vária índole.

... Por outro lado, as alterações a que o complexo jesuítico foi submetido até ao século XVIII mostram a ausência de rigidez programática da Companhia de Jesus tanto como a sua capacidade de adaptação a novas circunstâncias. A estrutura que viria globalmente a manter-se sofreu diversos ajustamentos já visíveis na conhecida gravura romana de Carlo Grandi, datada de 1732.

Colégio de Jesus desenho.TIFColégio de Jesus e Colégio das Artes em 1732

 Os mais significativos passam pela deslocação do eixo da igreja para poente originando a assimetria entre os pátios formados pelos blocos perpendiculares.

... Em 1732 já estavam também operativas as ligações estabelecidas com a zona das cozinhas e refeitório ... e com o grande bloco do colégio das Artes.

... Praticamente sem alterações, a força deste conjunto chegaria a 1772 ... A Reforma Pombalina da Universidade deu diferente ocupação aos espaços.

Craveiro, M.L. e Trigueiros, A. J. 2011. A Sé Nova de Coimbra. Coimbra, Direção Regional de Cultura do Centro, pg. 13-17, 29-31, 39

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por Rodrigues Costa às 09:23

Terça-feira, 21.02.17

Coimbra: Hospitais da Universidade, ou o porquê de serem hospitais

A denominação atual dos hospitais da Universidade compreende os anteriores hospitais de S. Lázaro, da Conceição e da Convalescença, ficou bem apropriada a este conjunto de hospitais.

...Em ofício de 21 de Outubro de 1772 o Marquês de Pombal participou ao reitor que tinha dado ordem ao corregedor da Cidade para a mudança do hospital ... mas só naquele dia de 19 de Março de 1779 se pode levar a efeito esta mudança ... (para o edifício dos Jesuítas, no angulo N.O., com entrada pela Couraça dos Apóstolos)

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Alas do Colégio de Jesus onde inicialmente funcionaram os Hospitais da Universidade

 ... Naquela parte do edifício dos Jesuítas ficou desde então estabelecido o hospital da Conceição, que compreendia o antigo hospital da Convalescença; continuando a permanecer o hospital de S. Lázaro no seu primitivo edifício de Fora de Portas até 1836.

Aquele hospital da Conceição na Couraça dos Apóstolos, tinha capacidade regular para 68 doentes, com que se contou na sua primitiva construção, e ainda mesmo para 80, quando se improvisaram novas enfermarias

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 ... Dando-se porém posteriormente grande acumulação em todo o hospital, a faculdade de medicina procurou remediar os seus inconvenientes, removendo as enfermarias de homens para o colégio de S. Jerónimo, por deliberação de 24 de Julho de 1838.

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 Colégio de S. Jerónimo. Portaria

... De 1846 a 1847 a acumulação de tropas na cidade, por efeito da guerra civil daquela época, deu lugar a que neste último ano se convertesse todo o edifício de S. Jerónimo em hospital militar ... a 22 de Outubro de 1847 ... os doentes militares em S. Jerónimo ... já eram em pequeno número ... fossem removidos para o hospital da Conceição, ficando desocupado o edifício de S. Jerónimo ... até 1851.

... 23 de Dezembro de 1852 ... já então se achava em obras a parte do colégio das Artes, que deveria receber alguns doentes do hospital de Conceição ... mudança dos primeiros doentes teve lugar nos dias 5 e 6 do mesmo mês de janeiro de (1853).

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 Colégio das Artes antes da adaptação a hospital

... Na sessão do conselho da faculdade de 21 de Outubro de 1853, foi presente a portaria do ministério do reino de 22 de Agosto do mesmo ano, que punha o colégio das Artes à disposição da faculdade de medicina, para o estabelecimento definitivo dos seus hospitais; e a portaria de 27 de outubro do dito ano, que ordenava a mudança do hospital de S. Lázaro, do colégio de S. Jerónimo para o colégio dos Militares, agregava ao mesmo tempo aquele edifício de S. Jerónimo ao hospital do colégio das Artes.

... Uma só administração reúne hoje (em 1882, data da publicação da obra aqui citada) aquelas três administrações, que por muitos anos se conservaram independentes; e os três antigos estabelecimentos ocupam agora quatro edifícios, interiormente comunicados, - o colégio das Artes, o colégio de S. Jerónimo, o Castelo, e o colégio dos Militares.

O edifício de S. Jerónimo acomoda os quartos particulares dos doentes que pagam o seu tratamento e dos estudantes subsidiados; uma enfermaria provisória de prisão, as repartições da secretaria e administração, a farmácia, e diferentes habitações de família para empregados.

No Castelo acha-se estabelecida a lavandaria; e há-de estabelecer-se a rouparia, a arrecadação do fato dos doentes, a moagem dos cereais e a padaria.

As moléstias internas, cirúrgicas e sifilíticas são tratadas no edifício do colégio das Artes, onde também se acha a repartição das parturientes; acomodando-se ainda neste mesmo edifício o serviço do banco e da aceitação dos doentes.

Os doentes de moléstias cutâneas e os lázaros asilados têm repartições separadas no colégio dos Militares, onde também se há-de estabelecer a repartição geral dos banhos, com o serviço de hidroterapia, inalações, etc.

Simões, A.A.C. 1882. Dos Hospitaes da Universidade de Coimbra. Coimbra. Imprensa da Universidade, pg. 51-52, 73-81, 3-4

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por Rodrigues Costa às 19:21

Terça-feira, 28.06.16

Coimbra: A Reforma Pombalina da Universidade

A emancipação do ensino público da sua influência pedagógica (dos jesuítas), um dos objetivos principais visados pela reforma do Marquês de Pombal. A este propósito, retomaremos as palavras do Doutor Lopes d’Almeida.

“Suprimida a Companhia (Companhia de Jesus, vulgo Jesuítas) e arredada do ensino, impunha-se a criação urgente, por uma série de medidas, dos órgãos necessários a assegurar a continuidade da ação docente e dos modelos novos da evolução pedagógica.

O Marquês de Pombal... pelo alvará de 28 de Junho de 1759 reorganiza o estudo das humanidades – a retórica, as línguas latina, grega e hebraica.

... Em 6 de Julho do mesmo ano é entregue a diretoria geral dos estudos ao principal da igreja de Lisboa, D. Tomás de Almeida. Ainda em 1758, a 1 de Outubro, foi comunicado ao reitor da Universidade... a reforma dos estudos menores.

... A criação do Colégio Real dos Nobres em 7 de Março de 1761 obedece ao mesmo intento renovador.

... A carta régia de 23 de Dezembro de 1770 que criava a Junta de Providência Literária foi o primeiro passo de tal caminho (o da reforma da Universidade).”

“Se é certo que em Coimbra já se suspeitava alguma coisa da preparação e dos objetivos da nova reforma, a Universidade só pela ordem de suspensão dos estudos, assinada em 25 de Setembro de 1771, foi oficialmente notificada...’no Ano que se acha próximo a principiar pelos Novos Estatutos, e Cursos Científicos, que tem estabelecido’ ... Mandava suspender a antiga legislação e que se não procedesse ‘a abertura, Juramentos, e Matrículas... até nova ordem de Sua Majestade’.

... por carta de roboração de 28 de Agosto de 1772 foram mandados executar (os novos Estatutos). Nesta mesma data uma carta régia nomeava Visitador o Marquês de Pombal, com plenos poderes para a nova fundação da Universidade.

Veio o Marquês de Pombal ... para Coimbra, onde chega a 22 de Setembro de 1772, aqui permanecendo durante um mês.

... faz entrega dos “Novos Estatutos” em 29 de Setembro.

... pelos seus despachos de 27 do mesmo mês ... nomeados para as Faculdades de Teologia, Leis, Cânones, Matemática e Filosofia os professores delas, que haviam de tomar posse no dia 3.º.

Em 28 de Setembro publicara a portaria para a jubilação dos Lentes de Medicina e em 3 de Outubro uma disposição semelhante mandava prover nas cadeiras desta última faculdade alguns novos professores, à qual foram agregados depois os italianos Franzini e Vandelli.

... De todas as Faculdades... eram as primeiras (Teologia Cânones e Leis) as que possuíam, à data maior número de professores; por isso se determinou que em 5 de Outubro se procedesse à abertura das suas aulas.

... Por carta régia de 11 de Outubro de 1772, era dada autorização ao Marquês de Pombal para usar o Colégio dos Jesuítas... por outro lado o Colégio de S. Bento cedeu parte da sua cerca para instalação de um “Horto” ... Houve assim oportunidade de estabelecer os Gabinetes de História Natural e de Física e criar um Jardim Botânico.

...”Entre as providências de maior vulto que o Marquês de Pombal promulgou durante a sua estadia em Coimbra, foi a da incorporação do Colégio das Artes na Universidade. A provisão de 16 de Outubro de 1772 que autorizava essa medida correspondia ao voto formulado numa das sessões da Junta de Providência Literária.

Ribeiro, A. 2004. As Repúblicas de Coimbra. Coimbra, Diário de Coimbra. Pg. 43 a 47

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por Rodrigues Costa às 10:47

Segunda-feira, 30.11.15

Coimbra, o “sino mouco” de Santa Cruz

… o Rei (D. João III), concedera aos Crúzios pelo alvará de 16.XI.1547, que conhecido pelo ‘Estudo Geral’, lhes concedia o ensino do latim, do grego, do hebraico, da matemática, da lógica e da filosofia … Em 1555, o Rei, já muito doente, escrevia ao Prior-mor de Santa Cruz, então Dom Francisco de Mendanha, dando-lhe a inesperada ordem:

“mando que entregais esse Colégio das Artes (assim passaram a ser designados São Miguel e Todos os Santos) e o governo dele mui inteiramente ao Padre Diogo Mirão provincial da Companhia de Jesus, o qual assim lho entregareis no primeiro do mez de Outubro …”
… Contra a espoliação os Crúzios reagiam como podiam à autoridade régia, que se entende seria muito pouco.

Mas conhece-se um acontecimento que é paradigmático, e que muito polidamente mostravam ao Rei a sua contrariedade.
Muitos anos antes de ser erigida a Torre sineira de Santa Cruz (que os mais velhos conheceram, a nascer de dentro da torre maior da defesa do Mosteiro, e que se dizia fora a primeira obra levantada quando da fundação do Mosteiro), o conjunto de sinos estava montado na denominada Torre velha dos sinos, na muralha sobranceira ao Mosteiro, e que as obras do Colégio Novo iriam obrigar a demolir.
Entre os seus sinos, um existia denominado ‘sino real’ que somente era tangido quando o Rei estava em Coimbra. Anunciava-se a vinda do Rei à cidade, antes da doença que o vitimou, e os sentidos frades logo resolveram calar aquele sino, retirando-lhe o badalo. Não mais replicou alegremente, até mesmo quando da visita do Dom Sebastião, e passou a ser conhecido pelo ‘sino mouco’.
Quatro séculos após a graça irá repetir-se com a ‘cabra’ da Torre da Universidade, da iniciativa de estudantes de outra era, mas na mesma insubmissos.

Silva, A.C. 1992. A Criação e Levantamento do Colégio da Sapiência (vulgo Colégio Novo). Coimbra, Santa Casa da Misericórdia de Coimbra. Pg. 9 a 11

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por Rodrigues Costa às 10:31

Sábado, 04.07.15

Coimbra, a Rua da Sofia e os seus Colégios 4

Colégio de S. Bernardo
Separado do Carmo pela ladeira do mesmo nome, erguia-se outro grande edifício, o «Colégio de S. Bernardo» ou do «Espirito Santo», pertencente aos cistercienses. Está hoje muito adulterado, mantendo apenas uma parte da fachada. O lado do edifício junto à Ladeira do Carmo foi transformado num palacete oitocentista. Era uma grande construção, mas simples, adaptada ao declive, com dois claustros interiores. A sua fundação deve-se ao cardeal D. Henrique, que financiou as obras “à custa da sua própria fazenda”.

Colégio de S. Boaventura
Sofrendo de igual descaracterização está o «Colégio de S. Boaventura», do outro lado da rua, logo a seguir ao Beco de S. Boaventura. Igreja e parte residencial estão transformadas em lojas comerciais e habitações … Ocuparam-no os franciscanos da Província dos Algarves, que tinham por apelido os «frades pimentas».

Colégios de S. Miguel e Colégio de Todos-os-Santos
Na mesma linha do Colégio de S. Bernardo se encontra o «Palácio da Inquisição», de que restam partes, sobretudo no lado que dá para o pátio do seu nome. Para se entender a sua localização há que referir as construções que o antecederam. No cotovelo formado entre a Rua da Sofia e a subida de Montarroio levantaram-se dois colégios do Mosteiro de Santa Cruz: o de S. Miguel, ao longo da Rua da Sofia, destinado a canonistas e teólogos, e o de Todos-os-Santos, na rampa de Montarroio, para alojamento de alunos de Teologia e Artes. Projetaram-se cerca de 1535 e ainda decorriam obras em 1547, quando o rei D. João III pediu os edifícios ao Prior de Santa Cruz para aí instalar o Colégio das Artes

…O tribunal da Inquisição estabeleceu-se em Coimbra, em 1541, andando por sedes provisórias, até vir ocupar este edifício desafeto, em 1566. Das velhas construções pouco resta, para além de um lanço de claustro, no pátio interno. As instalações foram sendo adaptadas.

Para a Rua da Sofia ficava a «Porta da Bica», por onde entravam os presos. Havia outra entrada pelo Pátio de S. Miguel, que já não existe, mas o núcleo principal voltava-se para o Pátio da Inquisição … À entrada do pátio, à direita, situavam-se os «aposentos dos secretários» - prédio renovado, no estilo dos séculos XVII-XVIII, de boas linhas. No topo ficavam os «aposentos dos inquisidores», com um terraço avarandado, tendo do baixo a «casa do tormento». Os cárceres e galerias do lado sul e poente desapareceram já.


Borges, N. C., 1987. Coimbra e Região. Lisboa, Editorial Presença. Pg. 82 e 83

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por Rodrigues Costa às 12:48


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