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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 11.07.24

Coimbra: Volta de S. João, em Cernache 2

Com esta entrada concluímos a revisitação de um artigo do Professor Doutor Nelson Correia Borges, dedicado a uma tradição popular – a Volta de S. João – que tinha lugar na freguesia de Cernache e que, infelizmente, voltou a ser esquecida.

 A «Volta compõe-se de um grupo a cavalo e outro apeado. O grupo a cavalo é constituído por homens que montam cavalos ou éguas. de jaezes enfeitados com fitas ou flores de papel de cores garridas. Um destes cavaleiros é o porta-bandeira e segue no melo dos outros que se dispõem em duas filas de um e outro lado. Os restantes empunham lanças de madeira enfeitadas com duas fitas de seda, em reminiscência das primitivas cavalhadas. Estas fitas, nas cores verde e rosa, eram, no final, oferecidas às pessoas amigas.

No início deste século o trajo dos cavaleiros era formado por botas com polainas ou botas de cano alto, com esporas; calça preta, lisa ou de casimira às riscas, com fivela atrás; camisa branca de linho ou popelina. com peitilho e colarinho simples, sem vira; cinta azul com riscas finas transversais vermelhas e amarelas, de pontas franjadas, enrolada aberta, deixando pender uma ponta ao lado esquerdo; colete simples, ou com pequenina gola na parte da frente, de tecido geralmente igual ao das calças, com costas de riscado de cores vivas; chapéu preto de feltro, de aba larga, ou carapuça.

À frente dos cavaleiros seguia o grupo apeado, constituído por mulheres (as «mulheres da Volta»), igualmente dispostas em duas alas.

O trajo feminino utilizado na mesma época era também multo característico.

Sobre duas ou três saias brancas a mulher vestia uma sala preta de armur ou outro tecido, ou até de chita estampada; a saia atava à altura da anca com uma cinta de tecido de lã nas cores azul ou vermelha, formando grande laço atrás. O chambre era do tipo usual na região, em tecido de algodão liso, com lavrados ou estampados, em cores que podiam ir do rosa ao azul claro, com predomínio do branco; continha um forro interior que só na parte das costas era costurado conjuntamente com o tecido exterior, ficando a parte da frente a formar um corpete apertado sob o tecido solto de fora; muito justo ao pescoço, formava um espelho sobre o peito, enfeitado com rendas, espiguilhos ou favos; as mangas apertavam no pulso com elástico ou botão, colocado de modo a formar um folho rematado com renda, mas habitualmente usavam-nas puxadas até ao cotovelo. Este tipo de chambre, de corte rebuscado para fazer realçar as linhas do corpo, vestia muito justo nas costas e algo folgado à frente, conferindo grande elegância a quem o usava. Por cima da saia levavam ainda um avental de zampa ou outro tecido de algodão de cor clara – as preferências iam para o rosa, o azul e o branco – com terminação arredondada ou em bico, bordado com raminhos e flores. Nos pés calçavam chinelas, que multas vezes levavam na mão para poderem caminhar mais desembaraçadamente. A cabeça era coberta com o cachené de ramagens, atado sob a nuca, a deixar cair uma das pontas sobre o peito. Restam ainda dois complementos indispensáveis a este trajo: o xaile «chinês», ou de quadradinhos pretos e brancos, de oito pontas, levado à cabeça, cuidadosamente dobrado, e a sombrinha para defesa da ardência dos ralos solares.

VSJ Op.cit., pg. 17.jpgTrajos da VOLTA DO S. JOÁO de cerca do 1900, apresentados na exposição «Coimbra Etnográfica», realizada pelos Serviços Municipais de Cultura e Turismo, em agosto de 1982. Op. cit., pg.17

Hoje em dia os trajos modernizaram-se em muitos aspetos, mas a maioria das pessoas manifesta a vontade de manter a tradição, utilizando algumas peças talhadas «à moda antiga», ou mesmo antigas, de acordo com as possíbilidades e o gosto de cada um.

Juntam-se ao grupo várias pessoas que vão a cumprir promessas, bem como outros homens e mulheres que queiram acompanhar, a pé.

O cortejo organiza-se junto à capela de Vila Nova e inicia a volta, sempre através de carreiros velhos, pela Feteira, onde o povo o recebe com colchas às janelas e lançando flores sobre a bandeira. Passa em frente da capela de Nossa Senhora da Conceição.

Capela da Feteira, Cernache.jpgCapela de Nossa Senhora da Conceição. Fotografia de Zizas Bento, acedida em: Capela da Feteira - Google Maps

Aqui os feteirenses presenteiam os cavaleiros e «mulheres da Volta» com bolachas e bebidas e há pessoas que oferecem fitas à bandeira, em pagamento de promessas.

De Feteira seguem para Pousada, onde dão três voltas à capela de S. Pedro.

Capela de S. Pedro, Pousada, Cenache.jpgPousada, capela de S. Pedro. Imagem acedida em: Rua do Ribeiro - Google Maps 

Renova-se o ritual da oferta de bebidas e bolos e cumprimento de promessas, como aliás, em todos os lugares por onde a «Volta» passa.

Cernache é a próxima etapa, com passagem em frente da capela de S. João Evangelista. De uma janela pende a bandeira do titular da capela, a saudar o cortejo.

Continuam em direção a Vila Pouca, onde entram no adro da capela de` Santo António por uma porta e saem por outra.

Capela de S. António.Vila Pouca.jpgVila Pouca, Capela de` Santo António. Imagem acedida em:  Capela De Santo António - Google Maps

Aqui os cavaleiros dão três corridas pelas ruas do lugar, enquanto as mulheres vão seguindo para a frente, pela velha estrada da Ribeira do Pão Quente, até atravessar a Quinta das Senhoras, no Orelhudo.

Casconha é a última povoação a ser visitada. Noutros tempos mudava o ritual neste lugar: os cavaleiros apeavam-se, à exceção do porta-bandeira e passavam a levar os animais pela arreata. Uma banda de música que os esperava incorporava-se no cortejo e seguiam todos de regresso a Vila Nova.

A missa da festa marca o ponto final da «Volta». As fitas que ornamentaram as lanças eram oferecidas às pessoas amigas ou às namoradas dos cavaleiros solteiros.

Não é única no seu género esta tradição na zona do campo de Cernache, pois assinalam-se manifestações semelhantes em Vila Pouca, em honra de Santo António, e em Cernache, dedicadas a S. João Evangelista que, todavia, se afastaram um pouco do costume tradicional. De facto, trata-se de um acontecimento típico dos festejos dos santos populares de junho e em especial de S. João Batista, o santo de mais rico folclore.

A «Volta do S. João» de Vila Nova de Cernache é uma expressão coletiva rica de sincretismo onde se caldeiam memórias da velha Cavalaria nas lanças e na carga que tem lugar em Vila Pouca e de antiquíssimos rituais pagãos propiciatórios cristianizados, nas três voltas à capela de S. Pedro da Pousada, com outros costumes menos antigos. Na caminhada através dos campos destes romeiros sem romaria, a cavalo e apeados, há como que o perpetuar de ancestrais ritos quase tão velhos como o próprio homem, como que o ecoar de uma ladainha do maio vinda da própria natureza. É a festa de solstício transformada pela igreja para honra de S. João e dos dois outros grandes santos populares de junho.

Nada disto conta, porém, para as gentes de Vila Nova de Cernache que teimam briosamente em não deixar morrer a tradição, numa afirmação da sua identidade como povo.

Borges, N.C. «A Volta de S. João» em Vila nova de Cernache. In. Munda, n.º 5 Maio 1983. Revista do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Pg. 15 a 18

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por Rodrigues Costa às 10:26

Terça-feira, 09.07.24

Coimbra: Volta de S. João, em Cernache 1

Nesta e na seguinte entrada relembramos um excelente artigo do Professor Doutor Nelson Correia Borges, dedicado a uma tradição popular – a Volta de S. João – que tinha lugar na freguesia de Cernache. Tradição que, infelizmente, entre 1983, data de publicação do artigo na revista Munda, e o presente voltou a ser esquecida.

A tradição é o canteiro onde germinam as sementes dos frutos novos. Neste despertar para a fraternidade como fruto amadurecido da arte de viver, um povo que sabe manter a festa como irmã do trabalho é um povo próximo do futuro.

Numa época voltada para o consumo imediato, como é a que vivemos, em que o automóvel destronou para sempre a diligência, o trator o boizinho pachorrento, a rádio e a televisão alienaram os serões familiares, o motor de tirar água fez parar a nora de alcatruzes gotejantes à beira do rio ou no poço, com o burrico paciente andando à volta horas e horas, e em que a lâmpada elétrica apagou a velha candeia de azeite, o lampião ou o próprio candeeiro de petróleo, causa admiração ver como ainda se pode manter o culto popular de certas velharias que permanecem indiferentes à evolução da vida moderna.

Quando a sobrevivência destas manifestações populares se verifica em aldeias recônditas onde as formas de vivência ainda não foram muito alteradas pelo progresso do presente, o facto poderá ter fácil explicação. Mas, nas imediações dos grandes centros, onde o contacto com as novas ideias e as novas modas de todos os dias é direto e permanente, o caso é de admirar e refletir, evidenciando bem como a prática de certos costumes, fruto de séculos de aculturação, se arreigou profundamente na alma coletiva do nosso povo.

As cavalhadas, que sobrevivem em alguns pontos do país, são um exemplo. Ainda há bem pouco tempo se realizavam na Malveira, às portas de Lisboa e continuam a ter lugar em Vil de Moinhos – Viseu.

Tal é também o caso de Vila Nova de Cernache.

Trata-se de uma pequena povoação, a cerca de 8 quilómetros ao sul de Coimbra, inscrita numa zona agrícola de certa importância que no passado foi um dos principais centros abastecedores do mercado da cidade do Mondego ….  Pois aqui em Vila Nova do Cernache, sobrevivem as cavalhadas sob forma híbrida e transformada, numa manifestação anual de cultura popular a merecer registo e atenção.

Capela de S. Vicente, Vila Nova.jpgVila Nova, Capela de S. Vicente Fotografia de Zizas Bento, acedida em: Capela de S. Vicente - Google Maps

As cavalhadas têm as suas origens na longínqua (e ainda tão próxima...) Idade Média, época em que floresceu a Cavalaria que, com suas justas e torneios lhes serviu de modelo. A Cavalaria, de autêntica lnstituição que era, degenerou para o espetáculo. O povo copiou e parodiou, misturou o sério com o cómico, o profano com o religioso, juntou-lhe reminiscências de lutas entre mouros e cristãos, celebradas nas «mouriscas», fez as mais variadas versões: a corrida ou jogo de argolinhas, jogos de canas, festejos equestres combinados com touradas ou «combates com os infiéis», cortejos de bandeiras, de círios ou alegóricos, etc.

Em Vila Nova de Cernache as cavalhadas são em honra de S. João Baptista,

São João Batista.jpgS. João Batista. Imagem acedida em: https://www.bing.com/images/search?...

seu orago, como aliás em muitas outras terras onde se realizavam, e constituem uma variante da região, isto é, da forma de cortejo de condução da bandeira. Este cortejo podia assumir aspetos que iam desde o carnavalesco, como outrora na Figueira da Foz, ao ar mais compenetrado, como aqui.

Chamam-lhes, expressivamente, a «Volta do S. João».

Não há memória de quando, como ou porquê se deu início a esta tradição, retomada em 1976, depois de mais de três décadas de interregno. Organizada pelos mordomos da festa, tem lugar no dia 24 de junho de manhã e consta fundamentalmente de um cortejo composto por homens e mulheres, envergando trajos típicos e conduzindo a bandeira de S. João que se encontra na capelinha da aldeia. A «Volta, para além de ser uma expressão da religiosidade popular, tem o sabor de uma visita de cortesia às capelas e povoações limítrofes.

Borges, N.C. «A Volta de S. João» em Vila nova de Cernache. In. Munda, n.º 5 Maio 1983. Revista do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Pg. 15 a 18

 

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por Rodrigues Costa às 19:05

Sexta-feira, 05.07.24

Conversas Abertas: Bio-Reserva Senhora da Alegria

É já de hoje a uma semana, na 6.ª feira, dia 12 de julho, às 18h00 que na sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra, irão chegar ao fim as Conversas Abertas 2024.

O tema a abordar será uma, ainda pouco conhecida, preciosidade do concelho de Coimbra. Trata-se da Bio-Reserva da Senhora da Alegria, localizada na freguesia de Almalaguês, numa encosta virada a norte entre aquele lugar e Rio de Galinhas.

Bio Reserva da Senhora da Alegria, Coimbra 2.jpgBio-Reserva Senhora da Alegria. Imagem acedida em https://www.theuniplanet.com/2020/02/bio-reserva-senhora-da-alegria-reserva-que-nasceu-da-juncao-de-um-grupo-de-amigos/

A um local de grande beleza paisagística, acrescem o interesse do ponto de vista geológico, a biodiversidade aí existente e um vasto património cultural.

Bio Reserva da Senhora da Alegria, Coimbra 1.jpgBio-Reserva Senhora da Alegria. Imagem acedida em https://www.theuniplanet.com/2020/02/bio-reserva-senhora-da-alegria-reserva-que-nasceu-da-juncao-de-um-grupo-de-amigos/

Os palestrantes, membros da ONGA Milvoz, serão Pedro Gomes e Margarida Portela.

CA, 12.07.2024, folha de sala.jpg

Conversa Aberta de 12 de junho de 2024. Folha de sala

Como é usual, após a apresentação seguir-se-á um período de debate, aberto a todos os participantes.

Pedimos a ajuda de todos na divulgação deste evento.

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 11:58

Quinta-feira, 30.05.24

Conversas Abertas: O Instituto de Coimbra, Academia Científica e Literária

É já amanhã, 6.ª feira, que no Arquivo da Universidade de Coimbra, partir das 18h00 que irá decorrer mais uma Conversa Aberta, esta dedicada à história do Instituto de Coimbra.

CA. 31.05.2024, folha de sala.jpgFolha de sala

A atividade desta academia ao longo dos anos reflete o pensamento de cada um dos seus presidentes, que foram personalidades influentes da história nacional, de Adrião Forjaz Sampaio a Orlando de Carvalho, passando por Bernardino Machado, Francisco Miranda da Costa Lobo e muitos outros. O Instituto ocupou diferentes espaços da Alta de Coimbra, dispondo de salas de reunião, uma biblioteca e gabinete de leitura e, a certa altura, um museu de antiguidades.

A revista O Instituto foi uma das revistas científicas portuguesas de maior longevidade, com 141 volumes publicados entre 1852 e 1981.

A palestrante será a Doutora Licínia Rodrigues Ferreira, Técnica Superior na Divisão de Promoção da Qualidade da Reitoria da Universidade de Coimbra.

Licinia-Ferreira-926.jpg

Licínia Rodrigues Ferreira. Imagem acedida em https://www.bing.com/images/search?view=detailV2&ccid...

Como é habitual a entrada é livre e após a apresentação do tema, segue-se um tempo em que todos os participantes são convidados a apresentar os pedidos de esclarecimento que julguem relevantes.

CA. 31.05.2024, cartaz.jpgCartaz

Pedimos ajuda de todos na divulgação deste evento.

Obrigado.

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 13:08

Sexta-feira, 24.05.24

Conversas Abertas: O INSTITUTO DE COIMBRA, ACADEMIA CIENTÍFICA E LITERÁRIA

É já de hoje a 8 dias – na próxima 6.ª feira, dia 31 de maio, às 18h00 – que no Arquivo da Universidade de Coimbra se realizará a antepenúltima Conversa Aberta do ciclo deste ano.

CA. 31.05.2024, cartaz.jpg

Conversa Aberta de 31 de maio de 2024, cartaz

Será dedicada à descoberta da história do Instituto de Coimbra, uma instituição a caminho de ser bicentenária – foi fundada em 1852 - e hoje demasiado desconhecida.

Daí a importância de lembrar à Urbe Conimbricense, o papel muito relevante que, ao longo dos seus 172 de existência, desempenhou em prol da divulgação do desenvolvimento científico aqui ocorrido, bem como na dignificação da nossa Universidade e, concomitantemente, da Cidade.

Será palestrante a Doutora Licínia Rodrigues Ferreira.

CA. 31.05.2024, folha de sala.jpg

Conversa Aberta de 31 de maio de 2024, cartaz

A todos solicito a ajuda que for possível na divulgação desta Conversa Aberta.

Obrigado.

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 16:29

Sexta-feira, 15.03.24

Conversas Abertas: Mikveh em Coimbra, resultados da escavação arqueológica

É já – de hoje a oito dias, na 6.ª feira, dia 22 de março, às 18h00 – que no Arquivo da Universidade de Coimbra, as Conversas Abertas irão prosseguir, com uma palestra em que serão apresentados os resultados das escavações arqueológicas, realizadas no único vestígio construtivo conhecido, da desaparecida comunidade judaica de Coimbra, localizado na Rua Visconde da Luz.

Recordo que uma «mikveh» é um tanque onde é recolhida a água de uma nascente, que serve para a realização de uma cerimónia de purificação, por imersão em água, praticada na religião judaica.

CA. 22.04.2024 c1.jpg

Cartaz da palestra

CA. 22.04.2024 f1.jpg

Folha de sala a distribuir na palestra, 1

CA. 22.04.2024 f2.jpg

Folha de sala a distribuir na palestra, 2

 

A entrada é livre e após uma introdução do tema pelo palestrante seguir-se-á o habitual tempo de discussão com os assistentes.

Pedimos a ajuda de todos na divulgação deste evento.

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 11:38

Quinta-feira, 15.02.24

Coimbra: Personalidades, Jorge Gomes 3

Conclusão do texto de Manuel Campos Coroa sobre Jorge Gomes.

Jorge Gomes começou por ensinar jovens a tocar guitarra na sua casa, mas logo em 1971 foi convidado para integrar um projeto pedagógico de forma mais intensa e estruturada, no edifício das antigas piscinas municipais da cidade, em consequência de mais uma notável iniciativa do Dr. Fernando Mendes Silva, que criou a escola onde o mestre ensinou várias dezenas de alunos de ambos os sexos. Esta iniciativa passou também pela ACM, num esforço alargado de revitalização da música popular de Coimbra.

Em 1978, na sequência do 1º seminário do fado, a Camara Municipal de Coimbra criou a chamada Escola do Chiado, pela mão do Dr. António Rodrigues Costa e coordenação pedagógica de Jorge Gomes, onde também lecionou Fernando Monteiro.

JG 8 primeiros_alunos_escola_fado_chiado.pngJorge Gomes e alguns dos primeiros alunos da Escola de Fado do Chiado. Igreja de Santa Cruz, capela de S. Teotónio. 1979

JG 9 toze_moreira_primeiros_alunos_escola_fado_chiTozé Moreira, um dos primeiros alunos da Escola de Fado do Chiado. 1979

JG 10 seminario_fado_coimbra.pngJorge Gomes com alunos da Escola de Fado do Chiado. II Seminário do Fado, serenata na Sé Velha. 1979

Esta escola, que funcionou no edifício camarário da rua Ferreira Borges, começou a “produzir” com regularidade uma grande quantidade de jovens guitarristas, violistas e cantores, com muita qualidade, num tempo em que era necessária uma dose reforçada de coragem, pela necessidade de combater uma ideia (errada), que começou a ser estabelecida na cidade, de certo modo, logo no período da crise académica de 1969, mas com um impacto muito maior durante o período revolucionário (PREC), em que tudo o que se relacionasse com guitarras e canto tradicional era considerado reacionário. Os elementos dos grupos que ousavam fazer serenatas de rua, eram frequentemente vítimas de agressão física, ou insultados porque os consideravam saudosistas do Estado Novo.

Os jovens desse período, honra lhes seja feita, nunca tiveram medo e não pararam as atividades. A escola camarária continuaria a funcionar, mudando de instalações para a ladeira do Carmo e mais tarde para o Centro Norton de Matos, sempre coordenada por Jorge Gomes, até que foi abruptamente encerrada, sem que se desse qualquer explicação aos alunos já inscritos, ou mesmo aos monitores. As razões deste encerramento, embora conhecidas, nunca foram frontalmente assumidas pelos responsáveis políticos da época.

No início da década de 80, mestre Jorge Gomes estende a sua atividade, ao sindicato dos Bancários, à escola de música do Colégio de São Teotónio, e também à AAC, mais concretamente à TAUC e à Secção de Fado, onde inicialmente esteve também Fernando Monteiro.

Esta fase, foi a mais produtiva do percurso de Jorge Gomes no ensino da guitarra, da viola e do canto. Preparou ali instrumentistas às centenas e consequentemente, uma quantidade enorme de grupos de canção de Coimbra, com alto nível artístico, que projetaram de uma forma notável todo o esplendor do património musical da academia e da cidade, através de incontáveis espetáculos “Urbi et Orbi”.

Mestre Jorge Gomes é um homem de fortes convicções e personalidade, que se manteve fiel à forma de ensino tradicional da guitarra, com comprovadíssima e incontestável eficácia. 

Dono de uma generosidade notável, ensinou tudo o que sabia a todos os alunos que julgou merecedores. Nada lhe dá mais satisfação do que saber que os seus alunos brilham pelo seu mérito, e quanto mais novos forem melhor. Por isso reagiu sempre às tentativas (mais ou menos explícitas) de desvalorização do mérito que pertence aos alunos e decorre da sua própria dedicação, talento e inteligência.

Dedicou a maior parte da sua vida ao ensino da guitarra de Coimbra, motivado unicamente pelo serviço à causa, sem nunca se servir dela em benefício próprio. Foi muitas vezes incompreendido e criticado por quem acha a sua metodologia desadequada face ao ensino formal da música.

Uma personalidade que fez muitos e bons amigos, mas criou, por outro lado, fortes anticorpos e também alguns inimigos, mas nunca deixou de ser fiel a si próprio, Jorge Gomes soube manter uma total Independência face aos poderes instituídos e por isso, nunca foi passível de instrumentalizar.

A intolerância que sempre teve, à introdução de ornamentação instrumental excessiva nos acompanhamentos e de alguns trejeitos no canto, mais próprios de outras regiões do País, levou a que alguns sectores menos cultos da atividade, o acusassem de fundamentalismo e até de ser um anacrónico travão da “evolução” para a modernidade.

É fundamental compreender que a intenção e a força interpretativa da palavra cantada, a emoção da poesia, reforçada com a adequação e a qualidade nos acompanhamentos, é o que tem que passar para quem ouve. Por isso, tudo o que contribua para “distrair” o ouvinte do essencial, é, na estética da canção de Coimbra, totalmente dispensável.

Tocar guitarra e cantar Coimbra, não pode transformar-se em mero exibicionismo circense ou em feiras de vaidade.

Quando o ouvinte consegue abstrair-se das figuras que cantam ou tocam e se centra emocionalmente na mensagem, mais perto estaremos da perfeição.

A evolução da música de matriz coimbrã, acontecerá de forma independente das vontades, das ambições pessoais, das modas ou de simples circunstâncias conjunturais.  Apenas o tempo, na sua sabedoria, separará o “Trigo do Joio“ e ditará o que sobrevive no futuro.

Ao que julgo saber, nenhum dos grandes protagonistas da história da canção de Coimbra, trabalhou com a intenção de procurar o estrelato, ou teve sequer consciência durante o processo criativo, da importância que o futuro lhes concedeu.

Mestre Jorge Gomes foi, durante muitas décadas um verdadeiro guardião do património musical popular de Coimbra, muito particularmente da sua guitarra, garantindo através da transmissão oral direta e do ensino tradicional, a sobrevivência de um tesouro cultural inestimável, de uma forma absolutamente excecional.

Os resultados falam por si. Não conheço outra escola que se lhe compare, seja na qualidade ou na quantidade dos intérpretes que produziu.

Encerrou definitivamente a sua atividade de ensino na Secção de Fado da AAC, em março de 2020, por ocasião do confinamento determinado pela pandemia de Covid-19.

Infelizmente, mais do que o fator idade, foi em grande medida o ambiente de facilitismo instalado na cidade e na academia, com uma crescente falta de ética, grande desrespeito pelas exigências técnicas e estéticas, que foram decisivas para que o Mestre não voltasse.

O fenómeno de crescente mercantilização da música de Coimbra, que caminha a passos largos para uma certa “globalização” descaracterizadora, pouco exigente no gosto e no rigor, protagonizada pelos que se servem da arte para obtenção de lucros e/ou notoriedade pessoal a todo o custo, é manifestamente incompatível com os valores morais e éticos, de homens com a verticalidade do Mestre Jorge Gomes.

Na cultura, como na biologia, é imperativo defender a diferença, as especificidades regionais e locais, porque a beleza da arte também reside na diversidade e a Humanidade precisa do belo.

Serão as forças vivas da cidade, capazes de garantir a sobrevivência deste legado cultural, com a indispensável independência face a interesses conjunturais de qualquer natureza?  Seremos capazes de defender e preservar este tesouro cultural?

Ficam as perguntas.

 Coimbra, 28 de janeiro de 2024

Manuel Campos Coroa

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por Rodrigues Costa às 10:39

Terça-feira, 13.02.24

Coimbra: Personalidades, Jorge Gomes 2

Continuação do texto de Manuel Campos Coroa sobre Jorge Gomes.

Jorge Gomes, persistiu no seu método pedagógico por mais de 5 décadas e nunca deixou morrer em Coimbra o legado de Artur Paredes, que de contrário seria, na minha opinião, mais um génio esquecido no tempo.

Identifica como seus mestres, Fernando Rodrigues (irmão de Flávio), José Rodrigues, bem como os estudantes Octávio Sérgio, Arménio Serrão Assis e Santos, a que se somavam também alguns outros guitarristas com quem convivia.

O instrumento que hoje possui, foi-lhe vendido em 1959 por Octávio Sérgio, que o tinha comprado na casa de Olímpio Medina. É uma Guitarra de Coimbra em pau-santo da Baía, da lavra do mestre guitarreiro João Pedro Grácio Júnior, sua companheira de incontáveis serenatas e gravações, que o acompanhou durante a comissão militar em Angola e que iria mais tarde emprestando a alunos de sucessivas gerações, que ainda não tinham guitarra própria, possibilitando-lhes assim a aprendizagem e o uso em eventos especiais.

Integrou como instrumentista vários grupos de canção de Coimbra, a começar pelo grupo em que se estreou, tocando viola, numa serenata realizada no antigo colégio Camões (à Av. Dias da Silva), acompanhando os guitarristas Manuel Pais e Frias Gonçalves, com  Fernando Ermida no canto, até ao Grupo Folclórico de Coimbra, passando também por muitos outros agrupamentos de destaque.

Para referir apenas alguns grupos que Jorge Gomes integrou no seu extenso percurso musical, destaco um com David Leandro, outro com o guitarrista/cantor Manuel Branquinho (com quem gravou em estúdio), mas também com os amigos António Ralha e Manuel Dourado, acompanhando regularmente cantores como Serra Leitão, Raúl Diniz, José Manuel dos Santos, Armando Marta, ou também, de forma pontual, Fernando Rolim, ou Glória Correia, entre muitos outros intérpretes.  

Durante vários anos, foi 2º guitarra no grupo liderado por António Pinho Brojo, com Aurélio Reis e Manuel Dourado nas violas, acompanhando o cantor José Mesquita, em espetáculos e gravações de estúdio.

Gravou como violista os discos, Fogueiras de São João I e II, editados pelo Grupo Folclórico de Coimbra,

JG 5 grupo_folclorico_coimbra_passo_fundo.png

Grupo Folclórico de Coimbra, com Jorge Gomes na guitarra de Coimbra. Comemorações dos 500 anos da descoberta. do Brasil, junto ao monumento a Pedro Alvares Cabra, em Passo Fundo, Brasil. 2000.

mas também outros editados pela Secção de Fado da AAC, como “Olhar Coimbra”, integrando à guitarra o grupo “Árreum Pórreum” com temas de música futrica ou ainda o disco da Secção de Fado “Coimbra, Baladas Fados e Guitarradas”, em que gravou a peça de sua autoria “Maio de 78“, composta no edifício Chiado em homenagem ao retomar das tradições académicas, que resultou das conclusões extraídas do primeiro seminário do fado, realizado naquela data no auditório da reitoria da UC.

JG 6 JorgeGomes e Alunos S.F. Santa Cruz.jpgJorge Gomes com alunos da Secção de Fado da AAC. Abril de 2005.

JG 7 JorgeGomes e Alunos S.F. Santa Cruz  2.JPGJorge Gomes com alunos da Secção de Fado da AAC, no café de Santa Cruz. Inícios dos anos 2000.

A sua dimensão pedagógica, é sem sombra de dúvida a que mais se destaca, pelo enorme talento natural para a transmissão de conhecimentos, mas essencialmente porque ensinou sempre de forma dedicada, com um visível gosto pessoal e verdadeira vocação, quer a música quer a História, disciplina em que é licenciado pela FLUC e que lecionou durante anos no colégio de S. Teotónio.

Pude testemunhar em frequentes ocasiões, a grande cumplicidade que se estabelece naturalmente com os jovens e adolescentes com quem se relaciona, acrescentando ao trabalho técnico, alguns episódios de sã brincadeira, que contribuem  de forma decisiva para o fortalecimento dos laços de amizade para a vida.

Os seus alunos de guitarra, para além da aprendizagem técnica e estética da música de matriz coimbrã, absorveram quase sem dar conta, com frequência à volta de uma mesa de lanche ou refeição, conceitos absolutamente essenciais para a correta compreensão e o indispensável enquadramento histórico-cultural das atividades artísticas, promotores de uma formação de base sólida, que estimula de forma decisiva, o sentimento coletivo de pertença.

Mestre Jorge Gomes é, na minha opinião e na de muitas dezenas de cultores, o maior vulto do ensino da guitarra de Coimbra de sempre. Pelo abrangente conhecimento da cultura, da história,  pela consciência da grande importância do contributo para a arte, daqueles que foram passando pela cidade em busca de conhecimento e por  cá deixaram as mais diversificadas influências e que muito contribuíram para o enriquecimento deste “caldo de cultura” que se chama Coimbra, influenciando de forma muito particular a música, nas suas vertentes académica e futrica, elas próprias, verdadeiramente indissociáveis.

O cerne do ensino de Jorge Gomes na arte de bem tocar a Guitarra de Coimbra, reside na transmissão rigorosa de uma técnica de dedilhação apoiada da mão direita, em que polegar e indicador percutem as cordas utilizando em simultâneo a unha (que não deverá ser demasiado comprida, nem ter forma de palheta)  e a polpa dos dedos, ficando estes, ato contínuo, apoiados nas cordas imediatamente adjacentes, quase sempre no uso do polegar e na flexão do indicador, favorecendo desta forma a consistência, a intensidade e a qualidade das notas musicais, o que, aliado à destreza da mão esquerda, contribui de forma decisiva para a qualidade do som extraído da guitarra, que é uma das principais características diferenciadoras no toque da guitarra de Coimbra,   em que Jorge Gomes é exímio.

Importa esclarecer, que não foi Jorge Gomes o “inventor” destas técnicas, mas sim Artur Paredes, como se poderá constatar pela leitura da obra do amigo e 2.º guitarra, Dr. Afonso de Sousa: “O canto e a guitarra na década de oiro da Academia de Coimbra (1920-1930)” – Coimbra Editora 1986.

 Conclusão na entrada seguinte.

 Coimbra, 28 de janeiro de 2024

Manuel Campos Coroa

 

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por Rodrigues Costa às 10:39

Quinta-feira, 08.02.24

Coimbra: Personalidades, Jorge Gomes 1

Conheço Jorge Gomes há largos anos. A sua personalidade assenta em duas vertentes, a de um homem vertical e forte nas suas convicções e um acrisolado amor ao ensino e preservação do Fado de Coimbra. Lembro o tempo em que tantos “meteram a viola no saco” e ele continuar firme e destemido na defesa de uma das razões de ser da sua vida.

È, de inteira justiça, integrar a galeria das Personalidades de Coimbra.

O texto de hoje da autoria de Manuel Campos Coroa, é o primeiro de uma série de três entradas, sobre um percurso de vida ímpar.

 Falar sobre o Dr. Jorge Gomes, é falar num bom amigo e mestre, com quem mantenho há várias décadas uma proximidade diária, numa relação que extravasa em muito o universo da Guitarra de Coimbra, mas não existiria sem ela.

Fazê-lo para corresponder a um desafio do Dr. António Rodrigues Costa, transforma estas linhas numa tarefa tão irrecusável quanto difícil, porque apela a um exigente poder de síntese, que confesso não ter.

JG 1 jorge_gomes.png

Jorge Gomes

Não me é possível falar do Mestre, sem um olhar pluridimensional sobre o Homem, o Professor e o Músico, na sua relação afetiva com o universo histórico-cultural da sua Coimbra natal.

Jorge Luiz da Costa Gomes, nasceu em Coimbra no dia 19 de julho de 1941 e cá vive desde sempre, com exceção do período em que cumpriu o serviço militar obrigatório, com passagem por Angola. Mantém uma memória remota notável, com grande capacidade de evocação de factos e personalidades do passado, identificando os protagonistas e acontecimentos com grande clareza.

Viveu a sua infância e adolescência na travessa de Moura e Sá, em Montes Claros, na companhia de seus pais e irmã, de onde posteriormente se mudariam para a rua Verde Pinho.

Foi neste ambiente, onde pontificou a influência familiar, que se forjou Homem de honestidade a toda prova, verdadeiramente desprendido de interesses materiais e convictamente avesso ao elogio da própria personalidade.

Na Escola Primária de Almedina, foi colega de carteira e amigo, do malogrado Fernando Frias Gonçalves, que seria também um talentoso guitarrista com quem partilhava o interesse e a aptidão para a música, em particular para os instrumentos de corda, em que o genial guitarrista Artur Paredes era referência maior.

JG 2. Filhos da Madrugada - Casa de Coimbra no Alg

 Fernando Frias Gonçalves na viola, Jorge Godinho e Eduardo Melo na guitarra e José Miguel Batista, no canto. Finais dos anos 60. Imagem acedida em: https://www.facebook.com/photo/?fbid=2040525446055952&set=pcb.2040525472722616

Jorge Gomes, revelou desde jovem uma grande habilidade manual, começando mesmo por fabricar os seus próprios instrumentos, ainda que muito rudimentares, usando para isso (às escondidas), tábuas e fios metálicos, que o pai usava no fabrico de resistências para fogões elétricos. Eram “instrumentos-brinquedo”, que embora muito primários, permitiam já a afinação das “cordas” e a formação de acordes musicais,  no que seriam os primeiros passos para mais tarde construir  as suas próprias guitarras e sobretudo uma viola toeira de Coimbra, que ofereceu ao Dr. Manuel Louzã Henriques, depois do desaparecimento (em 1981) do guitarreiro Raúl Simões, último construtor e tocador conhecido de violas toeiras, de que já não havia na época qualquer exemplar tocável .

JG 3 viola_toeira.pngViola toeira construída por Jorge Gomes, 2003 c.

Esta viola toeira construída por Jorge Gomes, pode ainda hoje ser vista na coleção de instrumentos populares do Dr. Lousã Henriques.

A necessidade de aprender a tocar de forma mais sistematizada a guitarra de Coimbra e o violão de acompanhamento, rapidamente se impôs.

A primeira guitarra que teve, foi-lhe oferecida por uma tia, que, notando o entusiasmo e o talento do rapaz para a música, a decidiu comprar na casa Olímpio Medina, por ocasião da conclusão do ensino primário e ingresso no Liceu.

Só que o Pai, Joaquim Flório Gomes, homem dedicado ao trabalho, eletricista muito solicitado pela sua competência técnica e honestidade, via na guitarra uma grande fonte de distração do filho e pensava que o largo tempo que lhe dedicava, o iria prejudicar no cumprimento das obrigações escolares.

Nestas circunstâncias, não lhe sendo possível treinar em casa, restou a solução de levar o instrumento para casa do amigo Frias Gonçalves, no Tovim, para que este lhe fosse dando uso durante a semana.

Aos fins de semana, principalmente aos sábados de tarde, lá ia o Jorge sempre a correr até ao Tovim, o mais depressa que podia, ausentando-se muitas vezes (sorrateiramente) das atividades desportivas da mocidade portuguesa, para aproveitar também a sua guitarra com o Frias.

Ouviam ambos, repetidamente, nos discos de 78 rpm e nas fitas magnéticas, as variações do ídolo, Artur Paredes, usando “apenas” os ouvidos para tentar descobrir os segredos da execução, tentando aperfeiçoar o mais possível a própria técnica, na busca da maior aproximação possível à excelência interpretativa do Mestre.

JG 4 Artua Paredes.jpgArtur Paredes. Acedido em: https://www.bing.com/images/search

Tarefas exigentes e trabalhosas aquelas, em que era preciso distinguir o que era tocado pelo solista (1ª guitarra), do que provinha da guitarra de acompanhamento (2ª guitarra) ou mesmo de cada um dos violões (normalmente 2). É de salientar, que as gravações que normalmente usavam eram de muito baixa qualidade e não dispunham de quaisquer recursos técnicos adicionais.

Devemos ao Jorge Gomes e a alguns outros jovens da mesma geração, o podermos hoje usufruir de verdadeiras obras primas da guitarra de Coimbra, de grande rigor técnico na execução.

Mesmo os jovens do século XXI, que se ora dedicam ao estudo da guitarra e da vasta obra de Artur Paredes e outros autores,  recorrem a avançados programas informáticos e aplicações de telemóvel, que possibilitam a rigorosa audição de cada nota, ou de pequenas frases musicais de forma repetida, lenta e sem qualquer desafinação tonal, o que possibilita identificar rigorosamente muitos detalhes e mesmo “erros” de transcrição por vezes apontados ao mestre, mas que eram virtualmente impossíveis de perceber sem estes recursos.

Coimbra, 28 de janeiro de 2024

Manuel Campos Coroa

Continua na entrada da próxima 3.ª feira.

 

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por Rodrigues Costa às 16:14

Terça-feira, 23.01.24

Personalidades de Coimbra: Francisco Faria

Francisco de Assis Ferreira de Faria (S. Paio de Seide, 1926 – Coimbra, 2022) numa entrevista realizada 15 de Setembro de 2009 (https://ria.ua.pt/bitstream/10773/1227/1/2010000612.pdf) recorda que já tinha nascido em S. Paio e os nossos pais passaram de S. Miguel para S. Paio por necessidade de vida. Eles eram “agrários”, o trabalho deles era o campo e em S. Miguel de Ceide não havia proprietários que dessem trabalho, então S. Paio de Ceide é que era a freguesia dos lavradores, por isso também era uma Freguesia de gente mais abastada. S. Miguel era uma freguesia de gente mais pobre.

Estas origens humildes não impediram um percurso notável.  Sem nunca esquecer de onde vinha, tonou-se num conimbricense por adoção, figurando com inteira justiça na lista das Personalidades de Coimbra.

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Francisco Faria, maestro

Na edição do “Campeão das Províncias” de 14 de novembro de 2022, é recordado como “um homem extraordinário que merece toda a nossa consideração e respeito”, conforme afirmou Paulo Oliveira, presidente do Coro dos Antigos Orfeonistas da UC. Também Manuel Rebanda sublinhou que Francisco Faria era “uma referência da advocacia em Coimbra”.

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Francisco Faria, advogado

Na página da net https://www.meloteca.com/portfolio-item/francisco-faria/ é assim recordado por Gil Tocantins Figueiredo. A sua personalidade e temperamento marcaram todos aqueles que com ele conviveram. O Humanismo e o Cristianismo que ele cultivava fizeram-no abraçar muitas causas em vários setores tendo-se isso refletido também no plano profissional onde atingiu níveis de excelência – Distinto Advogado (primus inter pares) durante alguns anos integrou o Conselho Superior da Magistratura.

Francisco de Assis Ferreira de Faria.JPG

Francisco Faria, membro do Conselho Superior da Magistratura

Como musicólogo de reconhecida competência foi professor de História da Música na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e, para muitos um dos melhores diretores artísticos de música coral – nas suas mãos os coros não cantavam, interpretavam. Coimbra bem pode agradecer tudo o que ele fez pela música coral e também pela etnomusicologia (que o digam os Grupos Folclóricos do Concelho de Coimbra).

Nesta área sou testemunha do trabalho que desenvolveu em prol da música e, em particular, do seu esforço permanente na divulgação da música do patrono do Grupo, D. Pedro de Cristo, bem como em situar a música de seu irmão o compositor P.e Manuel Faria, no lugar a que, por direito próprio, lhe é devido. Sempre aberto a responder graciosamente aos pedidos de ajuda que lhe fizemos para diversas iniciativas, há a destacar a sua participação na Comissão de Analise dos Grupos Folclóricos, onde foi figura de destaque quer no separar o tripo do joio, quer em passar para pautas as músicas recolhidas pelos grupos. 

A atribuição, em 1986 da medalha de vermeil da Cidade de Coimbra de mérito cultural, sempre achei pouco para agradecer o muito trabalho realizado, pelo que considero que a Autarquia ainda tem uma dívida de gratidão a saldar para com esta Personalidade de Coimbra.

Sendo polifacetada a atividade desenvolvida por Francisco Faria, aquela pela qual ficou mais conhecido pelos conimbricenses, como recorda o próprio Coro na já referida página https://www.meloteca.com/portfolio-item/francisco-faria/, O Dr. Francisco Faria não foi só o fundador do Coro D. Pedro de Cristo e o seu extraordinário Diretor artístico durante 39 anos, mas também um Homem carismático, de princípios, com uma generosidade intrínseca, reconhecida por todos quantos o conheceram de perto. Ele foi o “rosto”, a marca de qualidade do Coro D. Pedro de Cristo durante 39 anos.

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Francisco Faria, fundador e maestro do Coro D. Pedro de Cristo

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Coro que continua a ser um grupo de referência não só a nível nacional, como mesmo internacional e que tanto tem honrado o País pela qualidade que, sempre, apresenta.

Rodrigues Costa

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:47


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