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A' Cerca de Coimbra


Terça-feira, 03.06.25

Coimbra: Do Colégio S. Tomás ao Palacete Ameal 1

Terceira entrada dedicada à obra António Nunes, intitulada A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra

Vale a pena viajar ao interior dos usos e memórias deste imóvel [Colégio de S. Tomás] cuja traça primitiva remonta ao século XVI.

A edificação do antigo Colégio de São Tomás de Aquino pode considerar-se reflexo da política reformista ensaiada por D. João III. Cogitando sobre a transferência da Universidade de Lisboa para Coimbra, frei Brás de Braga, monge culto e bem informado, conjeturou o traçado da nova Rua de Santa Sofia, ou da Sabedoria, onde seriam alinhados os vários colégios universitários a edificar pelas instituições religiosas e monásticas. A nova rua, de feição renascentista, causou espanto geral, dada a considerável largura e extensão das paralelas que delimitavam o retângulo, alinhado da Praça de Sanção ao Arco de Santa Margarida. El-Rei acompanhou de perto os anteprojetos dos vários edifícios a construir. A norte foram sucessivamente alinhados os colégios de São Pedro, da Graça, do Carmo, de São Bernardo e os blocos do primitivo Real Colégio das Artes. Do lado poente apenas se edificaram os colégios de São Tomás e de São Boaventura.

EB 8.jpg

Planta de Coimbra assinalando a posição dos Colégios edificados a partir do séc. XVI. A letra A corresponde ao Colégio de São Tomás. In António de Vasconcelos. Escritos Vários I. 1987. Estampa XV. Op. cit., pg. 55

Visando acompanhar a reforma régia da Universidade, a Ordem de São Domingos mandou instalar os seus monges estudantes no Convento de São Domingos, sito na margem direita do Mondego. Solução precária, pois a Ordem em breve entendeu mandar construir um Colégio tendo por patrono São Tomás de Aquino, onde estudantes e mestres pudessem descansar longe das ameaçadoras cheias do Mondego.

As obras do novo imóvel terão começado pelo ano de 1549, com risco do apaniguado régio Diogo de Castilho, estando em bom andamento por 1556. O terreno loteado para a construção não estaria ainda urbanizado. Pouco se sabe dos seus usos anteriores, dado que as fundações do Palácio e jardins adjacentes não foram alvo de trabalhos de prospeção arqueológica.

No entanto, durante as obras de restauro e consolidação iniciadas em finais de 1998, descobriram-se fendas na estrutura. Tais fendas seriam provocadas pelo apodrecimento de uma estacaria de pinho, implantada cerca de 15 metros sob os alicerces primitivos. em processo de degradação após o rebaixamento do nível freático do leito do rio e o fim das cheias mondeguinas.

Na gravura assinada por Georg Hoefnagel em 1572 … O autor não menciona o Colégio de São Tomás. sendo de presumir que este se integre no lote de prédios do convento de São Domingos, confinantes com o Campo do Amado.

Da fábrica primitiva apenas resta o claustro renascentista …riscado por Diogo de Castilho no crepúsculo da primeira metade do século XVI. Iniciada a construção por Abril de 1547, ou em 1549 como querem alguns autores, as obras estiveram a cargo dos mestres pedreiros Pero Luís, António Fernandes e João Luís.

 

EB 9.jpg

Aspeto do claustro térreo em 1928. ATRC. Op. cit., 58

Reintegrado sob direção do arquiteto Silva Pinto, o claustro apresenta planta quadrilátera, com cerca de 18,40 por 18,20 metros.

Observado a olho nu sugere um quadrilátero perfeito, com o eixo central marcado pelo tanque de água, numa possível evocação simbólica do Jardim do Éden e da Fonte da Vida. Cada uma das quatro alas é pontuada por três grupos de arcadas, cindidas por contrafortes paralelepipédicos, salientes na direção do jardim.

EB 10.jpg

O antigo tanque renascentista, marcando o centro do claustro, é um dos raros vestígios do velho colégio. Imagem Varela Pécurto.  Op. cit., pg. 18

…. Remontará também ao século XVI o portal da fachada nobre, em arco de volta perfeita, encimada pela estátua do patrono, hoje implantado na fachada lateral do Museu Machado de Castro.

EB 11.jpgPortal do Colégio de S. Tomás, implantado na fachada lateral do Museu Machado de Castro. Acervo RA

…. Uma fotografia de princípios do século XX confirma que o andar superior da fachada principal foi alvo de remodelação no século XVIII, visível no acrescento dos oito janelões de avental e no varandim de honra que coroava o portal. No piso inferior mantinham-se cinco dos antigos janelões com os lintéis rematados em arco redondo.

EB 12.JPGColégio de São Tomás antes de ser transformado em Palacete Ameal. Acervo RA

No corpo direcionado para o demolido Arco de Santa Margarida, o rasgamento do piso inferior espelhava grande assimetria, visível na distribuição das janelas e porta de serviço que dava serventia a uma oficina expropriada amigavelmente em 30 de Novembro de 1929 e adquirida mediante escritura datada de 2 de Dezembro do mesmo ano em conjunto com outros lotes particulares.

À semelhança dos restantes colégios universitários tutelados pelas congregações religiosas, o edifício foi incorporado na Fazenda Nacional, conforme o estipulado no Decreto de 31 de Maio de 1834.

Nunes, A. A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra. Fotografias Varela Pécurto. 2000. Coimbra, Ministério da Justiça.

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por Rodrigues Costa às 11:03

Terça-feira, 27.05.25

Coimbra: Justiça, do pelourinho ao palácio 2

Segunda entrada dedicada à obra António Nunes, intitulada A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra.

 Dos antigos espaços da justiça, percurso (continuação)

A Câmara Municipal abandonou a Torre logo nos alvores do século XVII. Por 1607 funcionava no Paço dos Tabeliães, à Praça Velha, nas imediações da Misericórdia. Este Paço fora edificado pelos idos de 1532, nele funcionando a Câmara, a Casa dos Vinte e Quatro, dois açougues e as audiências do Juízo dos Órfãos. Os estragos provocados pelo terramoto de 1755 estiveram na base da decisão que trouxe a Câmara novamente à Torre de Almedina, em permuta com o Tribunal. Mas, corria o ano de 1785, a Câmara regressou uma vez mais ao Paço dos Tabeliães, aí permanecendo até ao grande incêndio de 3 de Outubro de 1810, ateado pelos soldados de Massena. A Câmara volta a partilhar os espaços do Tribunal em 1826, vinda do extinto Palácio da Inquisição. Entrado o ano de 1835, os serviços camarários abandonam definitivamente a Torre de Almedina, instalando-se nas dependências do Mosteiro de Santa Cruz, um ano após a expulsão dos cónegos regrantes.

O tribunal é transferido para o Bairro Latino e instalado na igreja-salão do extinto Colégio da Santíssima Trindade. Desafetada do culto, a igreja foi adaptada a Sala de Audiências, servindo de Tribunal até ao ano de 1870. As obras correram por conta do orçamento municipal, conforme estipulava o Código Administrativo em vigor. O povo de Coimbra chamava-lhe o "Tribunal da Trindade".

EB 5.jpgColégio da Santíssima Trindade, em cuja igreja-salão funcionou o Tribunal comarcão. Op. cit., pg. 32

Entretanto, a Câmara deliberou mandar erguer condignos Paços do Concelho sobre os escombros do Mosteiro de Santa Cruz. Em 1876 o engenheiro Alexandre da Conceição tinha alinhavado o risco do novo polivalente, destinado a Câmara e Tribunal de Comarca. A empreitada ficou pronta em 1 de agosto de 1879.

Levantam-se algumas dúvidas no sentido de dilucidar se o Tribunal Judicial funcionou nos Paços do Concelho,

EB 7.jpgPaços do Concelho e Tribunal de Coimbra … O Tribunal ocupou o primeiro piso. Iluminada por sete janelões a Sala de Audiências, ainda hoje visível, tinha planta quadrangular e teto policromado. Imagem Varela Pécurto. Op. Cit., pg. 33

ou um pouco mais atrás, no Salão dos Artistas. Segundo Armando Carneiro da Silva, o Tribunal funcionava no grande salão do antigo Refeitório do Mosteiro, conhecido localmente por Salão dos Artistas, donde transitou em junho de 1933 para o Palácio da Justiça.

EB 6.jpgO Refeitório do Mosteiro de Santa Cruz, dito Salão dos Artistas, nas traseiras da Câmara, última morada que foi do Tribunal da Comarca antes da sua transferência para o Palácio da Justiça. Imagem Varela Pécurto. Op. cit., pg.33

Porém, testemunhos de pessoas idosas recordam que as audiências realizadas nos alvores dos anos vinte tinham lugar no imóvel camarário, no primeiro piso da ala esquerda (antiga Biblioteca), onde aliás existe uma sala com teto trabalhado, correspondente aos espaços do antigo Tribunal.

A transferência dos Serviços de Justiça para o denominado Salão dos Artistas terá resultado da sobrelotação dos Paços do Concelho.

[Do funcionamento do Tribunal de Coimbra, no rés-do-chão dos Paços do concelho, posso dar o meu testemunho. Comecei a trabalhar na Biblioteca Municipal em finais de 1958, e recordo-me de, logo à entrada, à direita, existir um espaço que poderia ter sido destinado aos serviços de secretaria que, por sua vez, dava acesso a um pequeno gabinete com ligação à Sala de Audiências. Mais me recordo de, em salas utilizadas como arquivo de jornais, existirem centenas de processos judiciais, alguns dos quais ainda tinham apensas as provas do crime, tais como pedras e ferramentas de lavoura. Também se falava entre os funcionários da Biblioteca, que entre essas peças processuais tinham existido armas brancas e de fogo. Rodrigues Costa].

Nunes, A. A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra. Fotografias Varela Pécurto. 2000. Coimbra, Ministério da Justiça.

 

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por Rodrigues Costa às 14:56

Terça-feira, 20.05.25

Coimbra: Justiça, do pelourinho ao palácio 1

O investigador António Nunes publicou em 2000, numa edição no Ministério da Justiça, um trabalho de grande folego e muito bem ilustrado com fotografias de Varela Pécurto que intitulou A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra.

Com esta entrada iniciamos uma série de seis entradas sobre esta obra.

EB 1.jpgOp. cit., capa

Obra, onde, para além da história das instituições judiciárias em Coimbra, é apresentado um estudo das construções preexistentes ao edifício que hoje é o Palácio da Justiça. Ou seja, do primitivo Colégio de S. Tomás e da sua transformação em palacete da família dos condes do Ameal. Com esta entrada iniciamos uma série de seis entradas sobre esta obra.

Dos antigos espaços da justiça, percurso

Dispersos pela cidade de Coimbra existem diversos espaços e vestígios umbilicalmente imbricados à memória da Justiça, alguns dos quais anteriores ao advento da Revolução de 1820. Inscreve-se neste exemplo o vasto imóvel do primitivo Real Colégio das Artes, depois Palácio da Inquisição.

Comecemos a nossa visita pelo Pelourinho das Justiças, na sua versão reconstituída, implantado no centro da Praça Velha. Símbolo das autonomias corporativas municipais e local público de execução de penalidades infamantes, o Pelourinho estaria inicialmente assente no Terreiro da Sé, nas imediações da Casa da Câmara e das Audiências [Largo da Sé Velha]. No século XVI, segundo opinião do erudito José Pinto Loureiro, terá o Pelourinho sido transferido do Terreiro da Sé para a Praça Velha. Pelos anos de 1611, pouco mais ou menos, a edilidade coimbrã ordenou a transferência da coluna para o Largo da Portagem, e lá permaneceu até ser derribada em 1836.

Este ato de danação da memória vinha carregado de significado. Sobre as imagens das justiças em que assentara o ordenamento jurídico de Antigo Regime soerguia-se a estrutura jurídica do Estado Constitucional. Do Pelourinho original nada resta, salvo a charola metálica que rematava a coluna de pedra, preservada na Torre de Almedina.

 

EB 2.jpg

Símbolo das justiças municipais, o Pelourinho de Coimbra, reconstituído com ferros de Pompeu Aroso. Imagem Varela Pécurto. Op. cit., pg. 26

Alguns metros acima ergue-se a velhíssima Torre de Almedina, também dita da Relação ou da Vereação, onde por largas décadas reuniram os vereadores e magistrados judiciais. Informa Pinto Loureiro que a antiga Casa das Audiências fora transferida do Terreiro da Sé Catedral para a Torre de Almedina no século XVI, espaço onde funcionou regularmente até ao triunfo das hostes liberais.

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Torre de Almedina, sendo visíveis do exterior as duas janelas da Sala de audiências. Imagem Varela Pécurto. Op. cit., pg. 30

EB 4.jpg

 As Varas da Justiça: Juízes de Direito (Brancas), Juízes do Povo e Juízes eleitos (Vermelhas) Meirinhos e Oficiais (Pretas). São motivos decorativos os anéis dourados e azuis e os brasões do reino e do município sede da comarca. Imagem Varela Pécurto. [Encontram-se hoje no Arquivo Histórico Municipal de Coimbra]. Op. cit., pg. 31

Nunes, A. A Espada e a Balança. O Palácio da Justiça de Coimbra. 2000. Fotografias Varela Pécurto, Coimbra, Ministério da Justiça.

 

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por Rodrigues Costa às 17:21

Terça-feira, 06.05.25

Coimbra: Sistema hidráulico do Paço da Mitra Episcopal

Quarta entrada dedicada à divulgação do livro de historiador Milton Pedro Dias Pacheco, Do aqueduto, das Fontes e das Pontes.

A irregularidade volumétrica do primitivo resulta de um conjunto de sucessivas construções e ampliações efetuadas ao longo de diversas épocas, desde o século XII aos inícios do século XX.

Em todo o conjunto edificado é possível verificar a expansão das áreas residenciais, a norte, para o flanco sul da área do criptopórtico, anteriormente ocupado pelas cavalariças, celeiros e outras dependências e sua cristalização sob as formas e fórmulas arquitetónicas responsáveis pela anulação das características medievais.

Assim, a inexistência de vestígios materiais do período manuelino no flanco sul do monumento aponta para que a construção das primeiras dependências residenciais neste setor sejam da responsabilidade de D. Afonso de Castelo Branco (c. 1522-1615), Não dispondo de nenhum documento que assinale a data exata de início da colossal campanha levada a cabo pelo prelado residencial sabemos seguramente o seu término através do dístico colocado no portal de entrada, no ano de 1592.

…. Entretanto, o erudito conimbricense Martins de Carvalho (1861-1921) sugere que as obras efetivadas sob a égide do grande prelado conimbricense tenham tido início em 1585, no ano em que entrou como bispo residencial na diocese de Coimbra.

…. Acreditamos, assim, que todo o processo construtivo no palácio da mitra, “com suas galarias, chafarizes, patios”, tenha começado efetivamente entre os finais de 1585 e os inícios do ano seguinte, com a realização dos acordos estabelecidos entre as diversas autoridades, a elaboração de projetos e a obtenção das mais variadas licenças junto da vereação … Será que podemos relacionar as avultadas somas de dinheiro doadas pelo prelado à vereação de Coimbra com a obra de encanamento de água do paço? Seriam somente doações ou também pagamentos uma vez que o prelado veio a adquirir o direito perpétuo de abastecimento de água ao Palácio Episcopal?

…. Mais tarde, a 10 de Setembro de 1611, D. Filipe II de Portugal (1578|1598-1621) despacharia um alvará … “não se poderá mudar o curso e cano desta água que ora vai ao pátio do dito bispo-conde por outra nenhuma parte diferente daquela por onde ora vai [pela rua do Rego d’Água]” … Ficava esta rua, chamada do Rego d’Água, entre os contíguos prédios de habitação e da antiga escola primária, ou seja, entre o Largo da Sé Nova e o Largo do Bispo.

 

Loggia antes da intervenção.jpgChafariz do Palácio da Mitra Episcopal de Coimbra (hoje MNMC). Acervo RA

MNMC, fonte pormenor.pngChafariz do Palácio da Mitra Episcopal de Coimbra (hoje MNMC), pormenor. Acervo RA

…. A cisterna do paço, identificada aquando das campanhas de arqueologia realizadas entre 1992 e 1997 … Abastecida por águas pluviais, ou manualmente, o depósito poderá ter sido reaproveitado durante as obras promovidas por D. Afonso de Castelo Branco quando dotou o edifício com água potável canalizada a partir da Fonte dos Bicos no Largo da Feira dos Estudantes.

…. Quase um século mais tarde, entre 1672 e 1683, o chafariz erguido no pátio principal do Palácio da Mitra Episcopal de Coimbra por D. Afonso de Castelo Branco seria substituído por um outro.

MNMC.jpgChafariz do Museu Nacional Machado de Castro. Acedido em: https://www.bing.com/images/search?view=detailV2&mediaurl=https%3A%2F%2Fd2dzi65yjecjnt.cloudfront.net%2F141051...

MNMC, chafariz, pormenor.pngChafariz do Museu Nacional Machado de Castro, pormenor.

Erguido no pátio central, o fontanário apresenta tanque circular com coluna central dotada de dois pratos, de diferentes dimensões e ornamentados com quatro mascarões cada um, tendo no topo as armas episcopais do seu encomendante.

Pacheco, M. P.D. Do aqueduto, das Fontes e das Pontes: a Arquitetura da Água na Coimbra de Quinhentos. In: História Revista. Revista da Faculdade de História e do Programa de Pós-graduação em História, v. 18, n. 2, p. 217-245, jul. / dez. 2013. Goiânia (Br.). Acedido em: https://www.academia.edu/37539380/DO_AQUEDUTO_DAS_FONTES_E_DAS_PONTES_A_ARQUITETURA_DA_%C3%81GUA_NA_COIMBRA_DE_QUINHENTOS

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por Rodrigues Costa às 11:10

Quinta-feira, 27.02.25

Coimbra: A Porta Nova e a Cerca do Colégio de S. Agostinho

Será já amanhã, dia 28 de fevereiro, última 6.ª feira do mês, que às 18h00 que prosseguirão as Conversas Abertas, Esta dedicada ao tema “A Porta Nova e a Cerca de A. Agostinho", decorrerá como é hábito da Sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra e terá como palestrantes Isabel Anjinho e Rodrigues Costa.

Flyer 28-02-2025 _ Rodrigues Costa & Isabel Anjinh

Folha de sala que será distribuída

A primeira palestrante apresentará as razões que a levam a localizar a designada “Porta Nova” da muralha coimbrã, no lugar onde foi erguida a chamada “Casa da Cerca”. O segundo palestrante abordará as suas memórias e reflexões sobre Cerca onde nasceu, vai para 83 anos e ali viveu até 1964.

CartazA3_28-02-2025 _ Rodrigues Costa & Isabel AnjCartaz do evento

Como é habitual após as referidas intervenções seguir-se-á um período de debate aberto a quantos nele queiram participa.

A entrada é livre e todos os que amam Coimbra são convidados a participar.

Couraça dos Apóstolos a.jpgFotografia mais antiga que se conhece da Cerca de S. Agostinho. Acervo RA

Captura de Ecrã (2417).pngA “Cerca” na atualidade. Acervo IA

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 11:40

Quinta-feira, 20.02.25

Coimbra: A Porta Nova e a Cerca do Colégio de S. Agostinho

Couraça dos Apóstolos a.jpgFotografia mais antiga que se conhece da Cerca de S. Agostinho. Acervo RA

Será já, de amanhã a oito dias, dia 28 de fevereiro, última 6.ª feira do mês, que às 18h00 que prosseguirão as Conversas Abertas.

CartazA3_28-02-2025 _ Rodrigues Costa & Isabel Anj

Esta dedicada ao tema “A Porta Nova e a Cerca de A. Agostinho, decorrerá como é hábito da Sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra e terá como palestrantes Isabel Anjinho e Rodrigues Costa.

Flyer 28-02-2025 _ Rodrigues Costa & Isabel Anjinh

A primeira palestrante apresentará as razões que a levam a localizar a designada “Porta Nova” da muralha coimbrã, no lugar onde foi erguida a chamada “Casa da Cerca”.

Captura de Ecrã (2417).pngA “Cerca” na atualidade. Acervo IA

O segundo palestrante abordará as suas memórias e reflexões sobre Cerca onde nasceu, vai para 83 anos e ali viveu até 1964.

Como é habitual após as referidas intervenções seguir-se-á um período de debate aberto a quantos nele queiram participa.

A entrada é livre e todos os que amam Coimbra são convidados a participar.

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 10:49

Terça-feira, 18.02.25

Coimbra: Convento de Santa Teresa de Jesus de Coimbra, igreja

No n.º 1 da Studia Carmelita são ainda divulgados dois documentos, ambos numa transcrição e fixação do investigador Miguel Portela.

O primeiro documento aborda os trabalhos realizados pelo pintor conimbricense António José de Morais na igreja do Convento de Santa Teresa de Jesus de Coimbra, que decorreram em meados do século XVIII e foi assim resumido.

Em 1 de junho de 1769, Frei Manuel de Jesus, conventual no Colégio de S. José dos Marianos, em Coimbra, como procurador da Madre Priora Vitória de São José e mais religiosas do Convento de Santa Teresa de Jesus desta cidade contratualizou com o pintor António José de Morais desta cidade a pintura e douramento de dois retábulos colaterais da igreja desse convento, assim como a moldura de um painel que se havia de colocar por cima da grade do coro.

Esta empreitada artística foi ajustada com todos os pormenores pela quantia de 180 000 réis.

Do documento extraímos as seguintes passagens.

«Obrigação que faz António Jozé de Morais do citio da Aregasa as Rellegiozas de Santa Theresa extramuros desta cidade … de lhe pintar e dourar dous retabollos que as ditas suas consthetuhintes tem na Igreja de seo Convento conrespondentes hum do outro, e juntamente a moldura de hum painel que se hade por por sima da grade do coro, e o lizo que gornese a moldura em roda e volta por preso [sic] de cento e outenta mil reis por huma so vez dados, tudo na forma dos apontamentos seguintes.

Igreja S. Teresa, fachada.jpg Igreja de S. Teresa, fachada, na atualidade. Imagem acedida em https://www.cm-coimbra.pt/areas/visitar/conhecercoimbra/monumentos/carmelo-de-santa-teresa

Convento de S. Teresa, igreja interior.jpegIgreja do Convento de Santa Teresa, altar-mor na atualidade. Imagem acedida em https://coimbra.carmelitas.pt/

…. Que seja aparelhada toda a obra a custo delle Impreiteiro com gessos grodres, e mate retalho de fora do milhor e mais limpo, sendo tudo depois desaparilhada munto bem limpa, e aberta a ferros toda a talha, molduras, e lizos bem purificados, e as juntas bem reparadas sendo dourada toda a talha, filetes, e meias cannas, anjos e capiteis, vazos das colunas e plintos, e todos os sarafins, como tãobem toda a talha da moldura do painel, em todos os filetes que se acharem em todo o lizo que gornese a mesma moldura, tudo a ouro burnido e bem pulido, com os vasos da talha de fozco. Item Serão todos os lizos da obra fingidos de pedra de varias qualidades, de sorte e que se não comfundão humas com outras. Item Serão pasados todos os pedrestais e urnas a vernis, como tãobem todo o lizo o nessecario a custo delle Impreiteiro António Jozé de Morais, sendo vista e enxaminada por dous Mestres peritos que não sejão contrarios, aprovandoa, e sem nota de imprefeição se obrigão a entregarlhe os ditos cento e outenta mil reis, com obrigação, porém que pasados tres annos despois de acabada a dita obra a pedirão suas consthetuhintes outra ves mandar ver e enxaminar, e achando o ouro ou pintura rezaltada, será obrigado o mesmo Impreiteiro a sua custa de a reformar sem que por isso suas consthetuhintes fiquem obrigadas a mais satisfação alguma … E logo apareserão com presença Bartulomeo de Morais pay do dito Impreiteiro morador no dito citiio da Aregasa a quem reconheço, e dise na presença das ditas testemunhas que authorizava este contrato feito pello dito seo filho quanto em Direito se requere para sua calidade, com expreso consentimento que a elle prestava, e que alem deste ficava tãobem seo fiador e principal pagador do predito seo filho a toda a dita obra e preso della, e sua concluzão como se fosse».

O segundo documento é assim descrito pelo mesmo Investigador.

Em 3 de julho de 1798, foi lavrada na cidade de Coimbra uma escritura de dote que fez D. Francisca Xavier de Gamboa às religiosas do Convento de Santa Teresa de Jesus, da mesma cidade, para que estas admitissem sua filha D. Maria Perpétua Arnão de Gamboa no seu convento.

O valor do dote ascendeu a 3 000 cruzados a que acresceu 200 000 réis para as despesas de comedoria, enxoval e propinas de entrada ficando a cargo da dotante a festa, sermão ou outra despesa que desejasse fazer no dia em que professar.

 Do documento transcrito citamos o que se segue.

«Neste Convento de Santa Thereza, extramuros da cidade de Coimbra ahonde eu Taballiam ao diante nomiado vim para o cazo deste instromento ahy em o locutório do mesmo lugar destinado para semilhantes contratos estavam da parte de dentro prezentes as Reverendas Madre Priora e mais Rellegiozas do Governo do mesmo Convento todas no fim desta notta asignadas e da parte de fora também estava prezente Donna Francisca Xavier Gamboa moradora e asistente na sua Quinta de Valmiam junto a Sellas …  subúrbio da dita cidade.

…. me foi aprezentado o Bilhete de destrebuhissam cujo theor hé o seguinte Escriptura de dote que faz Donna Francisca Xavier de Gamboa às Rellegiozas do Comvento de Santa Thereza, extramuros desta cidade para que estas hajam de receber, e professar no seu Convento huma filha chamada Donna Maria Perpétua Arnao Gamboa.

Igreja de S. Teresa, carmelitas.jpgComunidade do Convento de Santa Teresa, na atualidade. Imagem acedida em https://www.bing.com/images/search?view=detailv2&form=SBIHVR&lightschemeovr=1&iss=sbi&q=imgurl:https%3A%2F%2Fwww...

 

…. E logo pellas ditas Madre Priora e mais Rellegiozas Clavarias do Governo do mesmo Convento foi dito a mim Taballiam na prezença das mesmas testemunhas que ellas estavam justas e contratadas com a dita Donna Francisca Xavier Gamboa para haverem de lhe aseitar huma filha chamada Donna Maria Perpétua Arnao para freyra professa no mesmo seu Convento de veo preto e coro … depois de findos des mezes deste Noveciado e aprovaçam da dita novicia e satisfazendo ella dotante no dito tempo este dote se obrigavam ellas Reverendas Relegiozas a professar a dita novicia no fim do anno do seu Noveciado e comcorrelhes com tudo o que se costuma às mais Relegiozas».

Portela, M., transcrição. A intervenção do Pintor António José de Morais no Convento de Santa Teresa de Jesus de Coimbra em 1769. In: Studia Carmelita, 1. 2019. Revista da Comissão de Estudos Históricos e Património Cultural da Ordem dos Carmelitas Descalços. Pg. 369-373. Acedido em: file:///C:/Users/Fernando/Downloads/Contrato_de_venda_da_Capela_do_Santo_Cri.pdf, e

Dote de D. Maria Perpétua Arnão de Gamboa para entrar e professar no Convento de Senta Teresa de Jesus de Coimbra em 1798. In: Studia Carmelita, 1. 2019. Revista da Comissão de Estudos Históricos e Património Cultural da Ordem dos Carmelitas Descalços. Pg. 391-394. Acedido em: file:///C:/Users/Fernando/Downloads/Contrato_de_venda_da_Capela_do_Santo_Cri.pdf

 

 

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por Rodrigues Costa às 14:56

Quarta-feira, 05.02.25

Coimbra: Colégio de S. José dos Marianos, capela primitiva

A Studia Carmelita. Revista da Comissão de Estudos Históricos e Património Cultural da Ordem dos Carmelitas Descalços, tem como lema «… para que se conservem as Memórias … e não as apague o tempo», visa proporcionar um espaço para os trabalhos sobre a presença da Ordem em Portugal.

Studia Carmelita, n.º 1.pngOp. cit., capa

Neste propósito o seu número 1, publicado em 2019, apresenta um conjunto de documentos, alguns dos quais, transcritos e fixados pelo investigador Miguel Portela, fazem luz sobre questões de temática coimbrã, que serão objeto desta e de outra entrada.

O primeiro documento que abordamos, é um contrato, datado de 7 de julho de 1616, pelo qual é cedido o padroado e consequente direito de enterramento, numa capela colateral da primitiva igreja do Colégio de S. José dos Marianos em Coimbra, hoje Hospital Militar de Coimbra.

Dizemos, primitiva igreja do Colégio, porque a pequena igreja que hoje se vê, é de construção posterior e noutro local, da igreja abordada no documento.

Seminário Maior e Colégio das Ursulinas.jpgConvento das Ursulinas, antes Colégio de S. José dos Marianos. Imagem acervo RA

Igreja do Hospital Militar.png

Igreja, hoje do Hospital Militar. Imagem acervo RA

Respigamos as seguintes passagens do documento que julgamos adequadas para a compreensão do seu teor.

Optamos por não atualizar a grafia, dada curiosidade de algumas das expressões nele utilizadas e, quando, tal se justifica, colocar entre parenteses retos pequenas notas explicativas. O documento é assim descrito.

Este contrato com cláusulas específicas para cada uma das partes, insere-se no contexto dos demais celebrados pela Ordem dos Carmelitas Descalços nos seus diversos conventos tendo como principal objetivo fazer face às despesas das obras de edificação das suas igrejas conventuais, desde que fossem observadas e cumpridas as premissas da própria Ordem.

…. «Traslado do contrato e obrigação de venda da Capela do Santo Cristo da igreja do Colégio de S. José dos Marianos em Coimbra a Luís de Lemos da Costa como testamenteiro do Padre António de Lemos pela quantia de 140 000 réis.

Saibão quantos este publliquo estromento de contrato e obrigrasão ou como melhor em Direito dizer se possa virem que no ano do Nasimento de Nosso Senhor Jhezus Christo de mil e seissentos e dezaseis annos aos sete dias do mes de julho do dito anno de fora da porta do Castello da cidade de Coimbra extramuros della no Collegio de Sam Josse da Ordem dos Carmellitas Descallsos no capitollo do dito Collegio aonde ahi estavão prezentes juntos em cabido e cabido fazemdo e semdo a elle chamados por som de campa tangida [toque de uma sineta]  como hé de seu bom e antíguo custume especiallmente pera ho cazo que ao diante se segue e os Muito Reverendos Padres Frei Pedro de Jhezus Reitor do dito Collegio … e bem assim estando prezente Luis de Llemos da Costa morador na dita cidade de Coimbra pessoa a quem eu Taballião bem conheço testamenteiro do Llecenceado António de Llemos que Deus tem Prior que ffoi da Igreja do Couto de Lavãos deste bispado.

…. estavão contratados na forma do testamento do dito defunto comvem a saber que elles Padres lhe davão a Capella collatrall da dita sua Igreja que está de fora das grades quamdo entrão pella porta prencipall a mão esquerda pera nella estar sepulltado o corpo do dito deffunto que por ora estava depossitado no claustro do dito Mosteiro com as decllarasões e comdisões seguintes, comvem a saber que pella obra da dita Capella que elles Padres ffizerão a sua custa se lhe avião [sic] de dar da ffazemda do dito deffunto noventa mill reis e pello sitio della sinquoenta mill reis que tudo faz soma de cento e corenta mill reis, os quães o dito Padre Reitor e mais Padres do dito Collegio comffesarão porante mim Taballião e das testemunhas deste estromento que tem já em si recebidos do dito Luis de Lemos testamenteiro e que outrosi se lhe avia de paguar o feitio do Christo que está na dita Capella que são vinte e dous mill reis, e juntamente as grades que nella estão que são de pao naquilo que forem avalliadas, e allem disso sera elle administrador obrigado a ornamentar loguo ha dita Capella».

Segue-se uma lista dos paramentos e alfaias de que seria dotada a capela, explicitando os diferentes tipos e cores dos tecidos a utilizar, prosseguindo depois o documento.

…. «e elles ditos padres serão obriguados de dizerem tres missas em cada somana na dita Capella convem a saber: huma de Nossa Senhora outra das Chaguas, outra de Santo António pella allma do dito deffunto em perpetum pera sempre entretanto ho mundo durar.

…. e por ho dito testamenteiro foi dito que se avia de por huma campa na dita capella sobre a sepulltura do deffunto e huma pedra na parede em que se declare ha hobriguasão das missas he de quem a Capella.

…. Em feé e testemunho de verdade assim … asinarão e de que outorgarão e comcederão os estromentos que desta nota comprirem.

…. de contrato e obrigação eu sobredito Thome Borges Taballião Publiquo de Notas por ElRey Nosso Senhor nesta cidade de Coimbra e seu termo em meu Livro de Notas tomei … e aqui asinei de meu publiquo sinal.

A paga deste vai ao dito testamenteiro que a pagou».

Portela, M., transcrição. Contrato de venda da Capela do Santo Cristo na Igreja do Colégio de S. José dos Marianos em Coimbra no ano de 1616. In: Studia Carmelita, 1. 2019. Revista da Comissão de Estudos Históricos e Património Cultural da Ordem dos Carmelitas Descalços. Pg. 361-365. Acedido em:  file:///C:/Users/Fernando/Downloads/Contrato_de_venda_da_Capela_do_Santo_Cri.pdf.

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por Rodrigues Costa às 20:02

Quinta-feira, 30.01.25

Coimbra: Igreja de Santa Cruz, as grades que já não existem

Nesta entrada do blogue “A’Cerca de Coimbra” vamos relembrar um texto escrito por Sousa Viterbo em finais do século XIX, na Revista Archeologica onde se refere à história das grades que, no passado, separavam, na igreja de Santa Cruz, a zona do falso transepto [cruzeiro] ocupada pelos Cónegos Regrantes, do espaço destinado aos fiéis.

Igreja de Santa Cruz. Interior antigo 01.jpgImagem onde se podem ainda vislumbrar as grades. Acervo RA

Rev. Archeológica, capa.png

Revista Archeologica. Imagem acedida em: https://archive.org/details/revistaarchaeolo03lisb/page/n5/mode/2up

Francisco-Marques-de-Sousa-Viterbo.png

Sousa Viterbo. Imagem acedida em: https://www.bing.com/images/search?view=Francisco-Marques-de-Sousa-Viterbo.png&cdnurl

 Deste interessante texto, respigamos o que segue.

Dignas de rivalizar com alguns destes trabalhos artísticos, de que se ufanam as catedrais espanholas,

Baeza. Reja del presbiterio.jpgBaeza. Reja del presbitério. In: Navascués Palacio, Pedro, Sarthou Carreres, Carlos.Catedrales de España, Madrid. Espasa-Calpe, 51984, pg. 43.

seriam porventura as grades monumentais, que, no venerando templo de Santa Cruz, separavam o cruzeiro do restante da igreja e as que vedavam os túmulos dos reis. Hoje já não as podemos contemplar, mas sabemos da sua existência por alguns documentos e referencias históricas, que mais ou menos diretamente lhes dizem respeito.

 Citaremos em primeiro lugar o trecho de uma carta de 19 de março de 1522, em que Gregório Lourenço dá conta a D. João III do estado em que se achavam as obras que o seu antecessor, D. Manuel, mandara fazer no templo de Santa Cruz. Um dos itens da carta é do teor seguinte: «Item Senhor, mandou que fezessem huua grade de ferro grande que atravessa o corpo da egreja de xxv palmos d'alto com seu coroamento, e ao rredor das sepulturas dos rreix a cada hua sua grade de ferro, segundo forma dhum contrato e mostra que pera ysso se fez. Estam estas grades feitas e asentadas, e pago tudo o que montou na obra dos pillares e barras das ditas grades porque disto avia daver pagamento a rrazom de dous mill reis por quintal asy como fosse entregando ha obra. E do coroamento das ditas grades que lhe ade ser pago per avalliaçam nom tem rrecebidos mais de cinquoenta mill reis, que ouve dante mão quando começou a obra, que lhe am de ser descontados no fim de toda hobra segundo mais compridamenle vay em huua certidam que antonio fernandes mestre da dita obra diso levou pera amostrar a V. A. E nom se pode saber o que desta obra he devido atee o dito coroamento destas grades ser avalliado».

O trecho da carta de Gregório Lourenço é parcamente descritivo, mas, apesar disso, muito agradecido lhe devemos ficar por ter salvado, ainda que involuntariamente, o nome do artista que fabricou a obra, António Fernandes.

Como se sabe, D. Francisco de Mendanha, prior do mosteiro de S. Vicente de Lisboa (1540), escreveu uma descrição em italiano do templo de Santa Cruz, a qual D. João III ordenou se traduzisse em português, sendo impressa nos prelos deste último convento. De tão curioso opusculo cremos que não se conhece hoje nenhum exemplar, mas D. Nicolau de Santa Maria perpetuou-o, incluindo-o na sua «Chronica», prestando assim um serviço, literário e artístico, bastante apreciável. Mendanha não se esquece de falar das grades e dedica-lhe as seguintes linhas:

«Além d'este pulpito espaço de 20 palmos contra a Capella mór está a grande e vetusta grade de ferro, que atravessa toda a Egreja, ficando dentro o Cruzeiro, e tem de alto trinta palmos».

O epiteto vetusta sintetiza, para assim dizer, em toda a sua singeleza, a formosura da grade. Entre Mendanha e Gregorio Lourenço há, todavia, uma discrepância no que respeita às dimensões; Mendanha dá a grade 5 palmos mais alta. Outra diferença notamos ainda. O prior de S. Vicente diz que as grades dos túmulos eram de cinco palmos de alto, todas de pau preto e bronzeadas com ouro: Gregório Lourenço claramente especifica que eram de ferro. Coelho Gasco { classifica de sumptuosas as grades do cruzeiro e accrescenta que n'ellas havia um epitáfio, ou antes letreiro, latino, em letras de ouro, que rezava da seguinte forma: Hoc templum ab Alphonso Portuqaliae primo rege instructum ac tempore pene collapsum, Regno succesore &: actore Emmanuele restauraoerit. Anno Natalis Domini MDXX.»

Esta data 1520 refere-se por certo á época em que foi assentada a grade e colocado o seu despectivo letreiro. A igreja já estava reconstruída, como, além de outros documentos, o demonstra o epitáfio do bispo D. Pedro. falecido a 13 d'agosto de 1516.

No priorado de D. Acúrcio de Santo Agostinho (eleito em princípios de maio de 1590) as grades foram pintadas e douradas de novo. Diz o cronista «… e porque as grades de ferro do cruzeiro e capellas da mesma igreja estavão pouco lustrosas, as mandou alimpar, pintar e dourar em partes e particularmente mandou dourar as armas reaes e folhagens, em que as ditas grades se rematão e tem as do Cruzeiro trinta palmos de alto e as das capellas quinze tambem de alto, e ficarão depois de pintadas e douradas muy aprazíveis á vista».

Não sabemos até que época durassem as grades de Santa Cruz.

Das que circundavam os sepulcros temos informação de 1620. Ou haviam chegado a extrema ruína ou foram substituídas ineptamente por outras. Referindo-se ao governo de D. Miguel de Santo Agostinho, que foi eleito pela segunda vez em 30 de abril de 1618, escreve o cronista da ordem: «Nos ultimos mezes do seu triennio ornou o P. Prior geral as sepulturas dos primeiros Reys deste Reyno, que estão na capella mór de S. Cruz com grandes grades de pao santo, marchetadas de bronze dourado.»

Ao que ficou descrito acrescento que, tanto quanto julgo lembrar-me, ainda vi junto dos túmulos reias umas grades destinadas a impedir os visitantes de se acercarem. Contudo, já não me recordo das suas caraterísticas. Se algum leitor estiver na posse de qualquer informação sobre este assunto seria interessante que a transmitisse.

Viterbo, F.M.S. V. As grades de S. Cruz-Cruz de Coimbra. In: Revista Archeologica, II, n.º 4. Abril 1888. Texto acedido em:

https://bndigital.bnportugal.gov.pt/viewer/262938/download?file=hg-7847-4-v_0000.pdf&type=pdf&navigator=1

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por Rodrigues Costa às 14:56

Terça-feira, 21.01.25

Coimbra: Colégio dos Jerónimos, construção e transformações

Em 1549, a Ordem de S. Jerónimo adquirira um terreno junto ao castelo de Coimbra e da porta oriental da cidade para aí se construir um colégio universitário. Já desde 1535 que havia a intenção de se construir em Coimbra um colégio daquela ordem.

…. Ergueu-se o colégio sobre as muralhas da cidade, desde a Porta do Castelo, à qual ficou encostada a igreja, e continuou-se o dormitório para norte, em direção ao Colégio das Artes. Ainda hoje se reconhece bem delimitado o edifício com os seus cubelos de reforço da fachada oriental. O claustro é o elemento organizador da planta do colégio, ocupando uma posição central ladeado pela igreja a sul.  O desenho deste espaço é certamente da responsabilidade de Diogo de Castilho.

…. O claustro de S. Jerónimo, começado em 1565, foi o último de uma série que Diogo de Castilho desenhou para vários colégios de Coimbra.

 Col.10.jpg

Claustro de S. Jerónimo. Diogo de Castilho. 1565. Op. cit., pág.60.

…. O claustro não forma propriamente um quadrado. É de dois pisos e tem cerca de catorze metros no sentido norte-sul e doze no sentido este-oeste.

…. As galerias térreas são cobertas por abóbadas de meio-canhão, apoiadas numa mísula contínua e revestidas de caixotões … O segundo piso separa-se do de baixo por uma cimalha …. Observando o claustro anterior de S. Tomás, que ainda se preserva no interior do Palácio da Justiça, pode-se ter ideia do aspeto original do andar superior do claustro de S. Jerónimo …. preserva um ar de recolhimento conventual.

…. A igreja do Colégio ocupava o imponente volume que se ergue no extremo sul do edifício, profundamente alterado em finais do século passado.

Col. 11.jpg

Igreja de S. Jerónimo. Diogo de Castilho. 1565-? Axonometria. Op. cit., pág. 63.

Exteriormente conservam-se da igreja primitiva apenas os quatro cunhais e o cornijamento do alçado sul, alçado lateral da igreja …. À esquerda da antiga fachada resta também o arranque da torre da igreja …. Do espaço interior da igreja sobram apenas duas capelas laterais.

…. Por ocasião das obras de adaptação do Colégio de S. Jerónimo a hospital, o espaço da nave da igreja foi preenchido com dois andares intermédios.

…. A gravura do inglês Vivian, do Séc. XIX, mostra toda a extensão do alçado nascente do Colégio de S. Jerónimo com os cinco cubelos de reforço que ainda se mantêm ….

Col. 12.jpgEstampa … G. Vivian … Da esquerda para a direita, avista-se a Igreja de S. Jerónimo, junto ao Arco do Castelo, a torre que lhe ficava encostada e o grande edifício do Colégio de S. Jerónimo. Op. cit., pág. 64.

No extremo esquerdo da gravura pode-se ver a igreja de S. Jerónimo e a respetiva torre. Pouco acima da parte que resta da torre rasgavam-se as ventanas que deveriam ser uma em cada face.

…. Das estampas referidas pode-se constatar que a planta da igreja de S. Jerónimo é claramente inspirada na anterior igreja da Graça, de Diogo de Castilho, construída entre 1543 e 1555.

…. Sobre a entrada da nave da igreja de S. Jerónimo existia … um coro alto.

…. Do Colégio do Séc. XVI resta ainda praticamente todo o pavimento térreo da ala nascente, sobre a muralha. De sul para norte, a partir da igreja, existe a antiga sacristia ladeada por um pequeno oratório, ambas as salas com ligação ao claustro e com abóbadas revestidas de caixotões, perpendiculares àquele. Segue-se-lhes uma outra divisão, de abóbada longitudinal de sete tramos de quatro caixotões. Terminam esta parte do edifício o antigo refeitório, com teto em estuque pintado, do Séc. XVIII, e a antiga cozinha onde hoje se encontra um pequeno anfiteatro …. Do colégio original é também a sala abobadada … a norte do claustro, no rés-de-chão …. No rés-de-chão ficou um átrio, iluminado do exterior, mantendo-se os quatro grandes arcos e a galeria adjacente coberta por abóbadas de aresta.

…. Atualmente de três andares, a composição setecentista deveria resumir-se aos dois pisos inferiores. A porta de entrada é ladeada por duas colunas-hermes que suportam um frontão ondulado interrompido, em composição própria do reinado de D. João V.  Por cima ficam três portas-sacadas, correspondentes ao espaço de receção do primeiro andar, que ligava a escadaria às salas sobre o claustro e ao corredor central das celas, no lanço nascente. Toda esta zona é também, obviamente, obra do Séc. XVIII.  O átrio de entrada no rés-de-chão comunica diretamente com a escadaria monumental, à esquerda, e com o claustro, do lado oposto.

Col. 13.jpg

Colégio de S. Jerónimo. Escadaria monumental, da primeira metade do século XVIII, e arcaria da mesma época (?). Op. cit. pág., 65

Col. 16.jpg

Costa Simões.1890. Projeto completo para os HUC… Op. cit., pág. 134

…. Com a extinção das ordens religiosas, pelo célebre decreto de 1834, ficou o edifício abandonado, tendo sido entregue à Universidade no ano de 1836. Em 1848 foi destinado para hospital e mais serviço da Faculdade de Medicina.

 Lobo, R.P.M. Os Colégios de Jesus, das Artes e de S. Jerónimo. Evolução e Transformação no Espaço Urbano. 1999. Coimbra, Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologias.

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por Rodrigues Costa às 19:54


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