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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 07.11.24

Coimbra: Ordem Terceira de S. Francisco 2 

Segunda entrada dedicada ao trabalho da Doutora Ana Margarida Dias da Silva, intitulado Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008).

Além da santificação pessoal, os irmãos terceiros dedicaram-se a tarefas diversificadas, muitas de cariz social. A ação piedosa e de beneficência da Ordem Terceira esteve sempre patente ao longo dos séculos manifestando-se de diversas formas, como por exemplo, a decisão em Mesa de 3 de maio de 1832 de dar esmola de bacalhau, arroz, pão, laranjas e dinheiro a todos os presos das cadeias da Portagem, Universidade e Aljube e a todos os irmãos pobres da Ordem; com a fundação do Hospital e Asilo, inaugurado em 1851 e 1852,

OT 16.jpg

Pormenor da fachada principal do edifício do Carmo, hoje sede da Ordem Terceira de Coimbra, sito na rua da Sofia, n.º 114, Coimbra. Op. cit. 68

 com o Patronato Masculino de Santo António e, mais recentemente, com a criação da Casa Abrigo Padre Américo (fundada em 1994).

Casa Abrigo Padre Américo.pngCasa abrigo Padre Américo, sita na Azinhaga Carmo. Imagem acedida em https://entenderosemabrigo.webnode.pt/products/casa-abrigo-padre-americo/

Situando-se primitivamente no Convento de S. Francisco da Ponte da mesma cidade,

Convento de S. Francisco, adaptado a fábrica. RA.Convento de S. Francisco, já adaptado a fábrica. Acervo RA

em 5 de janeiro de 1659 foi feita a primeira eleição com os oficiais na forma estipulada pelo Papa Nicolau IV, estando presentes D. Frei António de Trejo, bispo de Cartagena e vigário geral da Ordem, e o padre frei Jerónimo da Cruz, comissário da Ordem, e com assistência e votos dos irmãos terceiros. Os primeiros Estatutos da Ordem Terceira de São Francisco de Coimbra determinam que esta seja governada por um Ministro, um Secretário, seis ou oito Definidores, um Síndico, um Vigário do Culto Divino, os Zeladores em número dependente da cidade, vila ou lugar ou o número de irmãos, seis Sacristães e um Vice visitador.

Em 1740 iniciou-se a construção da capela de Nossa Senhora da Conceição da Ponte e Casa do Despacho onde se reunia a Mesa do Conselho. O novo edifício foi construído em terreno anexo ao convento de S. Francisco da Ponte e ainda hoje é propriedade da Ordem Terceira de Coimbra. Em 1784 a Mesa da Venerável Ordem Terceira reuniu na igreja paroquial e colegiada de S. Cristóvão, uma vez que fora expulsa da Casa do Despacho e capela ereta no convento de S. Francisco da Ponte e em novembro de 1785 reuniu pela primeira vez na Sé Velha.

Convento de S- Francisco e capela.jpgCapela de Nossa Senhora da Conceição, contigua ao Mosteiro de S. Francisco. Acervo RA

Silva, A.M.D. 2013. Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008). Fotografias Ana Margarida Dias da Silva e Sérgio Azenha. Lisboa. Edição do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa - Lisboa e da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco.

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por Rodrigues Costa às 10:47

Terça-feira, 05.11.24

Coimbra: Ordem Terceira de S. Francisco 1

A Doutora Ana Margarida Dias da Silva, publicou em 2013, um trabalho intitulado Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008), no qual traça a história daquela Instituição multisecular desta Cidade. É desse trabalho que extraímos uma série de três entradas, da qual esta é a primeira.

OT 1.jpgInventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira … Op. cit., capa

A Venerável Ordem Terceira da Penitência de São Francisco de Coimbra é uma Fraternidade da Ordem Franciscana Secular, fundada em 1659 como pessoa moral eclesiástica canonicamente ereta, com sede em Coimbra, na rua da Sofia, 114,

OT 10.jpgVista da fachada principal do extinto colégio do Carmo, hoje sede da Ordem Terceira de Coimbra, sito na rua da Soia, n.º 114, Coimbra, no dia da cidade de Coimbra, 4 de Julho de 2012. Op. cit., pg. 49

tem por fim principal contribuir para que todos os irmãos e irmãs, impelidos pelo Espírito à perfeição da caridade a atingir no seu estado secular, vivam o Evangelho à semelhança de S. Francisco de Assis, mediante a profissão da Regra da Ordem Franciscana Secular, na qual a Fraternidade se integra.

Sendo essencial à sua Regra a vida de fraternidade, promove-se, em espírito de comunhão, todo o possível auxílio aos irmãos, incluindo o auxílio material.

Para além das atividades específicas da vida de fraternidade e de culto comunitário, com o fim de alargar o seu campo de apostolado, a Fraternidade inclui também nos seus objetivos a prestação de serviços de segurança social e atividades culturais preferencialmente e em igualdade de circunstâncias aos seus irmãos, estendendo-as a outras pessoas, indistintamente e na medida das suas possibilidades.

O âmbito de ação da Fraternidade é o concelho de Coimbra.

Foi S. Francisco de Assis quem deu forma às ordens terceiras seculares (existindo igualmente ordens terceiras regulares) designadas desta forma pois foram fundadas a seguir à dos frades menores e à das irmãs clarissas. Foi pela Regra do Papa Nicolau IV, seguindo a Bula de 18 de agosto 1289, e alterada com melhoramentos de vários papas, que os terceiros franciscanos se regeram até à importante reforma de Leão XIII que promoveu e promulgou a reforma da sua Regra através da constituição «Misericors Dei Filius» de 20 de maio de 1883,

OT 2.jpgRegra que Nicolau IV deu aos irmãos terceiros e terceiras, 1774[?]) - liv.A20 (SR: Bulas, Estatutos e Memórias; código de referência: PT-OTFCBR/A/01/20). Op. cit., pg. 26

Regra essa que vigorou até à data da sua revogação e substituição pelo atual texto de 24 de junho de 1978, aprovado pelo Breve «Seraphicus Patriarchus» do Papa Paulo VI.

OT 3.jpgPrimeiro livro dos Estatutos da V. Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra, 1659-1739, liv.A1 (SR: Bulas, Estatutos e Memórias; código de referência: PT OTFCBR/A/01/01). Op cit., pg. 26

As ordens terceiras seculares são definidas atualmente pelo Código do Direito Canónico de 1983 como “associações cujos membros participando no século do espírito de algum instituto religioso e sob sua alta orientação, levam uma vida apostólica e tendam à perfeição cristã”. Têm um enquadramento jurídico diferente das irmandades e das confrarias e aproximam-se das ordens religiosas pela sua orgânica aprovada pela Santa Sé e porque os seus membros fazem noviciado e profissão, podendo usar hábito especial, substituível por insígnias, como o escapulário, medalha ou cordão.

OT 15.jpgBraçadeiras de irmão terceiro usadas nas procissões. Op. cit., pg. 67

Em assento da junta geral dos irmãos terceiros de 5 de janeiro de 1699 determina-se “o uso de hábito de terceiro comprido a todos os irmãos, assim eclesiásticos como seculares, para assistirem a funções públicas em que forem em comunidade e se ostentam filhos do padre S. Francisco como seja a procissão de Quarta-feira de Cinzas, Razoulas e acompanhamentos de irmãos defuntos e não os tendo não serão a eles admitidos”.

 Nota: Não encontramos o significado da palavra «razoulas» em nenhum dos dicionários consultados. No entanto, no Elucidário das palavras de Viterbo, surge o verbo «razoar», significando relatar alguma coisa. Assim, somos levados a concluir que, no contexto, «razoulas» deverá referir-se à Celebração da Paixão que na igreja católica tem lugar na tarde da Sexta-feira Santa.

 

Silva, A.M.D. 2013. Inventário do Arquivo da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco da Cidade de Coimbra (1659-2008). Fotografias Ana Margarida Dias da Silva e Sérgio Azenha. Lisboa. Edição do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa - Lisboa e da Venerável Ordem Terceira da Penitência de S. Francisco.

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por Rodrigues Costa às 11:07

Sexta-feira, 01.11.24

Coimbra: A Universidade e as Artes 2

A bela Capela de São Miguel – planeada e dirigida pelo arquiteto-pedreiro Marco Pires entre 1517 e 1522, e ainda com o belíssimo portal de estilo manuelino – oferece ao olhar do visitante, além do órgão barroco com «chinoiserie» (1737) e outras preciosidades de arte móvel, um dos melhores retábulos portugueses da «Contra-Maniera».

UC. Capela, retábulo mot. RA.jpgUniversidade. Capela de S. Miguel, retábulo. Imagem acervo RA.

UC. Capela. Porta manuelina RA.jpg

Universidade. Capela de S. Miguel, portal estilo manuelino. Imagem acervo RA.

UC. Capela, órgão RA.jpg

Universidade. Capela de S. Miguel, órgão. Imagem acervo RA.

A documentação remonta a 4 de Agosto de 1612, quando a Reitoria encomenda a Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão a pintura do «Retabollo novo que ora a Univ.de mãda fazer na sua capella». Uma das recomendações especificadas respeita ao retábulo do Mosteiro de Santa Cruz, ao pedir-se que «as quaes pinturas elles farão com toda a perfeição e industria posivel de muito bons óleos & tintas tudo muito fino & de muito espírito de tal maneira que eiscedam as pinturas do retabollo de stª Cruz que ora fizerão».

…. Existe no Museu de Arte Sacra da Universidade de Coimbra, procedente do Colégio da Companhia de Jesus, onde deu entrada por oferta sua, um ciclo de oito tábuas da transição do século XVI para o XVII com a História de Tobias, de alto interesse iconográfico: a viagem de Tobias à Terra dos Medos (no ano 705 a C. segundo a tradição) constitui tema fascinante do maravilhoso bíblico.

UC. Vida de Tobias 1.jpg

Vida de Tobias 1. Op. cit., pg. 37

UC. Vida deTobias 2.jpg

Vida de Tobias 2. Op. cit., pg. 38

UC. Vida de Tobias 3.jpg

Vida de Tobias 3. Op. cit., pg. 39

…. Neste ciclo da Vida de Tobias, pintado acaso por Mateus Coronato, o seu criado pintor. As razões que levaram a escolher tema tão complexo, afastado dos ditames tridentinos de decoro e clareza, revelam-se no seu simbolismo, que se prestava a cor relações na retoma do maravilhoso pré-cristão e a fórmulas gratulatórias ligadas a ex-votos propiciatórios de boas viagens.

…. A obra que encomenda em fim do século XVI com passos do Livro de Tobias seguiu um esquema de narração contínua, ciclo narrativo didascálico em sucessivos desdobramentos, apto a contar uma história de imagens em sequência, com acúmulo de detalhes que se distribuem em subtemas necessários à compreensão.

Serrão. V. A Universidade de Coimbra e as Artes. Uma dimensão do sublime. Acedido em:

https://www.academia.edu/8097261/A_Universidade_de_Coimbra_e_as_artes_uma_dimens%C3%A3o_do_intang%C3%ADvel

 

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por Rodrigues Costa às 10:50

Terça-feira, 29.10.24

Coimbra: A Universidade e as Artes 1

O Professor Doutor Vítor Serrão publicou um livro que intitulou A Universidade de Coimbra e as Artes. Uma dimensão do sublime, no qual analisa de uma forma aprofundada, o todo – nas suas diversificadas formas de expressão – do acervo artístico da Universidade de Coimbra.

Com esta entrada e com a seguinte, procuramos chamar a atenção dos leitores, mais interessados, para uma obra que importa ler e estudar.

Em Coimbra, cidade sábia, sob a tutela ou inspiração da sua Universidade secular, o que existe de mais requintado e erudito na criação e na produção artística portuguesas encontra um acervo sólido, absolutamente valorativo de testemunhos dos diversos estilos e épocas na evolução da arte portuguesa, do mesmo modo que se impõe sempre a dimensão da fruição, da convivialidade da festa, da troca de experiências e ensinamentos, a incorporar os traços de um quotidiano moldado por vários séculos de História.

A coleção de arte móvel da Universidade testemunha, a meu ver de maneira eloquente, esse património de conquistas e de perdas, de qualidade e de diversidade, de radicalidades e de expressões do sublime, tão bem atestado em peças que agora se expõem como traço da muito referida sublimidade artística gerada no seio da Universidade. A pintura de Santa Luzia, acompanhada pelos símbolos do seu martírio, que se encontra no Museu de Arte Sacra, anexa à Capela de São Miguel, mostra um discurso pictórico dos anos centrais do século XVI muito em sequência dos modelos dos chamados ‘Mestres de Ferreirim’, mas que traduz, ao mesmo tempo, um sentido de mudança estética a animar o pincel deste anónimo artista de Coimbra, no modo como alteia o figurino e enfoca em moldes ‘irrealistas’ os panejamentos e os fundos, na busca de outros paradigmas imagéticos plausíveis. Quando comparada com uma quase coeva tábua da Prisão de Cristo do mesmo Museu, ainda muito presa a modelos tradicionalistas da ‘escola’ viseense, torna-se evidente que o sopro da inovação não era apanágio de todos os artistas ao serviço da Universidade… 

UC- Prisão de Cristo.jpg

Prisão de Cristo [sic.]. Op. cit., pg. 25

UC. Santa Luzia.jpg

Santa Luzia. Op. cit., pg. 30

UC. Custódia.jpg

Custódia. Op. cit., pg. 31

 

À luz das pesquisas da História da Arte, as encomendas custeadas pela Universidade vêm mostrar, o alinhamento desta modalidade artística pela inovação e a busca de novidade em termos de estilo, programas e modelos estéticos. O estudo desses ciclos pictóricos permite preencher algumas páginas importantes no quadro da evolução da produção nacional, com especial ênfase em fases prestigiantes da sua vivência como já fora o caso do Renascimento na primeira metade do século XVI, e é caso exemplar o Maneirismo no final da mesma centúria, ou ainda o ciclo do Barroco nos séculos XVII e XVIII.

Serrão. V. A Universidade de Coimbra e as Artes. Uma dimensão do sublime. Acedido em:

https://www.academia.edu/8097261/A_Universidade_de_Coimbra_e_as_artes_uma_dimens%C3%A3o_do_intang%C3%ADvel

 

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por Rodrigues Costa às 10:55

Quinta-feira, 18.07.24

Coimbra: Convento de Santa Ana

Com a série de cinco entradas que hoje iniciamos chamamos a atenção dos leitores para o trabalho de investigação intitulado Comer e curar no Convento de Santa Ana de Coimbra (1859 a 1871), da autoria da Dr.ª Dina de Sousa.

O Convento de Santa Ana

O primitivo convento situava-se na margem esquerda do Mondego, próximo de um local vulgarmente designado por “Ó da Ponte”. Então conhecido por “Cellas da Ponte”, teve como grande impulsionadora D. Joana Pais, devota de Santa Ana, que fundou o convento numas casas e respetiva quinta que recebera por doação de seus pais, tendo sido aí colocada a primeira pedra a 26 de Julho no ano de 1174, precisamente no dia consagrado a Santa Ana. Devido aos seus parcos recursos, o convento ficou dependente dos bispos de Coimbra, que o sustentavam através das suas esmolas.

Um século após a edificação do convento, “(...) por causa das cheias do Rio Mondego com as quais o dito Convento estava devastado e as ditas freiras por muitas vezes estiveram em perigo de vida”, tornou-se insustentável a continuidade da comunidade naquele espaço.

CSA. Coimbra, gravura de Hofnageal, 1583. Pormenor

Coimbra no final do sec. XVI, ruínas das “Cellas da Ponte”. Pormenor da gravura de Coimbra, de Hoefnagel

 No “anno de 1561, em que as sucessoras de D. Joanna viram não poder elle continuar a ser habitado”, recorreram ao bispo D. João Soares, tendo-lhes sido feita doação da Quinta de S. Martinho para nela se recolherem, até ser construído um novo edifício.

CSA 2.jpg

Quinta de S. Martinho (Vestígios do Convento). In: «Sant’Ana. Três séculos de convento, um século de quartel», pg. 20.

Este seria mandado edificar pelo bispo–conde D. Afonso de Castelo Branco, situado no local outrora conhecido por Eira das Patas, numa colina fronteira à cerca de São Bento e ao aqueduto. O seu domínio estendia-se até ao atual Penedo da Saudade. A 13 de Fevereiro de 1610, as religiosas ingressam no novo convento de Santa Ana, passando a usar o hábito das Eremitas de Santo Agostinho.

Refira-se que esta comunidade acolheu a jovem Josefa de Óbidos. Além dos ensinamentos religiosos, ali recebeu aulas de pintura. Assim, foi nesta cidade que Josefa começou a pintar, pois, parece que a sua obra mais antiga data de 1644, uma série de gravuras de Santa Catarina e São José. Como não seguiu a vida religiosa regressou a Óbidos, em 1653, trabalhando para conventos e igrejas. Mais tarde, foi convidada pela família Real, para fazer os retratos da rainha D. Maria Francisca de Saboia e da sua filha, a infanta D. Isabel.

CSA. Josefa de Óbidos.jpgJosefa de Óbidos. Santa M aria Madalena.1650. Museu Nacional de Machado de Castro. Imagem acedida em:https://www.wikiart.org/pt/josefa-de-obidos/santa-maria-madalena-1650

CSA. Josefa de Óbidos. A Anunciação.jpg

Josefa de Óbidos, A Anunciação, 1676. Imagem acedida em: https://ilustracaoportugueza.wordpress.com/2016/08/15/josefa-de-obidos-a-anunciacao-1676/

Tal como aconteceu em outros espaços monásticos, em 1810, as religiosas perderam muitos dos seus bens, devido às Invasões Francesas. Poucos anos depois, as guerras liberais vieram agravar a sua frágil situação económica, no contexto da extinção das ordens religiosas masculinas, em 1834. Assim, as ordens femininas ficaram proibidas de receber noviças, pelo que se regista um envelhecimento da comunidade, necessitando de mais cuidados.

O convento é considerado extinto a 6 de Junho de 1885, altura em que a última prelada, D. Maria José de Carvalho, de idade já avançada, e desprovida de bens económicos, abandona Santa Ana, juntamente com mais algumas idosas que com ela viviam, na sua maioria criadas e encostadas. Consigo levou apenas alguns objetos como recordação de um espaço no qual entrara quando tinha sete anos de idade. A sua mudança dá-se para o Real Colégio Ursulino das Chagas, instalado no extinto Colégio de S. José dos Marianos.

CSA. Colégio de S. José dos Marianos.jpegColégio de S. José dos Marianos, atual Hospital Militar

O edifício conventual patenteia uma arquitetura modesta, bem ao espírito dos Eremitas de Santo Agostinho, valorizando a sua fachada dois pórticos que, entretanto, foram retirados e que hoje estão, respetivamente, na Igreja de S. João de Almedina

CSA. Igreja de S. João de Almedina, portal.jpg

Pórtico do Convento de Santa Ana, aplicado na Igreja de S. João de Almedina. Imagem acedida em: https://www.bing.com/images/search?view=detailV2&mediaurl=https%3A%2F%2Fimages...

 e na fachada do Museu Machado de Castro.

CSA. MNMC, portal.jpgPórtico do Convento de Santa Ana, aplicado na entrada do Museu Nacional Machado de Castro. Imagem acedida em: https://www.bing.com/images/search?view=detailV2&mediaurl=https

De estrutura quadrangular, desenvolvida em torno de dois claustros e de dois pátios internos, na sua primitiva construção, no piso térreo encontrava-se a entrada para a Igreja e para o pátio das hospedarias, a roda e as grades, o refeitório, a cozinha e a casa da botica. Existiam outras dependências: casas para criados, celeiro, forno, duas arrecadações e a cerca amuralhada que abrangia a entrada do Penedo da Saudade.

No primeiro andar situavam-se os dormitórios, a casa do noviciado e as enfermarias.

Sousa, D. Comer e curar no Convento de Santa Ana de Coimbra (1859 a 1871). Texto acedido em: https://www.academia.edu/116755957/Comer_e_curar_no_Convento_de_Santa_Ana_de_Coimbra_1859_a_1871_?email_work_card=title

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por Rodrigues Costa às 17:19

Quinta-feira, 09.05.24

Coimbra: Evolução do espaço urbano 2

Conclusão do texto assinado pelo Professor Doutor Pedro Dias, publicado na revista Munda em novembro de 1981.

 Até 1537, o aglomerado urbano de Coimbra manteve-se sem grandes alterações: pequenas e acanhadas ruelas que serpenteavam nas encostas, adaptando-se às construções que sempre, precediam e definiam os traçados das vias. Nunca a almedina esteve superlotada. Continuando a existir, intramuros hortas e quintais, onde se praticou a horticultura, até à atualidade. O crescimento era moderado e fez-se sem sobressaltos. Mas nesse ano, D. João III reinstalou os Estudos Gerais, na cidade e a sua fácies começou a mudar. Frei Brás de Braga, reformador do mosteiro crúzio, com o beneplácito do monarca, abriu a Rua da Sofia que viria a ser o orgulho dos conimbricenses quinhentistas, cantada mesmo. em versos latinos, por Inácio de Morais. Aí se edificaram os Colégios de S. Miguel e de Todos os Santos, de S. Bernardo, do Carmo, da Graça, de S. Pedro, de S. Boaventura e de S. Tomás, além do Convento Novo de S. Domingos e a nova igreja de Santa Justa. O frade reformador urbanizou outras áreas, como a de Montarroio. incluindo o largo que se viria a chamar Pátio da Inquisição, as ribas de Corpus Christi e das Figueirinhas, o Largo de Sansão, etc. Já antes, o Bispo D. Jorge de Almeida dera maior dignidade ao adro da Catedral, e a Camara arranjara de novo a ponte, os cais do Mondego e algumas ruelas que calcetou.

Mas foi a partir de 1537 que se operou a grande mudança. com a instalação de inúmeros colégios universitários, que todas as ordens religiosas quiseram fundar na cidade, para alojarem os seus religiosos que, em Coimbra, buscavam o Saber e os graus académicos.

Grandes edifícios, planeados por arquitetos de mérito e construídos com apreciáveis meios económicos por construtores hábeis, surgiram, em poucas décadas. em zonas desabitadas do arrabalde ou mesmo na almedina, cabendo salientar os grandes complexos da Companhia de Jesus, e de Santa Cruz.

Os próprios burgos vizinhos de Celas e Santa Clara, que tinham nascido à sombra de mosteiros, desenvolveram-se fornecendo mão de obra para os trabalhos de construção.

Em poucos anos, o número de habitantes de Coimbra duplicou, e aos 5.200 de 1527 opunham-se os 10.000 de 1570. Não eram só estudantes, mas também todo um grupo social que nascera, para garantir a alunos e mestres os serviços necessários para a sua permanência na cidade. No fim do séc. XVI a zona urbana crescera e redefinira-se, para não mais se alterar até ao final do séc. XIX. As zonas agora ocupadas, além das que já o eram em 1537, situavam-se entre o Mondego o a parte final da Rua da Sofia, nos arnados, que foram sendo conquistados para a construção e para pequenas hortas, e na encosta de Montarroio.

Terminou-se a ligação entre os adros de Santa Justa, o largo de Sansão e a Praça Velha, formando-se um aglomerado contínuo.

Largo de Sansão.jpgLargo de Sansão no final do séc. XVIII. Op. cit., pg. 6

No séc. XVII a evolução é lenta e a população aumenta gradual e sistematicamente, mas, para além de construções pontuais, algumas de grande volume, viário ou os limites da urbe não sofrem alterações, o mesmo se passando ao longo de toda a primeira metade do séc. XVIII. Em 1765 os alunos matriculados na Universidade eram já 4.629 que, juntos com os dos colégios, perfaziam o elevado número de cerca de 8.000, ou seja, metade de toda a população de Coimbra. A vocação académica da cidade mantinha-se.

Foi nesta época que o Marquês de Pombal, desejou mudar o aspeto e a estrutura da sua cidade universitária, mas dos seus planos mais não resultou que a criação da praça que hoje tem o seu nome, em terrenos e edifícios da Companhia de Jesus, onde fez levantar dois institutos universitários ao gosto da moderna Europa de além-Pirenéus. Na Quinta dos Bentos levantou também o Jardim Botânico que seria um novo polo de atração e iria fazer a ligação com novos bairros da cidade contemporânea, mas antes, ainda, no séc. XVIII, com o Seminário e o Colégio de S. José dos Marianos.

Durante o séc. XIX a cidade só aumentou o seu número de habitantes em 6.000 e ao ser implantada a República viviam aqui 29.115 almas. Foi a partir de 1880 que a fácies de Coimbra mudou e acompanhou a modernização que também Lisboa conheceu, quem sabe se não influenciada pelas obras que corriam na capital. É o momento em que a malha quinhentista rompe os seus tradicionais limites e se espalha por zonas antes desabitadas ou, quando muito, onde se implantavam algumas moradias rodeadas de quintas de pleno carácter rural.

Junto ao rio, arranjam-se as margens, sobretudo a do lado Norte, alarga-se a Portagem e a avenida e parque juntos, cujas obras se prolongam durante váriasdécadas, a partir de 1888. Aí nasce a estação de caminho de ferro e se instalam as unidades hoteleiras mais importantes da cidade novecentista. Em 1882. na Quinta de Santa Cruz, começa a abrir-se a que haveria de ser a mais larga e bela das novas artérias citadinas, hoje a Avenida Sá da Bandeira. que termina na Praça da República, local onde, já em 1901 os académicos disputavam as suas partidas de um novo desporto importado das Ilhas Britânicas: o futebol. As vias adjacentes, de traçado regular e com largura invulgar para a época. em breve servidas por transportes públicos, são projetadas e começam a ser abertas, a partir de 1889: Rua Castro Matoso, Rua Alexandre Herculano Rua Garret, etc. A ligação da Praça da República com Celas – a rua Lourenço Almeida Azevedo – inicia-se em 1893, e a vizinha Rua Tenente Valadim é traçada entre 1894 e 1903. É toda uma nova zona onde se vão levantar prédios elegantes, uma escola, na esquina da Rua da Manutenção Militar que, em 1901 vai estabelecer a ligação com Montarroio e com a Conchada, e um teatro circo, já inaugurado em 1892.

Em 1918 a zona residencial estende-se a outras áreas, sendo nesse ano regularizada a Alameda do Jardim Botânico. e dois anos depois, a região da Cumeada, com a definição da sua espinha dorsal, a Avenida Dias da Silva.

Só em meados do século. Coimbra conheceria novas alterações em alguns dos seus pontos mais centrais, multo especialmente na Alta, onde. para se construíram novos edifícios universitários, se destruíram grandes áreas de antiga ocupação. incluindo muitos edifícios notáveis, como as igrejas de S. Bento e de S. Pedro, e os Colégios dos Militares e dos Loios.

Planta da Alta.jpg

Planta da Alta com indicação das áreas destruídas, para a construção dos novos edifícios universitários. Op. cit., pg. 10

 É também, por outro lado. o momento em que se constrói o primeiro bairro periférico dentro de um plano ordenado e com finalidade de alojar condignamente, em moradias. famílias de recursos médios;

Bairro Marechal Carmona.jpgUrbanização inicial do Bairro Marechal Carmona. Op cit., pg. 9

nascia assim o Bairro Marechal Carmona, ao dobrar-se o meado do século.

Dias, P. Evolução do Espaço Urbano em Coimbra. In: Munda, Revista do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro, n.º 2, pg. 5-11.

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:20

Quinta-feira, 14.09.23

Coimbra. Órgão de S. Cruz, restauro

Em 21 de Junho de 2015 realizou-se um concerto destinado a apresentar, após o restauro a que, então, fora submetido, o “novo” órgão histórico da Igreja de Santa Cruz.

img20230628_20090770.jpg

Folha de sala, rosto

O organista Paulo Bernardino foi o responsável pela execução do concerto que teve como tema “A música para órgão na Europa Ocidental nos sécs. XVI a XVIII”.

Extraímos da “Folha de sala” desta memorável audição o texto que ora apresentamos.

Resenha técnica e intervenção de restauro

O grande órgão de tubos da igreja de Santa Cruz é um instrumento que pela sua idade, história e tamanho tem um lugar especial na organaria portuguesa. As partes mais antigas têm aproximadamente 480 anos.

Igreja de Santa Cruz. Interior 03.jpg

Igreja e órgão de Santa Cruz. Foto João Santos.

Foi construído ou teve intervenções de importantes organeiros (portugueses, espanhóis, flamengos) e possui 3 registos inteiros e 55 meios registos num total de 2920 tubos sonantes tendo na sua fachada um Flautado de 24.

É nas palavras de D. Dionísio da Glória, em 1726 "este Órgão um monstruo de

harmonia''.

A consola encontra-se na parte de trás do órgão, de forma que o organista não tem contacto visual direto com a ação litúrgica, mas por outro lado toda a superfície é aproveitada para colocar tubos.

Mosteiro de Santa Cruz. Órgão 02.jpg

Órgão de Santa Cruz. Acervo RA

O instrumento, apesar de ter um só teclado, está subdividido em 4 secções, designadas pelos respetivos registos mais graves: órgão de 24, de 12 e de 6 (palmos), sendo a quarta secção de cornetas. As secções podem ser controladas através da entrada de vento nos someiros.

Existe uma descrição do instrumento, com uma pequena resenha histórica do mesmo, feita numa linguagem peculiar, redigida logo a seguir ao final dos trabalhos de D. Manuel Benito Gomes de Herrera, feita pelo organista e Mestre-Capela D. Dionísio da Glória, na Páscoa de 1726.

Remetemos os interessados para esse capítulo.

A intervenção de restauro

Os trabalhos de restauro do instrumento tiveram lugar entre o verão de 2004 e a Páscoa de 2008.

O objetivo foi devolver a este instrumento a sua integridade histórica, técnica, estética e musical, de acordo com o estado concebido em 1719-24, pelo organeiro Manuel Benito de Herrera.

Igreja de Santa Cruz. Órgão. Pormenor 07.j

Órgão de Santa Cruz, pormenor. Acervo RA

Igreja de Santa Cruz. Órgão. Pormenor 02.j

Órgão de Santa Cruz, pormenor. Acervo RA

 O sistema de vento foi objeto de uma solução nova, tendo em conta que as condições espaciais (local original dos foles) foram alteradas desde essa data (1724) até aos nossos dias.

Atualmente possui 3 foles novos, colocados atrás do órgão. Para além de funcionarem com motor, que lhes fornece o vento, é ainda possível manobrá-los manualmente...

 Pedro Guimarães von Rohden

Mestre Organeiro

 Von Rohden, P.G. Concerto. Órgão Histórico de Santa Cruz. Folha de sala. 2015. Coimbra.

 

 

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por Rodrigues Costa às 16:55

Sexta-feira, 19.05.23

Coimbra. Conversas Abertas. Castelo de Coimbra

É já na próxima 6.ª feira, dia 26 de maio, pelas 18:00, que irá decorrer no Arquivo da Universidade de Coimbra, na Sala D. João III, a penúltima das Conversas Abertas desta série, como sempre com entrada livre e aberta a participação de todos.

A palestrante será a Arquiteta Isabel Anjinho, que vem realizando uma notável obra da investigação sobre o passado da nossa Cidade e que, desta vez, falará sobre o CASTELO DE COIMBRA.

CartazA3_26.05.2023 a.jpg

Além da exposição oral, as imagens em 3D permitirão conhecer o que era o castelo e como o mesmo se inseria na malha urbana de então.

Apresentamos a folha de sala que estará à disposição de todos os participantes.

CA. 2023.05.26. Isabel Anjimho folha de sala 1 a.j

 

 

CA. 2023.05.26. Isabel Anjimho folha de sala 2 a.j

Folha de sala

Participe e ajude na divulgação deste evento.

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 12:04

Quarta-feira, 29.03.23

Conversa Aberta: Terras do aro de Coimbra

É já depois de amanhã, 6.ª feira que a partir das 18h00, decorrerá mais uma Conversa Aberta que conforme o habitual terá lugar na Sala D. João III do Arquivo da Universidade de Coimbra (por baixo e nas traseiras da Biblioteca Geral), com entrada pela Rua de S. Pedro.

A entrada é livre e após a apresentação do tema segue-se o debate, no qual todos poderão colocar as suas questões e pedir esclarecimentos.

CartazA3_31.03 a.jpg

Desta vez o tema a ser tratado será As Terras do Aro de Coimbra nos documentos e objetos do Arquivo Histórico Municipal de Coimbra

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A palestrante. Dr.ª Paula França é a responsável pelo Arquivo Histórico Municipal de Coimbra, profundamente conhecedora do mesmo e sempre pronta a ajudar aquele que ali fazem as suas investigações.

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Aliás o Arquivo Histórico Municipal de Coimbra merece uma visita. Quanto mais não seja, pelas pequenas exposições, periodicamente renovadas, que ali são apresentadas.

Participe no debate e ajude por favor na divulgação do evento.

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 11:15

Terça-feira, 21.03.23

Coimbra: Retábulos da Igreja do Mosteiro de Santa Clara, 7

 Painel do Batismo

Painel do Baptismo. Op. cit., pg. 112.jpg

Painel do retábulo colateral do lado do evangelho da igreja de Santa Clara-a-Nova. Op. cit., pg. 112

O painel do retábulo colateral do lado do evangelho é, assim, composto por cinco figuras masculinas. Ao centro, o Baptista do lado direito, de barba e cabelos longos, veste capa e túnica feita de peles esfarrapadas e eleva uma concha sobre Cristo desnudado e ajoelhado a seus pés que se encontra no centro de toda a composição, ligeiramente inclinado dentro de água e com as mãos cruzadas sobre o peito. A acompanhar estes, dois anjos assistem à cena no lado esquerdo do painel segurando as roupagens de Cristo. A rematar a ação, a quinta figura representa Deus Pai que presencia o acontecimento envolto de nuvens com dois anjos e dois querubins a acompanhá-lo. Por baixo deste e ainda entre as nuvens, o Espírito Santo, virado para as personagens em baixo, lança raios de luz em direção à cena central. Como fundo, o painel retrata uma paisagem citadina, ladeada de árvores e, em baixo, encontra-se representado o rio Jordão, correndo entre rochas sobre as quais foi esculpido um lagarto no lado esquerdo, enquanto no lado direito se prolongaram as raízes das árvores. Ao centro, entre as duas figuras principais, representaram-se dois lírios brancos, símbolos de dupla pureza (a de Cristo e a de João Baptista). Sobre o rio e em miniatura, encontramos uma pequena embarcação com um pescador (possível alusão a S. Pedro) acompanhada de quatro peixes que sobem ao topo da água.

Painel do Baptismo, pormenor. Op. cit., pg. 112..j

Painel do retábulo colateral do lado do evangelho da igreja de Santa Clara-a-Nova, pormenor. Op. cit., pg. 112

A cena do painel retabular representa a passagem bíblica do Batismo de Cristo, relatada nas escrituras sagradas, no momento em que João batiza Jesus no rio Jordão, descendo sobre eles o Espírito Santo (em forma de pomba branca) ao rasgarem-se os céus para a aclamação do Filho de Deus. Tal como relata, a título de exemplo, São Mateus: “Então, veio Jesus da Galileia ao Jordão ter com João, para ser batizado por ele. João opunha-se, dizendo: «Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti, e Tu vens a mim?» Jesus, porém, respondeu-lhe: «Deixa por agora. Convém que cumpramos assim toda a justiça.» João, então, concordou. Uma vez batizado, Jesus saiu da água e eis que se rasgaram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia :«Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado.».

 

Painel da Comunhão

Painel da Comunhão. Op. cit., pg. 117.jpg

Painel do Retábulo colateral do lado da epístola da igreja de Santa Clara-a-Nova. Op. cit., pg. 117

No painel figura um altar acompanhado de dois anjos, São João Evangelista, Nossa Senhora e duas personagens que a precedem. O retábulo do altar representado no painel é composto por duas pilastras e um arco de volta perfeita que emolduram um crucifixo. Em frente à mesa de altar decorada com duas velas e um cálice eucarístico, as três figuras femininas ajoelham-se perante o Apóstolo que veste alva, estola e manípulo segurando a hóstia nas mãos. Ao fundo de três degraus, dois anjos segurando círios, ajoelham-se perante a cena. Na edícula de remate encontra-se representada uma águia. A cena faz alusão ao momento da comunhão da Virgem dado por São João Evangelista.

Painel da comunhão, pormenor. Op. cit., pg. 117.j

Painel do Retábulo colateral do lado da epístola da igreja de Santa Clara-a-Nova, pormenor. Op. cit., pg. 117

A cena retratada no painel é um tema pouco conhecido e representado. Ele aparece-nos em contexto das Reformas protestantes quando as questões relativas ao sacramento da eucaristia são questionadas. Isto porque a cena da primeira eucaristia, a última ceia, representada desde os primórdios do cristianismo, se caracterizava por fixar o momento em que Cristo anuncia a traição de um dos apóstolos e não o momento em que consagra e distribui o pão e o vinho. Esse tema só irá conhecer a sua primeira representação no século XV, mas os artistas nunca se desprendem da antiga representação. Só a partir da segunda metade do século XVI é que começa a crescer o número de representações relativas ao momento da consagração da eucaristia.

 Carvalho A. R. A.  Os Retábulos da Nova Igreja do Mosteiro de Santa Clara em Coimbra. Dissertação de Mestrado em História da Arte, Património e Turismo Cultural. 2015. Edição da Universidade de Coimbra. Acedida em https://www.academia.edu/23902176/Os_Retabulos_da_Nova_Igreja_do_Mosteiro_de_Santa_Clara_em_Coimbra ...

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por Rodrigues Costa às 16:27


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