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De hoje a 15 dias vai realizar-se mais uma Conversa Aberta que conforme, o habitual, decorrerá na Sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra (junto ao Instituto Justiça e Paz, antigo CADC), na última sexta-feira de cada mês, a partir das 18h00, com entrada livre.
Desta vez o tema a ser tratado será As Terras do Aro de Coimbra nos documentos e objetos do Arquivo Histórico Municipal de Coimbra.
A palestrante, Dr.ª Paula França que é a responsável pelo Arquivo Histórico Municipal de Coimbra, profundamente conhecedora do mesmo e sempre pronta a ajudar aquele que ali fazem as suas investigações.
Aliás, o Arquivo merece uma visita. Quanto mais não seja, pelas pequenas exposições, periodicamente renovadas, que ali estão patentes.
Participe no debate e ajude por favor na divulgação do evento.
Rodrigues Costa
É já depois de amanhã, 6.ª feira, dia 24 de fevereiro, pelas 18:00 que irá decorrer na Sala D. João III, no Arquivo da Universidade de Coimbra, a segunda sessão de 2023 do ciclo Conversas Abertas.
O tema da palestra, tantas vezes e infelizmente menosprezado pela intelectualidade, aborda a importância da cultura popular, raiz da nossa identidade, e tem por título, A importância da pesquisa e da recolha direta no trabalho de um grupo de folclore.
O palestrante será o Professor Doutor António José dos Santos Gabriel que para além da sua carreira universitária, tem uma assumida paixão pela cultura popular, sendo hoje uma figura de referência no meio folclórico.
A entrada, como sempre, é livre e após a apresentação do tema segue-se um tempo de debate.
Agradecemos a sua participação e a ajuda na divulgação do evento.
PRÓXIMAS SESSÕES DAS CONVERSAS ABERTAS
Tema: As terras do aro de Coimbra e o seu relacionamento com o município coimbrão.
PALESTRANTE: Dr.ª PAULA FRANÇA, Arquivo Histórico Municipal de Coimbra
Tema: Igreja de Santo António dos Olivais: de ermitério à realidade atual.
PALESTRANTE: Doutora REGINA ANACLETO, Prof.ª Jubilada da FLUC
Tema: O Castelo de Coimbra
PALESTRANTE: Arq.ª ISABEL ANJINHO
Tema: A Escola Tipográfica da Imprensa da Universidade de Coimbra.
PALESTRANTE: Dr.s ANA MARIA BANDEIRA e ILÍDIO BARBOSA PEREIRA, Arquivo da Universidade de Coimbra
.
Prosseguindo a sua tão meritória obra de fazer regressar ao nosso convívio livros deslembrados, ligados à nossa Cidade, o antigo estudante coimbrão, Juiz Conselheiro jubilado, Dr. Mário de Araújo Torres, acaba de dar à estampa pela Editora Edições Ex Libris, o livro O Corpo militar Académico de 1808 a 1811. Memórias de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, Fernando José Saraiva Fragoso de Vasconcelos, José Inácio da Rocha Peniz, Alexandre Tomás de Morais Sarmento, José Bonifácio de Andrada e Silva. Recolha de textos, introdução e notas por Mário de Araújo Torres.
Op. cit., capa
Refere Mário Araújo Torres, na contracapa
Op. cit., contracapa
É a presente a primeira vez que é editada em Portugal a obra deste último [Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva], “O Patriotismo Académico”, publicada no Rio de Janeiro em 1812, de que se conhece um único exemplar entre nós (na Biblioteca Nacional de Portugal). Esta obra contém a mais completa relação dos factos ocorridos ao longo das campanhas.
Ainda na contracapa é apresentada a Medalha-insígnia usada pelos estudantes da Universidade e Coimbra que se alistaram no Batalhão Académico do tempo dos franceses.
Op. cit., pormenor da contracapa
São ainda apresentadas duas belas imagens nos fardamentos então usados.
Op. cit., badana da capa
Op. cit., badana da contracapa
Bem como são publicados dois mapas muito relevantes, para conhecermos a importância da participação da academia coimbrã, na defesa da sua Pátria.
Op. cit., pg. 16
Op. cit., pg. 17
Estamos, então, perante mais um trabalho doado a Coimbra, e pago do seu bolso, por Mário Araújo Torres, a quem o Município tarda, inexplicavelmente, a agradecer e a relevar.
Rodrigues Costa
É já no dia 24 de fevereiro, pelas 18:00 que irá decorrer na Sala D. João III, no Arquivo da Universidade de Coimbra, a segunda sessão de 2023 do ciclo Conversas Abertas.
O tema da palestra, tantas vezes e infelizmente menosprezado pela intelectualidade, aborda a importância da cultura popular, raiz da nossa identidade, e tem por título, A importância da pesquisa e da recolha direta no trabalho de um grupo de folclore.
O palestrante será o Professor Doutor António José dos Santos Gabriel que para além da sua carreira universitária, tem uma assumida paixão pela cultura popular, sendo hoje uma figura de referência no meio folclórico.
A entrada, como sempre, é livre e após a apresentação do tema segue-se um tempo de debate.
Agradecemos a sua participação e divulgação.
PRÓXIMAS SESSÕES DAS CONVERSAS ABERTAS
Tema: As terras do aro de Coimbra e o seu relacionamento com o município coimbrão.
PALESTRANTE: Dr.ª PAULA FRANÇA, Arquivo Histórico Municipal de Coimbra
Tema: Igreja de Santo António dos Olivais: de ermitério à realidade atual.
PALESTRANTE: Doutora REGINA ANACLETO, Prof.ª Jubilada da FLUC
Tema: O Castelo de Coimbra
PALESTRANTE: Arq.ª ISABEL ANJINHO
Tema: A Escola Tipográfica da Imprensa da Universidade de Coimbra.
PALESTRANTE: Dr.s ANA MARIA BANDEIRA e ILÍDIO BARBOSA PEREIRA, Arquivo da Universidade de Coimbra
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É já depois de amanhã, 6.ª feira, dia 27 de janeiro que às 18h00, se iniciam as Conversas Abertas deste ano que irão decorrer na Sala de D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra.
E para bem começar o Dr. Mário Araújo Torres irá falar de três personalidades ligadas a Coimbra, que se tornaram marcantes na vida cultural nacional na segunda metade do século XIX, todos autodidatas.
AUC. Pormenor da Folha de Sala
Sobre o Palestrante já tivemos ocasião de escrever, em 17 de fevereiro de 2022
Dr. Mário de Araújo Torres
Sendo a importância da reedição de textos, há muito esquecidos e esgotados, de autores que escreveram sobre Coimbra, inquestionável, lembra-se, mais uma vez, que após a sua jubilação o Dr. Mário de Araújo Torres, se dedicou à recolha e reedição – à sua custa, hoje, com mais de 10 títulos publicados – de autores que em Coimbra desenvolveram a sua atividade.
É exemplo um dos primeiros que editou: a produção etnológica e pedagógica do poeta Afonso Duarte.
Embora sabendo que Mário Araújo Torres é avesso a agradecimentos, temos repetidamente afirmado, e mais uma vez o fazemos, que Coimbra lhe deve um institucional: OBRIGADO.
Na modéstia do conimbricense que somos, pelo nosso lado, aqui fica esse reconhecimento, acrescentando que o Dr. Mário Araújo Torres é credor de todos os conimbricenses de uma palavra simples, mas que diz muito: OBRIGADO.
Agradecimento, que é feito perante o silêncio do Município já tantas vezes alertado para este seu dever.
Coimbra não pode, nem deve, continuar a ser madrasta quer para os seus filhos, quer para quantos fizeram de Coimbra a sua cidade.
Rodrigues Costa
Na anterior entrada referimos o recente trabalho do Professor Doutor José Amado Mendes, intitulado O património industrial e os museus: que relação?
Vamos seguir esse texto, a fim de compreender o que se entende por património industrial.
O património industrial é um novo bem cultural e um dos patrimónios emergentes. A sua grande relevância corresponde ao significado dos fenómenos históricos a que está indissociavelmente ligado, isto é, a Revolução Industrial, o processo de industrialização e o desenvolvimento da tecnologia.
… O património que nos foi legado pela industrialização é imenso … A sua diversidade é enorme e passa, entre outras, pelas seguintes modalidades: estruturas… equipamentos … aquivos, fotografias e relatos orais … meios de transportes e comunicações.
… Álvarez Areces: «A arqueologia industrial como matéria que estuda, investiga e defende a preservação do património industrial está-se convertendo num movimento cultural e social que amplia, dia a dia, o marco estrito de uma disciplina académica»
… O património industrial tem dado um excelente contributo à museologia, em especial à chamada nova museologia, intimamente associada à profunda renovação dos museus, à “criatividade renovada”, iniciada nos anos de 1970 e que se acelerou na década de 1980.
Texto que é ilustrado com as seguintes imagens.
Op. cit. Pg. 68
Op. cit., pg. 69
Op. cit., pg. 70
O Autor prossegue para, no final do artigo, apresentar as seguintes conclusões:
A evolução política, socioeconómica e cultual das comunidades, desde meados do século XX, induziu os decisores, investigadores, professores e agentes culturais a prestarem mais atenção aos vestígios e testemunhos do desenvolvimento económico, ao longo do tempo. Consequentemente, a noção de património cultural ampliou-se de forma significativa, passando a englobar novos aspetos da realidade, de entre os quais se tem destacado exatamente o património industrial.
… Simultaneamente com a valorização e preservação do dito património industrial foi criada, a partir dos anos de 1950, um novo “território” de pesquisa e ensino-aprendizagem, a Arqueologia Industrial. Esta, cujo objeto é precisamente o mencionado património industrial, tem por função o estudo e divulgação, bem como a sua salvaguarda, requalificação e reutilização de bens culturais de índole industrial, no sentido genérico da expressão e sem restrições cronológicas rígidas.
As repercussões desse novo olhar para os bens culturais de índole industrial fizeram-se sentir, por exemplo, no mundo académico – investigação, ensino-aprendizagem e publicações especializadas –, no turismo, especialmente no turismo cultural, e nas políticas e estratégias de gestão cultural, urbanística e ambiental.
No âmbito da museologia – sobretudo na “nova museologia” – os efeitos foram de grande monta e muito contribuíram para a criação ou atualização de elevado número de instituições museológicas, designadamente museus, ecomuseus e centros de interpretação. Em muitas circunstâncias, tem-se também optado pela musealização e preservação in situ de ambientes industriais, mineiras ou relacionados com os transportes e comunicações.
Importa reter esta conclusão e, pensamos, as fotografias que seguidamente publicamos encontram-se em consonância com os conceitos atrás enunciados.
A primeira mostra as primitivas instalações, onde, na Rua da Alegria, os elétricos eram reparados e, inicialmente, guardados.
Primitiva oficina e recolha dos elétricos, nas instalações da R. da Alegria
A segunda apresenta a fachada exterior dessas mesmas instalações, quando ali funcionava o Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra.
Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra, exterior
Por último, reproduz-se um pequeno desdobrável do Museu, então elaborado.
Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra, desdobrável. Col. Vítor Rochete
Tudo o que ficou dito permite-nos colocar uma questão: a musealização e a preservação dos carros elétricos e da oficina onde eles eram reparados “in situ” é, ou não adequada? Tanto uns, como a outra, fazem parte do património histórico da cidade.
A resposta é, para nós, óbvia.
Rodrigues Costa
Mendes, J.A. 2022. O património industrial e os museus: que relação? In: Revista Memória em Rede, Pelotas, v.14, n.27, Jul/Dez 2022. Pg. 59-84.
Carro elétrico n.º 1, à saída da empresa construtora, J.G. Brill Company.1910.
Noticia da inauguração da tração elétrica em Coimbra. In: Illustração Portugueza, n.º 258. 1911.01.30, pg. 139.
Quem tem uma já longa experiência de vida, a par com uma passagem – ainda que efémera – na esfera da ação política e quem trabalhou muitos anos numa autarquia, aprendeu, obviamente, algumas regras da prática política.
No âmbito deste contexto, embora fazendo uma caricatura onde as exceções só confirmam a regra, constata-se que um político nunca diz não a um projeto que lhe seja apresentado. Numa primeira fase afirma: sabem que a autarquia não tem dinheiro, há que estabelecer prioridades, vamos pensar.
Num segundo tempo, se a pressão dos eleitores se fizer sentir de forma muito persuasiva, declara: vamos elaborar um projeto, a fim de analisar o que fazer e os respetivos custos.
Num terceiro momento, se a pressão pública continuar a fazer-se sentir, fala-se de um projeto, que raramente é apresentado publicamente, e, simultaneamente, revela-se a respetiva orçamentação, essa sim, bem publicitada e calculada por um valor tão elevado quanto o possível; ao mesmo tempo informa-se que esta obra não cabe dentro do orçamento camarário, consequentemente iremos apresentar uma candidatura destinada a obter o seu financiamento.
Estamos perante a quadratura do círculo perfeita, pois nada de concreto é feito, nada é prometido, mas o político pode afirmar o “grande” interesse do projeto e a esperança da atribuição do tal subsídio, ainda que este não tenha viabilidade ou aponte para uma hipotética exequibilidade, num futuro tão longínquo quanto possível.
Vem esta introdução a propósito, porque, curiosamente, no mesmo dia tive conhecimento de um artigo publicado no jornal “Público”, assinado pelo jornalista Camilo Soldado e de um relato difundido em Inglaterra, nas redes sociais, por Bob Lennox, um profundo conhecedor e estudioso dos sistemas de tração elétrica e da sua musealização. Os dois textos lançam alguma luz sobre o que se passou na nossa cidade nos últimos vinte e poucos anos, tantos quantos os que já decorreram desde o encerramento do então designado “Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra”.
Para além dos referidos textos, que tenciono abordar em entradas subsequentes, remeto os leitores para um recente trabalho do Professor Doutor José Amado Mendes, que se encontra disponível na net, intitulado O património industrial e os museus: que relação?
Os textos em causa merecem uma séria reflexão, até porque nos permitem esclarecer o que se tem passado com o espólio existente no Museu, a partir do seu encerramento no ano de 2000.
Ao longo destes anos tive conhecimento de “ideias” relacionadas com a criação de um Núcleo Museológico dedicado aos transportes urbanos de Coimbra a que estava associada a existência de uma linha histórico/turística. Contudo, se foi executado um qualquer projeto que desse corpo ao Museu, a verdade é que nunca o visualizei e, em contrapartida, relativamente ao preço da concretização dessas “ideias”, já ouvi referências ao seu elevado custo e à consequente necessidade de obter financiamento para o mesmo.
Carro elétrico com “chora”, na Rua da Sofia, cerca 1911
Estas “ideias” lançadas sem um projeto que as suporte, conjuntamente com os textos que referi, levam-me a tecer as seguintes considerações:
- Até ao momento, não me apercebi de que tenha sido alguma vez questionada a importância histórica do património então guardado no “extinto” Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra. Muito pelo contrário, tive conhecimento da existência de um elevado número de visitantes e das frases elogiosas que, acerca da estrutura então montada, proferiram.
Cito, apenas, a título de exemplo:
. Bob Lennox: Entrei no depósito da Alegria pela última vez em fevereiro de 1980. O depósito havia sido transformado em museu e alguns carros restaurados;
. Um dos impulsionadores do similar museu da Carris de Lisboa, ao visitar o Museu conimbricense, afirmou: Vocês com pouco fizeram muito.
- É verdade que já me inteirei, vagamente, da existência de projetos e referências relacionadas com a “futura” musealização do que ainda resta do espólio então exposto no “Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra”, mas jamais me foi concedida oportunidade de consultar a referida documentação. A notícia mais marcante relacionada com este assunto assenta na apresentação feita, com pompa e circunstância, em 2010.08.08, numa cerimónia presidida pela então Vereadora do Pelouro da Cultura, de um projeto para remusealização do material existente.
Dessa cerimónia subsiste documentação fotográfica que, seguidamente, reproduzimos.
Apresentação, em 2010.08.08, de um projeto de remusealização. Col. Vítor Rochete
Outro aspeto da mesma cerimónia, em 2010.08.08. Col. Vítor Rochete
Do que ficou dito depreende-se que tem sido abordada a forma de expor o material, mas ignoram-se os cuidados a ter com o património que ainda ali existe.
Esse património necessita de manutenção permanente, tem de estar recolhido em local que não permita a sua deterioração e muito menos pode ser mandado para a sucata ou ser oferecido a outras autarquias, a fim de estas enriquecerem com ele o seu acervo museológico.
Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra. Vista do interior. Foto Ernst Kers
Decorrem desta reflexão as propostas que seguidamente apresento:
- Alterem a designação de “Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra” para “Núcleo do Carro Elétrico do Museu da Cidade” ou aponham-lhe outro qualquer nome que julguem mais adequado. Para descanso das consciências outrossim sensíveis, até que seja possível a concretização dos seus grandes projetos, coloquem uma placa onde se possa ler “Instalações provisórias”.
- Procedam ao faseamento desses grandes projetos, dando prioridade à musealização “in situ” do património existente e deixem para uma segunda fase outras “ideias”, tais como a criação de uma linha histórica/turística, com a qual estamos, obviamente, de acordo, mas que implica uma manutenção consideravelmente onerosa.
- O Museu que existia, teve em mente dois objetivos essenciais: por um lado, salvaguardar um exemplar de cada um dos tipos de viaturas que, ao longo do tempo, integraram a frota do sistema de transportes urbanos de Coimbra e, por outro, manter a operacionalidade da oficina/recolha, de forma a assegurar a viabilização do funcionamento de uma hipotética futura linha histórica/turística.
De acordo com o que ficou dito, sugerimos que refaçam o Museu com as peças (ainda existentes) que estiveram expostas, com êxito, durante cerca de 20 anos, embora tendo em conta, na medida do possível, a nova filosofia da musealização do património industrial.
E isto, rapidamente, antes do possível desencaminhamento do património existente que ainda integra peças únicas a nível mundial.
A concretização, das sugestões que apresento, estão perfeitamente ao alcance das capacidades económicas do Município de Coimbra sem necessidade do recurso a qualquer subsídio ou candidatura, e podem ser levadas a cabo pelos técnicos municipais do sector.
Rodrigues da Costa
Com a presente entrada iniciamos a divulgação de uma interessante prova final da Licenciatura em Arquitetura, apresentada em 2017, por Carolina Conceição Ferreira, intitulada Coimbra aos pedaços: uma abordagem ao espaço urbano da cidade.
Op. cit., capa
Coimbra implantou-se no monte a 90 metros de altura sobre um rio navegável – o Mondego.
A estrutura urbana teve início no período romano e o sistema principal para a formação do castro era simples: uma elevação, para maior controlo do restante território, um rio e a via Olissipo-Bracara Augusta, que estabelecia a comunicação terrestre com o restante território peninsular.
Estava, assim, iniciado o processo de conformação da polis com seus órgãos de poder residentes no Fórum.
A fixação inicial não demorou até extravasar os limites em direção à zona mais baixa, junto do rio e ao longo da via romana. As razões defensivas deixaram de fazer sentido e, passado o período das reconquistas e da fixação da nacionalidade, despoletaram outras vontades e outras dinâmicas para o desenvolvimento do castro inicial.
A vida urbana foi-se estabelecendo ao longo da via romana, por ser o sítio de passagem propício a trocas e a todas as atividades relacionais que a caracterizam. A pouco e pouco a aglomeração da edificação foi construindo a via que, mais tarde, passou à designação de rua. Foi o lugar privilegiado para a ação e prática da cidadania.
O limite imposto pela muralha assinalou o zoneamento de duas áreas urbanas distintas: a “alta” e a “baixa”. O desenvolvimento da cidade medieval, na parte baixa, caracterizou-se basicamente pela consolidação do núcleo arrabaldino, como uma área de intensa atividade mercantil e social.
Mais tarde chamada de Baixinha, esta zona prevalece o centro da cidade durante longo tempo, depois da cidade alta.
As marcas do tempo foram-se acumulando e persistiram, na memória, até aos nossos dias. A sua carga simbólica na cidade atual faz, deste núcleo, um centro cheio de referências históricas com características tipo-morfológicas que identificam o espaço urbano medieval. Foi o primeiro grande tema da expansão e crescimento da cidade.
Fotografia aérea vertical da cidade com os núcleos destacados no território. Fonte: Fotografia aérea vertical. Agosto 2001. Socarto. in Coimbra Vista do Céu p.6. Original da METRO-MONDEGO SA.
Uma segunda grande ação de expansão territorial marcou a história do século XIX, corresponde ao nascimento da urbanística como disciplina de planeamento urbano.
…. Em Coimbra, foi rasgada uma Avenida à imagem de boulevard parisiense ligando a parte baixa à parte alta da cidade e projetando-a a novas extensões de território englobando os restantes burgos periféricos no seu perímetro.
Esta ação urbanística foi grandiosa, na medida que introduziu elementos inovadores no projeto urbano - redes de saneamento, abastecimento e iluminação públicas – e conseguiu, numa grande extensão de terreno “vazio”, planear e regular toda a edificação e infraestruturação a longo prazo do território. O resultado visível revela uma estrutura sólida e funcional capaz de suportar as mudanças programáticas e morfológicas normais da cidade.
Fotografia vertical do Bairro de Santa Cruz em 1934. Arquivo Histórico das Forças Armadas.
Este modo de planeamento concilia o investimento público e privado, controlando e delimitando as formas edificadas de cada parcela. O desenho de projeto era utilizado em complemento com a regulamentação logística de atuação para aquele plano. O cenário urbano alterou-se radicalmente, abrindo a “cidade e os cidadãos a novas conceções políticas, sociais e estruturais.” Surgiram novas tipologias e novas relações espaciais para a vivência e organização urbana de Coimbra. O peso infraestrutural da Avenida Sá da Bandeira lançou as bases das novas formas de conexão espacial da cidade.
Noutra etapa, o Estado Novo, regime político vigente entre 1933 e 1974, marcou toda a cultura urbanística portuguesa do século XX. Caracterizou-se pelas suas políticas autoritárias e de acentuado controlo social e ideológico. Essas convicções deixaram marcas no território urbano e no desenho da cidade, acentuando a baixa densidade, o uso de tipologias unifamiliares, estruturas viárias hierarquizadas e regulamentação higienista.
A ação estratégica de urbanizar o território segundo planos e métodos uniformizadores, foi concretizada através de Planos Gerais de Urbanização para as várias cidades do país, utilizando-os para a expressão da ação e controlo do Estado sobre o espaço social.
Antevisão da Avenida de Santa Cruz, construída à custa da demolição das construções localizadas entre as Ruas da Moeda e Bordalo Pinheiro, do desaparecimento de alguns largos medievais típicos e da destruição da Estação Nova de Caminhos-de-ferro. Fonte: Ante-projecto de urbanização da cidade de Coimbra. Étienne De Groer. 1948
… Foi o caso de Etienne De Gröer, urbanista parisiense, que elabora o plano para Coimbra e lança as bases orientadoras do processo de expansão urbana da atual cidade. Com palavras do urbanista é mostrada a intenção geral deste «Plano de Extensão e Embelezamento de Coimbra».
Ferreira, C.C. Coimbra aos pedaços. Uma abordagem ao espaço urbano da cidade. Prova Final de Licenciatura em Arquitectura pelo Departamento da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, orientada pelo Professor Arquitecto Adelino Gonçalves. 2007, acedido em https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/13799.
No alçado anterior do edifício é bem notória a força de uma gramática classicizante de sabor italiano, mas embora se encontrem aqui as linhas dominantes, não podemos deixar de lhe chamar eclética, no total sentido do termo; é que o ecletismo deixou de ser interpretado como uma posição de incerteza para se transformar numa proposta de liberdade, onde não cabe mais o formulário unilateral .
…. Em arquitetura, mais do que em qualquer outra disciplina artística, os orçamentos são determinantes e a Universidade não dispunha, ao tempo, de verbas vultuosas que fizessem face a um imóvel luxuoso, no entanto queria, certamente, um edifício digno.
Fachada anterior da Faculdade de Letras, projetada pelo Arquiteto Silva Pinto
É dentro destes parâmetros que se apresenta a proposta do arquiteto. Bem ritmado, com o piso térreo de silharia de junta fendida e torreões marcados nas extremidades, a zona central do primeiro andar apresenta as aberturas vazadas no paramento e separadas por pilastras adossadas à parede ou por colunas duplas. A parte superior do vão das janelas oscila entre o arco de volta perfeita e o frontão triangular, para, numa liberdade criativa total, mostrar o lado inferior das ventanas colocadas nos pseudotorreões a acompanhar os degraus da escada interior.
Remata o edifício uma platibanda que faz lembrar os coroamentos tipo Adam's, com um baixo-relevo central, maqueta de Costa Mota (sobrinho), levado a cabo já em 1929.
[O relevo, que media 6x4,5 metros, ostentava na parte superior uma esfera armilar, ao centro a esfinge e na base folhas de louro, uma joeira e livros representando a ciência. Manuel de Jesus Cardoso passou à pedra o projeto apresentado pelo escultor. A imprensa local não regateou elogios ao arquiteto Silva Pinto, a Costa Mota, que já no ano anterior estivera em Coimbra, a fim de se inteirar do contexto onde seria colocada a peça e ao mestre de obras João dos Reis].
Lamentavelmente o projeto não se realizou tal como havia sido concebido. Construído ao longo de duas dezenas de anos, cedo mostrou a exiguidade de espaço. O arquiteto viu-se na necessidade de, no decorrer das obras, criar uma área maior dentro da estrutura prevista. As modificações cifraram-se no acrescento de um piso, o que obrigou os torreões a subir e a dar lugar, em cada um, a três frestas, de pés direitos lisos, coroados por uma balaustrada.
Na platibanda foram suprimidos os graciosos remates hemicirculares, os pilaretes alteados e transformados apresentavam-se agora num “resolve situações” que não eram nem colunas, nem pilastras. O local destinado ao relevo, de levemente arredondado, mudou-se para desproporcionado frontão triangular. Este novo andar, do ponto de vista gramatical, nada tem a ver com o restante edifício, e foi pena, pois o imóvel possuía uma marca de sobriedade, elegância e harmonia.
Além da fachada principal, referida detalhadamente, a construção continha ainda mais três faces a confinar lateralmente com as ruas de S. Pedro, de Entre Colégios e na zona posterior com a das Parreiras.
Fachada posterior da Faculdade de Letras, projetada pelo Arquiteto Silva Pinto
Desta, sobressaem os três grandes janelões rasgados no paramento, a fim de iluminar a sala que se destinava a Museu. Eram coroados por um frontão triangular sobre o qual se destaca a cúpula de ferro e vidro a cobrir o recinto.
Estes alçados, embora mais modestos, não destoavam do conjunto.
Ainda quase por acabar, quando se davam os derradeiros retoques, o camartelo bramido por ordem lisboeta, embora com a aprovação (talvez implicitamente forçada) do Senado da “velha” Universidade, agora a completar sete séculos, arrasou-lhe a fachada, esventrou-lhe as entranhas e desbaratou-lhe parte da decoração.
De qualquer forma, a primeira Faculdade de Letras, no seu conjunto, expressava um maior gabarito do que a atual fachada da Biblioteca Geral, que, ao fim e ao cabo e despudoradamente, ainda se apoderou de grande parte das estruturas interiores. O amplo salão de leitura e a cúpula elíptica, de arrojado traçado, que o encimava, foram reaproveitados, embora a contextura de um mal-amanhado teto disfarce aquela composição; o mesmo aconteceu com o elegante vestíbulo e escadas de acesso.
Portão que fechava uma das portas da Faculdade de Letras, sem a bandeira, e atualmente instalado na entrada poente da cerca do Jardim Botânico.
Nem sequer tiveram dó dos belos portões de ferro forjado, dos magníficos lustres do mesmo material, dos lindos artefactos de talha que se encontravam portas a dentro e do grande vitral de manufatura italiana existente na vasta sala do Museu.
Mas “no reinado dos bota abaixo” o que se poderia esperar de quem não se compadeceu com o derrubar da maior parte do centro histórico da cidade e nem compreendeu o diálogo travado entre o complexo cultural e a malha urbana envolvente, bem como as relações daqueles com a massa humana que ali se movimentava e habitava?
A zona do Paço das Escolas continha em si muito mais do que meras construções, era a memória coletiva de todo um passado que não interessa renegar, mas sim compreender, até para nos abrir a porta do futuro; era o cenáculo da cultura, mas era também o local por onde haviam passado gerações e gerações de estudantes, de frades, de professores, de funcionários; era ainda ali que o saber e os artífices se abraçavam ou se digladiavam, ficando uns no cimo da colina e estendendo-se os outros pela parte baixa da urbe. Com o derribar dos edifícios, lançaram também por terra toda esta vivência.
A personalidade e os conhecimentos do arquiteto Augusto de Carvalho da Silva Pinto ressaltam dos muitos projetos que elaborou durante a vida. O edifício da Faculdade de Letras, sobretudo na sua versão original, comprova-o.
Anacleto, R.; Poilicarpo, I.P.L. O arquitecto Silva Pinto e a Universidade de Coimbra, em Universidade(s). História. Memória. Perspectivas, vol. 2, Congresso História da Universidade. 7.º centenário. Coimbra, 1991, p. 327-346.
O Dr. Mário Araújo Torres, prosseguindo na sua senda de reeditar livros da bibliografia coimbrã, esquecidos pelo tempo, acaba de dar à estampa mais uma obra, esta dedicada aos Batalhões Académicos e, nomeadamente ao de 1846-1847.
O livro leva o seguinte título: O Batalhão Académico de 1846-1847. Notas por António dos Santos Pereira Jardim. Publicadas com aditamentos por António João Flores. Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres.
O Batalhão Académico de 1846-1847, capa
O Batalhão Académico de 1846-1847, contracapa
O original foi editada em 1888, pela Imprensa da Universidade com o título Noticia Historica do Batalhão Academico de 1846-1847. Notas do Dr. António dos Santos Pereira Jardim.
O Batalhão Académico de 1846-1847, pg. 72
Na Introdução, Mário Araújo Torres faz uma breve bosquejo dos diversos Batalhões Académicos que ao longo dos tempos foram constituídos, identificando os seguintes:
- 1644-1645, no âmbito da «Guerra de Restauração»;
- No decurso das invasões francesas, por três [vezes] se organizaram … em 26 de Junho de 1808, … em 2 de janeiro de 1809 … em 9 de novembro de 1810;
- A eclosão das «lutas liberais … em 1826, foi formado um Batalhão de estudantes liberais, … na sequência da revolta do Porto, de 16 de maio de 1828, contra o Governo de D. Miguel;
- Face à Revolta dos Marechais … de julho de 1837; e
- Aquando da eclosão, em abril de 1846, da «Revolta do Minho (Maria da Fonte)».
De salientar que no texto do livro ora reeditado, nas páginas 34 e 35, é descrita a ação do Alto do Viso, do dia 1 de maio de 1847. Nessa ação se bateram com a maior bravura os 31 académicos, que nela se acharam, formando a linha de atiradores. Depois de enumerar os académicos que participaram na ação, acrescenta: Destes faleceram quatro, sendo no campo da batalha o Tenente Manuel Fialho de Abreu Simões e o Voluntário José António Carlos Madeira Torres; e depois da batalha Aires de Araújo Pereira Negrão e Domingos António Ferreira.
O Batalhão Académico de 1846-1847, pg. 72 . Notas manuscritas do discurso proferido pelo Visconde de Sá da Bandeira, por ocasião do funeral de José António Carlos Madeira Torres, em 3 de maio de 1847.
Discurso que concluía com a seguinte frase. «Durante o combate todos [os académicos] se portaram com admirável valor.
Nota: Com esta entrada, mais uma vez, se chama a atenção de todos os conimbricenses e, nomeadamente, da Câmara Municipal para a obra de grande valor cultural e histórico que, a expensas suas, Mário Araújo Torres, vem realizando. Tenho esperança que na conferência inaugural do recomeço das Conversas Abertas, que irá proferir no dia 27 de janeiro, do próximo ano, subordinada ao tema Autodidatas ilustres de Coimbra, na segunda metade do séc. XIX, seja o momento em que, quantos amam a nossa Cidade, ao menos, lhe possam dizer de viva voz: OBRIGADO.
Rodrigues Costa
Jardim, A.S.P. e Flores, A.J. O Batalhão Académico de 1846-1847. Notas por António dos Santos Pereira Jardim. Publicadas com aditamentos por António João Flores. Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres. 2022. Lisboa, Edições Ex-Libris
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