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A' Cerca de Coimbra


Quinta-feira, 15.05.25

Coimbra: Ponte Real

Sexta e última entrada dedicada à divulgação do livro de historiador brasileiro Milton Pedro Dias Pacheco, Do aqueduto, das Fontes e das Pontes.

Estabelecendo a vital ligação entre os dois lados do rio Mondego, a antiga ponte real foi durante séculos a principal entrada em Coimbra, integrando a via terrestre que ligava Lisboa ao Porto – não no trajeto conhecido através das ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz –, mas sim através da íngreme Couraça de Lisboa.

Alguns autores defendem a tradição de que as primeiras pontes construídas sobre o Mondego tiveram, tal como no caso do aqueduto citadino, uma origem romana.

Vista da cidade, fig. 4.pngFig. 4. Ponte da cidade de Coimbra (pormenor) | Civitates Orbis Terrarum, vol. V, 1598, pg. 235

Ponte de pedra. Memória.jpg

Depositada no Museu Nacional Machado de Castro

Ponte Manuelina e vista de Santa Clara. 1860.jpgPonte Manuelina e vista de Santa Clara. 1860. Acervo RA

Entretanto, iniciada a formação do Reino de Portugal, consta que D. Afonso Henriques …  mandara reconstruir a ponte no ano de 1132, seguida dos arranjos planeados por D. Sancho I, em 1210, e pelos seus sucessores ao longo de toda a Baixa Idade Média.

Estas sucessivas reconstruções ficar-se-iam a dever, sobretudo, devido aos danos provocados pela força das correntes, como se verifica numa carta enviada por D. João II ao conselho da cidade: “a ponte dessa cidade está muito danificada das cheias passadas e em mui grande perigo”

Com efeito, os autores mais fidedignos apontam para uma intervenção sabiamente estruturada durante o reinado de D. Manuel I, nos alvores do século XVI. Segundo o que as fontes documentais apontam, o monarca … ordenara aos mestres Boytac e Mateus, em Setembro de 1510, de promoverem os estudos necessários para o “corregimento da ponte” campanha seria efetivamente concluída nos três anos seguintes, pois, em 1513, a ponte estava aberta ao tráfego.

A estrutura ficava assim a dispor de vinte e quatro arcos, executados em pedra, provavelmente em calcário dolomítico da cidade, inclusive as guardas laterais, que na seção correspondente ao oitavo arco eram encimadas em cada um dos flancos pelas esferas armilares do monarca reinante. No extremo sul, já próximo da margem de Santa Clara, parte do troço da ponte fora alargado, com acessos a jusante e a montante, como se vê ainda nalgumas das gravuras antigas dedicadas a Coimbra.

A extremidade norte era rematada por um torreão-peagem, quadrangular, destinado à aplicação das taxas e impostos sobre quem entrava na cidade. No frontispício principal, sobre o arco de entrada, fora colocada uma lápide brasonada ladeada das esferas armilares, retirada para o Museu do Instituto de Coimbra e hoje depositada no Museu Nacional de Machado de Castro … sobre o referido padrão estaria a representação escultórica com a Virgem Maria, segurando Cristo Menino, que se encontra igualmente no principal museu da cidade, provavelmente ambos da autoria de Diogo Pires o Moço.

…. D. Filipe I de Portugal determinava, por carta régia, o lançamento da finta para se proceder à reconstrução da dita ponte e das margens envolventes onde aquela assentava. Muito provavelmente, as obras não teriam sido logo executadas, pois na correspondência epistolar trocada com o arcebispo de Braga, em 1586, o monarca salientara os estragos provocados pelos “grandes invernos do anno passado”.

A ponte quinhentista, reformada pela última vez naquela centúria pelo arquiteto régio Fillipo Terzi, teria outras obras de consolidação até ser substituída por uma nova em Maio de 1875, não devido ao assoreamento do leito do rio, mas sim às necessidades de permitir, com maior segurança, a passagem do trânsito rodoviário.

Setenta e nove anos depois, a estrutura de ferro assente em pilares de alvenaria ...

Ponte de Santa Clara 13.jpgPonte de ferro (finais dos anos 30). Acervo RA

 ... deu lugar à atual ponte, uma estrutura de betão armado, dotada de tabuleiro plano e assente em cinco pilares pendulares, com talha-mares elípticos … Erguida em local próximo da anterior, a nova ponte, desenhada pelo arquiteto Peres Fernandes.

Ponte de Santa Clara 06.jpgPonte de Betão, em construção

Ponte de Santa Clara. Testes.jpgPontes de Ferro e de Betão

Ponte de Santa Clara 20.jpgPonte de Santa Clara. Inaugurada em 1954

Curiosamente, em 1950, durante as sondagens geológicas realizadas no seguimento dos estudos de engenharia, seriam encontrados, a 14 metros de profundidade, nas proximidades da margem de Santa Clara, vestígios de uma escada executada em cantaria. Pertenceriam estes achados arqueológicos à ponte real manuelina como sugeriram os engenheiros responsáveis pela última obra?

Pacheco, M. P.D. Do aqueduto, das Fontes e das Pontes: a Arquitetura da Água na Coimbra de Quinhentos. In: História Revista. Revista da Faculdade de História e do Programa de Pós-graduação em História, v. 18, n. 2, p. 217-245, jul. / dez. 2013. Goiânia (Br.). Acedido em:

https://www.researchgate.net/profile/Milton-Pacheco 2/publication/314821532_DO_AQUEDUTO_DAS_FONTES_E_DAS_PONTES_A_ARQUITETURA_DA_AGUA_NA_COIMBRA_DE_QUINHENTOS/links/5dc1909a4585151435ec0330/DO-AQUEDUTO-DAS-FONTES-E-DAS-PONTES-A-ARQUITETURA-DA-AGUA-NA-COIMBRA-DE-QUINHENTOS.pdf...

 

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por Rodrigues Costa às 15:50

Quinta-feira, 19.12.24

Coimbra: Igreja de S. Cristóvão 2

Completamos a recolha de informações sobre a igreja de S. Cristóvão com excertos de um trabalho realizado por Sérgio Madeira e Maria Antónia Lucas da Silva, intitulado Vestígios arqueológicos na Alta de Coimbra: Redescobrir a igreja de S. Cristóvão.

Trata-se do relatório do acompanhamento arqueológico da remodelação do edifício da Rua Joaquim António de Aguiar, n.os 26 e 28, contíguo ao que resta do Teatro de Sousa Bastos, resultante da obrigatoriedade de este se situar numa área a que o Plano Diretor Municipal vigente atribui o Grau de Proteção 1 (grau máximo de proteção no que diz respeito ao património histórico e arqueológico).

Desse documento, destacamos:

Através da picagem de rebocos e arranque de taipas, para além de aparelhos construtivos pobres, de pedra e argamassa, ficou a descoberto, no interior do edifício, a partir do 1º piso, um cunhal composto por pedras de grandes dimensões. Comparando a localização destes vestígios com a planta da antiga Igreja de S. Cristóvão poder-se-á concluir que tais vestígios poderão pertencer à parede de um anexo do lado norte da igreja, talvez no espaço que outrora abrangeu «uma casa annexa de religiosos da regra de Santo Agostinho».

O prolongamento vertical do cunhal revela a existência de, pelo menos, dois níveis de alteamento, visíveis sobretudo no 3º piso e, muito provavelmente, relacionados com a construção e adossamento do imóvel (séculos XVIII/XIX) e o posterior alteamento desse mesmo piso (eventualmente após a destruição da igreja no século XIX).

Remoção de argamassas.png

Remoção de argamassas inerentes ao projeto de empreitada e aspeto do cunhal em evidência. Op. cit., sem numeração.

A referência mais antiga à Igreja de São Cristóvão remonta ao século XII, altura em que foi construída à semelhança da Sé Velha no seu estilo e disposição, ainda que de mais reduzidas dimensões. Sob a tutela de um grupo de Religiosos Agostinhos vindos de França este foi, assim, um dos templos mais antigos de Coimbra, sendo que se idealiza a hipótese de ter sido edificado sobre um outro templo religioso mais antigo, fundamentando-se essa teoria em vestígios de ossadas com cronologia anterior à construção da igreja românica, descobertas em escavações na década de 90 do século passado. Na planta da Igreja de S. Cristóvão (1859) pode observar-se a representação de uma cripta que poderá corresponder ainda ao vestígio dessa pré-existência.

O edifício medieval manteve-se ao longo dos séculos quase sem alterações estruturais, à exceção de algumas obras no 2º quartel do século XVIII, das quais constam um alongamento lateral a Norte no terceiro e quarto tramos e a abertura de cinco novas frestas.

Sobreposição.jpg

Sobreposição da Planta do 1º piso dos números 26-28 da Rua Joaquim António de Aguiar e da Planta da Antiga Igreja de São Cristóvão. Op. cit., sem numeração.

No entanto, em meados do século XIX, a igreja encontrava-se muito arruinada e desprovida da importância que havia tido em tempos anteriores. Após várias ponderações, acabou por se avançar em 1859 com o desmonte integral da igreja, com vista à construção do Teatro D. Luís, inaugurado a 22 de Dezembro de 1861. A leitura da planta do teatro permite verificar que manteve grosso modo a implantação da igreja destruída, com alargamentos que resultaram na eliminação da rua e consequente adossamento da fachada sul às construções existentes e na redução da rua a nascente. Em resultado de falta de obras de manutenção e da apressada demolição da igreja, este novo edifício irá cair também em ruína e acabará por sofrer outras alterações arquitetónicas importantes na sua adaptação a cinema em meados do século XX para dar origem ao Cine-Teatro Sousa Bastos em 15 de Junho de 1914, em homenagem ao empresário ligado ao mundo do teatro.

Após uma vida de vários momentos de notoriedade o Cine-Teatro Sousa Bastos entrou num declínio que culminou com o seu fecho em 1978, ficando o edifício votado ao abandono até aos dias de hoje, encontrando-se a edificação totalmente devoluta e com sinais evidentes de degradação.

TSB. Imagem 1, vista área.png

Estado atual do edifício do extinto Teatro Sousa Bastos, na sua maioria desprovido de cobertura e de miolo e fachadas com janelas partidas, rebocos soltos, vegetação nos beirados. Op. cit., sem numeração.

Por entre todas as alterações que o espaço sofreu ao longo de quase mil anos de História, o cunhal posto em evidência aquando da recuperação do imóvel sito nos números 26-28 da Rua Joaquim António de Aguiar mantém-se como vestígio dessa Igreja cuja imponência se pode agora reconstituir e que, a seu tempo, foi sede de paróquia e de freguesia e onde nas ruas que dela radiavam, agora camufladas pela atual malha urbana, múltiplos mesteres e respetivas confrarias se fixaram, numa importante dinâmica económico-social.

Considerando o seu potencial patrimonial e estético, propôs-se como medida de minimização e salvaguarda que o cunhal fosse mantido a descoberto e integrado no projeto de remodelação do imóvel em apreço.

Madeira, S. e Silva, M. A. L. Vestígios arqueológicos na Alta de Coimbra: Redescobrir a igreja de S. Cristóvão. Texto acedido em file:///C:/Users/Fernando/Desktop/Rel%C3%ADquias%20da%20Arquitectura%20Romano/Vestigios%20arquel%C3%B3gicos%20...%20-Igreja-de-S.-Cristovao.pdf 

 

 

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por Rodrigues Costa às 19:13

Terça-feira, 19.11.24

Coimbra: Mosteiro de Santa Cruz, análise do Chronica Gottorvm

Voltamos a um texto do académico brasileiro Jonathas Ribeiro dos Santos Campos de Oliveira sobre o Mosteiro de Santa Cruz, este dedicado ao estudo de um dos documentos fundamentais para conhecer a história daquele cenóbio.

Das mãos de um cronista agostiniano, orientado pelos interesses institucionais do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a segunda metade do século XII, início do XIII, testemunhou, por meio de textos como a Chronica Gottorvm, a estruturação do discurso institucional de exaltação da imagem de Afonso Henriques, rei de Portugal.

Materializando o imaginário na literatura, o autor da cronica associou ao infante atributos tanto militares quanto espirituais, configurando assim uma masculinidade régia idealizada.

Afonso Henriques, rei.jpg

Afonso Henriques como rei, Imagem acedida em: https://www.portugalvisitor.com/famous-portuguese/afonso-henriques

Afonso Henriques, mais antigo.jpg

A mais antiga representação conhecida de Afonso Henriques, no Museu do Carmo. Imagem acedida em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Henriques#/media/Ficheiro:Lisbonne_Mus%C3%A9e_du_Carmo_Buste_de_Afonso_Henriques.jpg

Afonso Henriques, selos.jpg

Diversos sinais de Afonso Henriques. Imagem acedida em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Henriques#/media/Ficheiro:AfonsoHenriquesSelo.jpg

Seguindo uma ordem cronológica, a obra narra como teria se dado o processo de expansão territorial portucalense promovido por Afonso Henriques.

Dividido em duas partes, o texto apresenta, na primeira seção, uma estrutura linhagista composta por autoridades locais que teriam precedido o “domínio” afonsino na região do Condado. Na segunda parte, o enfoque está nos feitos militares do infante, apresentando-o como um instrumento de Deus no plano terreno.

Batalha de Ourique.jpg

Representação da Batalha de Ourique na Genealogia dos Reis de Portugal. Imagem acedida em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Henriques#/media/Ficheiro:Battle-of-Ourique.png

Tomada de Santarém..jpg

"Tomada de Santarém", por Roque Gameiro (Quadros da História de Portugal, 1917). Imagem acedida em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Henriques#/media/Ficheiro:Tomada_de_Santar%C3%A9m_(Roque_Gameiro,_Quadros_da_Hist%C3%B3ria_de_Portugal,_1917).png

Segundo a historiografia, a construção imagética que se estabelece sobre o infante tem pelo menos dois objetivos: assentar uma memória de ações notáveis sobre a heroica figura fundacional do reino e estimular militarmente os portucalenses, sob a liderança de Sancho I (1154-1211), filho e sucessor de Afonso Henriques, a combater o avanço muçulmano.

Túmulo de D. Sancho.jpg

Mosteiro de Santa Cruz. Túmulo de D. Sancho I

…. Durante o exercício dos dois primeiros priorados, com D. Teotónio (1132-1152/62) e D. João Teotónio (1162-1181), a Canónica agostiniana institucionalizou-se, postulando normas de conduta aos cónegos regulares e associados, evidentes nas disposições capitulares de 1162 e reproduzidas na Vita Theotonii, e organizando o patrimônio crúzio e os direitos adquiridos, expressos tanto na Vita Tellonis quanto em partes específicas do Livro Santo e do Livro de D. João Teotónio. 

…. O vínculo com a autoridade real, pois o mosteiro funcionava como chancelaria e abrigo do tesouro régio, e a consequente preponderância gozada no seio social, teriam levado a Casa regrante a um aumento de influência no Condado. A figura régia foi pedra angular no processo, uma vez que garantia múltiplos privilégios sobre os domínios da comunidade. 

….Na segunda metade do século XII, a Casa crúzia se viu afetada por, pelo menos, dois fenómenos principais. Por um lado, pelo enfraquecimento militar sofrido pela autoridade régia após os eventos de Badajoz, em 1169. O acidente de Badajoz teria a um só tempo dificultado o ímpeto real como meio de ampliação da influência Regular no reino, e enfraquecera a linha de defesa portucalense frente às ofensivas muçulmanas, colocando em risco os espólios agostinianos na fronteira. Por outro, pela desarticulação política do círculo afonsino que orientava as ações reais no Condado, uma vez que alguns dos principais agentes teriam morrido no período, tirando do cenário político, sem que houvesse substituição à altura, articuladores dos interesses portucalenses no Ocidente Ibérico. Neste sentido, destacam-se as mortes de D. Teotónio, Superior de Santa Cruz de Coimbra e conselheiro do infante, em 1162; D. Gonçalo Mendes de Sousa, seu mordomo-mor, em 1167; chanceler Alberto, por volta de 1169, e D. João Peculiar, arcebispo de Braga e uma das figuras centrais da corte, em 1175.

Apesar de Sancho I, filho e sucessor de Afonso I, ter buscado reorganizar o reino e seu exército, juntamente com os que ainda se encontravam a assistir à corte, é razoável que a desagregação do círculo afonsino que herdara tenha gerado um forte impacto na coesão política do Condado.

…. Nesse panorama, já de relevante insegurança lançada sobre o seu patrimônio, os crúzios perceberam que, para defendê-lo, era necessário fortalecer novamente o círculo régio. Assim, estando integrado a um corpo real forte e consolidado, o património da comunidade estaria menos sujeito a alienações por parte de terceiros. A literatura foi um dos caminhos escolhido.

O discurso cronístico crúzio, consumado na Chronica Gottorvm, para além dos interesses já evidenciados pela historiografia, teria por fim enfraquecer os protestos levados ao Papado por outras instâncias eclesiásticas e mitigar as disputas de poder com autoridades locais. Ao construir uma imagem heroica de Afonso I, evidenciando seus feitos militares e a devida anuência divina às suas ações, o Mosteiro evocava a corte, governada agora por Sancho I, a reestabelecer a integração entre seus membros, promover a reorganização de seu exército e restaurar o exercício de poder no Condado.

Oliveira, J.R.S. O discurso cronístico do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra no século XII: uma análise da Chronica Gottorvm. 2019. In: Revista do CFCH – Universidade Federal do Rio de Janeiro.Pg. 1 a 5. Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:35

Terça-feira, 08.10.24

Coimbra: Mosteiro de S. Jorge

O Doutor Saul António Gomes publicou um texto, que hoje divulgamos, que nos elucida sobre os tempos primitivos de um dos conventos menos conhecidos de Coimbra, o Mosteiro de S. Jorge, localizado na margem esquerda, do Mondego, acima da celebrada Lapa dos Esteios.

Moteiro de S. Jorge 2.webp

Mosteiro de S. Jorge, na atualidade. Imagem acedida em: https://www.imovirtual.com/pt/anuncio/quinta-do-mosteiro-de-sao-jorge-em-co-ID1cxu7

Mosteiro de S. Jorge 1.jpg

Mosteiro de S. Jorge, na atualidade. Imagem acedida em: https://www.bing.com/images/search?view=detailV2&ccid=CMIGGFQH&id=167147D791D4E40DD28DF6B2A4276175A084F781&thid

 …. A fundação do Mosteiro de S. Jorge, situado um pouco a nascente da cidade de Coimbra, segundo as crónicas modernas dos cónegos regrantes de Santo Agostinho, dever-se-ia ao Conde D. Sesnando, o celebrado governador moçárabe de Coimbra … teria mandado levantar nesse local, em 1080, uma ermida dedicada a S. Jorge, fazendo-a mudar, quatro anos depois, para outro lugar, justamente aquele onde o mosteiro, segundo os cronistas crúzios, viria a ser edificado.

Data de Julho de 1146, na verdade, o compromisso feito por … Salvador Guimariz, diante de D. João, bispo … a partilhar com os seus companheiros o património que para esta fundação se estabelecia, a fim de que tudo fosse partilhado em comum.

…. A este mosteiro ligaram-se, por especial devoção, os monarcas da dinastia afonsina. D. Sancho I e D. Dulce, sua mulher, entregaram, em 1191, a dízima da herdade régia de Façalamim aos cónegos, sendo prior-mor D. Pedro Vicente, em reconhecimento da intervenção do santo mártir na proteção ao infante D. Afonso, futuro rei.

…. Em 1216, D. Afonso II toma debaixo da sua real proteção este cenóbio … Também D. Afonso III … se voltou para esta canónica de Coimbra, em 1259, suplicando a intercessão de S. Jorge para que a sua filha primogénita, a Infanta D. Branca.

…. No século XIII, S. Jorge de Coimbra usufruía de um património rentável e apreciável. Por doação, compra ou escambo, este instituto regular estendeu o seu património, para além do que tinha em Coimbra, a Castelo Viegas, Arregaça, Taveiro, num aro geográfico ainda muito próximo de Coimbra, e, depois, num segundo círculo já mais distanciado, a terras como Lorvão, Penela, Tentúgal, Montemor-o-Velho, Lavos, Ameal e Façalamim. S. Jorge tinha, finalmente, interesses senhoriais apreciáveis em pontos bem mais longínquos como eram Arganil, Celorico [da Beira], Paços, Covilhã, S. Vicente da Beira [“de ultra serra”], Rio de Moinhos, junto a esta vila, Santarém e Portalegre.

…. Na primeira metade do século XIII … mantinha práticas de administração que passavam pela escrita organizada.

…. Poderemos classificá-lo como registo de contabilidade monástica, numa tipologia documental rara, sobretudo para essa época.… Nele percorre-se longamente o património monástico dominial arrolando-se rendas e proventos cujas entradas se faziam pelas ovenças, respetivamente, da enfermaria, da vestiaria e da correaria. O hospital monástico e a “pitançaria” são referidos muito de passagem como tendo rendimentos próprios.

…. De uma leitura global deste registo contabilístico, verificamos que se intersectam neste claustro dois tipos de economia. Pesavam os pagamentos em géneros alimentares, em animais e até em escravos sarracenos. Mas a linha dominante neste micro-universo monástico é a da economia monetária. Procura-se avaliar todos os proventos em moeda, valorizando-se vendas e rendas expressas em dinheiro … três moios de centeio e um sarraceno recebidos, em 1257, pelo prior da enfermaria. Trigo, centeio, milho mourisco e milho, sem mais, tinham boa receção no mercado urbano, valendo cada alqueire de trigo, nesse ano, quatro soldos. Como se vendiam bem, cremos, “panos”, decerto lanifícios para cuja manufatura não faltava matéria-prima nos celeiros do Mosteiro. Os panos vendidos pelo prior a Vicente Serrão, por exemplo, tinham valido a soma de sete libras.

…. O Mosteiro era senhorio de muitas cabeças de gado miúdo e de apreciáveis boiadas. Um dos seus ovelheiros, Vicente, entregou aos cónegos 80 ovelhas e um asno, e D. Pedro, irmão de D. Sebastião, oito vacas, um boi e mais de 40 ovelhas; de um outro ovelheiro, Durando, recebeu-se 60 ovelhas e 13 libras em dinheiro. Pedro Gonçalves de “Palio”, por seu turno, pagou oito cabeças de vacas, entre grandes e pequenas, 10 cabras, três asnos, um boi e um bom “zorame et sagia”.

…. Da vinha da correaria recebia-se todo o vinho … O Mosteiro tinha alguns olivais, poucos, rendendo, os que trazia D. Bento, “fibulariu”, cinco libras

…. S. Jorge de Coimbra conheceu tempos de prosperidade e outros de crise interna.

No ano de 1192, o claustro acolhia 26 cónegos e exercia jurisdição sobre a comunidade feminina de cónegas agostinhas da Santa Ana, para a qual se apontam, nessa data, nove professas. Dados que indiciam um ciclo de vitalidade na história desta comunidade.

Moteiro de S. Jorge 3.jpg

Mosteiro de S. Jorge 3. Imagem acedida em: https://www.flickr.com/photos/biblarte/3562604342/in/photostream/

…. A dimensão do património de S. Jorge permitia, ainda por todo o século XIV, um confortável nível de vida aos seus professos. Isso é muito claro, por exemplo, em 1334, quando o prior-mor concordava em “que os coonigos e os frades confessos do dicto monasterio de cada dia ajam pera seu mantimento tres pãees cada huum coonigo e frade e serem tamanhos que do alqueire da farinha triga peneirada polla ante maao e seendo-lhe a mão posta hûa vez que do alqueire fossem fectos dezeoyto pãaes […] e cada dia ajam d’aver tres fiaas de vinhos, o vaso da colaçom, e da noa e da presa o qual vinho seer terçado as duas partes de vinho e a hûa d’augua”.

Gomes, S. A. 2011. Um registo de contabilidade medieval do Mosteiro de S. Jorge de Coimbra (1257-1259). In: Medievalista [Em linha]. Nº10, (Julho 2011). Direc. José Mattoso. Lisboa: IEM. Acedido em: http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/

 

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por Rodrigues Costa às 10:04

Quinta-feira, 08.08.24

Coimbra: Convento de Sant’Ana, o tempo de Quartel

A adaptação do Convento a quartel motivou, como não podia deixar de ser, as alterações arquiteturais que melhor dispusessem o edifício às finalidades que se pretendiam.

.… Como é afirmado no Inventário Artístico de Portugal “A remodelação do edifício monástico para o fim de aquartelamento regimental, se transformou a orgânica primitiva das celas bem como as janelas, conservou a carcaça das paredes que delimitávamos dormitórios e que representam o esquema geral monástico”.

…. Extinto o Convento de Sant’Ana, com a saída da última freira para o Colégio Ursulino, a propriedade, com exclusão da igreja e da cerca, foi entregue ao Ministério da Guerra tendo como finalidade a sua ocupação pelo Regimento de Infantaria 23.  Este Regimento, embora referenciado em Coimbra desde 1884, estava aquartelado em condições precárias no Colégio da Graça.

…. Data de 1892 o primeiro projeto de adaptação do Convento a Quartel, que se conhece, visando a instalação de um Destacamento de Cavalaria.

CSA- Planta res-do-chão.jpgPlanta do rés-do-chão – zona das hospedarias, 1892, DSE – 6844 2.º-5-64-73. Op. cit. pg. 96

Neste projeto, assinado pelo Ten. Eng.º João Maria de Aguiar, podem-se observar a divisória central que separava os dois pátios em que se articulava a ala das hospedarias, e parte do corpo central que separava os dois claustros da parte conventual.

…. Só em 1905, é que a Secretaria da Guerra manda adaptar o extinto convento de Santa’Ana a quartel, para “um Regimento de Infantaria, um Destacamento de Cavalaria, um Distrito de Recrutamento e Reserva e uma Caserna Militar. E só em 3 de outubro de 1911 é que o Regimento de Infantaria 23, primeira Unidade Militar de Infantaria aqui sedeada, ocupou formalmente o edifício.

…. Mas é a 21 de maio de 1905, que é apresentado o primeiro projeto (conhecido) para Quartel de Infantaria.

CSA. Projeto de quartel.jpgProjeto de quartel de infantaria. Op. cit., pg. 101

…. Os trabalhos de adaptação foram iniciados em dezembro de 1905 e interrompidos, logo a seguir, em 15 de janeiro do ano seguinte …. São retomadas a nove de abril de 1911, com base num novo projeto mais abrangente onde, pela primeira vez, surge a proposta de uma alteração importante da fachada.

CSA. Projeto de quartel, fachad norte.jpgFachada norte – Projeto final, DSE. Op. cit. pg. 109

…. O RI 23 foi a primeira unidade a ocupar as antigas instalações do Convento de Santa’Ana … Um mês depois da sua transferência para o Funchal em 1926, as instalações foram ocupadas pelo Batalhão de Caçadores 10 que, no processo absorveu o Regimento de Infantaria 35 e o 5.º Grupo de Metralhadoras, ambos sedeados em Coimbra desde 1911 (este último ocupando instalações no Quartel de Sant’Ana desde 1924).

Com a extinção do Batalhão de Caçadores 10, em 1927, o quartel foi, de imediato, ocupado pelo Batalhão de Metralhadora n.º 2 que o substituiu e por aqui permaneceu até à sua transferência para a Figueira da Foz … é determinada a entrega das instalações ao Regimento de Infantaria 12, que aqui permanecerá durante 26 anos, até à sua extinção formal em 1965.

O Distrito de Recrutamento e Mobilização n.º 12 … é transferido para Coimbra em 1939, ocupando 10 compartimentos do Convento de Santa’Ana.

CSA 32.jpgFachada Norte – Foto da atualidade. Op. cit., pg. 112

No período entre 20 de abril de 1979 e 19 de junho de 1997, instalou-se também no Quartel a Manutenção Militar …. Tendo recebido as instalações do Quartel-General da Região Militar Centro a Manutenção Militar acabaria por devolvê-las ao Quartel-General da Brigada Ligeira de Intervenção, depois deste ter ocupado o Convento/Quartel de Sant’Ana … a partir de sete de junho de 1993.

Ferreira, J.M.V. e Caldeira, J.R.M. Sant’Anna. Três séculos de Convento, um século de Quartel. 2.ª edição. 2006. Coimbra, Câmara Municipal.

 

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por Rodrigues Costa às 11:27

Terça-feira, 06.08.24

Coimbra: Convento de Sant’Ana, evolução ao longo dos séculos

Nesta entrada e na seguinte, divulgamos um texto que nos permite conhecer o percurso deste cenóbio desde a sua construção até à sua transformação numa unidade militar.

Trata-se da obra Sant’Anna. Três séculos de Convento, um século de Quartel, da autoria de dois militares que ali prestaram serviço, o Coronel Jorge Manuel Vieira Alves Ferreira e o Major-General José Romão Mourato Caldeira.

CSA 31.jpgSant’Anna. Três séculos de Convento, um século de Quartel. Op. cit., capa

A fundação do Mosteiro nasce do empenho de uma religiosa do Mosteiro de S. João das Donas de Santa Cruz, chamada D. Joana Pais. Sendo muito devota da Santa Ana … decidiu fundar-lhe um mosteiro numas casas e vinha de que era legítima proprietária por herança.

… A origem da sua fundação e, em particular, da natureza das suas primeiras ocupantes, confunde-se com o fenómeno das “emparedadas”… que consistia numa forma de penitência particular em que certas devotas, para expiar faltas cometidas ou na esperança de altas recompensas após a morte, decidiam privar-se de todos os bens e esperanças da vida secular e se fechavam no interior de pequenas celas (apenas do amanho indispensável) … as devotas faziam-se entaipar entre quatro paredes, enterrando-se em vida, mandando fechar a pedra e cal a porta … eram alimentadas por uma pequena fresta.

… De todas as “emparedadas” parece que as mais antigas teriam sido as “d’a par da ponte” de Coimbra.

A prática terá tido começo nos inícios do século XII e sobre ela se encontram ainda referências no século XV.

… Confirmada pela história a existências das “emparedadas” e o rigor da sua penitência, fica por esclarecer de que modo influíram na origem do primitivo Convento … velho de Sant’Ana “d’A par da ponte” (fundado no último quartel do século XII).

… Cerca de cem anos após a conclusão do edifício, começaram as religiosas a experimentar grandes prejuízos e incómodos devido às grandes inundações do convento, provocadas pelo progressivo assoreamento do rio Mondego. O fenómeno de elevação do nível das águas foi tal que, no final, não ficaram vestígios da construção.

… A doação da quinta de S. Martinho, feita por D. João Soares em 1561, para nela se recolherem as freiras que … viviam ainda nessa altura, no mosteiro velho a montante da ponte.

Quinta de S. Martinho.jpgQuinta de S. Martinho. In: «Sant’Ana. Três séculos de convento, um século de quartel», pg. 20.

Embora a quinta de S. Martinho não tivesse condições para uma permanência de longa duração, as freiras ali se instalaram até que o bispo D. Afonso de Castelo Branco lhes mandasse construir o novo edifício do mosteiro, no sítio denominado Eira das Patas.

D. Afonso Castelo Branco, tumulo.jpgTumulo de D. Afonso Castelo Branco, na Sé Velha de Coimbra [inicialmente na capela-mor da igreja do Convento de Santa’Ana} In: «Sant’Ana. Três séculos de convento, um século de quartel», pg. 19.

 …. Nove anos e meio durou a construção do Convento desde que, a 23 de junho de 1600, fora lançada a primeira pedra, pelo Bispo-Conde D. Afonso Castelo Branco, até à entrada definitiva … ali permaneceram as freiras de Santa Ana até aos conturbados tempos de 1832-34.

… O final das guerras liberais … conduziram ao decreto de extinção das Ordens Religiosas.

… Foi consentido que o convento continuasse como tal enquanto fosse viva a última freira … Esta circunstância só não ocorreu porque a seis de junho de 1885 … optou por se recolher … no Colégio Ursulino, hoje Hospital Militar Regional n.º 2.

A …  Fazenda Nacional … por despacho de 13 de agosto do mesmo ano, o cede juntamente com a respetiva cerca ao Ministério da Guerra, para ser transformado em quartel e aqui se estabelecer, juntamente com o Regimento Infantaria 23, um Departamento de Cavalaria.

Ferreira, J.M.V. e Caldeira, J.R.M. Sant’Anna. Três séculos de Convento, um século de Quartel. 2.ª edição. 2006. Coimbra, Câmara Municipal.

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por Rodrigues Costa às 11:43

Quinta-feira, 18.07.24

Coimbra: Convento de Santa Ana

Com a série de cinco entradas que hoje iniciamos chamamos a atenção dos leitores para o trabalho de investigação intitulado Comer e curar no Convento de Santa Ana de Coimbra (1859 a 1871), da autoria da Dr.ª Dina de Sousa.

O Convento de Santa Ana

O primitivo convento situava-se na margem esquerda do Mondego, próximo de um local vulgarmente designado por “Ó da Ponte”. Então conhecido por “Cellas da Ponte”, teve como grande impulsionadora D. Joana Pais, devota de Santa Ana, que fundou o convento numas casas e respetiva quinta que recebera por doação de seus pais, tendo sido aí colocada a primeira pedra a 26 de Julho no ano de 1174, precisamente no dia consagrado a Santa Ana. Devido aos seus parcos recursos, o convento ficou dependente dos bispos de Coimbra, que o sustentavam através das suas esmolas.

Um século após a edificação do convento, “(...) por causa das cheias do Rio Mondego com as quais o dito Convento estava devastado e as ditas freiras por muitas vezes estiveram em perigo de vida”, tornou-se insustentável a continuidade da comunidade naquele espaço.

CSA. Coimbra, gravura de Hofnageal, 1583. Pormenor

Coimbra no final do sec. XVI, ruínas das “Cellas da Ponte”. Pormenor da gravura de Coimbra, de Hoefnagel

 No “anno de 1561, em que as sucessoras de D. Joanna viram não poder elle continuar a ser habitado”, recorreram ao bispo D. João Soares, tendo-lhes sido feita doação da Quinta de S. Martinho para nela se recolherem, até ser construído um novo edifício.

CSA 2.jpg

Quinta de S. Martinho (Vestígios do Convento). In: «Sant’Ana. Três séculos de convento, um século de quartel», pg. 20.

Este seria mandado edificar pelo bispo–conde D. Afonso de Castelo Branco, situado no local outrora conhecido por Eira das Patas, numa colina fronteira à cerca de São Bento e ao aqueduto. O seu domínio estendia-se até ao atual Penedo da Saudade. A 13 de Fevereiro de 1610, as religiosas ingressam no novo convento de Santa Ana, passando a usar o hábito das Eremitas de Santo Agostinho.

Refira-se que esta comunidade acolheu a jovem Josefa de Óbidos. Além dos ensinamentos religiosos, ali recebeu aulas de pintura. Assim, foi nesta cidade que Josefa começou a pintar, pois, parece que a sua obra mais antiga data de 1644, uma série de gravuras de Santa Catarina e São José. Como não seguiu a vida religiosa regressou a Óbidos, em 1653, trabalhando para conventos e igrejas. Mais tarde, foi convidada pela família Real, para fazer os retratos da rainha D. Maria Francisca de Saboia e da sua filha, a infanta D. Isabel.

CSA. Josefa de Óbidos.jpgJosefa de Óbidos. Santa M aria Madalena.1650. Museu Nacional de Machado de Castro. Imagem acedida em:https://www.wikiart.org/pt/josefa-de-obidos/santa-maria-madalena-1650

CSA. Josefa de Óbidos. A Anunciação.jpg

Josefa de Óbidos, A Anunciação, 1676. Imagem acedida em: https://ilustracaoportugueza.wordpress.com/2016/08/15/josefa-de-obidos-a-anunciacao-1676/

Tal como aconteceu em outros espaços monásticos, em 1810, as religiosas perderam muitos dos seus bens, devido às Invasões Francesas. Poucos anos depois, as guerras liberais vieram agravar a sua frágil situação económica, no contexto da extinção das ordens religiosas masculinas, em 1834. Assim, as ordens femininas ficaram proibidas de receber noviças, pelo que se regista um envelhecimento da comunidade, necessitando de mais cuidados.

O convento é considerado extinto a 6 de Junho de 1885, altura em que a última prelada, D. Maria José de Carvalho, de idade já avançada, e desprovida de bens económicos, abandona Santa Ana, juntamente com mais algumas idosas que com ela viviam, na sua maioria criadas e encostadas. Consigo levou apenas alguns objetos como recordação de um espaço no qual entrara quando tinha sete anos de idade. A sua mudança dá-se para o Real Colégio Ursulino das Chagas, instalado no extinto Colégio de S. José dos Marianos.

CSA. Colégio de S. José dos Marianos.jpegColégio de S. José dos Marianos, atual Hospital Militar

O edifício conventual patenteia uma arquitetura modesta, bem ao espírito dos Eremitas de Santo Agostinho, valorizando a sua fachada dois pórticos que, entretanto, foram retirados e que hoje estão, respetivamente, na Igreja de S. João de Almedina

CSA. Igreja de S. João de Almedina, portal.jpg

Pórtico do Convento de Santa Ana, aplicado na Igreja de S. João de Almedina. Imagem acedida em: https://www.bing.com/images/search?view=detailV2&mediaurl=https%3A%2F%2Fimages...

 e na fachada do Museu Machado de Castro.

CSA. MNMC, portal.jpgPórtico do Convento de Santa Ana, aplicado na entrada do Museu Nacional Machado de Castro. Imagem acedida em: https://www.bing.com/images/search?view=detailV2&mediaurl=https

De estrutura quadrangular, desenvolvida em torno de dois claustros e de dois pátios internos, na sua primitiva construção, no piso térreo encontrava-se a entrada para a Igreja e para o pátio das hospedarias, a roda e as grades, o refeitório, a cozinha e a casa da botica. Existiam outras dependências: casas para criados, celeiro, forno, duas arrecadações e a cerca amuralhada que abrangia a entrada do Penedo da Saudade.

No primeiro andar situavam-se os dormitórios, a casa do noviciado e as enfermarias.

Sousa, D. Comer e curar no Convento de Santa Ana de Coimbra (1859 a 1871). Texto acedido em: https://www.academia.edu/116755957/Comer_e_curar_no_Convento_de_Santa_Ana_de_Coimbra_1859_a_1871_?email_work_card=title

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por Rodrigues Costa às 17:19

Quinta-feira, 06.06.24

Coimbra: S. Teotónio e o seu priorado do Mosteiro de Santa Cruz 5

Com esta entrada terminamos a divulgação do trabalho do Doutor Jonathas Ribeiro dos Santos Campos de Oliveira, sobre o período fundacional do Mosteiro de Santa Cruz. Texto que, em no nosso entender, interessa não só pelo seu conteúdo, bem como pela curiosidade do seu autor ser um académico brasileiro.

Famílias nobiliárquicas coimbrãs também contribuíram para o crescimento patrimonial experimentado por Santa Cruz de Coimbra até 1162, por meio de doações, vendas ou testamentos feitos à Comunidade agostiniana. Dois fatores se destacam para refletir sobre tal fenômeno: um relacionado a um possível caráter simbólico que o mosteiro pudesse ter no período; e outro, aos efeitos práticos que as transferências traziam ao patrimônio particular.

Viseu. Estátua de S. Teotónio.jpg

S. Teotónio. Viseu. Imagem acedida em https://diocesedeviseu.pt/padroeiro/

S. Tetónio. Viseu, azulejos2-360x169@2x.jpg

Na presença de D. Afonso Henriques, São Teotónio lança os hábitos a novos cónegos regrantes de Santa Cruz de Coimbra. Viseu. Imagem acedida em https://diocesedeviseu.pt/padroeiro/

Na primeira questão, a possível representação que a própria casa monacal pudesse ter para a nobreza coimbrã estaria associada a uma supremacia espiritual simbólica que, em meio ao grupo social, ela deteria face à organização paroquial. Enquanto esta estaria voltada ao serviço terreno dos cristãos, isto é, “ao Povo de Deus que caminha penosamente nesta terra”, a outra, estava relacionada ao anúncio profético do paraíso; distanciava-se da pugna vinculada ao plano terreno. Por conseguinte, dado a significação que uma apresentava frente à outra, a supremacia espiritual do mosteiro frente aos demais e sua transcendência teriam atraído a atenção nobiliárquica de Coimbra. Conforme salienta Mattoso, [...] o mosteiro, com a sua comunidade permanente, que desafia os séculos e as vicissitudes deste mundo, representa também a própria eternidade e é, portanto, uma garantia da permanência da família. Ligada a um mosteiro, ela não só será fecunda, não só se reproduzirá [...], nível da honra alcançada e os poderes que a assemelham ao próprio Deus ou aos seus Santos.

Nesse sentido, identificando no monaquismo um caminho de acesso ao sagrado, cuja proximidade ao plano divino encontrava seu sentido na vida austera, as famílias coimbrãs provavelmente viram no mosteiro de Santa Cruz de Coimbra uma via de promoção de sua própria condição espiritual.

A segunda questão, diz respeito aos efeitos práticos que a transferência trazia aos bens associados. Se na primeira linha interpretativa, a partir da reflexão conduzida por Mattoso, a importância da doação se estabelece em virtude de um interesse que

transcendia a questão material, se apoiando exclusivamente nos resultados mais abstratos do termo, isto é, no âmbito espiritual, aqui, a importância se faz mais imediata, concreta, ou seja, se alicerça no plano terreno.

O prestígio e poder que, gradativamente, o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra teria conseguido ao longo do tempo, fruto, como vimos, do vínculo que mantinha com Afonso Henriques e seus associados, além do próprio apoio papal, teria aumentado sua capacidade de proteção em relação ao patrimônio que detinha.

Este dado teria, consequentemente, garantido a força combativa do exército portucalense quando sob ameaça, formando, assim, um conjunto institucional pouco suscetível às instabilidades oriundas de um período marcado pelos constantes conflitos. Nesse panorama, famílias dotadas de patrimónios significativos, cuja efetiva ação para defendê-los se encontrava enfraquecida ou inexistente, veriam na associação ao Mosteiro, seja em momentos conflituosos ou não, uma forma de verem garantidas a proteção e manutenção dos bens dos quais dispunham.

Das anotações relativas a Testamentos, Cartas de doações e de vendas à Santa Cruz de Coimbra constantes no Livro de D. João Teotónio, por exemplo, é indiscutível que as décadas de 60 e 70 do século XII são as que em maior volume dão mostra das aquisições por parte do Mosteiro. Portanto, período de priorado de D. João Teotónio (1162-1181).

Não seria diferente, dado a possibilidade de ter por incentivo o avanço almóada que se fazia presente no último quartel do século XII em território portucalense. Com isso, cabe salientar também, em paralelo, o próprio incentivo promovido pelo segundo prior, atraindo para os crúzios considerável número de doações e testamentos, aumentando assim o patrimônio material do Mosteiro.

De facto, foi com ele [D. João Teotonio] que, desde 1152, se fomentou a partir das doações feitas um patrimônio que organizado viria a dispor de rendas próprias que permitiram ampliar instalações e adequá-las à medida da procura crescente.

O crescimento e expansão experimentados pela Comunidade agostiniana entre 1132 e 1162 caracterizaram essa primeira etapa de vida do Mosteiro.

Oliveira, J.R.S.C. A Cidade de Coimbra e o Mosteiro de Santa Cruz no Século XII. Reflexões sobre o Priorado de S. Teotónio. 2017. In: Acedido em: 

https://www.academia.edu/38218646/A_CIDADE_DE_COIMBRA_E_O_MOSTEIRO_DE_SANTA_CRUZ_NO_S%C3%89CULO_XII_REFLEX%C3%95ES_SOBRE_O_PRIORADO_DE_D_TEOT%C3%94NIO?auto=download&email_work_card=download-paper

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por Rodrigues Costa às 11:11

Terça-feira, 04.06.24

Coimbra: S. Teotónio e o seu priorado do Mosteiro de Santa Cruz 4

No texto que ora transcrevemos sobre a investigação de Jonathas Ribeiro dos Santos Campos de Oliveira, continua a debruçar-se sobre as circunstâncias do período inicial do Mosteiro de Santa Cruz.

Durante o priorado de D. Teotónio, concessões de naturezas variadas teriam sido feitas por parte do Infante ao Mosteiro, aumentando-lhe assim tanto o património particular do qual dispôs nesta primeira etapa, quanto às zonas de influência sobre o Condado Portucalense: “[...] o rei lhe concedeu muitos dos bens que aí tinha, tanto móveis como imóveis, enriqueceu o local, confirmou todos os bens do mosteiro, tanto de dentro como de fora, e ao confirmá-los coutou-os”.

S. Teot├│nio. Valen├ºa.jpgS.Teotónio, monumento em Valença. Imagem acedida em https://www.bing.com/images/search?view=detailV2&ccid=73TXSsPF&id=...

Viseu. Estátua de S. Teotónio.jpg

S. Teotónio, monumento em Viseu. Imagem acedida em https://www.bing.com/images/search?view=detailV2&ccid=73TXSsPF&id=...

…. Dentre as concessões feitas por Afonso Henriques ao Mosteiro regrante, destacamos os coutos que, nos primeiros anos da canónica, teriam composto um conjunto patrimonial significativo. Nesse sentido, tornamos evidente, por exemplo, o couto de São Romão de Seia, de dezembro de 1138; o couto feito a um barco de pesca, de março de 1139; o couto da vila de Gouveia, de novembro de 1140; o couto de parte das vilas de Quiaios e Emide, além de toda a de Lavos, de junho de 1143; o couto de todos os homens e herdades de Santa Cruz, de julho de 1146.

…. O mosteiro de Santa Cruz, ao demonstrar, em certa medida, alinhamento aos interesses defendidos pela Sé romana, obtendo dela o devido reconhecimento e se colocando em direta subordinação, teria exercido no Ocidente peninsular um papel concentrador e difusor das orientações provenientes de Roma. Como agente disseminador dos interesses românicos, trazia para a lógica de organização social o próprio discurso cristão, e para o corpo eclesial, o enquadramento esperado e o referencial de conduta moral estabelecido na base apostólica. Com isso, teria garantido para si o beneplácito da Sé de Pedro para o desenvolvimento de suas atividades, tendo assegurado tanto privilégios quanto a expressiva proteção papal.

O facto de uma rede crescente de paróquias serem fundadas ou ficarem sob a orientação direta do mosteiro de Santa Cruz, que se afirmava isento do poder episcopal, protegido e imediatamente dependente da Sé Apostólica iria contribuir para consolidar o seu próprio processo de isenção [...]. Era igualmente um poderoso meio de a instituição regrante mais se afirmar junto da autoridade episcopal, através do exercício da sua própria jurisdição, e na sociedade em que se situava.

A título de exemplo dos privilégios recebidos, destacamos: a bula «Ad hoc universalis», de abril de 1144, na qual Lúcio II teria confirmado os bens e direitos recebidos pelo Mosteiro, dentre eles os sobre as igrejas de São Romão de Seia, São João de Santa Cruz, Quiaios, Mira, Travanca, etc., isentando-os de dízimo, sem com isso alienar os direitos da diocese.

Papa Lucio II.jpg

Papa, Lucio II. Imagem acedida em: https://www.google.pt/search?q=lucio+ii+papa..

Todos repetidos e confirmados por Eugénio III por meio da bula «Apostolica Sedis», de setembro de 1148. O cardeal Jacinto, com a bula «Oficii nostri», de novembro de 1154, além de confirmar as concessões anteriores, teria acrescentado outras novas qual seja, a livre eleição do superior da comunidade regrante e o direito de sepultura. Já Adriano IV, por meio da bula Ad hoc universalis, de agosto de 1157, para além de manter as confirmações já feitas, também a exerce às igrejas do castelo de Leiria e de Taveiro, entre outros.

Um dos pontos que nos chama a atenção nos privilégios eclesiásticos é o da necessidade de uma confirmação contínua das concessões reais ao Mosteiro. Ou seja, mesmo já tendo obtido o devido reconhecimento por parte da Igreja romana, esta consideração parece não garantir um inquestionado direito aos Regrantes sem que passasse por nova confirmação. Era também uma forma de manter, por parte do papado, um controle dos bens adquiridos pelo Mosteiro em um determinado espaço de tempo.

 Oliveira, J.R.S.C. A Cidade de Coimbra e o Mosteiro de Santa Cruz no Século XII. Reflexões sobre o Priorado de S. Teotónio. 2017. In: Acedido em:

https://www.academia.edu/38218646/A_CIDADE_DE_COIMBRA_E_O_MOSTEIRO_DE_SANTA_CRUZ_NO_S%C3%89CULO_XII_REFLEX%C3%95ES_SOBRE_O_PRIORADO_DE_D_TEOT%C3%94NIO?auto=download&email_work_card=download-paper

 

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por Rodrigues Costa às 10:26

Terça-feira, 28.05.24

Coimbra: S. Teotónio e o seu priorado do Mosteiro de Santa Cruz 3

Terceira de cinco entradas sobre o trabalho do Doutor Jonathas Ribeiro dos Santos Campos de Oliveira que vimos divulgando.

É interessante perceber o silêncio que a Vita Sancti Theotonii faz desse período de tensões. De acordo com a obra, omitindo qualquer conflito, menciona que o corpo fundacional do Mosteiro estaria firmado na autoridade de Afonso Henriques e do «uenerabilis» bispo de Coimbra Bernardo. Partindo desta divergência entre os escritos, é razoável trabalhar com a hipótese de a Vita teotoniana, produzida em data posterior à Vita Tellonis, em 1162-63, intentar esvaziar do discurso narrativo possíveis tensões existentes na fase inicial da canónica crúzia, dado a proximidade existente entre ambas no momento de produção da obra. Em data anterior, 1154-55, em virtude do recente período de atrito verificado, e/ou por possíveis interesses que fogem ao nosso entendimento agora, Pedro Alfarde teria achado por bem mencioná-los em sua obra.

Igreja de Santa Cruz. Interior antigo 01.jpg

Igreja de Santa Cruz, interior na segunda metade do séc. XIX, Acervo RA

A ida de D. Telo e seus associados imediatos ao papado para solicitar a isenção teria, no raciocínio de Erdmann, também trazido frutos ao bispado coimbrão, tendo o Pontífice concedido a proteção da Santa Sé à comunidade, face os interesses compostelanos. Em troca, segundo o autor, o Vigário teria pedido ao Infante uma proteção especial em favor de Santa Cruz de Coimbra.

…. Nos primeiros anos da Canónica agostiniana, a busca por material escrito que servisse às necessidades religiosas do Mosteiro também teria sido uma das iniciativas tomadas pelo corpo fundador. “Telo e os seus companheiros, ao reunirem-se em comunidade, tinham necessariamente de prover à constituição de uma biblioteca que permitisse responder às obrigações da vida regrante [...]”. O mosteiro franco de São Rufo de Avinhão, neste particular, teria sido um dos contribuintes iniciais para a constituição do património escrito da canónica agostiniana. Dele teria vindo, para além da própria inspiração da vida regular, o «Ordinário» (Liber Ordinis, de Letberto), o «Capitulário», «Antifonário», comentários bíblicos de Agostinho de Hipona (sobre o Génesis, João, Mateus e Lucas) e Ambrósio (o Exameron e o De Penitentia), a «Regula Pastoralis de Gregório Magno e um comentário de Beda, o Venerável, sobre Lucas.

Cathedrale_avignon.jpgIgreja de São Rufo de Avinhão. Na atualidade. Imagem acedida em: https://pt.wikipedia.org/w/index.phpsearch=igreja+de+S%C3%A3o+Rufo+de+Avinh%C3%A3o&title=Especial:Pesquisar&ns0=1&quickView=Arquidiocese+de+Avinh%C3%A3o

Desta forma, ao longo de três etapas de contactos com o mosteiro que lhes servia de modelo, em 1135, 1136-1137 e 1139-1140, Santa Cruz adquiria os textos das regras, constituições, diretórios litúrgicos e doutrinas patrísticas que lhe permitiam completar, internamente, a sua estruturação e conduzir a sua orientação doutrinal. À fundação do «armarium», acrescentava-se este importante núcleo do que mais tarde haveria de ser a sua livraria.

Com isso, ao que tudo indica, a primeira década de vida do Mosteiro seria marcada pela aquisição de um patrimônio teológico-literário que, mesmo ainda incipiente, foi suficiente para o desenvolvimento das atividades iniciais da Casa regrante. Este, progressivamente, teria aumentado durante o priorado de D. Teotónio (1132-1162), fruto também da própria hipertrofia sofrida pela comunidade crúzia no período, que teria expandido sua órbita de influência e, consequentemente, a capacidade de aquisição e a necessidade de produção de novas obras.

Para esse crescimento exponencial, teria concorrido uma série de fatores, dentre os quais damos mais destaque aos possíveis interesses nutridos e consequente intervenção da monarquia Portucalense na dinâmica dos Regrantes agostinianos, das famílias nobiliárquicas de Coimbra e da própria Sé Apostólica.

No que diz respeito a Afonso Henriques, a transferência feita em 1131 da sede administrativa da cidade de Guimarães para Coimbra, efetuada no mesmo ano de fundação do mosteiro de Santa Cruz, dão indícios de uma iniciativa não desinteressada.

D._Afonso_Henriques_O_Conquistador.jpgAfonso Henriques. Imagem acedida em https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Henriques

 …. Afonso Henriques teria encontrado na cidade de Coimbra o ambiente favorável para poder exercer suas ações com mais liberdade face à condição sob a qual se encontrava em Guimarães. A possibilidade de desempenhar maior capacidade de decisão política, entre outros, surgia como atrativo, frente ao que, sob as limitações da própria lógica de organização local, encontrara no entre Minho e Douro. No Mondego, também, se colocaria em posição geográfica mais estratégica para melhor empreender seus avanços militares e veria reconhecido, pela aristocracia regional, seu papel de proeminência.

…. Em linhas gerais, a Casa crúzia viria em auxílio, como agente legitimador, através do discurso cristão, às investidas militares do monarca portucalense contra os “inimigos” da Sé Apostólica. Assim, ao passo que o exército afonsino avançava sobre seus “oponentes”, o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra garantia - discursivamente - o apoio divino nas batalhas.

…. É este o intento que a literatura coimbrã da segunda metade do século XII parece querer transmitir. De acordo com a «Chronica Gottorvm», por exemplo, escrita no final do século XII,

Oliveira, J.R.S.C. A Cidade de Coimbra e o Mosteiro de Santa Cruz no Século XII. Reflexões sobre o Priorado de S. Teotónio. 2017. In: Acedido em: 

https://www.academia.edu/38218646/A_CIDADE_DE_COIMBRA_E_O_MOSTEIRO_DE_SANTA_CRUZ_NO_S%C3%89CULO_XII_REFLEX%C3%95ES_SOBRE_O_PRIORADO_DE_D_TEOT%C3%94NIO?auto=download&email_work_card=download-paper

 

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por Rodrigues Costa às 16:54


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