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Como se não bastassem as más condições interiores para condenação de um hospital tão pequeno para tantos doentes (as primitivas instalações dos Hospitais da Universidade de Coimbra), acrescia ainda a má vizinhança que lhe fazia o cemitério. Davam para ele as janelas das enfermarias do lado norte; e a distância entre esta face do edifício do hospital e o muro do cemitério era apenas de 8 metros. (distância que corresponde, grosso modo, à atual rua Inácio Duarte, uma vez que o cemitério estava instalado entre esta rua e a antiga “estrada dos jesuítas”, hoje rua António Vieira. De notar que este cemitério poderá ter sido o primeiro em Coimbra – e por certo um dos primeiros do País, senão o primeiro –, na época moderna, a existir não ligado a uma igreja, nos adros, no interior ou em terrenos anexos à mesma.
... Achando-me a uma destas janelas em janeiro de 1852 com o facultativo interno ... notou este que se estava a abrir uma sepultura em sítio do cemitério, onde já tinha visto abrir outra ... concluímos que não tinha decorrido o tempo suficiente para a renovação daquela sepultura ... Terminei, ponderando a urgente necessidade de se escolher com prontidão, qualquer terreno que se prestasse a um cemitério suplementar e provisório, enquanto não se construísse o cemitério geral da cidade, de que então se tratava com bastante cuidado.
... Surgiram dúvidas sobre a escolha do terreno; hesitando-se entre o cerco dos jesuítas, contíguo ao laboratório químico, o cerco de S. Jerónimo, ou as igrejas, então fora de culto, de S. Jerónimo, de S. Bento ou do colégio de Tomar.
Concluiu-se por dar preferência ao terreno da Conchada, oferecido pela câmara municipal, por se achar então já demarcado para cemitério público.
Correu tudo com tanta celeridade, que, tendo chegado a minha reclamação ao conselho da faculdade de 28 de Janeiro, passados seis dias já se abria a primeira sepultura no cemitério provisório da Conchada. Teve lugar esse enterramento no 1.º de Fevereiro de 1852.
Aquele pequeno recinto da Conchada, ainda mesmo depois de resguardado com tapume de madeira, ficou pouco decente para os enterramentos do hospital; mas desviou-se do estabelecimento a insalubridade que lhe provinha do antigo cemitério; e preparou-se a opinião para receber depois, com menos repugnância, a mudança dos enterramentos das igrejas para o cemitério municipal.
Simões, A.A.C. 1882. Dos Hospitaes da Universidade de Coimbra. Coimbra. Imprensa da Universidade, pg. 108-112
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