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A' Cerca de Coimbra


Terça-feira, 19.04.22

Coimbra: Casa de Sobre Ribas 1

Agradecemos ao Professor Doutor Nelson Correia Borges a cedência do texto, profusamente ilustrado, da autoria de Manuel da Silva Gaio, e que se encontra publicado na Illustração Portugueza, referenciado a um dos edifícios mais emblemáticos da nossa Cidade, a casa Sobre-a-riba ou Sobre-a-ripa. É aí que, na atualidade, se encontra sediado o Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra.

CSR. Illustração Portugueza, p. 265..JPG

“Illustração Portugueza”, 9, Primeiro semestre, 2.ª série.  Lisboa, 1906, p. 265.

Ao abrir do século XVI vi­via em Coimbra um licen­ciado, de nome João Vaz, casado com Bertoleza Cabral (?) e possuidor de uns pardieiros na rua de Sub-Ripas — então de «Sobre-a-riba» ou «Sobre-a-ripa».

Esta rua — que sobe da de Quebra-Costas para o Colégio Novo, em linha sudeste-sul-norte é ladeada: á esquerda-poente, por uma fileira de casas pequenas; á direita, e a partir talvez do seu terço inferior, por um muro fechado. Quem a ve­nha seguindo de baixo irá dar com o cunhal de uma casa antiga, que faz recanto da esquerda, em frente do muro, quebrando este também nessa altura, para a direita, a dar à rua estreita a folga recuada de quase mais três metros. Chegados aqui, ao fundo do pequeno largo assim formado, tere­mos em frente, a norte, um arco sob o qual a rua continua enladeirando então para o Colégio Novo e, corrida por cima do arco, de poente a nascente, mas prolongada neste sentido, a facha­da de uma casa de dois andares. Fechando a di­reita do largo, perpendicularmente a esta casa, fica um muro onde abre o portão brasonado do seu pátio de entrada. Finalmente: a poente, em face do portão, veremos a verdadeira casa chamada de «Sub-Ripas», cujo cunhal avistámos primeiro.

CSR. Arco de passagem, p. 265, pormenor 1.jpg

Arco de passagem das casas de sub-Ripas, p. 265.

Os pardieiros de João Vaz deviam ter ocupado o local da atual casa do arco e do pátio cor­respondente; e comunicariam talvez, pela bar­reira, com outras casas ou dependências já da rua chamada hoje dos Coutinhos, na encosta a cavaleiro da rua de Sub-Ripas.

Por volta de 1514 o que havia em face desses par­dieiros era apenas um lan­ço de muralha e uma tor­re, que faziam parte da cintura da cidade deven­do a torre ser igual ou se­melhante àquela que ain­da existe para cima, a norte, conhecida na antiga tradição por torre do Prior do Ameal, e há poucos anos por Torre d'Anto, des­de que a habitou o poeta do Só.

CSR. Torre, p. 265, pormenor 2.jpg

«Torre do Prior do Ameal» ou «Torre d’Anto», p. 265.

A muralha e a torre de Sobre-a-ripa estariam em ruína; pelo menos es­tavam abandonadas como defesa do burgo, por cor­rerem tempos mais mimosos de remanso; nem tam­bém dariam já suficiente escudo à barreira da cida­de, com as novas armas de investida e cerco...

Querendo possuir as duas bandas da rua, e ten­tado de certo pela doce e amorável vista de casaria e campo alcançada de so­bre a escarpa, logrou João Vaz obter aquele lanço de muralha com a torre, não alargando a proprie­dade para sul e sudoeste, talvez porque desta extre­ma ela já fosse bater nas casas do sr. D. Filipe — personagem tão respeito­samente citado nos docu­mentos da época como misteriosamente sumido, para nós, na indicação va­ga desse nome próprio. Nem consegui ver vestígios das suas casas.

Que, do licenciado, tam­bém nada mais se sabe, até hoje, além das indicações dadas acima.

É daquele ano de 1514 o contracto de doa­ção pelo qual um sapateiro chamado Bastião Gonçal­ves, sua mulher Catarina Anes e sua mãe Catarina Fernandes cederam o direito do afo­ramento do lanço e a torre ao licenciado João Vaz. Consta d'um documento ou instrumento de pergaminho, [Pertence ao arquivo dos Perestrelos, cujo brasão coroa o portão à direita do largo] lavrado pelo tabelião Gregório Lourenço e apresentado na camara de Coimbra em 26 de julho desse ano, sendo escrivão da mesma camara o morador Inofre da Ponte. Re­quereu logo João Vaz a ratificação do contrato, e juntamente a licença necessária para construir um balcão ou passadiço que, atravessando a rua, pudesse ligar-lhe de um lado para outro os seus an­tigos pardieiros e a porção da muralha novamente adquirida.

Obteve a ratificação e a nova licença alguns dias depois — ficando assim, desde o verão de 1514, na posse do terreno onde foi levantada a morada conhecida hoje por «Casa de Sub-Ripas».

 Gaio, M.S. Palácios, castelos e solares de Portugal. IV – A casa de sub-Ripas, In: “Illustração Portugueza”, 9, Primeiro semestre, 2.ª série.  Lisboa, 1906, p. 265-272.

 

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por Rodrigues Costa às 16:38


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