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Foi, recentemente, publicado mais um número – o 57-2023 – da Rua Larga. Revista da Reitoria da Universidade de Coimbra» que integra vinte e cinco artigos. Trata-se de uma reunião de saberes, escritos numa linguagem acessível, cuja leitura merece o nosso interesse.
Rua Larga. Revista da Reitoria da Universidade de Coimbra, n.º 57-2023, capa
Nesta entrada olhamos para o artigo Modelações 3D de Projetos e Edifícios da Reforma Pombalina da Universidade, (pg. 35 a 41) assinado pelos Professores do Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tenologias, Rui Lobo e Carlos Moura Martins, magnificamente ilustrado onde, nomeadamente, é dito.
Em 2022, comemoraram-se os 250 da Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra A Reitoria da Universidade de Coimbra (UC), através do vice-reitor professor Delfim Leão, contactou o Departamento de Arquitetura no sentido de se produzir uma coleção de modelos 3D, em formato digital, dos projetos dos edifícios da Reforma, aprofundando um trabalho começado no âmbito da unidade curricular de História da Arquitetura Portuguesa, no ano letivo de 2020-21.
Em 29 de setembro de 1772, em sessão solene na Sala Grande dos Atos, Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, apresentava com pompa e circunstância, os novos Estatutos ao corpo reunido da Universidade. Eram criadas as novas Faculdades de Filosofia e de Matemática (substituindo a extinta Faculdade de Artes), mantendo-se as restantes faculdades de Teologia, Direito, Cânones e Medicina, ainda que esta última em formato renovado. Para as novas faculdades e para a reformulada Faculdade de Medicina, promovia-se um novo ensino de caráter prático e experimental, apoiado em novos estabelecimentos criados para o efeito: os Gabinetes de Física Experimental e de História Natural, o Laboratório «Chimico» e o Jardim Botânico para a Faculdade de Filosofia; o Observatório Astronómico para a Faculdade de Matemática; e o Teatro Anatómico e Dispensatório Farmacêutico para a Faculdade de Medicina, além da junção do Hospital Público da cidade à Universidade. Para executar a Reforma no terreno, nos seus mais variados aspetos, foi nomeado Reitor-Reformador D. Francisco de Lemos, verdadeiro «braço-direito» do Marquês em Coimbra.
Para instalar estes novos estabelecimentos pedagógicos e científicos, estavam disponíveis os edifícios do Colégio de Jesus (dos expulsos jesuítas), o antigo castelo (a nascente da Alta, para o Observatório), conseguindo ainda o Marquês a cedência de parte da cerca do Colégio de S. Bento para o Jardim Botânico. Seria também criada a Imprensa da Universidade, instalada no claustro da Sé Velha, já que a catedral passava a ser a antiga igreja dos inacianos, agora Sé Nova. Para realizar os projetos de arquitetura dos novos estabelecimentos, veio com o Marquês o tenente-coronel Guilherme Elsden, inglês radicado em Portugal, que havia feito carreira no exército português, realizando levantamentos cartográficos e territoriais e dirigindo algumas obras infraestruturais. Trabalharia com Elsden uma equipa de engenheiros militares, que incluía os capitães Izidoro Paulo Pereira e Joaquim Oliveira, e ainda os ajudantes Ricardo Franco de Almeida Serra, Theodoro Marques Pereira da Silva, Guilherme Francisco Elsden (filho do «Diretor das Obras»), Manuel de Sousa Ramos e o discípulo do número Inácio José Leitão.
Após a coordenação dos primeiros levantamentos, realizados durante a estada do Marquês em Coimbra em setembro-outubro de 1772, Elsden e a sua equipa regressariam a Lisboa, onde produziriam as plantas dos edifícios existentes (incluindo uma notável planta conjunta dos colégios de Jesus e das Artes, hoje no Rio de Janeiro) e umas primeiras ideias de adaptação dos mesmos aos novos estabelecimentos, como a proposta de adaptação da torre quadrangular do castelo de Coimbra a um primeiro e modesto observatório astronómico.
Figura 1: Guilherme Elsden. Primeiro projeto para o Observatório Astronómico, aproveitando a torre de planta quadrada do castelo: desenho de 24 de novembro de 1772, Fundação Nacinal, Rio de Janeiro (modelo 3D: Rita Rodrigues). Op. cit., pg. 34
Figura 2: Guilherme Elsden. Segundo projeto para o Observatório Astronómico, aproveitando ambas as torres do castelo: desenho do verão de 1773. Museu Nacional Machado de Castro (modelo 3D de Rita Rodrigues). Op. cit., pg. 37.
Figura 4: Manuel Alves Macomboa. Observatório Astronómico do Paço das Escolas, construído entre 1791 e 1799, demolido em 1951 (modelo 3D: Rita Rodrigues). Op. cit., pg. 38
Elsden voltaria a Coimbra em março de 1773, dando início às obras de transformação do corpo nascente do antigo Colégio de Jesus, correspondente à atual fachada do Museu de História Natural, que definia o também novo espaço urbano do Largo do Museu, atual Praça Marquês de Pombal.
Figura 6: Guilherme Elsden. Segundo projeto para o Laboratório Chimico (teatro das demonstrações químicas) desenho do verão de 1773, Departamento de Quimica da FCTUC, (modelo 3D: Júio Vidotti, Rafaela Alves e Rita Rodrigues). Op. cit., pg. 40.
Figura 7: Guilherme Elsden. Projeto final para o Laboratório Chimico (teatro das demonstrações químicas) desenhos de finais de 1773 ou inícios de 1774, Livro dos Riscos das Obras da UC, Júlio Vidotti, Rafaela Alves e Rita Rodrigues). Op. cit., pg. 40.
Lobo, R. e Martins, C. Modelações 3D de Projetos e Edifícios da Reforma Pombalina da Universidade. 2023. In: Rua Larga. Revista da Reitoria da Universidade de Coimbra, n.º 57-2023, pg. 35 a 41.
Será já, depois de amanhã, 6.ª feira, pelas 18h00, que a Arquiteta Isabel Anjinho irá apresentar uma comunicação sobre a história conhecida do “castelo de Coimbra”, ilustrada com imagens 3D que nos permitem visualizar como seria aquela estrutura defensiva da Cidade.
A palestra, como vem sendo habitual, decorrerá na Sala D. João III, do Arquivo da Universidade, sito na Rua de S. Pedro muito perto do antigo CADC, hoje Instituto Justiça e Paz.
AUC. Sala D. João III, conferência
A entrada é livre após a apresentação será aberto um período de debate para que todos possam esclarecer eventuais dúvidas.
A presença de todos os interessados em conhecer a história de Coimbra é importante, bem como a sua ajuda na divulgação do evento.
Rodrigues Costa
É já na próxima 6.ª feira, dia 26 de maio, pelas 18:00, que irá decorrer no Arquivo da Universidade de Coimbra, na Sala D. João III, a penúltima das Conversas Abertas desta série, como sempre com entrada livre e aberta a participação de todos.
A palestrante será a Arquiteta Isabel Anjinho, que vem realizando uma notável obra da investigação sobre o passado da nossa Cidade e que, desta vez, falará sobre o CASTELO DE COIMBRA.
Além da exposição oral, as imagens em 3D permitirão conhecer o que era o castelo e como o mesmo se inseria na malha urbana de então.
Apresentamos a folha de sala que estará à disposição de todos os participantes.
Folha de sala
Participe e ajude na divulgação deste evento.
Rodrigues Costa
A ideia de criar um Observatório Astronómico surge desde logo nos Estatutos Pombalinos (1772) a propósito da Faculdade de Mathematica e da respectiva cadeira de Astronomia (4.º ano). A sua criação tinha dois objectivos distintos, a leccionação e o desenvolvimento da ciência astronómica. Os Estatutos Pombalinos encaravam a ciência como a força motriz para uma mudança de mentalidades essencial à modernização do país e a astronomia desempenhava um papel fundamental pelas “consequências tão importantes ao adiantamento geral dos conhecimentos humanos, e à perfeição particular da Geografia, e da Navegação”. Por isso o Observatório Astronómico era representativo desse modo de ver a ciência, constituindo simultaneamente um meio para o seu desenvolvimento.
… Hoje, a maior parte dos muitos visitantes que franqueiam a Porta Férrea da Universidade e olham, ao entrar no Pátio das Escolas, à sua esquerda e se aproximam do varandim para desfrutar a imensa vista sobre a baixa da cidade e do rio Mondego, não faz ideia que aí era durante muitos anos (quase 150) o Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra (OAUC) – um edifício de configuração rectangular, “constituído por três corpos contíguos em que o central é três vezes mais alto do que os laterais.” [Bandeira 1943-1947, p.129] –, e que foi demolido aquando das obras de requalificação da Universidade de Coimbra nos anos 50 do século XX.
Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra
Porém, este edifício não foi aquele que a Reforma Pombalina previu edificar. O sítio que se determinou primeiramente para a construção do Observatório foi o Castelo da cidade [Lemos 1777, p.260], que se situava na vertente da Alta de Coimbra oposta ao Paço das Escolas, onde hoje é o Largo D. Dinis (no cimo das Escadas Monumentais).
… O Castelo era constituído por duas torres: a de menagem quadrada, de construção afonsina, a que se chamava Torre Nova; e uma segunda, de configuração pentagonal que embora fosse de construção mais recente, pois havia sido erguida nos tempos de D. Sancho I, era designada por Torre Velha [Lobo 1999, p.4].
Planta do Castelo e Casas a ele contíguas em a Universidade de Coimbra (Elsden, 1773). [BGUC, Ms.3377/41]
Alçado do Observatório do Castelo (Elsden, c.1773). [MNMC, Inv. 2945/DA 23]
Em 1775 (a partir do mês de Setembro) quando estava realizado o essencial do piso térreo, com o edifício erguido até ao 1.º piso, “a uma altura não inferior a 8 metros”, as obras param. O elevado custo dos trabalhos atingido em cerca de dois anos e meio, e quando estava ainda por realizar parte significativa da obra, é a principal causa para a interrupção de tão ambicioso projecto.
Figueiredo, F.B. 2013. O Observatório astronómico (1772-1837). Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra. Acedido em 2018.10.28, em http://hdl.handle.net/10316.2/38513
No contexto ibérico, o sítio de Coimbra – cartograficamente assinalado com um caprichoso meandro do rio Mondego – é um módulo de importância nevrálgica entre o norte e o sul, o interior e o litoral. Já ao nível do território de transição entre o Baixo e o Alto Mondego, especificidades da colina que hoje designamos por «Alta» ou «Almedina» ditaram um precoce despontar do aglomerado que, desde logo, o processo de romanização fez florescer como cidade. Eram elas as características defensivas naturais, o domínio do Mondego, e dos vales nele concorrentes, a exposição ao rio pelos quadrantes mais favoráveis em termos solares, o fácil acesso fluvial ao mar e ao interior, os recursos aquíferos do subsolo, etc.
Réplica da pedra gravada do MNMC, 395 ou 396 da era cristã
… Hoje estável e controlado, o rio foi de facto até há pouco menos de dois séculos um rebelde elemento de perturbação do quotidiano e [do] desenvolvimento urbanos de Coimbra. Correndo sobre um leito cujo perfil ainda não se encontrava estabilizado, o Mondego autoproduziu esse incontornável equilíbrio através de consecutivas, torrentosas e, por vezes, trágicas cheias, condicionando durante séculos – em especial durante a Idade Moderna –, todo o desenvolvimento urbanístico da «Baixa» da cidade e, por reflexo, o da própria «Alta». Em média, a cota do seu leito subiu até então 8 centímetros por década, destruindo e/ou açoreando diversos conjuntos edificados nas suas margens durante a Idade Média e, claro, a ponte instalada pelo menos desde a fundação da nacionalidade.
Conimbriae. J. Jansonus. C. 1620
…. Sabemos, por exemplo, que é a cerca de uma dezena de metros de profundidade que, sob o Largo da Portagem, jaz o pavimento de acesso à ponte primitiva.
Illustris Ciutatis Conimbria in Lusitania. Georg Hoefnahel/Hogenbeerg, colorida por Braun, 1598
… Mas a influência da plasticidade global do suporte territorial na evolução morfológica da cidade torna-se particularmente relevante se melhor nos focarmos sobre a própria colina (…) tem ela uma expressão morfológica planimétrica algo em ferradura com abertura a poente (…) Continuando, inevitavelmente, a acentuar as principais características topográficas da colina, da dinâmica da dualidade habitante-invasor acabou por resultar do penúltimo dos casos da ocupação estranha – o do invasor islâmico nos últimos séculos do primeiro milénio – uma estrutura palatina sobre o extremo mais proeminente da tal virtual ferradura. Também então se reformava o perímetro defensivo que, de uma forma geral, consistia na linha definida pela intersecção entre as encostas de declives praticáveis e impossíveis. No fundo a muralha acabou por acentuar a já clara individualidade da colina, da cidade ou, se assim o quisermos, da «Almedina». Mas complementarmente também salvaguardou o aceso seguro às zonas baixa e ao rio.
Pormenor da cópia manuscrita da planta do castelo de Coimbra
Protegendo a retaguarda e simultaneamente o acesso mais fácil ao topo pelo festo do Aqueduto [de S. Sebastião], implantou-se e desenvolveu-se também pela primeira dobragem do milénio o castelo, o qual em articulação com o palácio, clarificou o desenvolvimento daquele que ainda hoje é o principal eixo viário da «Alta», a Rua Larga.
Rossa, W. O Espaço de Coimbra. In: Evolução do Espaço físico de Coimbra. Exposição. 2006. Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 17-42.
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