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Na primeira entrada desta série assinalei um relato difundido nas redes sociais por Bob Lennox, um profundo conhecedor e estudioso dos sistemas de tração elétrica e da sua musealização a nível internacional
É esse texto que, numa tradução de Ana Rita Costa, levamos ao conhecimento dos conimbricenses e de todos os interessados no assunto.
Cada carro elétrico precisa de sobresselentes, ou seja, materiais guardados em armazém para reparações e substituições devido ao uso e desgaste que ocorre diariamente e em condições normais. O carro elétrico de Sintra não é diferente, mas não estava muito dotado dessas peças.
No entanto, quando que se estabeleceu uma colaboração entre o falecido Waldemar Alves, administrador do elétrico de Sintra e responsáveis políticos na cidade de Coimbra, que também tinha tido um sistema de carros elétricos que funcionou até 1980, surgiu uma oportunidade de colmatar essa falta.
Isto, porque tomamos conhecimento de que um número de peças dessa frota estava a definhar numa lixeira municipal, periférica perto de Coimbra, sob a ameaça de destruição iminente.
Liderados pelo chefe de manutenção, Berto Francisco, partimos com um camião para lá, a 221 quilómetros a norte de Sintra.
Ao chegar, deparamos com a triste cena de restos de três motores de elétricos e um atrelado, todos deteriorados por estarem expostos aos elementos durante vinte anos.
Elétricos “guardados” nas instalações municipais de Eiras. O veículo da esquerda, datado de 187(?) era um carro americano de tração animal, depois adaptado a “chora”.
O elétrico n.º 13, datado de 1928, Foto Jorge Oliveira
Elétricos “guardados” nas instalações municipais de Eiras.
As carrocerias dos grandiosos veículos que outrora transportaram orgulhosamente os bons cidadãos da Cidade Universitária estavam irreconhecíveis, mas o coração do equipamento parecia poder ser salvo. Com a ajuda dos funcionários da lixeira, começámos a tarefa dilacerante de desmantelar o que tínhamos à nossa frente.
Passadas algumas horas, tínhamos ‘libertado’ com sucesso uma seleção de motores e rodas, três carruagens completas e uma coleção de diversos equipamentos elétricos, que poderiam ser úteis para manter as operações de Sintra vivas.
Infelizmente, já não tínhamos mais espaço no camião e um número de equipamentos úteis (incluindo o chassis e rodas da carruagem), tiveram de ser abandonadas e deixadas à sua sorte.
Regressando a Sintra, o stock recém-adquirido foi descarregado no há pouco renovado depósito da Ribeira, onde agora integra uma substancial reserva para o elétrico de Sintra.
A foto anexada
Elétrico em Sintra, utilizando um truck trazido de Coimbra Foto Ernest Keers
mostra um truck Brill 21E, vindo de Coimbra, temporariamente colocados de baixo do carro elétrico número 2, permitindo que este seja movido. Este carro elétrico é o único à espera de renovação total.
Este e um outro truck, salvos de irem para a sucata são os únicos do tipo Brill 79E, no seu desenho final de dois rodados motrizes, produzidos pela “Birney Safety Car”.
Quando lemos este texto, que relata factos ocorridos por volta de 2005, a nossa primeira reação foi de estupefação, a que se seguiu um sentimento de revolta.
A revolta agravou-se (ainda mais, se assim se pode dizer) quando informações posteriores nos referiram que o truck Brill 21E, pertencente ao carro elétrico n.º 19, se encontra “exposto” na Casa do Elétrico de Sintra. A peça, que estava completa, possuindo sistema de travagem e dois motores, a partir de 1984 foi preservada e integrava o espólio do “Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra”.
Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra. Truck e motor de elétrico quando expostos devidamente carrilados e conservados. Foto Ernst Kers
A mesma peça cedida pela CMC ao Museu de Sintra, na atualidade. Foto Pedro Mendes
Estes factos levam-nos a colocar uma outra questão: como é que se explica a “cedência”, para Sintra, onde se encontram expostas, peças do património industrial conimbricense que integravam o acervo do Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra?
Nota 1. O texto que vai em itálico foi publicado nas redes sociais por Bob Lennox que autorizou, expressamente, a sua divulgação.
Nota 2. A investigação que vimos realizando com o apoio de Pedro Rodrigues da Costa, aponta para que o depósito de carros elétricos tenha ocorrido em dois tempos. A primeira leva deverá datar de cerca de 1997, e a segunda ocorreu aquando do fecho do Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra cerca do ano 2000.
Rodrigues Costa
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