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A fim de assinalar a milésima entrada do blogue “A’Cerca de Coimbra”, entendemos, em jeito de balanço, solicitar a alguns dos qualificados leitores habituais, um breve comentário sobre o caminho já percorrido.
Pela nossa parte comprometemo-nos a prosseguir o trabalho encetado, enquanto a saúde nos permitir, embora admitamos introduzir alguns ajustamentos que se considerem pertinentes.
Aos Autores dos comentários, apresentados por ordem alfabética, simplesmente, o nosso muito obrigado.
Rodrigues Costa
António Cabral de Oliveira
Faz anos que sou frequentador assíduo, sempre com renovado interesse e o maior provento, de A’Cerca de Coimbra, o blog de Rodrigues Costa que, com coerência e determinação, tanto tem contribuído para o aprofundamento dos saberes sobre esta cidade – e seu termo –, também para um maior enraizamento do que alguns, poucos, ainda chamam, imagine-se, de orgulho coimbrão.
A ele recorro, sistematicamente, precioso auxiliar numa vida dedicada ao jornalismo, sobretudo de proximidade, para fonte confiável, não raro inspiradora, esclarecer dúvidas, ganhar conhecimentos, melhor me entrosar na realidade histórica e quotidiana de Coimbra.
A quem goste de Coimbra, de conhecer mais intrinsecamente a sua cidade, recomendo, como leitura obrigatória, uma circunstanciada e permanente consulta do blog. É indizível, em verdade, o quanto se aprende, o tanto que havia – há sempre – ainda por descobrir.
Gosto de visitar o site. Só lhe falta, mas talvez um dia, sistematizadamente, o alcance, o toque que a materialidade do papel propicia, aquele resto de cheiro a tinta que nos arrebata no livro.
Dispensado de encómios pessoais – em nome da consideração, respeito e amizade que há décadas nos une –, obriga-me, contudo, uma palavra de grande elogio, na simplicidade que só poucos alcançam, ao trabalho desenvolvido, persistência da regularidade, à excelência alcançada.
Por ocasião da entrada milésima, parabéns, Rodrigues Costa, pelo empenhamento e persistência afirmados. E, permitindo-me falar não apenas a título pessoal, um bem-hajas por mais um serviço, enorme – se isto não é servir Coimbra, não sei, então, o que o será – à cidade que nos enleva.
Longa vida – queira Deus – para nossa inteira vantagem pessoal, essencialmente enquanto inquebrantável esteio na defesa dos superiores anseios de Coimbra, ao A’Cerca de Coimbra.
António Cabral de Oliveira
Carlos Ferrão
Promover a Cultura é um desafio interminável, que convoca o melhor da inteligência humana a surpreender-se sobre o passado, agir no presente e preparar-se para o futuro.
Durante séculos o mais importante veículo de disseminação da cultura escrita, era o papel em livros, revistas, jornais ou panfletos. O seu uso foi posto em causa durante muito tempo e com o início da era digital, "a morte do papel" tornou-se um conceito plausível de ser discutido por vários teóricos e especialistas, trazendo novos domínios vantajosos, como a mobilidade, a pesquisa, a edição e a partilha.
Com a utilização maciça do computador, o uso do papel não foi totalmente suplantado, mas surgiram espaços próprios e originais para a escrita e apareceram novas ou diferentes convenções do texto que revolucionaram a própria escrita.
A escrita eletrónica e o texto digital parecem potenciar, de facto, a diferenciação de géneros e audiências. No atual contexto de publicação, estão contemplados os textos digitais, os websites, os chats, as redes sociais e em particular os blogs.
Os blogs passaram a ser o “coração” de uma estratégia em ambiente web, uma vez que, dirigidos a audiências especificas e segmentadas, alimentam as redes sociais e permitem a interação entre o editor e o leitor.
Aqui chegados, escolhida a ferramenta para criar e editar e a plataforma de alojamento, o blog “A’ Cerca de Coimbra”, faz o seu primeiro “post” em 15 de Maio de 2015, para um amplo projeto de partilha cultural.
Apoiado na História, na Sociologia ou a Antropologia, e focado no património material e imaterial faz despertar a atenção dos leitores para a enorme e rica herança cultural que a cidade possui, e passou a ser um espaço de excelência onde se procura, ou conquista o saber em conteúdos de qualidade e consistência e onde se encontra uma porta aberta para opinar.
“A’ Cerca de Coimbra”, regista neste mês de dezembro a sua 1000ª entrada. Não pode deixar-se passar em claro este tão relevante facto, e destacar o seu importante papel na transmissão de conhecimento que a partir de um enorme trabalho continuo de investigação, enriqueceu e continua a enriquecer a comunidade.
Parabéns ao Dr. Rodrigues Costa, fundador e editor do blog “A’ Cerca de Coimbra”, pelo empenho e por esta importante conquista que alcançou e faz acreditar que no mundo virtual, esta é uma forma real e transparente do que deve ser a divulgação da cultura.
Venham mais 1000, 2000 ou 3000 “postagens”!
Carlos Ferrão
Isabel Anjinho
Numa época em que todos fazem blogues, mesmo que sejam “blogues acerca de nada”, como pude constatar recentemente, é justíssimo enaltecer e falar um pouco sobre o blogue A’Cerca de Coimbra, iniciado em Maio de 2015, na sua milésima entrada.
Mas, em primeiro lugar, uma palavra sobre o seu autor, António Rodrigues Costa, que me honra com o tratamento por “Filha”, de que já não prescindo. Homem de convicções, “salatina” de gema, na sua modéstia pouco fala sobre os altos cargos que desempenhou na Câmara Municipal de Coimbra, nomeadamente de Vereador e Director de Cultura. Durante a sua passagem pela Praça 8 de Maio, um dos legados que nos tentou deixar e que, infelizmente, os que o seguiram não entenderam manter, foi o saudoso Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra. E talvez tenha sido a sensação de um trabalho não reconhecido, nem na sua maioria continuado e até mesmo por vezes deliberadamente escondido, que o levou a encetar este magnífico blogue sobre a história de Coimbra. Nesta empreitada, a que se propôs, esteve apoiado pelos Amigos de sempre, Regina Anacleto e Nelson Correia Borges (permitam-me não usar os títulos, sobejamente conhecidos, dos três protagonistas desta história).
O blogue A’Cerca de Coimbra teve o seu começo em 13 de Maio de 2015, sendo o seu objectivo “recolher referências à cidade do Mondego existentes em obras publicadas e divulgá-las utilizando os recursos que as novas tecnologias disponibilizam”.
Bem organizado, por datas e/ou por temas, apresenta uma escrita clara e objectiva, com as “fontes bibliográficas” sempre no final de cada entrada. A sua leitura é um prazer, sendo igualmente um excelente auxílio à investigação. De facto, basta recorrer ao índice de “tags” para, rapidamente, se chegar ao assunto desejado.
De entre tudo o que pude ler no blogue, destaco uma entrada, de 20 de Setembro de 2022, que me impressionou, pelo implícito grito de dor do autor, que o levava a quebrar a sua tão característica descrição no que respeitava aos cargos desempenhados: «... A sua consulta levou-nos a constatar que nesse Inventário [da Documentação de Turismo no AHMC ] se encontra omitido a esmagadora maioria de um significativo número de processos respeitantes ao período situado entre 1974 e 1983, processos esses que se encontravam devidamente organizados e arquivados e que patenteavam evidente e relevante interesse histórico. Em suma, os anos [entre 1977 e 1988] em que tive a honra de dirigir aqueles serviços [municipais de turismo] foram, pura e simplesmente ignorados». Percebemos, depois, que a documentação referente a esses anos simplesmente desaparecera do conjunto arquivístico a tratar, razão porque não pudera ser incluída. Seria da maior justiça a revisão dessa publicação bem como um agradecimento público, por parte da edilidade ao António Rodrigues Costa.
Isabel Anjinho
Mário Araújo Torres
Iniciado em 13 de maio de 2015, o blogue «A’ Cerca de Coimbra», criado e mantido ao longo de quase nove anos por António Rodrigues da Costa, um reconhecido especialista apaixonado por assuntos conimbricenses, atinge a sua milésima publicação.
Nascido na Couraça dos Apóstolos, “na casa da Cerca, adossada à muralha”, “muito jovem, aos 16 anos, tive como primeiro emprego a responsabilidade de dactilografar os difíceis originais do historiador de Coimbra, Dr. José Pinto Monteiro, que rapidamente também me encarregou de fazer pesquisas, nomeadamente nesse magnífico jornal que foi «O Conimbricense». Nasceu daí o meu gosto pela história de Coimbra.” (publicação de 20 de maio de 2015).
Aplicou-se ao longo dos anos, no seu blogue, a dar a conhecer dados sobre a história de Coimbra, recolhendo e divulgando as informações que ia coligindo, enquanto leitor compulsivo que sempre foi.
Se as primeiras publicações quase se limitaram à reprodução de breves extratos das obras que ia lendo, com o tempo foram aumentando em extensão e enriquecidas com informações bibliográficas e pertinentes imagens.
É insuscetível de enumeração nesta breve nota a quantidade e variedade dos temas tratados, sempre centrados em Coimbra: as vicissitudes da sua história, a origem e beleza dos seus monumentos, as suas paisagens e tradições, as suas personalidades (do Conde Sesnando a José Afonso), a sua bibliografia.
Acresce a pertinência, a riqueza e a qualidade das ilustrações, sempre com a preocupação de indicação das fontes.
E, por último, o completo domínio dos instrumentos informáticos, com inserção de palavras-chave que, com um clique, nos remetem para os textos que tratam as centenas de temas, e um índice cronológico das publicações.
Por ocasião da milésima publicação de “A’ Cerca de Coimbra?”, os seus leitores agradecem a António Rodrigues da Costa o seu ingente esforço e aguardam que finalmente as autoridades municipais manifestem publicamente o seu reconhecimento.
Mário Araújo Torres.
Regina Anacleto
O blogue “A’ Cerca de Coimbra”, da responsabilidade do Dr. Rodrigues Costa, começou a ser publicado em 2015 e regista hoje a sua 1000.ª entrada.
Esta plataforma digital tinha e continua a ter como objetivo principal a divulgação de temas de recorte específico, maioritariamente relacionados com a história da cidade de Coimbra.
Utilizando textos de múltiplos autores, sempre devidamente identificados, o blogue procura estabelecer uma conexão profunda com o leitor, disponibilizando-lhe, através desta forma de comunicação, conhecimentos diversificados e, por vezes, de difícil acesso. Para estimular esse diálogo vivo com o público, os textos são, sempre que possível, acompanhados de imagens ilustrativas dos conteúdos.
No blogue, o seu responsável procura dar uma visão global da história da urbe, caldeando textos mais antigos com publicações atuais, portadoras de novas visões e achegas. A História não é uma ciência estática. Está em constante movimento face a novos achados e a novas interpretações, resultantes, algumas vezes, das modernas tecnologias colocadas à disposição do investigador. Convém esclarecer que a perfeição é inatingível e que ninguém consegue saber tudo nem dizer tudo. Por isso, o facto de o Dr. Rodrigues Costa se encontrar umbilicalmente ligado à sua cidade natal e ao estudo da sua história alia-se, no seu blogue, a uma perceção clara dos movimentos da História e do modo como se articulam com a história local.
Saliente-se, de resto, neste contexto, que a história local, durante longos anos ostracizada, tem vindo a despertar o interesse dos investigadores, desde meados do século XIX, na exata medida em que contribui para um mais profundo entendimento da História (em sentido global), tornando-se num precioso auxiliar capaz de aportar múltiplos esclarecimentos aos campos político, económico, social e mental. Os indivíduos, assim como as sociedades, procuram preservar o passado como um guia que serve de orientação para enfrentar as incertezas do presente e do futuro.
Acrescente-se ainda, na esteira da dinâmica deste blogue, que a memória coletiva de uma determinada população estende-se aos territórios onde vive, aos seus monumentos, aos vestígios do passado e do presente, aos seus problemas, à cultura material e imaterial e, também, às pessoas.
De tudo isto dá conta “A’ Cerca de Coimbra”.
Por isso, na ocasião da publicação desta 1000.ª entrada do blogue “A’ Cerca de Coimbra”, não podemos deixar de parabenizar o Dr. Rodrigues Costa pela transmissão de tão grande volume de saber relacionado sobretudo com a cidade do Mondego e de salientar o enorme esforço de criteriosa investigação a que a publicação em causa o tem obrigado.
Resta-nos esperar a possibilidade de continuar a aprender com tão pertinentes ensinamentos.
Regina Anacleto
Terminamos esta pequena série de entradas relacionadas com os carros americanos que circularam em Coimbra, republicando o que sobre o tema escrevemos para a comunicação que apresentámos ao I Encontro Nacional sobre o Património Industrial, trabalho que se encontra publicado nas Actas e Comunicações. Volume I, daquele evento, editado em 1989, a páginas 265-278.
I Encontro Nacional sobre o Património Industrial. Actas e Comunicações. Volume I, capa
A referida comunicação insere, entre outros, o subtítulo, Os primórdios dos transportes urbanos em Coimbra e o excerto que se segue foi adaptado a partir do que ali se encontra mencionado:
Carro Americano. Aguarela de Autor não identificável. Acervo RA
A história. dos transportes urbanos em Coimbra inicia-se em fevereiro de 1873 quando Evaristo Nunes Pinto e Camilo Mongeon, a quem já tinha sido concedida licença para explorarem, na cidade, através da utilização de carros americanos, os transportes públicos, solicitaram à Câmara a autorização, acompanhada da planta do projeto, destinada a instalarem uma linha que ligasse a estação do caminho de ferro do Norte ao centro da cidade.
O município, a 20 de fevereiro, deu o seu aval. Todavia, o processo, forçosamente, teria de se arrastar, a fim de permitir a sua montagem, e, apenas em setembro de 1874, a empresa entretanto criada – a Rail Road Conimbricense – comunica ao Município «a abertura à exploração da linha desde a Calçada à estação do caminho de ferro do Norte».
Na cidade, a inauguração do início da circulação dos carros americanos aconteceu a 15 de setembro de 1874 e, no dia seguinte, foi assim noticiada pelo jornal o Tribuno Popular:
“Partiram da Calçada 3 carros americanos. No primeiro seguiam os diretores, as autoridades de Coimbra e demais convidados. No segundo carro seguia na Imperial [deduz-se que, pelo menos um dos carros tinha segundo piso, a chamada «Imperial»] a Filarmónica de Conimbricense que tocava o hino da Carta. Muita gente a assistir, muitos foguetes. Pelas 3 horas da tarde foi servido um opíparo jantar na sede da Sociedade Terpshicore”.
Mas a vida da Rail Road Conimbricense não foi fácil, e o pedido de autorização apresentado em 1885, «Para estender a sua linha da Portagem ao Cais das Ameias» (a atual Estação Nova) e para efetuar «um abatimento de 40 a 60 reis nos preços dos bilhetes», não passou de uma tentativa frustrada destinada a combater uma concorrência mais forte: a entrada em funcionamento do ramal do caminho de ferro de Coimbra B ao Centro da Cidade.
Carro americano na Praça 8 de Maio. Acervo RA
Uma segunda fase de utilização dos carros americanos em Coimbra inicia-se em 30 de outubro de 1902, quando «Augusto Eduardo Freire de Andrade pede a concessão duma linha férrea, sistema americano, nas ruas da cidade, para tração animal».
Este processo só seria concretizado pela Companhia de Carris de Ferro de Coimbra, entretanto criada, em 1 de janeiro de 1904, e permitiu o «estabelecimento da ligação da atual estação de Coimbra-B com o Largo da Portagem, a que se seguiu, em 4 de fevereiro do mesmo ano, a abertura de um novo troço entre a Praça 8 de Maio e a Rua Infante D. Augusto» (junto à Universidade).
Carro americano aos Arcos do Jardim, puxado por 6 cavalos. Acervo Henrique de Melo
Todavia, este último troço cedo se verificou não ser operacional em função do acidentado do percurso e consequente agravamento de custos, como bem se pode comprovar pela observação da gravura anexa.
A derradeira notícia conhecida relacionada com a atividade desta Empresa, data de 3 de fevereiro de 1916, quando o Município reconheceu que «estando o transporte de malas do correio para os comboios da noite a fazer-se no antigo carro americano puxado a muares» decidiu autorizar que o mesmo transportasse também passageiros.
Ainda neste período deve assinalar-se a efémera existência – com início em janeiro de 1907 – da primeira carreira de autocarros em Portugal que, nesta Cidade, ligava a zona da alta à zona da baixa, iniciativa da Empresa Automóveis Tavares de Mello Coimbra, que para o efeito utilizava carros «de 4 cilindros com a força de 24 cavalos e transportavam 20 pessoas».
Autocarro em Coimbra. In: «Ilustração Portuguesa», II Série, n.º 50, de 4 de fevereiro de 1907.
A terminar, uma curiosidade: na Figueira da Foz, cerca de 1880, também já circulavam carros americanos.
Carro Americano da Figueira da Foz, c. 1880. Acervo RA
Rodrigues Costa
Surgiu, recentemente, nas redes sociais esta bela fotografia:
Av. Navarro com comboio a chegar à Estação nova. 1910-1917. Acedida em: http://arquivomunicipal2.cmlisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Documento.aspx?DocumentoID=1634678&AplicacaoID=1&Value=13c2034062824bf375d7c03644adbdb93f8b0298073a5a6a&view=1
Trata-se de uma fotografia do espólio do Arquivo Municipal de Lisboa, onde foi identificada, em 2014 por Paulo Mestre, membro da Associação Portuguesa dos Amigos dos Comboios que a divulgou no blogue LusoCarris fórum.
Tendo solicitado ajuda para a datação da imagem ao meu filho Pedro Rodrigues Costa – um estudioso da temática dos comboios e carros elétricos – ele juntou o seu saber ao de outros dois conhecedores desta matéria, Jorge Oliveira e Fernando Pedreira, que acabaram por propor o período compreendido entre 1910 e 1917.
A proposta teve por base os seguintes pressupostos:
- A locomotiva que se vê na fotografia é da série CP 17 a 22 e foi construída em 1862.
Esquema das locomotivas da série CP 17 a 22. In: Nomenclatura das Máquinas a vapor
Segundo Fernando Pedreira este tipo de locomotivas fez parte do parque de Coimbra/Alfarelos até, pelo menos, meados dos anos 40 do século passado, devendo a sua utilização ter-se iniciado entre 1911 e 1919, ou mesmo antes. Entre 1916 e o fim de 1919 devem ter andado a queimar lenha, sendo que no «tender» não se vê nem lenha nem os acrescentos que lá colocavam para a conter, não tendo a chaminé para-fagulhas, tipo «faroeste» que muitas tiveram nessa altura. No entanto, já vi uma foto de uma delas, dos anos da 2ª Guerra mundial, no Largo da Portagem, a rebocar um vagão.
Pedro Rodrigues Costa, acrescentou ainda que a fotografia terá de ser posterior a 1911 porque nela se vêm os postes da rede de elétricos de Coimbra e porque num deles se vêm dois belos candeeiros de iluminação pública a gás que só em 1919 foram substituídos por iluminação elétrica, aproveitando para o efeito a infraestrutura dos carros elétricos.
Pormenor da fotografia acima publicada
Jorge Oliveira salientou ainda que no edifício da esquina se vê, uma pala ou para-sol em ferro, similar ao do edifício Chiado e ao da Havaneza ao fundo da Rua Visconde da Luz, representativo do estilo Arte Nova.
Ali funcionava, na minha meninice, a firma Júlio da Cunha Pinto, que vendia tabaco, jogos de lotaria, perfumes, edição de postais ilustrados. E, acrescento eu, papel selado e selos fiscais, um imposto encapotado para quem fazia algum contrato ou tinha que se dirigir a uma entidade oficial.
Deste edifício existe uma outra fotografia bem elucidativa.
Edifício na esquina da Av. Navarro com o Largo das Ameias. Postal ilustrado.
Por último, Jorge Oliveira socorrendo-se de um texto de Carlos Ferrão, identifica o edifício que se vê na fotografia seguinte como sendo o mais luxuoso hotel da cidade no princípio do séc. XX, o Palace Hotel, que viria a ser devorado pelo fogo em 30 de Abril de 1917.
Postal ilustrado, onde é visível uma placa publicitária do Palace Hotel
No primeiro andar do edifício que o substituiu funcionou um local onde as artes musicais e dança passaram a ser rainhas. A abertura solene e inauguração da Academia de Música de Coimbra foi a 10 de Fevereiro de 1929.
Edifício onde funcionou a Academia de Música de Coimbra. Foto do espólio fotográfico de Jorge Oliveira
Posteriormente, neste edifício, de acordo com as minhas memórias, funcionou o Hotel Internacional e um Café com o mesmo nome, muito frequentado pelos estudantes de então.
Postal ilustrado, onde são visíveis os para-sol do Café Internacional
Café Internacional da minha juventude, hoje loja de moda
Saliente-se, como conclusão, que ao pretender datar uma fotografia, a análise da mesma e o saber de Alguns tornaram possível recordar diversos e interessantes factos da história coimbrã.
Rodrigues Costa
No passado dia 2, publiquei uma entrada com o título “Coimbra: Fábrica de Lanifícios de Santa Clara 2” e, relacionada com ela, um leitor questionou-me no sentido de saber que estrutura é aquela que se vê à frente do convento … seria alguma capela de alminhas/via sacra como existe na ladeira que desce de Sta. Clara-a-Nova?
Referia-se ao edifício quadrangular que se visualiza na fotografia então publicada.
Complexo industrial da Fábrica de Lanifícios em Santa Clara. Finais da década de 70 do século. Fotografia do arquivo particular de Pedro Planas Meunier, acedida, em https://www.publico.pt/2019/07/08/local/noticia/ascensao-queda-fabrica-coimbra-1878945
Dessa estrutura, a partir de uma outra fotografia, obtivemos o seguinte pormenor que a mostra numa posição frontal.
Presumível capela no antigo Rossio de Santa Clara, hoje Praça das Cortes (pormenor)
Col. Carlos Ferrão
Respondi que, embora ainda me lembrasse do edifício, nada sabia sobre o mesmo, razão pela qual iria tentar obter algumas informações.
A primeira ajuda veio-me de Carlos Ferrão que disponibilizou boa parte das fotografias utilizadas para ilustrar esta entrada e suscitou várias hipóteses referidas mais à frente.
Uma vez na posse das fotografias pedimos uma opinião a Nelson Correia Borges que nos adiantou o seguinte parecer: Relaciono essa construção com os torreões que existem no terreiro da nossa antiga escola [a Brotero, atual Jaime Cortesão], com um que ainda está a meio da Av. Sá da Bandeira e mesmo com os da entrada no jardim de Santa Cruz.
Antigo torreão da cerca do Mosteiro de Santa Cruz, localizado na Av. Sá da Bandeira
Imagem do Google Maps
Numa das fotos vê-se bem o cuidado tratamento que foi dado ao lintel da porta e ao óculo superior, pelo que não tenho dúvida que a construção será bem anterior à Fábrica. Estes elementos parecem poder ser datados da segunda metade do século XVIII. Para o que serviria? Inclino-me para uma finalidade de tipo religioso e poderia ter albergado o cruzeiro viário referido pelo Prof. Nogueira Gonçalves. É evidente que teve intervenção posterior, como se vê pelas janelas laterais que se detetam em fotografias. Trata-se, no entanto, de mera hipótese de trabalho.
Perante esta pista, guiados pela mão de Regina Anacleto, chegamos ao Inventário Artístico de Portugal. Cidade de Coimbra e a um texto de Nogueira Gonçalves.
O primeiro, o Inventário, descreve o local, dizendo que dava acesso à Igreja do Convento de S. Francisco uma escadaria dupla, paralela ao adro, existindo uma grande cruz no muro em posição medial.
Na estrada, havia um cruzeiro do século XVII, que pela modificação viária, ficou metido na entrada da fábrica. (In: Correia, V., Gonçalves, A. N. Inventário Artístico de Portugal – Cidade de Coimbra. Lisboa, 1947, pg. 91).
Edifício inserido na entrada da fábrica
DGARQ - Centro Português de Fotografia (Estúdios Tavares da Fonseca), pormenor
O segundo, de Nogueira Gonçalves, diz-nos que A região coimbrã teve predileção por certa variante de cruzei¬ros, aquela em que a cruz se abriga num templete, formado de quatro colunas e suportam cobertura hemisférica ou piramidal.
Na própria cidade levantaram se alguns.
A piedade que os ergueu foi os melhorando pelo tempo fora ordinariamente seguindo as seguintes fases.
Primeiramente deu se lhes uma lanterna ou lâmpada e uma caixa de esmolas. Fecharam se lhes depois três lados, por meio de paredes, e no quarto colocou se uma porta com gradeamento de ferro; valorizaram se as paredes internas com diversos reves¬timentos; dotaram se, nalguns casos, de altar. O santuariozinho completou se frequentemente com um corpo de capela, ou mes-mo, amparado de maior favor, foi substituído por uma autênti¬ca capela ampla. (In: A. Nogueira Gonçalves. Colaboração em publicações periódicas. Coordenação de Regina Anacleto e Nelson Correia Borges. 2019. Coimbra, Câmara Municipal, I vol., pg.231)
Foram estes textos que nos levaram a eleger o título da entrada; contudo, eles não nos dão a certeza de que, inicialmente, teria sido essa a finalidade do edifício em apreço.
Como referimos, também batemos à porta de Carlos Ferrão que analisou as possíveis e diversificadas utilizações da estrutura depois da extinção das ordens religiosas e, consequentemente do convento, concluindo:
Independente do que teria sido antes, nos anos 20 do século passado, a estrutura, é apontada como sendo um Posto de Transformação (PT) de eletricidade da rede publica ligado à Fábrica de Santa Clara. Posto que era bidirecional, recebendo e injetando energia elétrica na rede pública.
Outra imagem do edifício
Col. Carlos Ferrão
Importa recordar que em Coimbra, existiram 21 centrais elétricas, todas termoelétricas. Uma de serviço público, as outras de serviço particular como a de Santa Clara, da empresa Planas & Cª que funcionou entre 1942 e 1947, com uma potência de 144 kW.
A fábrica por ser também produtora, era vendedora e compradora de energia à Câmara Municipal.
Depois de exploradas estas pistas concluímos que algo se adiantou, embora as dúvidas continuem a persistir.
Decorre daí o facto de serem bem-vindas outras informações passíveis de continuar a aclarar o assunto.
Rodrigues Costa
Os dois volumes História do Abastecimento de Água a Coimbra, 1889-1926 e 1927-2007, da autoria do Professor Doutor José Amado Mendes, dão-nos conta, detalhadamente, do caminho percorrido em Coimbra, a fim de concretizar este melhoramento. Contamos de, em próxima ocasião, voltar a determo-nos neste trabalho.
A abertura, no passado dia 1 de outubro, da exposição Coimbra e a Água, dos primórdios até meados do séc. XIX, acontecida nas instalações onde funcionou a Estação Elevatória do Parque Dr. Manuel Braga, hoje Museu da Água, chamou-nos a atenção para a inexistência ou para o desconhecimento de documentação fotográfica que se relacionasse com aquela antiga estrutura.
Alguns dos que nos estão a ler ainda se lembram de espreitar para o interior da Estação Elevatória, onde grandes bombas negras, fazendo um barulho ensurdecedor e exalando um cheiro esquisito, bombeavam a água que abastecia a cidade. Pensa-se que, ao ser desativada, o equipamento seguiu o caminho da sucata, com exceção de uma pequena peça que ali se encontra exposta.
Graças a Carlos Ferrão conseguiu-se a imagem que seguidamente se reproduz.
Estamos perante uma vista aérea do Mondego, com a ínsua dos Bentos bem percetível, dado que o Parque Dr. Manuel Braga ainda não havia sido arquitetado, e, no canto inferior direito surge um pequeno edifício passível de corresponder à Estação Elevatória primitiva que, como refere Amado Mendes, foi «edificada em 1922».
Como já atrás mencionámos, não conhecemos qualquer outra referência gráfica relacionada com a Estação Elevatória e, por isso, o que nos moveu a escrever esta “entrada” passa por pedir aos leitores que, no caso de estarem na posse de imagens da Estação Elevatória em funcionamento ou de pistas relacionadas com publicações onde as mesmas se possam encontrar, façam o favor de as divulgar.
Temos para nós que seria importante estar patente no atual Museu da Água, através de imagens, a história do passado, mas para que tal possa acontecer pedimos a ajuda de todos.
Rodrigues Costa
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