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A estrutura de acesso ao interior do Sacrário da Capela do Seminário insere-se numa moldura e surge decorada com elementos relacionados com a Paixão de Cristo. No interior de um friso dourado retangular, rematado superiormente em hemiciclo pode observar-se a Cruz, que tem uma forte carga simbólica, sobrepondo a coroa de espinhos e os cravos.
Cruz, coroa de espinhos e cravos
A tradição cristã engrandece prodigiosamente o simbolismo da Cruz ao condensar nesta imagem a história da Salvação e da Paixão do Salvador e a iconografia utiliza-a tanto para expressar o suplício do Messias, como a sua presença. Onde está a Cruz, está o Crucificado.
Abaixo da Cruz podem ver-se duas palmas cruzadas que, de alguma forma, envolvem o crismon.
Palmas e crismon
A palma simboliza a vitória, a regeneração, a imortalidade e, para os cristãos, representa a Ressurreição de Cristo depois da Paixão. Por seu turno, o crismon é um importante símbolo da Igreja primitiva formado pelas letras gregas do nome de Jesus Cristo, isto é, XP. Na Idade Média foi substituído pelas três primeiras letras do seu nome IHS.
Enjunta a alfiz
A zona superior do Sacrário, a enjunta, ou seja, a zona triangular compreendida entre o friso semicircular superior e o alfiz (moldura que rodeia a frente da estrutura) encontra-se decorada com duas rosas estilizadas. Na iconografia cristã, a rosa simboliza tanto o cálice que recolhe o sangue de Cristo, como a transfiguração das gotas deste sangue, ou ainda se pode assumir como símbolo das chagas de Cristo.
Fechadura
No centro da porta, rodeia a fechadura uma fina grinalda.
Em suma, Mestre Albertino Marques bem podia sentir-se orgulhoso com o Sacrário que havia forjado e cinzelado, na sua oficina da Rua João Machado, para a Capela do Seminário Maior de Coimbra.
Sacrário da Capela do Seminário Maior de Coimbra
Anacleto, R. Albertino Marques. Sacrário do Seminário Maior de Coimbra. 2024. Texto inédito.
Albertino Marques também bateu, para a capela do Seminário Maior de Coimbra, um Sacrário. De acordo com a notícia saída no Correio de Coimbra de 13 de outubro, em 1948, o Tabernáculo, já se encontrava forjado e cinzelado.
Sacrário da Capela do Seminário Maior de Coimbra
Na notícia do periódico, que transcrevo, pode ler-se: “Nas oficinas do conceituado artista conimbricense sr. Albertino Marques foi agora construído um Sacrário em ferro forjado e cinzelado que bem pode considerar-se uma obra prima daquele distinto serralheiro. O aludido Sacrário, que se destina à capela do Seminário, foi construído segundo as regras da Liturgia e pode bem considerar-se um autêntico cofre de segurança pelas condições que presidiram à sua execução. Com a construção deste augusto tabernáculo são já em número de doze os sacrários que Albertino Marques tem executado para esta diocese, gravando-se em todos eles o apurado gosto artístico e raras aptidões que distinguem os trabalhos daquele nosso amigo, exímio artista que tão distintamente fez ressurgir entre nós a joalharia do ferro no período áureo da sua mais bela renascença”.
Esta notícia levanta-me dois problemas, pois leva-me a questionar qual o pontificado em que teria sido encomendado. Como refere a notícia, o “cofre de segurança” e qual a razão que levou à feitura, naquela época, de tantos Sacários em ferro destinados a guardar o Santíssimo Sacramento, bem como as localidades que os acolheram.
D. António Antunes
Examinando a listas dos Bispos que se sentaram na cadeira episcopal conimbricense chega-se à conclusão que D. António Antunes (Cumeira, 1875.11.18-Coimbra, 1948.07.20), que foi o 59º bispo de Coimbra, toma posse da diocese em 1936 e governa-a até à sua morte, acontecida em julho de 1948. Por seu turno, D. Ernesto Sena de Oliveira (Funchal, 1892.04.30-Coimbra, 1972.10.13) entra a 2 de fevereiro de 1948 e encontra-se à frente da diocese aeminiense, onde entrou em 13 de março de 1949, até 12 de agosto de 1967, data em que resignou. Foi o 50º Bispo da diocese e o 25.º conde titular de Arganil, de juro e herdade, entre 1948 e 1967 e veio a falecer a 13 de outubro de 1972.
A partir desta análise pode concluir-se, com grande margem de certeza, que o Sacrário destinado à Capela do Seminário de Jesus, Maria e José, foi encomendado a Mestre Albertino na liderança de D. António Antunes.
A notícia do Correio de Coimbra refere que “com a construção deste augusto tabernáculo são já em número de doze os sacrários que Albertino Marques tem executado para esta diocese”. A quantidade de Sacrários que o Mestre cinzelou para a diocese não pode deixar de me levar a questionar qual a razão de um tão vultuoso número de encomendas, até porque era normalmente referido tratar-se de verdadeiros cofres fortes, providos na porta de duas fechaduras com segredo, e colocados sobre o altar ou na banqueta, a fim de guardar a píxide ou a custódia.
A porta destes pequenos cofres era, quase sempre, decorada com iconografia relativa à eucaristia, o que não se verifica no presente caso.
Anacleto, R. Albertino Marques. Sacrário do Seminário Maior de Coimbra. 2024. Texto inédito.
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