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Augusto Nunes Pereira – o sacerdote e o artista – é uma figura incontornável da Coimbra da segunda metade do século XX.
Nunes Pereira. Desenho F. Pimentel /78
Quem teve a felicidade de conviver com ele guarda na memória a sua bondade e alegria de viver, o sorriso acolhedor e a arte que o levava a desenhar compulsivamente tudo quanto via.
Arte polifacetada, assente num trabalho continuo desenvolvido até ao último dia de vida e que passou por diversas técnicas, com particular destaque para o vitral e para a gravura em madeira.
O Museu Nunes Pereira que, no Seminário Maior de Coimbra, se encontra instalado no local da sua última oficina, é um espaço que os conimbricenses deviam conhecer e do qual se deviam orgulhar.
O projeto da construção de um monumento, em Coimbra, a lembrar Monsenhor Nunes Pereira surgiu a 25 de março de 2022, no âmbito do ciclo de palestras designado por Conversas Abertas, promovido pelo blogue “A´Cerca de Coimbra”, com o apoio do Arquivo da Universidade de Coimbra e do Clube de Comunicação Social.
Naquela data foi abordado o tema Mons. Nunes Pereira. O homem, o sacerdote e o artista, sendo palestrantes as Senhoras Dr.as Virgínia Gomes (Técnica Superior responsável pelas coleções de Pintura, Desenho e Gravura do Museu Nacional de Machado de Castro) e Cidália Maria dos Santos (Curadora do Museu Nunes Pereira).
No âmbito desta Conversa Aberta, o Arq.º António José Monteiro e o artista plástico José Maria Pimentel, apresentaram um projeto destinado a servir de base para a construção de um monumento dedicado a Monsenhor Nunes Pereira, que deveria ser instalado em Coimbra, junto da rua com o seu nome, e que, gratuitamente, ofereceram à Cidade.
Proposta que mereceu o apoio e o empenho de todos, o que levou à constituição informal de um Grupo de Cidadãos, para dar sequência à mesma.
Seguiram-se meses de diligências que culminaram no dia 5 de julho de 2023, com a realização, nos Paços do Concelho, de uma reunião na qual participaram, em representação do Executivo Municipal, o Eng.º Nelson Cruz e o Dr. Pedro Peixoto, respetivamente Chefe do Gabinete do Presidente da Câmara e Assessor do mesmo Gabinete e os técnicos do Município Dr.ª Maria Carlos, Diretora do Departamento de Cultura e Dr.ª Elisabete Carvalho, Chefe de Divisão do mesmo Departamento e o Arq.º José Filipe Martins, Chefe da Divisão de Projetos. Em representação do Grupo de Cidadãos participaram a Arq.ª Isabel Anjinho, a Dr.ª Cidália Maria dos Santos e o signatário.
Dessa reunião resultou um acordo, assente nas seguintes bases:
- O monumento seria restringido à imagem de Monsenhor Nunes Pereira, comprometendo-se os Autores a apresentar, para além do material já entregue, o projeto estrutural do monumento a construir;
- O local exato da sua instalação seria definido numa visita noturna à zona, com representantes de ambas as partes;
- A oferta feita à Cidade restringir-se-ia ao projeto do monumento em si.
Este acordo veio, posteriormente a ser assumido pelo Executivo Camarário, em reunião pública, na qual foi autorizada a construção do mesmo.

Proposta de arte urbana. Monsenhor Nunes Pereira. Autores: José Maria Pimentel, António Monteiro, João Paulo Neves. 1

Proposta de arte urbana. Monsenhor Nunes Pereira. Autores: José Maria Pimentel, António Monteiro, João Paulo Neves. 2

Proposta de arte urbana. Monsenhor Nunes Pereira. Autores: José Maria Pimentel, António Monteiro, João Paulo Neves. 3
De seguida o Grupo de Cidadãos empenhou-se em encontrar uma entidade que, no âmbito do mecenato cultural, custeasse a construção do monumento. Depois de algumas promessas não cumpridas, acabou por se concluir pela incapacidade de conseguir tal ajuda.
A situação veio a ser desbloqueada, graças ao empenho – há que o assinalar – do assessor da Presidência da Câmara Municipal, Dr. Pedro Peixoto, que conseguiu reunir as condições necessárias para que, no passado dia 2 de setembro, pudesse informar o Grupo de Cidadãos de que havia sido inscrito, no projeto de Orçamento do Município para 2025, a verba de 20.000 € destinada à construção do monumento.
Na sequência, foi marcada para o dia 2 de outubro próximo, às 15h00, uma audiência do Grupo de Cidadãos com o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, para formalizar a entrega à Cidade do projeto do monumento a Mons. Nunes Pereira.
No decurso da referida reunião o Presidente do Executivo informou que iria apresentar, em próxima reunião do Executivo, uma proposta no sentido de o Município assumir a construção do monumento.
Ao chegar ao termo de um caminho, o Grupo de Cidadãos que se empenharam neste processo, tornam público o seu agradecimento:
- Ao autor da peça escultórica, o artista plástico José Maria Pimentel e aos coautores da estrutura física de suporte, arquitetos António José Monteiro e João Paulo Neves, não só pela generosidade da oferta, mas essencialmente por terem sabido entender a justeza da homenagem que a mesma consubstancia;
- À Câmara Municipal de Coimbra por assumir uma dívida que Coimbra tinha para com Mons. Augusto Nunes Pereira;
- A todos quantos, por qualquer forma, contribuíram para a viabilização deste projeto.
O Grupo de Cidadãos,
Ana Maria Bandeira
Armando Braga da Cruz
Cidália Maria dos Santos
Isabel Anjinho
Nuno dos Santos
Regina Anacleto
Rodrigues da Costa
Pimentel, J.M., Monteiro, A., Neves, J.P. Proposta de arte urbana. Monsenhor Nunes Pereira. 2024. Coimbra, trabalho dos Autores
O complexo crúzio no contexto citadino
O Decreto redigido por Joaquim António de Aguiar e publicado a 30 de maio de 1834 declarava extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios, e quaisquer outras casas das ordens religiosas regulares, sendo os seus bens secularizados e incorporados na Fazenda Nacional, com exceção dos templos e das alfaias litúrgicas.

Largo da Portagem, monumento a Joaquim António de Aguiar
Na sequência desta medida, e através de um processo nem sempre muito linear, verificaram-se alterações e modificações vultuosas em torno do património fradesco, agora na posse estatal e que, no futuro, veio a passar pela transferência para as mãos de particulares ou para a pertença de instituições públicas. No que se refere a edifícios, estas últimas utilizaram-nos a seu bel-prazer, quer para alojar os serviços que se encontravam na sua dependência, quer para fins sociais ou utilitários. Acontece ainda que a fisionomia de cercas e de património construído acaba, muitas vezes, por ser alterado através da feitura de transformações e de projetos urbanísticos, por vezes, mais do que duvidosos.
Em Coimbra, no âmbito do presente trabalho e face à desamortização referida, vamos cingir-nos ao mosteiro de Santa Cruz e à quinta anexa.
A autarquia mondeguina, na reunião de 13 de maio de 1835, determinou, em cumprimento de uma ordem emanada pelo Ministério do Reino, que fosse organizada uma listagem com o nome dos conventos desamortizados existentes na cidade, bem como a descrição dos seus bens. O rol teria de especificar quais os imóveis que a edilidade pretendia, a fim de neles acomodar misericórdias, hospitais e outros estabelecimentos de utilidade pública.
Na reunião do dia 16, um dos vereadores recordava o pedido que havia sido anteriormente endereçado pela edilidade à Câmara dos Deputados, solicitando não só a cedência do pátio do Mosteiro de Santa Cruz e das lojas que o rodeavam, para que ali passasse a funcionar o mercado público, como ainda todo o restante edifício, destinado a alojar as repartições judiciais, administrativas, da fazenda, da administração do correio e similares.

Praça 8 de Maio. Antiga fachada de Sta. Cruz
A Câmara viu a sua pretensão satisfeita e, em 15 de dezembro de 1836, tomou posse dos edifícios dos extintos mosteiro de Santa Cruz e colégio da Graça, embora no documento se encontrassem exaradas cláusulas que obrigavam a estabelecer um quartel militar neste último e a instalar as repartições públicas no primeiro.
Entretanto, os serviços já alojados nos agora edifícios camarários começavam a considerar o espaço como seu, obrigando a que fossem clarificadas com rigor “as fronteiras do que fora dado à Câmara”.
A carta de lei de 30 de julho de 1839 esclarecia que lhe tinham sido concedidos os edifícios do extinto mosteiro de Santa Cruz, com exclusão da igreja e suas dependências, o pequeno laranjal, a horta e a encosta que ficam contíguas aos mencionados edifícios e terminavam na estrada pública situada na zona da Fonte Nova.

Fig. 05 – Zona do mosteiro de Sta. Cruz. [AHMC. Armário 3. Gaveta 12. Pormenor da planta da cidade de Coimbra riscada em 1834 por Isidoro Emílio Baptista].
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes.
Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
No passado dia 7, na sequência de uma visita guiada ao Cemitério da Conchada, organizada com o apoio deste blogue, foi posta à subscrição pública uma petição solicitando à Câmara Municipal de Coimbra a abertura do processo de classificação de interesse concelhio para o Cemitério da Conchada.
A esta petição, até ao momento, já aderiam 73 subscritores.
Sendo intenção dos Organizadores remeter a petição à consideração do Senhor Presidente da Câmara imediatamente após o final do mês em curso – ou seja, depois de amanhã, quinta-feira –, solicita-se a quantos entendam subscrever a mesma o favor de fazerem até às 24h00 de amanhã, em:
http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT85512.

Arqueta da Filha de Marques Ribeiro
Obrigado
Rodrigues Costa
Nasceu no lugar e freguesia de Santa Maria de Almacave (Lamego), em 1876. Pertencia a uma família de artistas, pois um seu um bisavô era canteiro; o avô materno, entalhador; o avô paterno e o pai, serralheiros. Em Outubro de 1897, a seu pedido e porque era sargento espingardeiro, foi transferido do Regimento de Infantaria 13, com sede em Lamego, para o 23, que ocupava, em Coimbra, o antigo convento de Sant’Ana.
Depois de se fixar nesta cidade, ele que era serralheiro artífice, conviveu com os artistas e fez-se amigo de João Machado, tendo começado a aprender modelação na sua oficina.
Entretanto, com a reabertura da Escola Livre, em 1904, passou a ser discípulo de Mestre Gonçalves e, posteriormente, frequentou a Escola Industrial.
Quando morreu, no dia 15 de Dezembro de 1952, tinha 76 anos e morava no Tovim de Baixo.
É com os ferros do fogão da casa dos Patudos, que Chaves inicia a sua carreira. O gótico, o manuelino, o renascimento, o rococó, não tinham segredos para o forjador. O artista apresentou, como referi, as ferragens (suporte, tenaz e pá), correspondentes ao fogão executado por João Machado ... Tratava-se de uma obra para ser admirada “pela elegancia nervosa com que foi concebida e executada, torcendo e levantando o ferro com o cuidado delicado de um ourives”. Os ferros do fogão “poder-se-iam fazer com o mesmo desenho em prata martelada, sem necessitar mais elegância no desenho, mais delicadeza na execução” .
Anos mais tarde, em 1919 ... um candelabro, executado de acordo com o gosto pompeiano ... No ano seguinte ... uma segunda obra de vulto: agora tratava-se de uma braseira, que seguiu o mesmo gosto estilístico da peça anterior . Mas, desta vez, o artista auferiu uma dupla consagração, porque o trabalho foi mostrado aos conimbricenses na sala romana do Museu Machado de Castro e, depois, em Lisboa, seria exposto pelos possuidores das suas peças, “que assim lhe queriam dar uma prova de admiração”.
Em 1924, a mesma sala romana do Museu Machado de Castro abre-se novamente para apresentar o chamado Lectus, obra em ferro forjado ... Esta peça é uma verdadeira joia de ferro, “que tanto honra o nome [do artista] e que nos enche de orgulho por ser executada em Coimbra, terra de arte, graça e beleza!” . Juntamente com o canapé expôs um lampadário.
Depois da guerra de 14-18, começou a desenvolver-se, um pouco por todo o país, o culto aos Mortos da Grande Guerra. As entidades responsáveis determinaram que, numa grande manifestação nacional, fossem trasladados para o Mosteiro da Batalha, os restos de um desses heróis.
Em Coimbra, e mais concretamente no Quartel-general, despontou um movimento no sentido de ser colocado um lampadário condigno na casa do capítulo, junto do sarcófago que deve guardar os despojos do soldado desconhecido. Para concretizar esta ideia, foi aberta uma subscrição, que, num primeiro momento se pensava estender a todas as unidades militares do país, mas posteriormente limitada à contribuição dos oficiais, sargentos e praças da 5.ª divisão do Exército, com sede em Coimbra.

Lourenço de Almeida. Chama da Pátria (desenho de António Augusto Gonçalves)
Desde logo ficou assente que o lampadário, mais tarde denominado Chama da Pátria, fosse executado por Lourenço Chaves de Almeida, que até era militar.
O lampadário, que foi batido dentro do estilo gótico e mede 1,80 m de altura, foi exposto ao público no átrio da Câmara Municipal de Coimbra ... em Lisboa e depois, em Viana do Castelo, na altura em que ia ser imposta a Cruz de Guerra à bandeira que, em França, fora oferecida à brigada do Minho .
O lampadário seria colocado no Mosteiro de Santa Maria da Victória no dia 28 de Junho, data da assinatura do tratado de paz.
Seja-me ainda permitido referir, em 1930, a encomenda de um candelabro de 30 luzes, feita pelo presidente da Comissão Administrativa do município de Coimbra, a fim de ser colocado no salão nobre.
Anacleto, R. 1999. Ourives Conimbricenses do Ferro na primeira metade do século XX. Conferência nas I Jornadas da Escola do ferro de Coimbra. In publicado Munda, n.º 40, p. 21-25
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