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Os contratos do sal eram assinados, geralmente, em janeiro (34,21%) e fevereiro (26,32%) … Ao contrário dos contratos da carne, estes aparentam garantir o abastecimento contínuo ao longo do ano, não focando um período específico e tinham, geralmente, a duração de um ano.
… O sal era fornecido por barqueiros e era provável que a maioria destes homens se fosse abastecer fora do termo de Coimbra. No séc. XVI, o sal provinha de Aveiro e Buarcos, o que é confirmado na segunda metade do séc. XVII, quando a Câmara ordenou que se anunciasse nessas terras e em Vagos para se trazer sal à cidade (Loureiro 1960: 286 e Oliveira 2016: 934). A proveniência dos obrigados não nos ajuda à análise, visto a esmagadora maioria ser natural de Coimbra.
Durante toda a cronologia em análise, a quantidade acordada entre os barqueiros e a câmara foi sempre a mesma: sal em abundância e sem falta alguma. Isto pode revelar, juntamente com a ausência de reclamações relativamente à falta do produto, que não houve grandes dificuldades em garantir o seu abastecimento.
Os preços negociados nos contratos apresentam uma evolução diferente comparativamente aos preços da carne: mantêm-se sensivelmente baixos até 1654 (exceto 1650), aumentando gradualmente após 1656; até 1689 mantêm-se relativamente estáveis, atingindo os 50 réis por alqueire em três anos; em 1694, o preço do sal atinge o valor mais elevado de toda a série (70 réis), decrescendo depois, até atingir os 20 réis em 1703; com o início do conflito, o seu preço aumenta gradualmente até 1711, exceto no ano de 1707.
Sobre o preço do sal incidia um tributo conhecido como o usual, que até 1689 correspondia a 20 réis (AHMC, Notas, L. 11, fl. 138) e a partir de 1694 a 30 réis (AHMC, Arrematações e arrendamentos, L. 2, fl. 221v), não se sabendo se depois da guerra se regressou ao valor anterior ou se deixou de ser cobrado os preços apresentados no gráfico e tabela não incluem este valor.
Pescador de Coimbra, com rede
Rio Mondego, caneiro para pesca
… Se as quantidades do produto não geraram problemas, os conflitos entre a câmara e os arrematantes pelos preços foram frequentes. Em janeiro de 1642 a câmara permitiu ao obrigado do sal elevar o preço do alqueire para 13 réis, mas teria de pagar 50 000 réis imediatamente para as despesas da câmara (Loureiro 1960: 48)25. Em janeiro de 1657 a câmara proibiu a passagem do sal para “cima da ponte” e estabeleceu o preço do alqueire nos 18 réis, alegando que os barqueiros estavam a abusar do seu estatuto de monopólio para praticar preços muito altos (Loureiro 1960: 286). No mesmo ano constatou-se que os comerciantes não queriam vender ao preço estabelecido pela câmara, pelo que açambarcaram todo o sal nas marinhas e estavam a expedi-lo para fora da cidade durante a noite. O senado decidiu intervir, aplicando as penas previstas para as transgressões e ordenando a colocação de travessas nas portas de todas as casas que tivessem o produto, impedindo que este saísse sem licença da câmara (Loureiro 1960: 287-288). A 30 de junho de 1708, um ano após o sal ter atingido um dos valores mais baixos da série, as vendedoras da cidade queixam-se dos preços muito elevados e nas dificuldades que têm em vender, o que constituiu um indicador da grande volatilidade a que os preços estavam sujeitos (AHMC, Vereações, L. 59, fl. 168v).
Barbosa, J.L. S. O abastecimento de carne e sal em Coimbra: os contratos de obrigação da Câmara Municipal (1641-1721). Acedido em https://impactum-journals.uc.pt/rhsc/article/view/1645-2259_19_6
Os contratos da carne eram assinados, por norma, entre março e julho … Isto sugere que os contratos eram assinados tendo particular preocupação com o abastecimento no inverno, período mais crítico, devido à diminuição de pastagens disponíveis. Os contratos lavrados no início do ano poderiam ter uma duração superior ao normal, para que desta forma todo o inverno ficasse abrangido.
… As fontes fazem referência a três tipos de carne (vaca, carneiro e porco) sendo que esta última é referida em apenas três contratos de obrigação (1690, 1691 e 1719). Os contratos indicam que a província do Entre Douro e Minho era a principal fornecedora de carne de vaca (AHMC, Notas, L. 10, fl. 37 e Notas L.11, fl. 71). Na vereação de 25 de fevereiro de 1654, a câmara ordenou ao mester Francisco Pires a deslocar-se ao “Porto e Entre Douro e Minho” para encontrar marchantes para o fornecimento de carnes à cidade (Loureiro 1960: 251). No ano seguinte, uma provisão datada de 13 de janeiro de 1655 ordenou ao procurador Luís Álvares a deslocar-se “à cidade do Porto, Guimarães e Entre Douro e Minho e mais partes que necessarias forem” para encontrar obrigados das carnes locais para abastecerem a cidade, oferecendo-se a estes as mesmas regalias que se davam aos marchantes de Coimbra (AHMC, Notas, L. 10, fl. 95-95v).
O abastecimento de gado bovino vindo do Entre Douro e Minho não implicava que todos os arrematantes fossem dessa região. De facto, até 1667, todos os obrigados da carne de vaca (atuando individualmente ou em sociedade) eram de Coimbra. Entre 1667 e 1721, 57,14% dos contratos foram assinados por arrematadores dos arredores do Porto (um dos quais era de Penafiel), enquanto 30,95% eram de Coimbra. Esta inversão pode justificar-se com a maior facilidade no abastecimento, promovida pelo melhor posicionamento dos obrigados junto dos locais de criação de gado.
Os preços negociados nos contratos apresentam uma evolução diferente.
Sobre a proveniência da carne de carneiro temos menos informações.
Rebanho a atravessar o rio. 1897
A julgar pela residência dos arrematantes, o abastecimento seria realizado a partir dos arredores de Coimbra, em Penacova, Carvalho e Ançã, ou em locais mais afastados, como Aguiar da Beira (Guarda) e Jaca, Couto de Pedroso, termo do Porto.
Já os arrematantes da carne de porco eram todos de Coimbra, sendo provável que o abastecimento desta também se realizasse nas suas imediações. … Coimbra, pelo preço de 18 réis (AHMC, Notas, L. 10, fl. 60v).
Capela de S. Antoninho dos porcos
A venda de carne pela câmara foi um procedimento raro, ocasionado essencialmente pelas dificuldades no estabelecimento de um preço “justo”, ou seja, acessível para o povo. A vereação de 4 de dezembro de 1655 determinou que se registassem as contas de receita e despesa da aquisição de gado que a câmara realizou à sua custa. A única conta apresentada revelou um prejuízo de 94 170 réis, que foi liquidado com dinheiro emprestado do cofre do Real d’Água. (Loureiro 1960: 270-271).
A câmara disponibilizava dinheiro para se emprestar aos arrematantes, sem juros, para os ajudar na aquisição das carnes, oriundo geralmente do cofre do Real d’Água ou do donativo de D. Afonso de Castelo Branco.
Muitos contratos não fazem referência a estes valores, por omissão ou porque os obrigados rejeitavam o empréstimo (Oliveira 2016: 821). Os montantes para a carne de vaca oscilaram entre 200 000 e 500 000 réis, enquanto que para a carne de carneiro, variaram entre os 10 000 e 50 000 réis. Para a carne de porco, o valor foi sempre de 100 000 réis. O valor do empréstimo tinha de ser devolvido até ao final do contrato. Caso os arrematantes não conseguissem pagar, o fiador tinha de intervir, como ocorreu em 1648, quando Gabriel Rodrigues, fiador do marchante Domingos João, entregou 10 000 réis do valor do empréstimo que a câmara fizera ao arrematante (AHMC, Notas, L. 9, fl. 136v e Loureiro 1960: 172).
Barbosa, J.L.S. O abastecimento de carne e sal em Coimbra: os contratos de obrigação da Câmara Municipal (1641-1721). Acedido em https://impactum-journals.uc.pt/rhsc/article/view/1645-2259_19_6
Nos finais de 1640 Portugal revolta-se contra Espanha e inicia-se o mais longo conflito militar da História de Portugal, terminando em 1668. O início da Guerra da Restauração não melhorou a situação económica e financeira do reino, levando até a um aumento da carga fiscal, conforme o demonstra o imposto da décima, que incidia sobre salários, lucros, rendas e juros, e abrangia grupos sociais tradicionalmente isentos, como a nobreza e o clero.
… O recrutamento para o exército retirou força de trabalho aos campos, o que afetou as receitas de tributação do trabalho agrícola. As colheitas tornaram-se mais irregulares, o que se refletiu nos preços dos cereais, e o clima de incertezas prejudicou muito o mercado de contratação das rendas.
A partir da década de 70 e 80 surgem sinais fortes de recuperação no setor produtivo, acompanhando o aumento das rendas dos senhorios. … Em Portugal, as câmaras municipais, enquanto instituições de poder local, tinham responsabilidades no que tocava ao abastecimento de produtos essenciais à vida das comunidades e na regulamentação das atividades económicas.
Uma das principais preocupações passava por garantir o abastecimento dos produtos que escasseavam no concelho, ao mesmo tempo que se impedia a saída dos frutos da terra. Estes constrangimentos eram colocados aos vendedores e produtores, ficando estes proibidos de vender os seus artigos para fora do termo, ou a pessoas de fora deste. Para tal, a ação dos almotacés era vital, enquanto agentes de fiscalização ao serviço da câmara.
Rebanho de cabras a entrar na Cidade, pelo arco principal do Aqueduto
Cais do Cerieiro, ponto de entrada de muitos produtos em Coimbra
… O método usado pela Câmara Municipal de Coimbra para garantir o abastecimento de carne (para os açougues da cidade) e sal para a cidade consistiu na assinatura de contratos de obrigação de venda desses produtos.
… O processo de arrematação iniciava-se com o lançamento do pregão pelo porteiro do bordão pelas ruas da cidade. Como se tratava de contratos de abastecimento de alimentos, o lanço vencedor era aquele que apresentasse o preço mais baixo. Após o lançamento de todas as ofertas, o pregão era finalizado na data limite:
“(…) foi dito em voz alta e intelegivel no meio de pessoas se havia quem quizesse obrigar as carnes dos açougues (…) que menos não achava se menos achava menos tomava a quem deu uma e duas e duas e meia e por não achar quem por menos de vinte e dous reis quisesse dar a dita carne (...) lhe deu os três e lha arrematou no sobredito preço e lhe entregou o ramo verde que na mão trazia (…)” (AHMC, Arrematações e arrendamentos, L. 1, fl. 3).
… Com o término do pregão, o arrematante necessitava de assinar o contrato de obrigação e fiança. O local mais usado para a assinatura era a “moradia” ou “pousadas” do escrivão da câmara (AHMC, Notas, L. 9, fl. 63v). O arrematante deslocava-se a casa daquele, declarando, na presença de testemunhas, que havia arrematado um contrato e as condições do mesmo (AHMC, Notas, L. 12, fl. 182v). A partir da década de 90 do séc. XVII os contratos passam a ser assinados nas Casas da Câmara. As obrigações presentes nos livros de Arrematação e Arrendamentos já referem este local em praticamente todos os contratos. Outros lugares foram usados esporadicamente, nomeadamente a Rua da Calçada (AHMC, Notas, L. 9, fl. 25v) e o Hospital Real (AHMC, Arrematações e arrendamentos, L. 1, fl. 13v).
… Os contratadores das carnes deveriam dar, em todos os sábados, um lombo para o corregedor, para o provedor, para cada um dos oficiais da câmara e outro para dividir pelos dois mesteres da mesa12 (AHMC, Notas, L. 9, fls. 21v, 115v). Estavam proibidos de vender outros tipos de carne para além da que lhes havia sido obrigada, como demonstra a proibição de venda de carne de cabra feita ao marchante Manuel Simões, em 1641 (AHMC, Notas, L. 9, fls. 21v) e deviam manter os açougues sempre limpos de “imundices” (AHMC, Notas, L. 10, fl. 60v). A obrigação da carne de carneiro de 1656 permitiu ao marchante vender carne de capado, além de poder pastar os animais nos olivais da cidade, livre de condenações (AHMC, Notas, L. 10, fl. 124).
Barbosa, J.L. S. O abastecimento de carne e sal em Coimbra: os contratos de obrigação da Câmara Municipal (1641-1721). Acedido em https://impactum-journals.uc.pt/rhsc/article/view/1645-2259_19_6
Fundou-o el-Rei D. João III em 1543 para os «Eremitas calçados de Santo Agostinho, sendo concluído, e por este monarca dotado, em 1548.
Incorporou-o na Universidade a carta-régia de 12 de Outubro de 1549.
Tinha o seu edifício na Rua da Sofia, a Ocidente do Colégio do Carmo, separados um do outro por uma viela, que depois se suprimiu.
Colégio de N. Senhora da Graça
Foi muito favorecido por el-Rei com grandes privilégios. Eram apontados os seus colegiais como argumentadores subtis; o seu espirito combativo tornava-os por conflituosos e pouco simpáticos.
... É de todos os edifícios universitários aquele que melhor se conserva ainda hoje, quase intacta, a sua fachada, com as primitivas janelas, que iluminavam os escritórios de cada colegial, e ao lado de cada uma o postigo da alcova, onde dormia.
Em parte deste edifício esteve instalado, com consentimento dos religiosos, um hospital, no tempo da guerra miguelista.
Abandonado em 1834, logo a 10 de Janeiro de 1835 a Câmara de Coimbra representou ao Parlamento, pedindo o edifício para quartel. Foi concedido em 1836 com este destino, tomando dele posse a Câmara a 15 de Dezembro do mesmo ano. Nele se instalou o quartel militar.
Em 1857, o Comissariado dos Estudos requisitou da Câmara uma casa, para onde se mudasse a escola de ensino mútuo. Respondeu aquela que só tinha duas casas em condições, a do Colégio da Graça e a da torre de Almedina. Foi preferida a da Graça, devendo-se mudar para outra o quartel militar. Quando porém a Câmara mandou proceder às obras necessárias para a instalação da escola, opôs-se o oficial comandante do destacamento ali aquartelado. Deu isto lugar a vivas querelas jornalísticas.
Aloja-se atualmente (em 1938-1941) ali o quartel da Administração militar.
Interior da Igreja do Colégio de N. Senhora da Graça
Na igreja o culto esteve de princípio a cargo da Ordem terceira de Santo Agostinho; hoje é mantido pela Irmandade do Senhor dos Passos.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 196-197, do Vol. I
Até possuir edifício próprio, a Escola Brotero ocupou, desde a sua instituição, por empréstimo ou pagando renda, espaços cada vez mais amplos e diversificados, respondendo assim ao aumento crescente da sua massa estudantil e dos cursos ministrados.
... em 1884, a Câmara Municipal de Coimbra destinou para sua instalação a antiga Igreja da Trindade ... as obras (de adaptação) não foram de imediato realizadas (e nunca mais o seriam), de forma que a Associação dos Artistas resolveu dispensar provisoriamente a única sala que dispunha ... o refeitório do antigo Convento de Santa Cruz, emprestando também o mobiliário, até chegar o que havia sido encomendado para o efeito (o que começou a verificar-se em Março de 1885, ou seja, um mês após o início das aulas.
Em Dezembro de 1886... a Câmara Municipal cedeu à Escola, após obras de restauro e adaptação, as dependências do Mosteiro situadas por cima do antigo refeitório.
... em 23 de Fevereiro de 1889 ... «foram anexadas às antigas instalações, numa primeira fase, o andar superior da fachada oeste do jardim da Manga e a antiga capela do noviciado e, posteriormente, a fachada sul do mesmo jardim, bem como o pavimento térreo das duas fachadas e o jardim da Manga.
... Para a instalação das oficinas... a Câmara em 1890/91, cedeu para o efeito ... «a parte baixa do antigo cerco do noviciado». Mais tarde, com o aumento da frequência escolar, ferramenta e maquinaria para alargamento daquelas, foram construídos pavilhões sobre os tanques do jardim.
Nestas instalações funcionou a Escola durante anos. Instalações, no entanto, foram progressivamente beneficiadas. Sob a direção de Sidónio Pais, foi nelas erguida, em 1904, uma central elétrica privativa.
... Na madrugada do dia 13 de Janeiro de 1917, um violento incêndio destruiu parte das instalações, incluindo gabinetes, salas de Desenho, o laboratório de Química... após um período em que, provisoriamente, ocupou dependências contiguas ... a Brotero transferiu-se, em Dezembro de 1918, para a casa da Quinta do Mosteiro – antiga residência de verão do Prior – situada no espaço hoje ocupado pela Associação Académica ... as oficinas mantiveram-se no Jardim da Manga.
De 1919 a 1920, funcionou no mesmo edifício, por falta de sede própria, a Escola Comercial de Coimbra... a qual ... veio a ser transferida para o 1.º andar arrendado (ainda em 1919) de um prédio (hoje inexistente) na Rua da Sofia (n.º 157) ... tendo-se aí mantido até 1926, data em que se incorporou definitivamente na Brotero.
... Quando se criou o «Instituto Industrial e Comercial de Coimbra», a 5 de Dezembro de 1921, a Escola Brotero partilhou com ele as suas instalações... a morosidade verificada na construção do novo edifício, já iniciado junto à Praça da República, levaram a que se determinasse a mudança dos dois estabelecimentos de ensino para a antiga hospedaria do Convento de Santa Cruz e residência do seu Prior, então Hospício da Maternidade (afeto à Faculdade de Medicina desse 22 de Fevereiro de 1911), frente ao Mercado D. Pedro V, local onde hoje se encontra a «Escola Secundária de Jaime Cortesão».
Figueira, M. L. 2012. Escola Brotero. Memórias de Sempre. 2.ª edição revista e actualizada. Coimbra, Escola Secundária Avelar Brotero, p. 61-64
A Brotero é uma escola de tradições. Uma escola que nasceu do nada e cresceu, valorizando o Coimbra e o País ... Atenta à evolução do mundo exterior, sempre foi uma escola de vanguarda ... Uma escola-Escola, de todos os tempos, de sempre, porque sempre em luta consigo própria. Para servir.
... Desde o século XVIII que o ensino profissional – até aí quase inteiramente da responsabilidade das corporações de artes e ofícios e de organismos religiosos – mereceu a atenção dos governantes nacionais. Contudo, só após o Liberalismo e face à necessidade de resposta ao avanço da Revolução Industrial foram tomadas as primeiras medidas sérias com vista à sua implementação.
...Em Coimbra, este estado de coisas fez surgir, em 1851, a «Sociedade de Instrução dos Operários» e, em 1862, a «Associação dos Artistas de Coimbra», que, sob o patrocínio de Olímpio Nicolau Rui Fernandes, visava «a difusão do Ensino Geral e Técnico das Artes e Ofícios, propagando os conhecimentos de economia, industrial e doméstica, necessários ao aperfeiçoamento dos métodos de trabalho, e promovendo em tais atividades o uso e introdução de novos maquinismos», e deu origem ... em 1878, a criação da «Escola Livre das Artes do Desenho», por iniciativa de António Augusto Gonçalves, a qual obteve da Câmara Municipal a cedência da antiga Casa do Senado, no andar superior da Torre do Arco de Almedina.
... por Decreto de 3 de Janeiro de 1884, o Ministro ... António Augusto de Aguiar, criou oito Escolas de Desenho Industrial, verificando-se com agrado que uma delas era em Coimbra – a atual Escola Secundária de Avelar Brotero.
... A 20 de Fevereiro de 1885, ou seja, cerca de um ano depois da sua criação a Escola de Desenho Industrial Brotero, ainda equipada com mobiliário emprestado pela Associação dos Artistas e sem material didático, encomendado na Alemanha ... iniciou atividades ... Matricularam-se cento e cinquenta e dois alunos (cento e quarenta e nove do sexo masculino e três do sexo feminino), com idades compreendidas entre os seis e os quarenta anos e, na sua maioria, profissionais: «alfaiates, canteiros, carpinteiros, empregados, funileiros, marceneiros, ourives, paliteiros, pedreiros, pintores de louça, sapateiros, segeiros, serralheiros, tipógrafos». A única disciplina lecionada no primeiro ano de funcionamento foi a de «Desenho Elementar». E apenas no período noturno, dado que, por falta de alunos, a Escola não teve aulas diurnas, tal como pelo menos nos seis anos subsequentes.
... Em 1889 ... o ministro Emídio Navarro elevou a Escola de Desenho Industrial Brotero a Escola Industrial.
... em 1914, ano a partir do qual a Escola passaria, em consequência, a Escola Industrial e Comercial.
... Nos finais do ano (1918) ... a Secção Comercial existente na Brotero foi-lhe retirada, para formar uma escola independente – a Escola Comercial de Coimbra, que, por não ter sede própria se estabeleceu no edifício da Escola (novamente apenas) Industrial, de Outubro de 1919 até Junho de 1920, data em que, por escassez de espaço, foi transferida para um andar na Rua da Sofia.
... em 1926 ... a 4 de Setembro ... foi decretada a integração da Escola Comercial de Coimbra na Escola Brotero, adotando esta – e por largos anos – a denominação de Escola Industrial e Comercial de Brotero .
... Em suma, a «Brotero», de início uma escola de modestas dimensões, foi ampliando e diversificando ao longo dos tempos o seu efetivo curricular com a introdução sucessiva de cursos profissionais tecnológicos e artísticos ... ligados a variadíssimas áreas, como Comércio, Serralharia, Mecânica, Serralharia Artística, Carpintaria, Talha (em madeira) e Marcenaria, Cerâmica, Vitrais, Eletrotecnia, Mecanotecnia, Construção Civil, Costura e Bordados, Mecânica de Automóveis.
Figueira, M. L. 2012. Escola Brotero. Memórias de Sempre. 2.ª edição revista e actualizada. Coimbra, Escola Secundária Avelar Brotero, p. 13, 17-20, 25, 28, 32
Item, encartados os Juizes ... teráõ particular cuidado na taixa, e almotaçaria dos vinhos, e azeites, por ser notório, e mostrar a experiencia, que nos lugares do termo desta Cidade se vendem os ditos géneros pelo miúdo, por preço mais excessivo, do que corre nesta mesma Cidade ... de que ha, e tem havido gravíssimas queixas, principalmente nas estalagens.
... esta mesma regra se observará ... a respeyto das Padeyras; e das pessoas, que venderem paõ ... averiguar se tem o pezo, q deve ter segundo a Estiva ... valendo o alqueyre de trigo por sete vinténs, hade ter de peso cada pan de dez reis, dezoito onças, e quatro oitavas; e o de sinco reis, terá de pezo nove onças, e duas oitavas.
... nas vendas dos vinhos feitos debaixo do ramo em tabernas publicas, devem haver medidas aferidas em cada anno.
... terão especial cuidado sobre as medidas dos moleyros ... e se lhes dará Correição todos os meses, para que se evitem os roubos ... tendo maquias avantajadas.
... com os Estanqueiros haverá a mesma vigilancia a respeito dos pesos, e balanças ... nos Concelhos ... haveraõ os pesos seguintes, a saber arroba, meya arroba, oito arrates, quatro, dous, hum, e meyo, e quarto. E bem assim, balanças grandes, e as medidas de medir, a saber meyo almude de vinho, meyo alqueire para azeite, alqueire, quarta, e raza, que tudo será aferido por todo o mez de Janeiro.
... depois de haverem tomado posse, e estarem servindo, faraõ eleição, convocadas todas as pessoas do Povo, de recebedores para cobrarem o tributo de quatro e meyo pro cento, siza, jugada, e as mais fintas do costume.
... na correnteza dos caminhos públicos tambem haverá grande vigilancia, concertando-se, e reparando-se pelo modo pussivel, convocado o povo como sempre até agora se praticou.
... tambem deve haver cuidado nas agoas de rega, e se repartiraõ pelo Juiz, com assistencia de dous louvados, que seraõ eleitos em Concelho, convocados os moradores delle.
... em cada Concelho deve haver huma casa, em que se faça audiencia, e as convocações, e conselho do costume.
... teraõ especial cuidado na limpeza, e asseyo das fontes.
... deve ter cuidado sobre os forateyros, e homens, q não foram conhecidos.
... se se puzerem alguns fogos, que façaõ danno, ou posto que o naõ façaõ, se se queimarem montados, que sejaõ postos de propósito, quer por caso fortuito, se virá dar conta ao Doutor Juiz de Fora.
... toda a pessoa, a saber, homem mulher, mosso, mossa, escravo, ou escrava, que entrem em vinhas, hortas, pomares, e meloaes alheyos sem licença de seus donos, desde vinte de Junho em diante até o fim dos recolhimentos, sendo achados em fragante delicto, seráõ trazidos à Cadea publica desta Cidade.
... as bestas, e gado vacaril, que forem achados nas vinhas ... pagará o danno, e de coyma, por cada cabeça, cem reis.
... haverá hum curral do Concelho, que terá só a chave, e fichadura, no qual se enserraraõ os ditos gados.
Câmara Municipal de Coimbra. 1740. Novo Regimento para os Concelhos do Termo da Cidade de Coimbra. Coimbra, Oficina de Antonio Simoens Ferreyra, p. 9-29.
Item, tambem se entregará na mesma occaziaõ, com a dita Pauta o importe da Juradia, que he hum direyto antiquíssimo, que se paga à Camera desde tempo sem memoria, como sabem os presentes ... se declara, que cada Concelho na fórma da posse, e dos assentos antigos dos livros da Camera, paga o que se contém cada hum em sua verba, e saõ do theor seguinte, pela ordem das letras de cada Concelho.
Avenal, quatrocentos e sincoenta (reis)
Amial, oito centos e sincoenta
Arzilla, trezentos e sincoenta
Alquarraques, quatrocentos
Antozede, cento e sincoenta
Ardazube, seiscentos e sincoenta
Antes, quatrocentos e sincoenta
Almalaguez, cento e sincoenta
Aljazede, cento e sincoenta
Almeiler, seiscentos e sincoenta
Alvorge, quatrocentos e sincoenta
Alcabideque, cento e sincoenta
Arrifana de Poyares, cento e sincoenta
Algaça, cento e sincoenta
Alfafar, seiscentos e sincoenta
Alcouce, setecentos e sincoenta
Abrunheyra, e Asafarge, seiscentos e sincoenta
Anobra, mil e sincoenta
Barreyra, quatro centos e sincoenta
Brafemes, quatro mil e sincoenta
Bolho, setecentos e sincoenta
Bera, dous mil duzentos e sincoenta
Beyçudo, duzentos e sincoenta
Bendafé, quinhentos e sincoenta
Bruscos, seiscentos e sincoenta
Condeyxa a nova, mil e sincoenta
Casconha, mil trezentos e sincoenta
Condeyxa a velha, cento e cincoenta
Cruz dos Marouços, quatro centos e sincoenta
Curogeyra, cento e sincoenta
Carregaes, trezentos e sessenta
Casaes do campo, seiscentos e sincoenta
Casas novas do campo, setecentos e sincoenta
Casais de Eyras, seiscentos e sincoenta
Canedo, duzentos e sincoenta
Cordinham, setecentos e sincoenta
Conraria, cento e sincoenta
Ceyra, seiscentos e sincoenta
Castelloviegas, quinhentos
Casas novas do Alvorge, setecentos e sincoenta
Falla, dous mil e sincoenta
Figueyra de Lorvão, quinhentos e sincoenta
Fassalamim, cento e sincoenta
Freyxo, duzentos e sincoenta
Fonte coberta, quatro centos e sincoenta
Féteyra, quatro centos e sincoenta
Friumes, cento e sincoenta
Hombres, cento e sincoenta
Loago de Deos, mil e sincoenta
Lorvão, quinhentos e sincoenta
Larsan, quinhentos e sincoenta
Levira, trezentos e sincoenta
Legação, duzentos e sincoenta
Loureyro, trezentos e sincoenta
Lamaroza, mil quinhentos e sincoenta
Montesaõ, mil e sincoenta
Marneleyra de Botaõ, quinhentos e sincoenta
Murtede, cento e sincoenta
Matos de Façalamim, cento e sincoenta
Moura Santa, cento e sincoenta
Mucella, cento e sincoenta
Orvieyra, cento e sincoenta
Outeyro de Botam, mil e sincoenta
Pãoquente, trezentos e sincoenta
Palha cana, quinhentos e sincoenta
Pé de caõ, seiscentos e cincoenta
Pampilhoza, quatro centos e sincoenta
Pedrulha, dous mil e duzentos
Palheyra, quinhentos e sincoenta
Quimbres, quinhentos e sincoenta
Ribeyra de Frades, cento e sincoenta
Rio da Galinhas, quatro centos e sincoenta
Sobreyro, trezentos e sessenta
Sébal grande, quatro centos e sincoenta
Sébal pequeno, quatro centos e sincoenta
Segonheyra, quinhentos e sincoenta
São Martinho do Bispo, mil e sincoenta
Souzellas, mil cento e sincoenta
Sioga do Monte, quatro centos e sincoenta
Saõ Paulo, oito centos e sincoenta
Sendelgas, trezentos e sessenta
Saõ Martinho de Arvore, três mil trezentos e sincoenta
Saõ Sylvestre, oito centos e sincoenta
Sazes, quinhentos e sincoenta
Sepins grande, seiscentos e sincoenta
Sepins pequeno, quinhentos
Sobral, seiscentos e sincoenta
Sarzadella, quinhentos e sincoenta
Taveyro, quinhentos e sincoenta
Trouxomil, seiscentos e sincoenta
Travaço, cento e sincoenta
Traveyra, oito centos e sincoenta
Ventoza de Condeixa, setecentos e sincoenta
Villapouca de Sarnache, cento e sincoenta
Villella, mil quinhentos e sincoenta
Ventoza do Bayrro, setecentos e sincoenta
Villa nova de Outil, seiscentos e sincoenta
Val de Boy, duzentos
Villa cham de Poyares, cento e sincoenta
Villa pouca do Campo, quinhentos e sincoenta
Zouparria do Monte, quinhentos e sincoenta
Zouparria do Campo, quinhentos e sincoenta
Cujas importâncias satisfazem os Concelhos cada hum o que lhe toca, e vay repartido nas verbas acima declaradas, sahindo do rendimentos dos mesmos Concelhos, e na falta dele se cobra dos moradores pelos Juizes.
Câmara Municipal de Coimbra. 1740. Novo Regimento para os Concelhos do Termo da Cidade de Coimbra. Coimbra, Oficina de Antonio Simoens Ferreyra, p. 4-8
O Doutor Juiz de Fora, Vereadores, Procurador geral e Misteres desta muito nobre, e sempre leal Cidade de Coimbra, e seu termo, por Sua Magestade, q Deos guarde, etc. Fazemos saber, q por nos incumbir a boa regencia dos povos, e utilidade publica, averiguando que o Regimento antigo que foy dado em outro tempo aos Concelhos do termo da mesma Cidade, necessitava de reforma, tanto no substancial de sua disposição por se acharem alteradas as cousas do seu estado, pela mudança dos tempos, como porque em muitos dos ditos Concelhos havia falta delle, e em outros era de letra antiga, pouco legivel, e já lacerado, defeyto, que tambem tinhaõ outros, que eraõ imprecisos; porque o curso dos anos, junto o máo trato, lhe tinhaõ causado aquelle estrago, e se achavaõ assim os ditos Concelhos sem Regimento para a sua observancia, de que com effeyto resultavaõ muitos incómodos na Républica; querendo atalhallos, como nos incumbe, por cumprimento tambem [?] Capitulo de Correyçaõ do ano de setecentos e trinta e nove[?] que por haver a mesma informação, se mandou fazer a dita ...., para que os povos vivaõ ajustados em tudo com o que deve ser, e em tranquilidade, se lhes da o presente Regimento para a sua observancia, debaixo das penas nelle contheúdas.
Eleyção do Juiz, e mais Officiaes, e factura das Pautas
O Juiz de cada Concelho será obrigado a trazer, e entregar em cada anno até ao último do mez de Novembro, o mais tardar, a Pauta, e eleyçaõ das Justiças, q haõde servir o anno seguinte, sem esperar aviso, ou ordem alguma; porque se assim o fazerem resulta evidente utilidade aos povos, nas custas, que se lhe evitaõ da despeza da Ordem, e Caminheyro, que todos os anos se lhe mandava ao mesmo fim.
... Item na dita Pauta, que deve ser feyta pelo Escrivaõ do Concelho, por elle assinada, e pelo Juiz, e Produrador, que estiveram servindo; nem deve entrar nella pessoa alguma, que nos dous anos próximos tiver servido no mesmo Concelho, salvo para Escrivães, nas terras somente, em que não houverem pessoas, que saybaõ ler, e escrever.
... Item, as Pautas devem ser escritas originalmente no livro do Concelho, aonde tambem se devem tomar os votos, escrevendo-se com separação deles, que he o que se chama Pauta, tomando-se três pessoas das mais votadas, tanto para Juiz, como para Escrivão, e Produrador.
... Item com a dita Pauta se entregará o Rol dos Lagares, como vay determinado em outra parte deste Regimento, declarando-se quem he o Senhorio, e o seu administrador, ou arrendatário.
Câmara Municipal de Coimbra. 1740. Novo Regimento para os Concelhos do Termo da Cidade de Coimbra. Coimbra, Oficina de Antonio Simoens Ferreyra, p. 3-4
O exercício de uma profissão “arte ou ofício mecânico” exigia um período de aprendizagem prolongado ficando o aprendiz a viver com o mestre. Colaborava em todas as atividades de fabrico na oficina sem auferir salário, até estar apto a realizar a sua obra-prima.
Esse objeto era submetido à apreciação dos juízes do ofício eleitos entre os mestres. O certificado, “carta de examinação e aprovação”, era a condição para poder montar oficina própria. Após o seu registo na Câmara, obtinha-se licença para ter “loja aberta”.
O fabrico e a qualidade dos produtos eram rigorosamente controlados pelas Corporações dos Ofícios, através de um regulamento específico designado por Regimento... encontram-se no AHMC alguns exemplares de Regimentos: dos sombreireiros (séc. XVI), dos Sirgueiros (1582), dos Alfaiates (1596), dos Caldeireiros (1600), dos Cordoeiros (1659), etc.
Os ofícios agrupavam-se por afinidades profissionais escolhendo um santo protetor comum para a bandeira da sua corporação, daí a designação de embandeirados. Cada um desses doze conjuntos embandeirados elegia dois representantes, constituindo a Casa dos Vinte e Quatro dos Mesteres de Coimbra. Desta instituição saía o Juiz do Povo e os Misteres da Mesa que assistiam às reuniões da Câmara. A sua existência está bem documentada para o século XVII, e seguintes possuindo as atas das suas reuniões.
... O arruamento dos mesteres, medida controladora da produção e da concorrência desleal, em Coimbra deixou os seus vestígios na toponímia da cidade, embora não tenha sido observado com tanto rigor como noutras cidades. Ainda é possível encontrar, atualmente, as Ruas dos Oleiros, da Louça, das Padeiras, dos Sapateiros, em zonas onde outrora se fixaram estas profissões.
Outros ofícios localizavam-se em áreas outrora desertas e hoje densamente urbanizadas... Esse é o caso dos fogueteiros que no séc. XVIII se sediavam fora de portas entre a Ladeira da Forca e a Ponte de Água de Maias. É também o exemplo dos Cordoeiros que naquela mesma época possuíam as suas oficinas nos terrenos baldios que iam da Capela de Nosso Senhor do Arnado (entretanto demolida) até ao rio, pela atual Avenida Fernão de Magalhães.
... Entre a documentação compulsada ... surgiram várias referências a Mulheres no exercício dos seus ofícios ... Num breve levantamento encontramo-las a exercer os ofícios mais diversos, desde os que tradicionalmente estão associados à condição feminina e às artes domésticas como parteira, lavadeira, tecedeira, alfaiata, padeira, forneira, etc. como noutros mais invulgares em que partilham o universo masculino. É o caso da profissão de Algebrista, antepassada do endireita e do moderno ortopedista, definida como o ofício de “consertar brasos e pernas e outros quaisquer membros desmanados e bem assi para curar feridas simplises, chaguas, apestemas, entrasas leves que não forem de má qualidade”.
Nota: A Ladeira da Forca é hoje designada, a meu ver mal, por Escadas de Santa Justa; a Ponte de Água de Maias refere-se à ponte que existiu onde agora está a Rotunda da Casa do Sal.
França, P. 1997. Catálogo. Exposição Artes & Ofícios de Outras Eras. 27 Set. a 17 Out.1997. Coimbra, Arquivo Histórico Municipal de Coimbra, Trabalho fotocopiado, pg. 2-4.
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