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… inventário dos bens, rendas e foros do concelho, ordenado por previsão de D. João III, em 3 de Dezembro de 1529 … Das 174 propriedades arroladas restringiu-se a análise às 130 consideradas relevantes para o estudo da casa corrente. Para além das habitações propriamente ditas e dos espaços anexos como chãos e quintais, optou-se por contabilizar, azinhagas, andaimes de muros e torres ou até mesmo edifícios administrativos como o paço dos tabeliães e a casa de ver o peso … De lado ficaram os dois rossios camarários tal como olivais e vinhas quase sempre situados no aro periurbano em Banhos Secos, Água de Maias, Carrapito, Fontura ou S. Martinho de Eira de Patas.
Tipo de propriedade |
Número |
Casa |
52 |
Pedaços de casa |
3 |
Botica |
3 |
Chão |
19 |
Pardieiro |
1 |
Azinhaga |
9 |
Quintal |
9 |
Cortinhal |
7 |
Ar sobre azinhaga |
1 |
Torres |
5 |
Andaimo de muro |
9 |
Barbacã |
2 |
Alicerce de casa |
4 |
Açougue |
1 |
Paços dos Tabeliães |
1 |
Casa de ver o peso |
1 |
Casa da Gaiola |
1 |
Forno de pão |
1 |
Estrabaria e palheiro |
1 |
Total |
130 |
… cerca de dois terços dos bens arrolados situam-se no exterior das muralhas ou arrabalde. Embora se espalhem por uma vasta área, desde a igreja de São Bartolomeu ao convento de São Domingos, surgem claramente concentradas na Rua da Calçada, a mais importante e dinâmica artéria da cidade quinhentista. De ambos os lados da rua a câmara é proprietária de um total de quarenta e três propriedades, na sua esmagadora maioria casas de moradas de vários sobrados, algumas na situação singular de confrontarem na parte posterior do lote com a Praça da cidade, o que as torna particularmente atrativas.
Um segundo núcleo de concentração, numericamente muito inferior, pode ser detetado junto à saída Norte da cidade, na Rua da Figueira Velha (1), também local de passagem obrigatório de gentes e mercadorias.
… interior da cerca verificamos que para além de serem em número muito inferior, representam apenas um terço do total, são também de natureza diversa: predominam os chãos, azinhagas, cortinhais e pedaços de terra sendo escassas as casas de morada … ganham peso os aforamentos relativos à barbacã, muralha e respetivas torres
(1) José Pinto Loureiro propõe a seguinte identificação "... na via de comunicação que do Terreiro de Santa Cruz seguia para o Arnado: a Rua dos Caldeireiros a sul, a Rua da Figueira Velha a norte, e a Rua Direita ao centro.
Trindade, L. 2002. A Casa Corrente em Coimbra. Dos finais da Idade Média aos inícios da Época Moderna. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 132 a 136
O azeite produzido na cidade e no termo, ao contrário do que se passava com o pão e o vinho, chegava para abastecer as áreas produtoras … O azeite … constituía já no fim do século XIV o maior rendimento agrícola da cidade. Os conimbricenses consideravam-no ainda, em 1556, como o seu principal rendimento.
… A produção excedia as necessidades de consumo. Talvez nem sempre, porém. … Com efeito, o azeite podia ser «exportado» para diversos pontos do País ou para o estrangeiro … em 1535 o azeite é um dos produtos que se evidenciam na saída da alfândega de Buarcos. Com efeito, pelo menos cerca de 2.700 alqueires foram embarcados com destino ao Algarve, às Ilhas Adjacentes, a Arzila, à Galiza, Biscais e Inglaterra.
… O azeite era sobretudo consumido na alimentação, em cru ou cozido, na iluminação e no preparar de certos produtos industriais, como o sabão.
…Os legumes e os frutos eram largamente consumidos em Coimbra … Os produtos hortícolas cultivam-se na própria cidade e arredores. As hortas da Arregaça, na continuação das quintas da Alegria, e as de Coselhas «que produzem muita hortaliça e dão muitos rendimentos».
… Nem todas as quantidades criadas na cidade e no termo eram produzidos em quantidade suficiente … Mas outros, pelo contrário, excediam as necessidades. Dentro destes destacavam-se os alhos e as cebolas … Estes alhos, dos «maiores & mais grados que se podem ver», tinham larga exportação para Castela e Leão.
… Nas «hortas» conimbricenses cultivam-se melões. Em 1605, certamente, os melões de Inverno … Em redor da cidade, em direção ao campo, «além dos lírios, & alguas rosas», havia tanta «erva» cidreira que em qualquer parte do campo se deitavam «homes sobre camas della» … Pela mesma época as favas e ervilhas eram também cultivadas.
… Coimbra, que produzia camoesas (maçãs), exportá-las-ia também? No termo da cidade havia outras qualidades de maçã «de muita dura de q há grãde abastãça & barato» Algum renome deviam ter as cerejas de «saco» e certa espécie de pêssegos … no tempo das uvas chegou a não ser permitido aos moleiros o trânsito pela estrada de Banhos Secos.
Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume II. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg. 325 e 326, 329 a 333
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