Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
No alçado anterior do edifício é bem notória a força de uma gramática classicizante de sabor italiano, mas embora se encontrem aqui as linhas dominantes, não podemos deixar de lhe chamar eclética, no total sentido do termo; é que o ecletismo deixou de ser interpretado como uma posição de incerteza para se transformar numa proposta de liberdade, onde não cabe mais o formulário unilateral .
…. Em arquitetura, mais do que em qualquer outra disciplina artística, os orçamentos são determinantes e a Universidade não dispunha, ao tempo, de verbas vultuosas que fizessem face a um imóvel luxuoso, no entanto queria, certamente, um edifício digno.
Fachada anterior da Faculdade de Letras, projetada pelo Arquiteto Silva Pinto
É dentro destes parâmetros que se apresenta a proposta do arquiteto. Bem ritmado, com o piso térreo de silharia de junta fendida e torreões marcados nas extremidades, a zona central do primeiro andar apresenta as aberturas vazadas no paramento e separadas por pilastras adossadas à parede ou por colunas duplas. A parte superior do vão das janelas oscila entre o arco de volta perfeita e o frontão triangular, para, numa liberdade criativa total, mostrar o lado inferior das ventanas colocadas nos pseudotorreões a acompanhar os degraus da escada interior.
Remata o edifício uma platibanda que faz lembrar os coroamentos tipo Adam's, com um baixo-relevo central, maqueta de Costa Mota (sobrinho), levado a cabo já em 1929.
[O relevo, que media 6x4,5 metros, ostentava na parte superior uma esfera armilar, ao centro a esfinge e na base folhas de louro, uma joeira e livros representando a ciência. Manuel de Jesus Cardoso passou à pedra o projeto apresentado pelo escultor. A imprensa local não regateou elogios ao arquiteto Silva Pinto, a Costa Mota, que já no ano anterior estivera em Coimbra, a fim de se inteirar do contexto onde seria colocada a peça e ao mestre de obras João dos Reis].
Lamentavelmente o projeto não se realizou tal como havia sido concebido. Construído ao longo de duas dezenas de anos, cedo mostrou a exiguidade de espaço. O arquiteto viu-se na necessidade de, no decorrer das obras, criar uma área maior dentro da estrutura prevista. As modificações cifraram-se no acrescento de um piso, o que obrigou os torreões a subir e a dar lugar, em cada um, a três frestas, de pés direitos lisos, coroados por uma balaustrada.
Na platibanda foram suprimidos os graciosos remates hemicirculares, os pilaretes alteados e transformados apresentavam-se agora num “resolve situações” que não eram nem colunas, nem pilastras. O local destinado ao relevo, de levemente arredondado, mudou-se para desproporcionado frontão triangular. Este novo andar, do ponto de vista gramatical, nada tem a ver com o restante edifício, e foi pena, pois o imóvel possuía uma marca de sobriedade, elegância e harmonia.
Além da fachada principal, referida detalhadamente, a construção continha ainda mais três faces a confinar lateralmente com as ruas de S. Pedro, de Entre Colégios e na zona posterior com a das Parreiras.
Fachada posterior da Faculdade de Letras, projetada pelo Arquiteto Silva Pinto
Desta, sobressaem os três grandes janelões rasgados no paramento, a fim de iluminar a sala que se destinava a Museu. Eram coroados por um frontão triangular sobre o qual se destaca a cúpula de ferro e vidro a cobrir o recinto.
Estes alçados, embora mais modestos, não destoavam do conjunto.
Ainda quase por acabar, quando se davam os derradeiros retoques, o camartelo bramido por ordem lisboeta, embora com a aprovação (talvez implicitamente forçada) do Senado da “velha” Universidade, agora a completar sete séculos, arrasou-lhe a fachada, esventrou-lhe as entranhas e desbaratou-lhe parte da decoração.
De qualquer forma, a primeira Faculdade de Letras, no seu conjunto, expressava um maior gabarito do que a atual fachada da Biblioteca Geral, que, ao fim e ao cabo e despudoradamente, ainda se apoderou de grande parte das estruturas interiores. O amplo salão de leitura e a cúpula elíptica, de arrojado traçado, que o encimava, foram reaproveitados, embora a contextura de um mal-amanhado teto disfarce aquela composição; o mesmo aconteceu com o elegante vestíbulo e escadas de acesso.
Portão que fechava uma das portas da Faculdade de Letras, sem a bandeira, e atualmente instalado na entrada poente da cerca do Jardim Botânico.
Nem sequer tiveram dó dos belos portões de ferro forjado, dos magníficos lustres do mesmo material, dos lindos artefactos de talha que se encontravam portas a dentro e do grande vitral de manufatura italiana existente na vasta sala do Museu.
Mas “no reinado dos bota abaixo” o que se poderia esperar de quem não se compadeceu com o derrubar da maior parte do centro histórico da cidade e nem compreendeu o diálogo travado entre o complexo cultural e a malha urbana envolvente, bem como as relações daqueles com a massa humana que ali se movimentava e habitava?
A zona do Paço das Escolas continha em si muito mais do que meras construções, era a memória coletiva de todo um passado que não interessa renegar, mas sim compreender, até para nos abrir a porta do futuro; era o cenáculo da cultura, mas era também o local por onde haviam passado gerações e gerações de estudantes, de frades, de professores, de funcionários; era ainda ali que o saber e os artífices se abraçavam ou se digladiavam, ficando uns no cimo da colina e estendendo-se os outros pela parte baixa da urbe. Com o derribar dos edifícios, lançaram também por terra toda esta vivência.
A personalidade e os conhecimentos do arquiteto Augusto de Carvalho da Silva Pinto ressaltam dos muitos projetos que elaborou durante a vida. O edifício da Faculdade de Letras, sobretudo na sua versão original, comprova-o.
Anacleto, R.; Poilicarpo, I.P.L. O arquitecto Silva Pinto e a Universidade de Coimbra, em Universidade(s). História. Memória. Perspectivas, vol. 2, Congresso História da Universidade. 7.º centenário. Coimbra, 1991, p. 327-346.
Depois da implantação da República, as diversas conjunturas nacionais sofreram fortes mutações e a instituição universitária não escapou ao embate; suprimiram-se algumas faculdades e criaram-se outras em sua substituição, ou a preencher lacunas há muito reconhecidas. É neste contexto que o Decreto com força de lei de 19 de abril de 1911 funda a Faculdade de Letras.
… O problema das instalações colocou-se de imediato à nova direcção; como consequência solicitou ao governo a cedência do terreno onde se andava a construir o edifício destinado ao Teatro Académico e que ocupava o sítio do antigo Colégio S. Paulo.
A Faculdade de Letras foi construída no local onde outrora se erguia o Colégio de S. Paulo Apóstolo
Fachada do lado Nascente do Colégio de S. Paulo Apóstolo
A entrega deste espaço, onde atualmente se encontram erguidos, grosso modo, a Biblioteca Geral e o Arquivo da Universidade, verificou-se através da sua concessão outorgada pelo ministro do Fomento, António Aurélio da Costa Ferreira e foi festivamente noticiada pela imprensa local.
Para riscar a nova casa universitária encarregaram o arquiteto Augusto de Carvalho da Silva Pinto, professor na Escola Industrial de Brotero e que já prestava esporadicamente o seu concurso àquela instituição. O Conselho da Faculdade aprovou as plantas e alçados do novo edifício a 31 de julho de 1913.
O profissional, dada a grande envergadura do imóvel, viu aqui a possibilidade de projetar um edifício capaz de comportar os conhecimentos adquiridos na escola lisboeta e aprofundados no estrangeiro, até porque a especificidade do arquiteto reside na liberdade de escolher entre as diversas formas arquitetónicas; trata-se de uma prerrogativa individual, que brota do sentimento e não é filha da razão.
Silva Pinto projetou uma fábrica que patenteava uma fachada equilibrada e harmónica, onde os volumes e o movimento provocado pelas aberturas, pilastras e colunas jogavam com a luz.
Faculdade de Letras primitiva, construção da cúpula
O espaço exterior do edifício apresentava uma forma entre o retangular e o trapezoidal; quanto ao interior, embora ajustando-se ao fim a que se destinava, aproveitava algumas fundações do inacabado, ou melhor, mal começado, Teatro Académico.
O então Diretor da Faculdade de Letras, Doutor António de Vasconcelos, a 12 de dezembro de 1914, escreveu-lhe uma carta a comunicar “que o Conselho da Faculdade de Letras, (...) em sessão hoje celebrada para inauguração da parte já concluída do seu edifício em construção, resolveu por unanimidade que se lançasse na acta um voto de louvor pelo “zelo, saber, competencia e desvelado carinho com que VEx.ª fez o estudo da modificação e adaptação, para instalação da Faculdade de Letras, do antigo projécto do teatro académico, aproveitando quasi toda a obra que já se achava realizada; e com que tem dirigido superiormente os trabalhos de construção do mesmo edifício.
Fazendo esta comunicação a VEx.cia junto aos louvores oficiais a expressão dos meus sentimentos pessoais de grata admiração.
“Saúde e Fraternidade.”
Anacleto, R.; Policarpo, I.P.L. O arquitecto Silva Pinto e a Universidade de Coimbra, em Universidade(s). História. Memória. Perspectivas, vol. 2, Congresso História da Universidade. 7.º centenário. Coimbra, 1991, p. 327-346.
A primeira notícia conhecida e que nos fala da possibilidade de criar uma Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra remonta ao tricentenário da morte de Camões, ocorrido em 1880. Este organismo e a academia não se mantiveram passivos frente a um acontecimento de tamanha monta.
Coimbra, inauguração do monumento a Camões
O final do século XIX foi fértil em comemorações que iam sendo aproveitadas pelos partidos, pela monarquia ou pelas sociedades secretas. O camoniano, bem inserido no espírito romântico e imbuído de nacionalismo, em virtude da incúria real, acabou por servir os republicanos.
Procissão cívica da comemoração do centenário camoniano. Lisboa. In: “O Occidente”
Reunido o colégio universitário conimbricense em Claustro Pleno no dia 17 de abril de 1880, foram apresentadas várias propostas tendentes a comemorar condignamente a efeméride. O Dr. Augusto Filipe Simões, entre outras medidas, apontou para a necessidade de instituir uma Faculdade de Letras, que, simultaneamente, celebrava o tricentenário e preenchia uma lacuna já sentida no quadro das faculdades vigentes.
Este alvitre veio a transformar-se em reivindicação, porque em 1888 na sessão solene da abertura da Universidade, o Reitor Adriano de Abreu Cardoso Machado, prometeu empregar todos os esforços, a fim de atingir esse objetivo e em 1907, uma comissão de professores das diversas faculdades empenhou-se para conseguir fins idênticos.
As propostas quedaram-se pelas intenções e só trinta anos após a primeira tentativa, já então num quadro político e mental bem diverso, se veio a concretizar aquilo que o Doutor António Ribeiro de Vasconcelos considerava “uma necessidade urgente e inadiável”.
Faculdade de Letras, localizações.
Depois da implantação da República, as diversas conjunturas nacionais sofreram fortes mutações e a instituição universitária não escapou ao embate; suprimiram-se algumas faculdades e criaram-se outras em sua substituição, ou a preencher lacunas há muito reconhecidas. É neste contexto que o Decreto com força de lei de 19 de abril de 1911 funda a Faculdade de Letras.
Este alvitre veio a transformar-se em reivindicação, porque em 1888 na sessão solene da abertura da Universidade, o Reitor Adriano de Abreu Cardoso Machado, prometeu empregar todos os esforços, a fim de atingir esse objetivo e em 1907, uma comissão de professores das diversas faculdades empenhou-se para conseguir fins idênticos.
As propostas quedaram-se pelas intenções e só trinta anos após a primeira tentativa, já então num quadro político e mental bem diverso, se veio a concretizar aquilo que o Doutor António Ribeiro de Vasconcelos considerava “uma necessidade urgente e inadiável”.
Anacleto, R.; Poilicarpo, I.P.L. O arquitecto Silva Pinto e a Universidade de Coimbra, em Universidade(s). História. Memória. Perspectivas, vol. 2, Congresso História da Universidade. 7.º centenário. Coimbra, 1991, p. 327-346.
…. a municipalidade no derradeiro ano do século XIX encomendou-lhe “o projeto de um mercado público destinado ao local onde se vê o de D. Pedro V”, cuja construção ocorrera em 1867.
Mercado D. Pedro V, inícios do séc. XX
Verdade seja que o referido mercado nasceu em má hora; da obra completa, mais tarde retomada, mas nunca efetivada, passou-se apenas ao pavilhão destinado à venda do peixe e mesmo este arrastou-se penosamente, pois só veio a ser inaugurado a 8 de março de 1908.
A velha praça, ainda hoje ao serviço do público [1991] quase sem ter recebido nenhuma obra de beneficiação, merecia já, em 1917, [por parte do jornal “O Despertar”] este irónico comentário: “Também faz hoje 50 anos (já meio século!) que foi inaugurado o mercado D. Pedro V. Está a pedir museu das raridades”.
Mercado D. Pedro V, projeto de Silva Pinto
Mercado D. Pedro V, pavilhão do peixe fachada nascente
Mercado D. Pedro V, interior do pavilhão do peixe
Foi este, sem dúvida, o edifício mais ousado que Silva Pinto projetou para Coimbra. Todo em ferro, tijolo e vidro, seguia os moldes europeus. Não se pode esquecer que o arquiteto havia regressado de França onde as estruturas de ferro apareceram esporadicamente no final do século XVIII e conheceram uma verdadeira expansão nos anos quarenta de Oitocentos. Utilizadas indistintamente em edifícios utilitários ou não e ainda como material auxiliar nalgumas construções, surgem nos teatros, estufas, mercados, pontes, palácios de cristal, para atingir o delírio, em 1889, na famosa Torre Eiffel.
A estética da metalurgia é descoberta e afirma-se através das finas colunas metálicas e da plasticidade do ferro fundido.
Até mesmo John Ruskin, em 1849, embora sendo contra todo o tipo de industrialização, não deixava de afirmar que “provavelmente se avizinha uma época em que se desenvolverá um novo sistema de leis arquitetónicas, adaptadas por inteiro à construção metálica”.
No entanto, apesar de se tratar de uma construção bem dentro dos parâmetros utilizados na época, embora dentro de proporções modestas, mas de acordo com os orçamentos disponíveis, a verdade é que aquando da polémica havida, por volta de 1921, em torno da intervenção levada a cabo na igreja crúzia de S. João, transformada em “Café de Santa Cruz”, obra reprovada por Silva Pinto, como o foi por António Augusto Gonçalves e outros, um dos jornais citadinos não se eximia de, para atacar o arquiteto, apelidar de “aquário” o pavilhão da venda do peixe.
Anacleto, R.; Poilicarpo, I.P.L. O arquitecto Silva Pinto e a Universidade de Coimbra, em Universidade(s). História. Memória. Perspectivas, vol. 2, Congresso História da Universidade. 7.º centenário. Coimbra, 1991, p. 327-346.
A urbe mondeguina, que durante séculos vivera num apertado perímetro, devido à explosão demográfica e a um certo crescimento económico, rompe os limites tradicionais e alastra pela antiga quinta dos frades crúzios.
A Quinta foi comprada a um particular pela Câmara Municipal, em Janeiro de 1885 que pagou por ela 22.000$000 réis, mas, dois anos depois, na sessão de 17 de Fevereiro de 1887, “Resolveu fazer venda da Quinta de Santa Cruz, caso se apresente ensejo, com vantagem para o município”. Felizmente que a minoria republicana se opôs e o negócio não se efetivou (Resistencia, 228, Coimbra, 1897.05.29).
Em 1889 a zona já possuía um incipiente projecto de urbanização e iniciou-se a venda dos primeiros lotes de terreno destinados à construção de habitações. O local começava a alindar-se, mas não responde cabalmente às necessidades e o Bairro do Penedo da Saudade surge timidamente.
Em 1904 o engenheiro Augusto Barbosa é encarregado pela municipalidade de elaborar o projeto.
Silva Pinto desenha a casa do Doutor Ferrand Pimentel de Almeida, a construir na Avenida Dias da Silva e Raul Lino aproveita para expor os seus trabalhos no Instituto de Coimbra “em virtude de se estar a programar o Bairro do Penedo da Saudade, onde ficam muito bem prédios daquele tipo”.
Casa do Doutor Ferrand Pimentel de Almeida
Quase logo de seguida começa a falar-se no desenvolvimento do chamado Bairro da Cumeada, em Celas, mas o seu crescimento tarda e só bastante anos depois experimenta um verdadeiro surto de progresso.
A Universidade, a Câmara Municipal e alguns particulares utilizam os seus serviços. A primeira, a partir de 28 de outubro de 1913, passa a pagar-lhe mensalmente 5$00 “por ser o superintendente das obras”
Anacleto, R.; Poilicarpo, I.P.L. O arquitecto Silva Pinto e a Universidade de Coimbra, em Universidade(s). História. Memória. Perspectivas, vol. 2, Congresso História da Universidade. 7.º centenário. Coimbra, 1991, p. 327-346.
Iniciamos hoje a divulgação de um texto publicado em 1991, pelas Professoras Doutoras Regina Anacleto e Isabel Policarpo e apresentado no Congresso História da Universidade, integrado nas comemorações do sétimo centenário da Universidade em Coimbra. Desse texto, dada a sua extensão e os diferentes temas nele tratados, extraímos um conjunto de seis entradas que a seguir se publicam.
O arquiteto Augusto de Carvalho da Silva Pinto nasceu em Lisboa a 7 de maio de 1865 e era filho de João António da Silva Pinto. Depois de ter frequentado o “Instituto Industrial e Comercial de Lisboa”, matriculou-se, em 1882, no Curso Geral de Desenho da “Escola de Belas Artes” e, seguidamente, inscreveu-se na especialidade de Arquitectura Civil, que integrava o curriculum daquela escola lisboeta.
Durante algum tempo lecionou no estabelecimento de ensino onde se havia formado e onde fora aluno brilhante, mas logo de seguida partiu para Paris, a fim de se valorizar e tomar contacto com as novas correntes estéticas então ainda pouco difundidas no nosso país. Regressou em 1895 e, logo depois, veio fixar residência em Coimbra, terra que adotou como sua.
Este facto revestiu-se de grande significado para a cidade, que se encontrava afastada dos grandes centros, fechada sobre si mesma, sem possibilidade de se desenvolver, e passou a dispor de um homem com conceções arquitetónicas modernas, capaz de colocar o seu saber ao serviço da comunidade.
Logo após a chegada e acumulando com outras tarefas, entra como professor para a Escola Industrial Brotero onde permaneceu, ensinando gerações, até atingir o limite de idade; além disso, integra-se na vida artística do burgo, que quase se reduzia só à Escola Livre das Artes do Desenho fundada por Mestre António Augusto Gonçalves em 1878, e por todos os artistas e artífices que gravitavam em torno dela.
Arquiteto Augusto de Carvalho da Silva Pinto
… Silva Pinto, ao longo dos anos que permaneceu em Coimbra não se desligou do quotidiano. Relacionado com a vida artística, pois, para além da sua atividade profissional esteve intimamente ligado com a Escola Livre das Artes do Desenho, com Mestre Gonçalves, com o Dr. Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, mais conhecido por Quim Martins, e ainda com os numerosos artistas saídos desses dois alfobres que foram as escolas da Torre de Almedina e a Brotero, andou também de braço dado com a política.
Pertenceu ao executivo municipal, exerceu o cargo de Governador Civil Substituto e, mais tarde, por discordar do sistema vigente instaurado após 1928, conheceu mesmo as agruras da prisão. Republicano convicto acabou por ser preso a 6 de maio de 1930 e, embora libertado onze dias depois, foi-lhe imposta residência fixa em Tentúgal, até agosto do mesmo ano.
… A personalidade e os conhecimentos do arquiteto Augusto de Carvalho da Silva Pinto ressaltam dos muitos projetos que elaborou durante a vida. O edifício da Faculdade de Letras, sobretudo na sua versão original, comprova-o. É verdade que o fulgor inicial das suas realizações foi esmorecendo ao longo dos decénios. Para isso contribuiu, certamente, a estagnação económica que também se repercutiu na cidade, a guerra de 1914-1918 e ainda o facto de se ter instalado demasiadamente em Coimbra. Sem contactos com a capital e com o estrangeiro, os seus conhecimentos não evoluíram em consonância com as suas muitas capacidades e não acompanharam as novas correntes arquitetónicas, sobretudo as dimanadas de Paris que continuava a ser o “omphalos” da Arte. Acabou por ficar preso na teia que ele próprio urdira.
De qualquer forma não podemos deixar de, numa análise desapaixonada e séria, enaltecer a obra do arquiteto Augusto de Carvalho da Silva Pinto pelo trabalho desenvolvido em prol da cidade, que o não teve por berço, mas à qual se devotou inteiramente.
Anacleto, R.; Poilicarpo, I.P.L. O arquitecto Silva Pinto e a Universidade de Coimbra, em Universidade(s). História. Memória. Perspectivas, vol. 2, Congresso História da Universidade. 7.º centenário. Coimbra, 1991, p. 327-346.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.