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No próximo dia 31 de Janeiro, às 18h00, na sala D. João III, as Conversas Abertas retomam o caminho iniciado em 2019, na então designada Casa da Escrita, numa iniciativa do blogue A´Cerca de Coimbra.
Vicissitudes várias, incluindo a crise do COVID, impuseram uma interrupção após a qual, em 2022, veio a ser acolhida pelo Arquivo da Universidade de Coimbra. Entidade que, desde o ano passado, assume o todo da sua organização, mantendo o esquema inicial:
. Decorrem no última sexta-feira dos primeiros seis meses de cada ano, às 18h00, na sala D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra;
. Após a intervenção do tema pelo palestrante, segue-se um período aberto à livre participação dos assistentes.
Os seguidores desta iniciativa – aberta a quantos amam e se preocupam com Coimbra – podem tomar conhecimento do programa para o ano em curso na imagem que se divulga da folha de sala que irá ser distribuída no próximo dia 31.
Esperamos por todos.
Rodrigues Costa
É já de hoje a 8 dias – na próxima 6.ª feira, dia 31 de maio, às 18h00 – que no Arquivo da Universidade de Coimbra se realizará a antepenúltima Conversa Aberta do ciclo deste ano.
Conversa Aberta de 31 de maio de 2024, cartaz
Será dedicada à descoberta da história do Instituto de Coimbra, uma instituição a caminho de ser bicentenária – foi fundada em 1852 - e hoje demasiado desconhecida.
Daí a importância de lembrar à Urbe Conimbricense, o papel muito relevante que, ao longo dos seus 172 de existência, desempenhou em prol da divulgação do desenvolvimento científico aqui ocorrido, bem como na dignificação da nossa Universidade e, concomitantemente, da Cidade.
Será palestrante a Doutora Licínia Rodrigues Ferreira.
Conversa Aberta de 31 de maio de 2024, cartaz
A todos solicito a ajuda que for possível na divulgação desta Conversa Aberta.
Obrigado.
Rodrigues Costa
A obra que vimos revelando aos nossos leitores encontra-se dividida em duas partes.
A primeira que corresponde à entrada anterior e às primeiras 20 páginas do livro, aborda a questão dos documentos fundacionais da Universidade portuguesa e o achamento do único documento conhecido que autentifica a sua fundação por D. Dinis.
Uma segunda parte que corresponde à presente entrada, procura descrever a génese e evolução dos selos que roborando um pergaminho lhe davam a força e a capacidade legal para imporem o que nele estava escrito.
O autor situa o início, grosso modo, desta prática no século X e que a mesma foi iniciada por autoridades eclesiásticas.
No que concerne a Portugal, diz, António de Vasconcelos.
Em Portugal parece que foi D. Sancho I quem introduziu este uso. Pelo menos é dele, e apenso a um documento do ano de 1189, o mais antigo dos selos pendentes de que nos dá conta D. António Caetano de Sousa, que o reproduz em gravura. Mais recentemente João Pedro Ribeiro, e por fim A. C. Teixeira de Aragão, também a ele se reportam, como sendo, entre os selos «certos» dosmonarcas portugueses, o mais antigo dos selos pendentes conhecidos.
Tem, como os seus coevos, a forma de amêndoa, com a ponta voltada para baixo.
…. Temos uma nítida reprodução deste selo nas coleções esfragísticas da Faculdade de Letras de Coimbra.
… Em Portugal os reis Sancho I, Afonso II e Sancho II usaram selos de tipo «heráldico» [os selos de autoridade], cujo campo era preenchido pelo escudo nacional das quinas, sem bordadura de castelos, tendo na orla a inscrição. Nunca usaram «selo de majestade». Os restantes reis da primeira dinastia continuaram no mesmo uso, mas além daquele selo comum e usual, tiveram um outro, com uma face «heráldica», outra de «autoridade», que usavam raramente, num ou noutro diploma mais importante e distinto; excetua-se o rei D. Pedro I, que não consta jamais usasse selo de «autoridade» ou do «cavalo», como então se dizia.
Selo de autoridade de D. Afonso IV, publicado por D. António Caetano de Sousa. Op. cit., pg. 31.
Reprodução em gesso, existente no Museu Municipal do Porto do selo de autoridade de D. Dinis, do Arquivo Nacional parisiense.
Op. cit., Pg. 35
Cumpre-me agradecer à Sr.ª Dr.ª Ana Maria Bandeira a disponibilização das imagens a seguir apresentadas, dos selos que considerou os mais bonitos da coleção que o Arquivo da Universidade de Coimbra possui.
- Selo dos Estatutos do Cabido da Sé de Coimbra
Selo dos Estatutos do Cabido da Sé de Coimbra. 1454-1457
Representa uma Anunciação da Virgem, podendo ver-se o Anjo da Anunciação do lado esquerdo. Datado de 1454-1457, autentifica os Estatutos do Cabido da Sé de Coimbra elaborados durante o pontificado do Bispo D. Afonso Nogueira.
Selo de cera vermelha do Bispo de Silves, D. Álvaro, Legado a latere, que confirmou os referidos Estatutos em 1457; suspenso de cordão vermelho; formato circular.
Cabido da Sé de Coimbra (F); Coleção de Pergaminhos (Col). AUC-V-3.ª-Móv.7 – Gav. 5 – n.º 2
- Selo de carta de emprazamento. 1477
Selo de carta de emprazamento. 1477, dezembro, 6. Cárquere (c. Resende, d. Viseu)
Carta de emprazamento em três vidas feita por D. Rui Vasques, prior do Mosteiro de Santa Maria de Cárquere, da Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, a João de Sequeira, escudeiro do Conde de Penela e a sua mulher e um filho ou pessoa que um deles nomeasse. O prazo era formado por umas pesqueiras no rio Douro, pelas quais pagaria de foro seis lampreias ou, não havendo lampreias, pagaria seis pescadas frescas.
Selo do abade do Mosteiro, de cera castanha sobre cocho de cera branca, suspenso de cordão castanho e branco; formato circular.
Mosteiro de Santa Maria de Cárquere (F); Coleção de Pergaminhos (Col). AUC -IV-3.ª-Gav. 23A-n.º 19
- Selo da Ordem de Cristo. 1528
Selo de uma carta de D. João III. 1528, março, 2. Almeirim
Carta de D. João III enviada ao corregedor das Ilhas dos Açores e aos juízes e oficiais da Ilha Terceira, contendo o privilégio de Couto da Quinta e Herdade de Porto da Cruz, dos Biscoitos, na Ilha Terceira. A pedido que lhe fora enviado pelo seu proprietário, Pedro Anes do Canto, fidalgo da Casa Real, o Rei envia uma proibição para que ninguém lá possa caçar, pois ali tinha o seu proprietário criação de pavões e galinhas da Guiné, desejando iniciar ainda a criação de coelhos, perdizes e outras aves.
Selo de cera vermelha em cocho de madeira; suspenso de cordão castanho e branco; formato circular.
Selo da Ordem de Cristo, a cujo Mestrado pertencia a Ilha Terceira, sendo o Rei o seu Mestre.
Coleção Martinho da Fonseca (COL); Miscelânea de Documentos, cx. XIX, n.º 67. AUC-VI-3.ª-1-3-14
Vasconcelos, A. O diploma dionisiano da fundação primitiva da Universidade portuguesa. (1 de março de 1290).1990, Arquivo da Universidade de Coimbra.
É já depois de amanhã, 6.ª feira, dia 27 de janeiro que às 18h00, se iniciam as Conversas Abertas deste ano que irão decorrer na Sala de D. João III, do Arquivo da Universidade de Coimbra.
E para bem começar o Dr. Mário Araújo Torres irá falar de três personalidades ligadas a Coimbra, que se tornaram marcantes na vida cultural nacional na segunda metade do século XIX, todos autodidatas.
AUC. Pormenor da Folha de Sala
Sobre o Palestrante já tivemos ocasião de escrever, em 17 de fevereiro de 2022
Dr. Mário de Araújo Torres
Sendo a importância da reedição de textos, há muito esquecidos e esgotados, de autores que escreveram sobre Coimbra, inquestionável, lembra-se, mais uma vez, que após a sua jubilação o Dr. Mário de Araújo Torres, se dedicou à recolha e reedição – à sua custa, hoje, com mais de 10 títulos publicados – de autores que em Coimbra desenvolveram a sua atividade.
É exemplo um dos primeiros que editou: a produção etnológica e pedagógica do poeta Afonso Duarte.
Embora sabendo que Mário Araújo Torres é avesso a agradecimentos, temos repetidamente afirmado, e mais uma vez o fazemos, que Coimbra lhe deve um institucional: OBRIGADO.
Na modéstia do conimbricense que somos, pelo nosso lado, aqui fica esse reconhecimento, acrescentando que o Dr. Mário Araújo Torres é credor de todos os conimbricenses de uma palavra simples, mas que diz muito: OBRIGADO.
Agradecimento, que é feito perante o silêncio do Município já tantas vezes alertado para este seu dever.
Coimbra não pode, nem deve, continuar a ser madrasta quer para os seus filhos, quer para quantos fizeram de Coimbra a sua cidade.
Rodrigues Costa
O Arquivo da Universidade de Coimbra, dedica o Documento do Mês a um pequeno livro datado de 1748, escrito sob o pseudónimo, Paulo Moreno Toscano e, como era uso da época, com o longo título (sic) Concelhos para os Novatos. Occuparem o tempo das Ferias, com a utilidade do seu adiantamento; e dictames para devorarem o «Mino-Tauro» de hum engano enserrado no «labyrintho» de inumeraveis lograções, o qual à instancia do «Minos» de hum Veterano, tributario do mesmo monstro na «Creta» Conimbricense, fabrica o «Dedalo» de hum depravado gosto.
Capa do livro. PT/AUC/PFM/JV – Jardim de Vilhena (F) – VI-3.ª- 2-3-12.
O livro é assim descrito.
Neste mês trazemos à divulgação um raro opúsculo, de oito páginas, impresso por Francisco de Oliveira, impressor da Universidade e também do Santo Ofício. Pouco se conhece do seu autor, a não ser o que ele próprio nos diz no citado opúsculo. Era, certamente, estudante da Universidade, como afirma. “E a Deus que se faz tarde, outro dia te contarei o mais que passei no anno de Candieiro”. E logo nesta frase nos dá a conhecer o jargão dos estudantes de Coimbra, pois a designação de candeeiro aplicava-se, como em outra parte do texto refere, aos estudantes do quarto ano, por ser esse ano, “aquele em que os Estudantes com as luzes da Ciencia, costumaõ resplandecer, e luzir...”.
No entanto, o nome deste autor, Paulo Moreno Toscano, não figura no ficheiro de alunos da Universidade, levando a supor que terá utilizado um pseudónimo.
Todo o texto é escrito com humor, não faltando alguma sátira a costumes da academia, os quais só com uma leitura atenta podemos descortinar, tal é a verbosidade do autor. Mas não pode deixar de citar-se a alusão às tradições gastronómicas e à toponímia, com alguns dos locais tradicionais de Coimbra, onde acorriam os estudantes de fora da cidade, mal aqui chegavam, como a Fonte dos Amores ou Santo António dos Olivais. É bem elucidativo o texto, quando se lê (atualizando a grafia): “levando-me a Santo António dos Olivais me fizeram pagar um tabuleiro de tigelinhas de manjar branco, que uma mulher tinha para vender, não me dando mais que duas para provar. Bem via eu que havia de pagar as favas que o asno comeu, por alto preço e agora alcanço que é bem louco o Novato que crê em palavras de veteranos...”.
Os códigos de praxe estavam já instalados e este opúsculo é fértil nos testemunhos do que se passava com todos os estudantes, fossem eles um novato, semiputo, candeeiro ou veterano. Este opúsculo virá a ter sequentes edições, três anos depois, em Lisboa, na oficina do impressor Domingos Gonçalves, em 1751 e uma outra, também em Lisboa, pelo
impressor Inácio Nogueira Xisto, em 1765, estando já nestas edições corrigida a grafia Conselhos.
Esta obra, em toda a sua escrita satírica e jocosa, juntamente com outros títulos como Palito Métrico e a Carta de Guia para os Novatos, são essenciais para conhecer as antigas tradições académicas, a sociabilidade estudantil e tantas outras circunstâncias da vida dos académicos em Coimbra que hoje são desconhecidas de muitos.
Concelhos para os novatos… / intimados por Paulo Moreno Toscano. Coimbra: Na Officina de Francisco de Oliveira, Impressor da Universidade e do S. Officio, 1748. Acedido em https://www.uc.pt/.../docs/documentodomesdeoutubro2022
Como já temos referido, o Arquivo da Universidade de Coimbra integra exemplares que são verdadeiras preciosidades, as quais vai revelando, periodicamente, no seu site.
Hoje recuperamos esta magnifica encadernação mudéjar cuja história é a que se segue.
AUC-IV-1.ªE-7-5-13 [Séc. XVI?]
AUC-IV-1.ªE-7-5-13 [Séc. XVI?]. Pormenor 1
AUC-IV-1.ªE-7-5-13 [Séc. XVI?]. Pormenor 2
Esta encadernação mudéjar, em pergaminho, foi adaptada ao Livro de Apresentação de Colegiaturas e familiaturas do Pontifício e Real Colégio de São Pedro (1623-1790).
Exemplar único no AUC é, certamente, uma tipologia de encadernação rara em outros arquivos do país. Terá sido adquirida, pelo referido Colégio, a comerciantes livreiros de Coimbra que a trouxeram, decerto, de Espanha, onde existem inúmeros exemplares destas encadernações.
Anteriormente, pertenceu a uma obra que tinha por título, que ainda pode ser lido, no interior da badana, Manual 1591. Também a dimensão do miolo do volume atual, ligeiramente superior à da encadernação, confirma que foi feito esse reaproveitamento.
As presilhas de fecho desta encadernação em envelope, com badana, estão completas, mas já são omissos os botões de fecho, geralmente feitos com uma tira de pergaminho enrolada, restando apenas o vestígio dos mesmos.
AUC. O documento do mês. Acedido em https://www.uc.pt/anossauc/centrodoconhecimento/encadernacao/
Prosseguindo na séria “Documento do mês” o Arquivo da Universidade de Coimbra, divulgou esta preciosidade
Séc. XVI (?) – Letra capital iluminada de um fólio de pergaminho que foi recuperado para servir de encadernação. PT/AUC/DIO/CST – Colegiada de São Tiago (F); Escritura de obrigação de missas (DC) – III-1.ªD-8-5-23. Acedido em: documentodomesdeagosto2022 (uc.pt)
Estamos em presença do reaproveitamento de um fólio de pergaminho, de livro litúrgico com notação musical, para ser utilizado como capa de uma escritura de obrigação de missas.
A escritura de obrigação, datada de 15 de novembro de 1633, estabelece o cumprimento de um legado pio, de celebração anual de três missas rezadas, feita por Bernarda de Vargas, viúva do impressor Jorge Rodrigues. Para cumprimento desta disposição, deixa em legado, à Colegiada de São Tiago, umas casas “de sobrado”, na Rua do Corpo de Deus.
O documento foi redigido na Rua da Moeda, em Coimbra, pelo tabelião Lopo de Andrade, perante Bernarda de Vargas e a seu pedido. As missas seriam celebradas na igreja Colegiada de São Tiago, da seguinte forma: uma pelo Natal, outra pela Páscoa e outra pelo Espírito Santo, sendo a esmola por cada missa cinquenta réis.
Apesar de se poder ler “Obrigação das missas das cazas do P.e Domingos Fernandes”, este título não corresponde ao conteúdo da escritura, mas sim um outro título que se encontra no início do volume, na capa, no plano superior: “Cazas da Rua do Corpo de Deus tem três missas”.
O acervo desta Colegiada de São Tiago inclui documentação para o período cronológico de 1511 a 1854, tendo sido, neste último ano, suprimidas todas as colegiadas de Coimbra, por decisão do Bispo D. Manuel Bento Rodrigues. Abrange outra documentação relativa a disposições pias, mas o acervo é formado, sobretudo, por livros de escrituras de emprazamento, aforamento e venda, livros de receita de foros e rendas, tombos de medição e demarcação, livros de receitas e despesas, etc.
O fragmento de pergaminho com uma bela iluminura da letra capital A (dim. 200 mm alt. X 160m larg.) numa policromia de cores vermelha, azul e sépia, denota algum desgaste, por manuseamento e sujidade. No entanto, ainda é possível apreciar pormenores do filigranado da decoração, em motivos vegetalistas e pássaros, num trabalho de desenho muito meticuloso.
O pentagrama da notação musical, em linhas a vermelho, com notação quadrada, a sépia, permite atribuir ao fragmento e volume ao qual terá pertencido, a datação do séc. XVI, muito provavelmente. São ainda visíveis os atilhos da encadernação, em pele escura, dos quais apenas resta um completo. Não é de descartar a hipótese de o próprio livro em pergaminho, a que pertenceu o presente fragmento, ter sido um livro de cantochão da Colegiada que já estaria inutilizado e, por isso mesmo, foi reaproveitado.
Documento acedido em : documentodomesdeagost
O documento referente ao mês em curso, da série Documento do Mês, que o Arquivo da Universidade de Coimbra vem divulgando é um interessante desenho guardado naquela Instituição e sobre o qual são apresentadas as seguintes imagens e texto.
DOCUMENTO DO MÊS - JANEIRO - 2022
1871 – Desenho com as iniciais de AACM e as palavras Universidade de Coimbra, no 1.º plano, com as armas do Brasil e os anos 1870 e 1871, no 2.º plano. PT/AUC/APF/JV – Jardim de Vilhena (F); Desenhos e Gravuras (Col), cx.1, n.79 – cota AUC–VI-3.ª-2-4-1
O desenho que se apresenta, de elaborada idealização, com entrelaçados a tinta negra, deixando entrever, em alguns pontos, o traço original a grafite não foi identificado pelo seu anterior possuidor, João Jardim de Vilhena, como o refere no texto que redigiu no verso, o qual termina: “Como nele se exprime Universidade de Coimbra, acho que ele muito bem está no Arquivo ou Museu d’Arte da mesma Universidade”.
A alusão a Museu de Arte deve-se ao facto de o Arquivo ter sido também Museu de Arte Sacra, entre 1911 e 1960.
Ignoramos a forma como Jardim de Vilhena terá adquirido este desenho que pertenceu a Carvalho Monteiro mas isso é quase irrelevante, perante a dádiva feita ao AUC pelo colecionador. No entanto, Jardim de Vilhena reconheceu o desenho das armas do Brasil, apesar de a coroa não ser a de Imperador, bem como o ano de 1870-1871.
As iniciais correspondem ao nome de António Augusto de Carvalho Monteiro (1848-1920), natural do Rio de Janeiro que concluiu naquele ano letivo, de 1870-1871, o curso de Direito, na Universidade de Coimbra.
Muito provavelmente, este desenho destinava-se a ser pintado na pasta de luxo do então estudante de Coimbra ou teria como finalidade algum outro trabalho artístico, com o propósito de evocar esse momento.
Carvalho Monteiro, a quem popularmente se cognominava “Monteiro dos Milhões”, numa alusão à sua vasta fortuna, destacar-se-ia ao longo da sua vida por obras de mérito que deixaram o seu nome para a posteridade. Era um conceituado bibliófilo, mas também um investigador, colecionador de arte, etc.
A sua ligação à Universidade de Coimbra perdurou e os seus descendentes ofereceram à instituição uma bela coleção de borboletas, hoje existente no Museu da Ciência. Era uma apaixonado por borboletas (pertenceu a várias sociedades internacionais entomológicas) e fazia saídas para o campo para as estudar e capturar, sendo muito rara uma sua fotografia, colhida no Luso, em 1870, com todo o equipamento de entomologista.
Imagem acedida em: https://archive.org/details/AntonioAugustoCarvalhoMonteiro-UmNaturalistaPioneiro/AacmColecesVr/page/n1/mode/2up?view=theater
Publicou algumas obras sobre lepidópteros, a par com verdadeiros cientistas do tema, tendo sido pioneiro no estudo e elenco das borboletas em Portugal.
Quanto à sua Quinta da Regaleira (Sintra) onde mandou construir um Palácio, com desenho do arquiteto Luigi Manini, mas sob suas instruções, não existirá edifício que mais interpretações suscite, face a toda uma prolífica simbologia esotérica e maçónica que apresenta.
O mesmo se diga do seu jazigo, com desenho do mesmo arquiteto, construído no Cemitério dos Prazeres (Lisboa), onde ficou sepultado em 1920, após o falecimento no seu Palácio da Regaleira.
Arquivo da Universidade de Coimbra. Documento do Mês – Janeiro – 2022. Acedido em https://www.uc.pt/auc/article?key=a-74e04b2ad5
No âmbito da evocação da Noite Europeia dos Investigadores: ciência para o clima, o Arquivo da Universidade de Coimbra, divulgou no passado dia 24 de setembro, uma muito curiosa exposição documental on-line, intitulada “cando o Ryo de Mondego he cheeo”, quando tudo foi destruído pela pedra e alagados os terrenos. Documentos do AUC (séc. XV-XIX).
O belo catálogo desta exposição está acessível em https://www.uc.pt/auc/slideshow/docs/noiteeuropeiadosinvestigadores?fbclid=IwAR0njcS_LdO6SsGDotTd-r-2ky9qgY8uX-M68QnVkZyYlp099gjFUZWhi8c.
Como refere a Diretora do Arquivo, Professora Doutora Maria Cristina Vieira de Freitas, o objetivo desta iniciativa foi o de dar resposta à seguinte interrogação: “Como pode a ciência contribuir para o conhecimento sobre as causas e efeitos das alterações climáticas e para a neutralidade do clima até 2050?”
O contributo do AUC é constituído pela apresentação de um conjunto de 12 documentos existentes naquela Instituição que ilustram alguns dos fenómenos que encontram as suas origens nos vários eventos cíclicos climáticos.
PT/AUC/HOS/HSLC – Hospital de São Lázaro de Coimbra (F); Coleção de pergaminhos (COL) - AUC-IV-3.ª- Gav. 52- pt. 2 - n.º 61
Respigamos do Catálogo os seguintes documentos:
- Documento 1, Emitido em Coimbra e datado de 11 de janeiro de 1452, do qual é apresentada a seguinte síntese.
Aforamento feito por Gonçalo Pires, vedor e João Gonçalves do Rio, escrivão do Hospital de São Lázaro, juntamente com os lázaros do dito Hospital, a João Afonso Pintor e sua mulher Catarina Anes, moradores em Coimbra, de certas propriedades localizadas em Rio de Vide. Pagariam de foro anual dois alqueires de trigo e um capão, postos no Hospital, por dia de São Miguel de setembro, ou seja, dia 29.
A escritura foi feita pelo tabelião Pedro Dias, na quintã do Hospital «honde os lazaros soem de hir folgar cando o Ryo de Mondego he cheeo” (v. linha 5 do documento). Desde sempre, o rio determinou a saída da população, de uns locais para outros, devido às enchentes, sobretudo nos meses de inverno, como é o caso deste documento, do séc. XV.
Anote-se a particularidade da frase escrita à cabeça do documento, na margem superior, em letra de diferente punho: “esta hase de aclarar com o remedio”. Esta frase é elucidativa sobre o uso de um “remédio” a famosa solução de noz de galha, utilizada para tornar mais nítida a leitura de um documento em pergaminho, quando a tinta estava delida, mas que o inutilizava, ao deixar secar sobre toda a superfície da pele, essa mesma solução.
PT/AUC/HOS/HSLC – Hospital de São Lázaro de Coimbra (F); Coleção de pergaminhos (COL) - AUC-IV-3.ª- Gav. 52- pt. 2 - n.º 61
- Documento 3. Emitido em Coimbra em 1633, do qual é apresentado o seguinte resumo.
Registo da neve trazida para Coimbra, para o Real Colégio de São Pedro, referindo-se que o neveiro a começou a trazer no dia 26 de maio de 1633: “e trouxe nesse dia sinco arrobas e doze arrates”.
As informações lançadas neste pequeno volume evidenciam o transporte de neve (ou gelo) a partir da Lousã, nos meses de maio a setembro.
É frequente a indicação de que o neveiro trouxe “neve limpa”, assim como se refere que foi trazida numa arca. A sua utilização seria, seguramente, para a refrigeração de bebidas e conservação de alimentos. Em anos sequentes, as indicações de aquisição de neve são feitas a partir de junho, podendo dizer-se que havia remessas semanais de neve.
Esta prática dos neveiros já há muito desapareceu e, também, as alterações climáticas já não permitem a acumulação de neve, na serra da Lousã.
PT/AUC/UC – Universidade de Coimbra (F); Real Colégio de São Pedro (SF); Livro de registo do neveiro e do carneireiro do Colégio (DC), 1633-1638, fl. [fl. 3] – AUC-IV-1.ªE-7-3
- Documento 7. Emitido em Lisboa, a 6 de outubro de 1817, sendo apresentado o seguinte resumo.
Procuração dada pelo Doutor José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838) a José Pires da Veiga Bulhões para que, como seu procurador, possa receber os vencimentos da Universidade, com lente jubilado na cadeira de Metalurgia.
Todos os seus títulos e cargos são mencionados, no formulário inicial da procuração, incluindo o de Superintendente do Rio Mondego e Obras Públicas de Coimbra. Verdadeiramente, o cargo teve a designação de Superintendente e diretor do encanamento do Rio Mondego, para o qual foi nomeado por Alvará de 13 de julho de 1807. No séc. XIX voltava de novo a colocar-se a necessidade de proteger os campos do Mondego, com terras férteis no designado baixo Mondego, sendo também uma preocupação a navegação fluvial, pois o rio era o principal meio de comunicação entre Coimbra e as terras até à foz do rio, na Figueira da Foz. Destaque-se a cheia torrencial e devastadora de 22 a 24 de fevereiro de 1788 que muito marcou a população, para ilustrar situações anteriores.
Pelo rio se escoavam e entravam produtos e se abastecia a cidade e todas as povoações, situadas ao longo das margens do rio. Sempre que os invernos eram rigorosos e a chuva abundante, mesmo fora das estações mais próprias, perdiam-se culturas, arruinava-se a trajeto fluvial e as populações perdiam os seus bens.
PT/AUC/ELU/UC – Universidade de Coimbra (F); Processos de Professores (SR), cx. 326 – AUV-IV-1.ªD-8-5-326
AUC. “cando o Ryo de Mondego he cheeo”, quando tudo foi destruído pela pedra e alagados os terrenos. Documentos do AUC (séc. XV-XIX). Catálogo on-line. Acedido em: https://www.uc.pt/auc/slideshow/docs/noiteeuropeiadosinvestigadores?fbclid=IwAR0njcS_LdO6SsGDotTd-r-2ky9qgY8uX-M68QnVkZyYlp099gjFUZWhi8c
Casa da escrita
(Rua Dr. João Jacinto Nº 8, telefone 239 853 590)
Tema: Fontes documentais para a história da cidade de Coimbra no Arquivo da Universidade
Hospital Real de Coimbra Livro de Receituário Médico 1622
Hospital de São Lázaro Livro de Receita e Despesa
Palestrante: Ana Maria Bandeira
Técnica superior no Arquivo da Universidade de Coimbra, desde 1983.
Tem desenvolvido trabalhos no âmbito do tratamento arquivístico dos seguintes fundos documentais: Universidade de Coimbra, Colégios da Companhia de Jesus, Mitra Episcopal de Coimbra, Julgados de Paz de Coimbra, Conservatória Britânica de Coimbra, Hospital Real de Coimbra, Hospital de São Lázaro, etc.
Tem tido a seu cargo a elaboração de exposições temáticas e respetivos catálogos publicados pela instituição.
Coordenadora, entre 1991 e 1994, do Inventário do Património Cultural Móvel: Bens Arquivísticos promovido pela Secretaria de Estado da Cultura (para o distrito de Coimbra).
Dedica-se ainda à pesquisa na área da história do fabrico do papel.
Autora de uma extensa lista de publicações.
Após a intervenção inicial, seguir-se-á um debate, estimulado pelos participantes.
Entrada livre.
Organização: Casa da Escrita de Coimbra, com o apoio do Blogue A’Cerca de Coimbra.
Outras Conversas Abertas, depois da pausa de verão
6.ª feira, 06.09.2019
Palestrante: Regina Anacleto
Tema: Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra
6.ª feira, 04.10.2019
Palestrante: Rodrigues Costa
Tema: Herdade de Enxofães: a sua importância para a subsistência do Hospital de S. Lázaro de Coimbra
6.ª feira, 08.11.2019 (a primeira 6.ª feira é feriado)
Palestrante: Nelson Correia Borges
Tema: João de Ruão um escultor de Coimbra
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