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O SEGUNDO PERÍODO DE PERMANÊNCIA EM COIMBRA
Quando Alberto Pimentel afirma «que foi entre 1872 e 1873 que Camilo Castelo Branco, pretendendo educar os filhos, residiu em Coimbra», incorre num erro, pois a permanência do escritor foi em 1875 e 1876.
No entanto, em 1874, esteve de facto Camilo em Coimbra, por motivos de saúde, como noticia a «Revolução de Setembro», de Lisboa, em 11 de Março daquele ano: «Chegou à cidade de Coimbra o distinto romancista o Sr. Camilo Castelo Branco, que foi consultar o hábil médico o Sr. Dr. Lourenço de Almeida e Azevedo. Desejamos ao Sr. Camilo o seu pronto restabelecimento.»
É, pois, em 1875 que Camilo Castelo Branco fixa residência em Coimbra, acompanhado de sua mulher, Ana Plácido, e dos seus filhos, Nuno e Jorge, com a finalidade da educação destes. Nesta cidade se demorará até 1876.
Em carta datada do Porto, de 3 de Fevereiro de 1875, dirigida ao seu amigo Adelino das Neves e Melo, residente em Coimbra, prepara Camilo a sua instalação na cidade universitária: «Estou enfardando a bagagem. Tenciono estar aposentado na risonha Coimbra até ao dia 15 de corrente.» E mais adiante: «Preciso de ter aí pessoa a quem possa remeter o conhecimento das bagagens que for transportando. Quer-se pessoa que tome a seu cargo o fazer carrejar a mobília da estação para casa. Lembrava-me de ir eu mesmo dirigir estas enfadonhas coisas: mas receio não poder dormir nos leitos das hospedarias, que são para mim leitos de agonia. É possível que V. Ex.ª conheça pessoa a quem se retribua este serviço; e, cargo da mesma ficaria o cuidado de fazer lavar a casa, e remendar alguma vidraça, bem como assentar fogão na lareira. V´V. Ex.ª vendo quantas importunações lhe delego.»
Demora mais que o previsto, mas chega finalmente, como noticia «O Tribuno Popular», de 17 de Março: «Chegou a esta cidade o sr. Camilo Castelo Branco, que vem aqui estabelecer a sua residência. O ilustre escritor passou já na hospedaria do caminho de ferro, onde se hospedou, para a sua casa do Bairro Alto. Coimbra, a bela cidade do Mondego, ufana-se de ter entre os seus moradores o primeiro romancista português.»
A morada de Camilo situava-se nos Arcos do Jardim, ou Arcos de S. Bento, em casas hoje demolidas. António Cabral descreve-a assim:
Imagem das Casas que existiram dos Arcos do Jardim. Pg. 27
«Residia ele aos Arcos de S. Bento, numa casita que as árvores tufadas do Jardim Botânico, daquele parque ridente cheio de flores, de perfumes, de vegetação e de gorjeios, cobriam de sombra e quase roçavam com os seus ramos frondosos.»
… De Coimbra escreve também, em 23 de Março de 1875, a Guiomar Torresão, prometendo-lhe colaboração para o «Almanaque das Senhoras», que aquela escritora dirigia: «Escreverei para o Almanach de V. Ex.ª A ideia do escrito suscitou-ma V. Ex.ª em uma linha do seu belíssimo artigo: «uma festa em Pintéus». Diz V. Ex.ª que a Sr.ª D. Maria Amália Vaz de Carvalho é neta de Sá de Miranda. Escreverei um artigo genealógico em confirmação do que V. Ex.ª disse. A demonstração revelará um linhagista bem saturado de circunspeção e... rapé.»
E de facto, no «Almanaque das Senhoras» para 1876 vem publicado o prometido artigo, versando sobre a genealogia de Francisco de Sá de Miranda, trabalho datado de Coimbra, 2 de Abril de 1875.
«O Imparcial de Coimbra. Número comemorativo do Plebiscito Literário.. Pg. 73
Uma outra carta dessa época enviada de Coimbra por Camilo tem a data de 15 de Abril daquele ano, tendo como destinatário Ernesto Chardon, a quem avisa dos perigos que para o editor representaria a edição dos clássicos, de que vira notícia: «O Lopes da Rua do Ouro arruinou-se, editando clássicos baratos, que ninguém quis. A Imprensa da Universidade editou crónicas, que está vendendo a pouco mais do peso, e nem assim lhas querem.»
Camilo era já um homem doente, como acrescenta António Cabral: «Durante o tempo que permaneceu na Lusa Atenas, Camilo, quase sempre doente, pouco saía de casa, cujas janelas se conservavam, dia e noite, cuidadosamente fechadas. Vivia muito retirado, entretendo-se a conversar com os poucos amigos, na sua maioria poetas e literatos, que lhe iam admirar a graça e as cintilações de espírito.»
Andrade, C.S. 1990. Coimbra na vida e na obra de Camilo. Coimbra, Coimbra Editora.
A burguesia citadina instala-se no Bairro de Santa Cruz (Continuação)
A autarquia ia levando à praça, a fim de aí serem construídos imóveis, lotes de terreno situados no Bairro de Santa Cruz. Aquando da hasta pública realizada a 29 de agosto de 1889, o Doutor Daniel de Matos comprou vários lotes na zona que se localiza, à esquerda de quem sobe a Rua Alexandre Herculano, justamente no ângulo superior do cruzamento desta com a Venâncio Rodrigues.
O assento permaneceu desocupado até 1940, altura em que os irmãos Hermínia e Álvaro Pratas Inácio, então donos do terreno, quiçá por compra, decidiram ali construir um prédio de rendimento. O requerimento deu entrada na Câmara a 12 de agosto de 1940, acompanhado de um projeto assinado pelo arquiteto Edmundo Tavares.
Ao receber o requerimento dos irmãos Pratas, o presidente de Câmara de Coimbra, Ferrand Pimentel de Almeida, provavelmente por lhe haverem surgido algumas dúvidas, pediu parecer sobre o assunto a Étienne de Gröer. O urbanista assinou o documento em setembro do mesmo ano, dando um parecer negativo à construção, porque esta violava o artigo 46 do “Regulamento das Zonas” que estipulava a impossibilidade de se erguer um edifício que apresentasse uma área coberta superior a 40% da superfície do quarteirão.
Fig. 31 – Casa dos irmãos Pratas. 1.º Projeto. Edmundo Tavares. [AOCMC. Proc. 01-2055/1940].
Edmundo Tavares alterou o projeto inicial, diminuindo a área em causa, mas, mesmo assim, ultrapassando o permitido. Contudo, como o quarteirão se encontrava quase desprovido de construções, De Gröer, em novembro, assinava um parecer favorável à autorização da feitura do imóvel em causa.
O prédio, até pela data em que foi riscado e por ser assinada por Edmundo Tavares, arquiteto que não pertencia ao apertado círculo citadino, foge dos parâmetros usuais e já não se enquadra nos imóveis que têm a marca Arquitetura Escola Livre.
Fig. 32 – Casa dos irmãos Pratas. [Foto RA].
Um pouco mais acima e do mesmo lado, “nas extremidades das ruas Alexandre Herculano e de Tomar” ou seja, no atual Largo João Paulo II (Arcos do Jardim), em 18 de dezembro de 1890, a viscondessa de Seabra, residente em Mogofores, próximo de Anadia, comprou dois lotes de terreno, a fim de ali construir uma casa de habitação.
Dois anos mais tarde, depois de ter encarregado o projeto ao arquiteto Hans Dickel, ajusta a construção do imóvel com o mestre-de-obras Joaquim Augusto Ladeiro. Exteriormente, o edifício reveste-se de uma enorme simplicidade e apenas a sua fachada mostra um certo movimente que o artista aproveitou e valorizou pelo facto de o imóvel ocupar o ângulo formado pelas duas ruas.
Casa dos irmãos Pratas, pormenor. Foto RA
Casa dos irmãos Pratas, pormenor. Foto RA
A decoração, muito simples, insere-se no gosto Arquitetura Escola Livre.
Anacleto, R. Coimbra: alargamento do espaço urbano no cotovelo dos séculos XIX e XX. In: Belas-Artes: Revista Boletim da Academia Nacional de Belas Artes. Lisboa 2013-2016. 3.ª série, n.ºs 32 a 34. Pg. 127-186. Acedido em https://academiabelasartes.pt/wp-content/uploads/2020/02/Revista-Boletim-n.%C2%BA-32-a-34.pdf
Em torno de 1217-1218 chegaram a Coimbra os primeiros franciscanos, mendigos por voto, quiçá pouco cultos; o impacto causado na população, contrariamente ao que se diz e se tem escrito, não deslumbrou, mas o clarão da fé iluminava o seu rasto. O cabido cedeu-lhes a capela e o tugúrio e aí se instalaram precariamente, até que, cerca de 1247 abandonaram o local e transferiram-se para o convento de São Francisco da Ponte. Ainda durante a estada dos monges, o titular foi mudado para Santo António, falecido em 1231 e canonizado no ano seguinte.
Num qualquer dia do ano de 1219 entraram em Coimbra cinco franciscanos que, certamente, estanciaram algum tempo em Santo António; dirigiam-se para o Norte de África e “queriam esta coisa infantil e estupenda, a um tempo, alucinatória e heroica: serem mártires de Cristo!”. Conseguiram o seu intento.
Decapitação dos Cinco Mártires de Marrocos (Livro de Milagres dos Santos Mártires, séc. XV. Mosteiro de Santa Cruz, Coimbra)
Nessa altura, encontrava-se homiziado em terras marroquinas D. Pedro, irmão de Afonso II que, não podendo ou não querendo regressar ao país, a fim de trazer os despojos dos cinco mártires, enviou a Coimbra com essa preciosa carga o seu fiel vassalo, Afonso Pires de Arganil. Como o capelão do infante era monge de Santa Cruz, as relíquias vieram para o mosteiro onde vivia Fernando de Bulhões que já tinha contacto com os frades franciscanos.
De acordo com as prescrições regulamentares das nascentes “Ordens mendicantes”, os irmãos deviam viver da caridade e a verdade é que, no início da instituição, este voto foi integralmente cumprido. Os primeiros frades que ocuparam Santo António tinham grandes privações, minoradas, por vezes, pelos seus irmãos pedintes, que desciam a esmolar humildemente até aos bairros da cidade, trazendo dali, sobretudo do opulento Mosteiro Real de Santa Cruz, alguns meios de conforto para as suas refeições frugalíssimas.
Fernando de Bulhões havia sido designado para desempenhar as funções de Reverendo Cónego Porteiro, cargo que implicava a obrigatoriedade de, como constava do regulamento, distribuir esmolas; foi neste contexto que ele teve ensejo de falar, no seu Mosteiro, com os irmãos pedintes dos Olivais.
Portaria do mosteiro de Santa Cruz. José Carlos Magne. Planta topográfica da Praça de Sansão. Pormenor. 1796
Identificar as relíquias chegadas de Marrocos, relacioná-las com os frades mendigos dos Olivais e apaixonar-se pelo ideal franciscano que passava pela busca do mundo eterno e pela doação total de si mesmo, foi obra de um momento.
E um dia, os franciscanos dos Olivais que iam mendigar à portaria de Santa Cruz regressaram com mais um companheiro.
Percorreram um caminho entre muros e verduras: saíram do terreiro de Santa Cruz, subiram a rua das Figueirinhas, passaram a Fonte Nova, a fonte do antigo bairro judaico, e continuaram a caminhar no lado poente da atual Sá da Bandeira, passando pelas traseiras da Associação Académica; desembocaram nos Arcos, que então ainda não existiam, mesmo ao lado da estrada que descia das portas do Castelo.
O trajeto, a partir daí, começava a ser mais arejado. Da garganta dos Arcos subiram à Eira das Patas e cortaram para Celas. Arrabaldes distantes da cidade, caminho longo conducente a mais do que pobre aldeia.
Os franciscanos, nesse dia longínquo do verão escaldante de 1220, traziam consigo mais uma alma, mais um prosélito do seu ideal e, ultrapassada a zona de Celas rapidamente atingiram o colo da colina, coroada pela capelinha que apresentava anexa, no alto do pequeno morro, o rude abrigo.
Foi precisamente nesse dia, igual a tantos outros, mas único para os Olivais, que Fernando de Bulhões ali chegou e mudou o seu nome para António.
O Santo conservou-se pouco tempo nos Olivais, partiu em demanda da África, talvez à procura de um martírio que não chegou, e, até mesmo os frades abandonaram o ermitério em 1247.
Anacleto, R. 2005. Santo António dos Olivais: De Ermitério a Freguesia. Conferência na cerimónia comemorativa do aniversário da criação da freguesia.
No início do século XIII o local onde atualmente se ergue a igreja de Santo António dos Olivais já era conhecido pelo nome de Olivais, mas ignora-se a partir de que data se agregou ao sítio o epíteto de Santo António ou Santo Anton. Tratava-se do António ou Antão, um ermita que tinha a sua capela numa zona deserta. O templo situa-se a nordeste da antiga cidade, assenta numa pequena elevação, domina subdivisões de velhos caminhos e pertence ao tipo dos “santuários dos altos”.
Santo António dos Olivais. Bilhete-postal antigo
A mais antiga referência documental que lhe diz respeito encontra-se na Vita Sancti Antonii, escrita no século XIII.
As grandes ondulações laterais dos terrenos antigos, integrantes do forte e largo maciço da meseta peninsular, a que se encostam rochas mais recentes, da época terciária, vêm morrer pela altura dos Tovins e o seu pregueado, a partir daí, vai-se desdobrando em curvas menos acentuadas e em alturas cada vez menores.
Desses mesmos Tovins desenvolve‑se uma linha de cimos que, elevando‑se em São Sebastião, tem o ponto dominante na igreja de Santo António. Corre depois pela Cumeada até ao Penedo da Saudade, descai à garganta dos Arcos e sobe, para o alto do antigo castelo. Ergue aí a cabeça como que a despedir‑se das serras de onde veio e passa a olhar o rio em que se vai sumir, quer deslizando pelas linhas do morro da Sé Nova, quer pelas da antiga alcáçova real.
Do ponto de vista geomorfológico, Santo António nunca foi um ermo perdido, pois situava-se num local obrigatório de passagem para os que, descendo do Roxo ou do Agrelo, buscavam os vales húmidos de Coselhas ou do Calhabé. Os caminhos trilhados hoje, coincidem, grosso modo, com os de outrora e as linhas naturais de trânsito vinham dividir-se na base do pequeno morro da igreja: a principal, cortava ao lado para nordeste, descendo a calçada e a outra, voltava-se para noroeste.
Certamente que, também e desde sempre, o morro arredondado se impôs ao espírito religioso, até porque os altos são, naturalmente, pousadouros de culto, sítios que o homem consagra à divindade, talvez porque assim lhe pareça que se aproxima mais de Deus. Neste contexto, não se mostra despiciendo tentar desvendar qual teria sido a latria que acampara neste cimo, antes de se haver erguido a capelita de Santo António ermita.
... a charneira dos séculos XII-XIII não funcionou como um começo, mas como uma continuidade, pois luso-romanos e visigodos já ali devem ter feito subir as suas preces ao Ser Supremo.
Nos primórdios da nacionalidade existiu nesta pequena e destacada elevação uma capelinha dedicada a Santo António, o ermita, e, ao lado, erguer-se-ia um tugúrio para o ermitão, certamente homem pobre, sem recursos, que se prontificava a guardar o oratório a troco de alguma esmola e de um teto que o protegesse das intempéries.
O conjunto pertencia ao cabido catedralício, tal como acontecia com um outro modesto templo, o do Espírito Santo, que se erguia um pouco mais abaixo, logo ali no vale; a este, nem mesmo os brasões de D. Fernando e de Leonor Teles, apostos na fachada, lhe conferiam grandeza.
E se, a capela de Santo António marcava o cimo, a do Espírito Santo assinalava o talvegue penumbroso.
Anacleto, R. 2005. Santo António dos Olivais: De Ermitério a Freguesia. Conferência na cerimónia comemorativa do aniversário da criação da freguesia.
Razões topográficas exigiram a construção das igrejas medievais nos lugares em que se encontram.
O morro da primitiva cidade de Coimbra despega-se das outras colinas pelo colo dos Arcos do Jardim, donde partem os dois vales que o delimitam: o de Santa Cruz e o do Jardim Botânico. Saia um córrego médio do Marco da Feira, corria pela rua que depois tomou o nome de Rêgo-de-Água, depois, já mais volumoso e veloz na Rua das Covas, desfazia-se em espuma nas rochas do Quebra-Costas, e avançava já torrente pelo sítio onde será depois a Porta de Almedina, espraiando-se e depositando os materiais carregados na parte baixa da cidade, juntando-se aos aluviais do Mondego, que iam formando os diversos “arnados” que são o substrato do arrabalde antigo.
Planta da Cidade 1845
De facto, esta topografia é tão intrínseca que, nas grandes tempestades, a Natureza às vezes repõe o que o homem alterou. E assim aconteceu em 14 de Junho de 1411, em que foi tal a quantidade de água e o volume dos materiais transportados, que arrancou as portas chapeadas de ferro da cidade.
Temos assim uma linha de córrego que separa em duas partes, a antiga Almedina. Seguia, este córrego, um traçado que se aproximava bastante de uma reta e que agora está cortada pelo ângulo sudoeste do embasamento romano do Museu Machado de Castro e depois esquina noroeste da Sé.
Do outro lado, o vale de Santa Cruz contorna a colina, com grande bacia de receção pluvial. O vale tinha uma corrente contínua de águas, riacho que antes do seu encanamento pelas obras de Santa Cruz, tinha pelo menos um pontão e cuja corrente movia moinhos em várias épocas.
Delimitava pois, esse ribeiro, do lado norte, o arrabalde com forma de triângulo, e com duas igrejas: São Bartolomeu e São Tiago.
Ora, quais as razões topográficas da existência de duas freguesias em tão pequeno arrabalde?
O córrego médio da parte alta da cidade, cavado, não pela ação de águas contínuas, mas sim das de género torrencial, tinha à porta de Almedina como que o seu canal de transporte. O cone de depósitos devia ocupar, na sua maior estreiteza o espaço sensivelmente entre a R. das Solas e a das Azeiteiras.
Assim, quando o homem começou a construir no arrabalde, essas águas torrenciais obrigaram a repartir o povoado em dois grupos populacionais, com duas igrejas que até eram de padroado diferente. Sabe-se da existência de São Bartolomeu no séc. X, na primeira reconquista, apesar dos restos mais antigos, até hoje encontrados, serem do séc. XII, do período afonsino. O edifício atual data do séc. XVIII.
Planta da Cidade 1845 Pormenor
Quanto à Igreja de São Tiago é do fim do XII, princípio do XIII, do reinado de D. Sancho. Sabe-se, no entanto, que houve uma construção anterior de que nada se conhece, sendo bastante provável que remonte à primeira reconquista.
Anjinho, I.M.M. 2006. Da legitimidade da correção do restauro efetuado na Igreja de S. Tiago em Coimbra. Acedido em 17.01.2017, em
O Mondego era na Antiguidade navegável até Coimbra, e mesmo até à foz do Dão; constituía uma importante via fluvial, de oeste a leste, largamente praticada ainda na Idade Média; no sentido norte-sul, a via, agora terrestre, não podia encontrar melhor cruzamento do rio que em Coimbra: para poente, os terrenos eram alagadiços, o rio muito caudaloso e largo; para o interior, as vias tornavam-se ásperos caminhos de montanha. Coimbra era, pois, ponto de passagem obrigatório entre o norte e o sul, centro onde naturalmente se podiam trocar os produtos da serra pelos da planície e do mar.
A existência de uma ponte de pedra romana em Coimbra é mais do que provável. Ficaria sensivelmente no sítio da atual, sítio que corresponde, com ligeira diferença, ao das pontes de D. Afonso Henriques e D. Manuel. Aliás, terão sido estas fábricas novas ou simples restauros da ponte romana?
Atravessado o rio, a estrada romana seguiria a linha das atuais rua de Ferreira Borges (antigamente chamada de Calçada), Visconde da Luz e Direita. Esta última, chamada na Idade Média rua da Figueira Velha, constituiu a saída da cidade até à abertura, no século XVI, da Rua da Sofia.
Na atual Praça 8 de Maio, a via cruzava a torrente, já referida, de ‘balneis Regis’. Foi Vergílio Correia quem sugeriu a existência de umas termas romanas no local onde, em 1131, se deu início à construção do mosteiro de Santa Cruz. E Nogueira Gonçalves … admitiu que a porta mourisca mencionada em documento de 1137 fosse último resto desta construção. De tais termas, porém, nada ficou.
... De outros monumentos romanos de Coimbra, infelizmente desaparecidos, conserva-se mais segura memória. São eles o arco da Estrela e o aqueduto.
… Hefnagel, na gravura de Coimbra, incluída na obra ‘Civitates orbis terrarum’, atribuída tradicionalmente a Braunio, desenhou, no ângulo entre a Couraça de Lisboa e a Couraça da Estrela, três colunas que na legenda aparecem designadas: ‘colunnae antiquae Romanorum’. As colunas assentam sobre um estilóbato baixo e são coroadas por arcos.
Que as colunas romanas não podiam estar situadas exatamente no local onde Braunio as representou, é indiscutível. Daí até negar a existência do monumento é passo grande … não nos deixam dúvidas sobre a existência do monumento, que a Câmara da cidade deixou demolir em 1778 … Era um monumento tão notável, que deu nome à porta da muralha situada ao fundo da Couraça de Lisboa. Com efeito, o nome que esta teve – de Belcouce – significa «no arco» ou «junto ao arco»
… O aqueduto de S. Sebastião foi construído sobre as ruínas de um idêntico cano, muito mais antigo e provavelmente romano …Provam-no as lápides que, em 1570, se colocaram no aqueduto restaurado por D. Sebastião … «… mandou reedificar de novo todo este aqueduto, mais nobremente do que fora feito havia muitos anos…»
Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 28 a 34
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