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... Após a extinção das congregações religiosas em 1834, pouco depois ingressaram no património municipal ... os edifícios e terrenos do extinto Mosteiro de Santa Cruz, desde o Terreiro de Sansão (atualmente praça 8 de Maio) até à Fonte Nova, com exclusão apenas da igreja e suas dependências.
Mas, com o rodar dos anos, esses edifícios passaram por grande mutações, tanto na forma como na aplicação. O corpo principal do Mosteiro, por exemplo, com frente para o Terreiro de Sansão, foi demolido para no seu lugar se construírem os atuais Paços do Concelho; todo o conjunto cedido foi mais tarde dividido em dois lotes completamente separados pela abertura da via de acesso de Sansão à Fonte Nova, anos depois e ainda agora denominada Rua Nicolau Rui Fernandes, e pela consequente demolição do Arco do Correio em 1856; a parte que ficou a norte dessa linha divisória, antigamente celeiro, botica, residência do prior-mor e hospedaria do convento (além destas aplicações tiveram os prédios urbanos ainda a de cárceres do Mosteiro de Santa Cruz), tem sido cadeia, esquadra policial, Roda dos Expostos, Hospício dos Abandonados, Creche, Instituto Industrial e Comercial de Coimbra, e Escola Industrial e Comercial de Brotero; uma parte dos edifícios a sul dessa linha divisória foi devorada por um incêndio em 1917, assim como mais tarde o edifício em que se encontravam instalados os correios e telégrafos, já há anos reconstruído.
A par disto, construiu-se o Mercado D. Pedro V na antiga horta e laranjal do convento, abriu-se uma via de ligação da entrada do mercado com a Rua Martins de Carvalho, e instalaram-se por ali diversos serviços públicos e particulares.
Sessão (da Câmara Municipal) de 17 de Dezembro de 1836
... O presidente dá parte à Câmara de que no dia 15 do corrente fora chamado pelo Administrador do Concelho para lhe dar posse do extinto Convento de Santa Cruz, e do da Graça ... com a clausula de neste estabelecer um quartel militar e naquele colocar as Repartições Públicas. A Câmara ficou ciente.
Leu-se um ofício do Administrador do Correio ... para se entender com a Câmara, e esta lhe dar cómodo no extinto Convento de Santa Cruz ... aplicado ... para Administração do Correio a parte do dormitório denominado de São Francisco, desde a parede que divide o refeitório em prumada ao telhado dentro de paredes do dito até à frente de Sansão menos o vão da denominada despensa rente ao chão, que fica para casa da bomba contra incêndios, e depósito de azeite da iluminação da cidade; o refeitório para audiência do Júri de pronúncia servindo o vão de topo para casa de retenção de presos, e a casa por cima deste com duas janelas para o pátio de Sessão dos Jurados, fazendo-se escada de madeira por dentro; o resto do dormitório de S. Francisco dividido em três habitações tendo a ponta superior serventia pelo lado da horta, as duas pela antiga escada de pedra por que se servia a extinta comunidade. O vão a nível da varanda de pedra por cima do claustro grande, e por baixo do denominado noviciado para Secretaria do Administrador do Concelho e habitação do secretário de ante o mesmo; o noviciado com frente para os claustros grandes e do banho para uma habitação tendo serventia por aquela escada de pedra; a outra parte do noviciado debaixo e de cima com frente para o Claustro do banho e costas ao cerco do lado da Rua das Figueirinhas servir com este para habitação do secretário da Câmara com serventia pela varanda do claustro grande; o dormitório baixo com frente para a rua, o claustro do banho para habitação, tendo serventia pelo lado da horta; o dormitório denominado do Pilar na sua generalidade com o jardim para habitação e secretaria do Administrador Geral, com serventia pela escada de pedra que vem da horta; as casas da Botica e as que pegam pelo lado de Montarroio para habitação; a Hospedaria desde a porta do Carro até o cunhal da que corre para a torre, muito convém demolir-se para tornar o grande pátio em terreiro público que acomode as contratadeiras de legumes e de aves, e se colocar ali cadeia pública no primeiro e segundo andar.
Loureiro, J.P. Relatório sobre os edifícios e terrenos do antigo Mosteiro de Senta Cruz. In Câmara Municipal de Coimbra. 1958. Antigas Dependências do Mosteiro de Santa Cruz. Petição e Fundamentos. Separata do Arquivo Coimbrão. Vol. XV. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 10 e 11, 22 e 23
Algum tempo depois da extinção do mosteiro, ocorrida em 1834, resolveu a Câmara, em 13 de Junho de 1840, que as vendedeiras de cereais de Sansão passassem para o então denominado Pátio de Santa Cruz, situado no local que é hoje o início da Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, entre a atual fachada lateral dos Paços do Concelho e o edifício fronteiro, onde se encontra instalada a P.S.P. Este último estava ligado à esquina do mosteiro, que a sede da edilidade veio substituir, por um edifício que mais tarde foi demolido, sendo a entrada para o pátio feita através de um arco nele existente … Não tardaria muito que o edifício de ligação fosse demolido, facto ocorrido em 1856 … nova alteração surgiu, com a mudança do mercado dos cereais para a antiga horta do mosteiro, pertença da Câmara.
… A horta de Santa Cruz estava longe de tudo (não nos esqueçamos que na época não existiam a atual Avenida Sá da Bandeira, a Praça da República e todas as ruas que nela convergem, constituindo todas essas artérias a antiga Quinta de Santa Cruz, então propriedade particular); o Bairro de Montarroio era então um pequeno aglomerado; o acesso à Alta era feito por um apertado caminho que ia dar à Rua do Colégio Novo. E a própria comunicação com a Baixa fazia-se por uma estreita ligação, que só mais tarde viria a ser alargada com a demolição do lanço norte do Claustro da Manga e do arco que o ligava ao edifício que é hoje a Escola Jaime Cortesão.
… No ano de 1882, é apresentada na sessão de 23 de Agosto uma proposta do Barão de Matosinhos, em que este solicita a concessão de um ascensor para acesso à Alta, construído a expensas suas. O referido ascensor, que facilitaria o acesso do público, ligaria o local junto à Fonte Nova até a Couraça dos Apóstolos. A ideia de então não iria avante, mas veio a ser concretizada nos nossos dias, quase 120 anos depois, com a construção do atual elevador.
… Os acessos da Baixa são em 1888 facilitados com o alargamento, já atrás referido, da então denominada Rua do Mercado, com a demolição das construções que fechavam pelo lado norte o Claustro da Manga, e do chamado Arco do Correio, que lhe ficava adossado, e que permitiria mostrar o Jardim, tal como hoje acontece.
…Procedera-se, entretanto, no ano de 1924, à mudança da Fonte Nova para junto do mercado, encostada ao muro da rua que tem o seu nome. Até então, encontrava-se no início da Avenida Sá da Bandeira, no local onde seria construído o prédio em que viria a funcionar o posto das Caixas de Previdência.
… Era então presidente da Câmara o Dr. Mendes Silva, que entre 1984 e 1986 viria a proceder a significativas alterações na zona envolvente do mercado. Foi o caso da colocação de painéis de azulejo, com reproduções de monumentos da cidade, da autoria de Amílcar Martins, no muro da cerca da Escola Jaime Cortesão, da construção duma escadaria no local em que se erguera a Torre de Santa Cruz, para onde foi transferida a Fonte Nova, o ajardinamento do espaço em frente do pavilhão do peixe.
Andrade, C.S. 2001. Mercado D. Pedro V. Uma História com História Texto publicado em suplemento especial no Jornal de Coimbra de 14 de Novembro de 2001
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